segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Até 2009

O blog criou-se. Estará firme em 2009. Mas vai parar pra descanso.

Volta na segunda semana de janeiro.

Estarei em praias paradisíacas, comendo em restaurantes internacionais, conhecendo mulheres respeitáveis.

Ou não.

Vou descansar e torcer para L. Gonzaga Belluzzo, a única salvação política do Palmeiras, ser confirmado candidato à Presidência por esses dias.

Obrigado a cada um por cada vez que direcionou-se pra cá. Conto contigo em 2009.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

FLAVIO GOMES - UM LABORATÓRIO PARA O MUNDO

MINHA OUTRA PAIXÃO – FLAVIO GOMES

“Essa série tem a intenção de entrevistar jornalistas esportivos, sobre uma paixão não-jornalística e não-esportiva”

* * * *

"Paixão, mesmo, acho que não tenho nenhuma" .

Eu procurei o escritório de Flavio Gomes na Avenida Paulista com uma suspeita em mente. Será que o jornalista mais viajado da paróquia, tão nitidamente apaixonado por automobilismo, lusitano doente, não tem nenhuma outra paixão na vida? Será que o desinteresse em cultuar alguma coisa é justamente o seu barato, ou trata-se de uma chata personalidade pacata?
Sou recebido pelo baixinho batuta, e entro em seu escritório amplamente decorado. Sento numa poltrona amarela, enquanto ele, ao telefone, discute sobre pistas e carros favoritos para cada pista. Na parede, o bico de um antigo carro de Fórmula Ford, miniaturas às dúzias, quadros com fotos e reportagens, credenciais, cacarecos de significado meramente pessoal. Muito bom gosto em tudo, nas cores, na bagunça, tudo arejado, computadores que dão vontade de sentar pra escrever. E Flavio Gomes, ainda menor no meio de sua mesa com informações, todas elas aparentemente úteis, com destaque ao laptop, o Marlboro e o celular, solta um prático “então vamos lá?”.

Fala com categoria, tem um semblante jovial e simplista demais para suas argumentações. Após 5 minutos, o que eu concluo é que a paixão por carros é tão arrebatadora que ele na verdade não sente necessidade de ser, ou se dizer ser, aficionado por outras coisas. Claro, suas paixões elementares, como seus dois filhos, não contam, ainda mais porque não parece ser o tipo de coisa que Flavio se sente à vontade pra falar. Sinto um humor na linha de raciocínio de Gomes. Ele deve se divertir muito com a própria imaginação. Chegou seu almoço, um macarrão num pote nem tão apetitoso, mas ele garante ser muito bom (pene com aspargos e presunto cru do Ritz, "uma das coisas desta cidade que eu adoro"). Abrir o saco de queijo ralado com os dentes não é lá muito prático. Mas almoçar sem descansar a cabeça, e sem fazer digestão aponta que Flavio Gomes é um ser adaptado à vida implacável de São Paulo. E eis a paixão, a sua outra paixão possível, a paixão que o "desapaixonado" encontrou em seu peito: a cidade de São Paulo.

Antes de ser o multimídia (de araque, segundo ele) que atua, entre outros muitos lugares, na ESPN Brasil, Rádio Eldorado, Lance! e iG (onde tem seu blog e seu empreendedor portal), Flavio teve uma trajetória ousada, coisa de gente grande, sem trocadilhos. Fez apostas, passou por Folha, Placar, Jovem Pan, Bandeirantes e lançou o livro O Boto do Reno, em 2005, um Diário de Viagem que tem de tudo, até São Paulo. Nasceu em 1964 e passou os primeiros anos de vida em Moema (foto, em sua casa que resiste até hoje). Em 72, aos 7 anos, em razão do trabalho do pai, foi morar no Rio de Janeiro. Após 3 cariocas anos, em 75 ele volta a São Paulo e em 78 vai morar em Campinas. Trabalho nômade, o de seu pai. No interior paulista foram mais 4 anos. Seguindo os passos do irmão que correu pra Sampa, Flavio sabia que a carreira que sempre sonhou estava na capital, e desde 1982 Gomes não muda mais de cidade. "Passei muitos anos viajando o mundo, poderia morar em muitos lugares, e nunca quis sair de São Paulo.

Ser criado em lugares diferentes ajuda algumas de suas compreensões e aspirações. O momento político era importante - Flavio é de uma entressafra que não tinha idade pra lutar contra a ditadura, e que se formou justamente no fim da negra fase. O time de futebol também pesava, afinal, foram exatas 100 vezes que ele saiu de Campinas só para ver a Lusa no Canindé. Tinha também o ambiente universitário, os empregos... Está aí um pedaço do papo com Flavio Gomes. Foi uma conversa tão gostosa em seu escritório, que é como se estivéssemos em uma mesa de bar. Confira:

LI: O que contava para você quando decidiu-se por São Paulo?

FG: Tudo contava. A Portuguesa contava muito pra mim. Nos 4 anos que vivi em Campinas, eu vinha sempre aos jogos da Lusa e anotava as partidas. Foram 100 jogos. Isso era uma paixão forte, então, contava bastante. Tinha a parte política também. Tancredo se elegeu em 85, mas em 79 já era claro que o governo militar estava dando os últimos passos. Eu nunca tive uma vida política muito ativa, mas eu queria ver aquilo de perto. E outras coisas me atraíam, como o ambiente universitário, o político, a criação do PT... Isso tudo acontecia aqui, e não em campinas, ou outra cidade menor ainda. Minha intenção era viver isso, aqui.

Sua paixão por carros, ou ter um carro, te ajudou a descobrir São Paulo?

Ganhei um carro aos 18, e isso ajudou quando podia ir a um jogo da Lusa de carro, por exemplo. Só para coisas assim, de independência, e não para descobrir a cidade. Eu andava muito e sempre de ônibus e metrô. Quando passei a andar de carro, as minhas artérias na cidade eram as mesmas que eu tinha no transporte público. Mas me dava autonomia. Eu não descobri São Paulo fisicamente de carro. Carro nunca foi pra mim um símbolo de hedonismo, para comer mulher e me exibir. Era um facilitador de coisas práticas.

Interlagos é um bairro que você gosta?

Interlagos não é meu bairro predileto. O autódromo, sim, é o lugar que eu mais gosto. O bairro, não. Interlagos tem uma história e um nascimento interessantes - o bairro e o autódromo. Na década de 40, aquilo ali era deserto, e não caberia um autódromo daquele tamanho em outro lugar que não aquele.

O que é pior pra São Paulo: a classe media e sua mentalidade ou a periferia e sua pobreza prática?

Na balança, o mais problemático... empata. A violência de algumas periferias se equipara à estupidez da classe média. Eu não sou freqüentador da periferia, São Paulo é diferente do Rio de Janeiro, onde a classe média vai aos morros. Em São Paulo, fisicamente, a periferia é mais espalhada em relação às regiões centrais. Então, não tenho conhecimento da realidade da periferia, minha realidade é muito urbana, é onde “vale o rodízio”, e é um pouco a de toda a classe média, à qual eu pertenço. Há muito mais preocupação na periferia em melhorar as coisas, com comunidades ativas, ONGs, do que na área nobre, que já está perdida e habitada por babacas que não querem melhorar nada.
Babacas?

Te dou um exemplo. Um rapaz que eu conheço, certa vez, enfiou a Mercedes no buraco, e saiu xingando a cidade, o prefeito, tudo, porque tem buraco. Eu, que sei que ele faz uma manobra com o negócio dele, para pagar imposto em locais mais baratos, como Cotia, disse a ele que se ele caísse num buraco em Cotia, ele poderia reclamar da cidade. Aqui, não, porque aqui ele não pagava nada, e eu sim. A classe média tem muito disso. Não gosto da classe media daqui. Tenho bronca dela. Ela se comporta de um jeito em Paris, em Londres, e de outro aqui. Aqui, ela é espaçosa, desrespeitosa, tem raiva do motoqueiro, do mendigo, do pobre.

Qual o horário que São Paulo lhe é mais gostosa?

Adoro São Paulo de madrugada, bem tarde, o centro de madrugada, quando você enxerga a cidade ao invés de carros, e quando tem menos barulho. De manhãzinha, a mesma coisa. São Paulo é charmosa nesse horário. A madrugada é silenciosa. A cidade se esconde quando todos estão acordados.

Viver viajando pra fora do país te ajuda a interpretar São Paulo?

Morar em São Paulo é que me ajuda a interpretar o exterior! São Paulo não é uma cidade para iniciantes, amadores. Se você consegue viver em SP, vive em qualquer lugar do mundo. Sempre usei muito minha experiência de São Paulo para me encaixar em vários lugares do mundo.

Onde encontramos o Flavio Gomes de folga?

Olha, não tenho um programa específico. São Paulo tem isso, também. Qualquer dia, qualquer hora, você pode escolher um programa. No meu prédio de trabalho tem um cinema, e se eu me encher e quiser ver um filme às 14h, vou. Em São Paulo tem todo tipo de programa o tempo todo. E pelos meus horários indefinidos, eu não costumo repetir meus programas. É certo dizer que na minha folga, estou "por aí".

Dá pra imaginar como seria o Flavio Gomes "Carioca"?

Eu acho que, se tivesse vivido sempre no Rio, eu seria jornalista do mesmo jeito (sua primeira lembrança da profissão é, quando criança, de um jogo de tabuleiro onde o jogador era um repórter que tinha de cobrir incêndios, acidentes e assassinatos). Eu, carioca, seria mais envolvido com os problemas da cidade do que me envolvo com os daqui. O contato com os problemas do Rio é mais constante, próximo, e o Rio é uma cidade que eu acho que precisa ser cuidada, pega no colo, e não vejo isso em São Paulo. São Paulo se vira sozinha, se auto-conserta, como o meu Lada (foto), que se quebra e conserta-se porque sabe que eu não vou cuidar dele. Em São Paulo, a mesma coisa. Eu seria um pouco mais "Gabeira".

Você provavelmente iria enfartar com Jacarépaguá...

Eu me envolveria mais com Jacarépaguá, faria alguma mobilização - não resolveria nada, mas faria - contra aquilo (O autódromo foi mutilado e condenado em nome de obras para o Pan-2007). Faria mais do que fiz, por exemplo, quando mutilaram Interlagos. Mas mutilaram Interlagos porque falaram "ou faz isso, ou não tem F-1." São Paulo tem essa faceta muito prática, também.

Qual carro representaria bem São Paulo? O Lada?

Não... O Lada, definitivamente, não, apesar do fato de ele se auto-consertar. Um carro... Não tem. Nenhum. Ou todos. Seria um baita mix.

E em que lugar fora do Brasil você se sente em São Paulo?

Olha, onde me sinto como em São Paulo é em Bangkok. Lá você tem essa mesma sensação de que, apesar de toda a bagunça, está tudo sob controle.

E quando a cidade está sob controle pra você? Quando estás na Av. Paulista?

Saber que eu estou com São Paulo em volta, aqui na Avenida Paulista, é fundamental pra mim, sem dúvida. Não sei se pro meu processo criativo, mas pra minha atividade como um todo. Acho que a Avenida Paulista está para São Paulo da mesma forma que São Paulo está para o Brasil. Ela carrega muito da essência da cidade.

Se você tivesse o poder, para quem entregaria a condução dessa cidade?

Difícil... A pessoa que mais entende essa cidade, seu mecanismo, sua essência, pra mim, é a Soninha. Mas, veja só, eu não votei nela. Acho que, na prática, não haveria meios de ela exercer isso na prefeitura. Mas ela é a pessoa que eu escolheria como a que mais conhece a cidade.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Queimados no Palmeiras

Tentei buscar as imagens, mas não consegui. Pela súmula, chequei os minutos. E passo aqui o que ouvi de uma pessoa do Palmeiras.

Leandro e Pierre tomaram cartão amarelo nos minutos finais de um jogo ganho contra o Ipatinga. Pendurados, não foram até Salvador, enfrentar o Vitória na penúltima rodada. Como eram lances evitáveis numa partida sob controle, houve quem interpretasse os lances como propositais por parte dos atletas.

Luxemburgo foi o primeiro a interpretar assim. Alguns diretores e torcedores notaram isso também. Logo após o jogo discutiu-se isso nos vestiários.

Leandro foi embora do Palmeiras. Pierre só não vai também e agora porque, afinal, é o Pierre.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Bezerrão Stadium

Por Davi Agathocles

Sempre se ouve falar sobre a ilusão do crescimento existente no Brasil. Meio mambembe, nas coxas, aos trancos e barrancos (e também barracos), nosso país tentou moldar-se semelhante potências mundiais.

E onde se veria esse reflexo? No futebol, é claro. Todos os anos alguns pregam a adequação do nosso calendário ao futebol europeu, que nossos times devem ter planejamento de pais moderno, e os nossos estádios? Esses são verdadeiros desastres para os que analisam o futebol desta forma.

Não estou aqui para defender nossa estrutura. Ninguém é capaz de dizer que nossos estádios são verdadeiros oásis de conforto. Porém, não se deve ignorar que neles estão contidos fatos e relações históricas, maiores do que qualquer pilar construindo por algum conglomerado de empresas.

A final do campeonato brasileiro trouxe-me a possibilidade de conhecer um desses estádios novos que estão sendo construidos rumo a 2014. O Bezerrão no Gama – que eu tinha visto na TV – seria o palco do Hexa do tricolor. Logo de chegada eu fiquei surpreso. Uma grande estrutura se apresentava à frente, impressionando não só eu, mas todos os que me acompanhavam. “Pelo menos, parece que meu dinheiro foi bem gasto”, brincou um dos meus colegas.

Mais próximo já me senti mais habituado: as filas desorganizadas demonstravam que um velho vício persiste nesse estádio moderno (??): tratar mal o torcedor. Passando a fila, entrei nas arquibancadas do estádio. E lá ficou mais a mostra...

Sinalização deficiente, banheiro pequeno, pessoas despreparadas para dar informação, uma estrutura enorme, ao lado de uma arquibancada pequena e mal equipada. Esse é o retrato do modernismo brasileiro. Lembrou-me a proclamação da república, quando os burgueses conclamavam o avanço nacional e o povo bestializado na rua se perguntava o que era essa tal de república.

Voltando ao início desse texto. As lembranças são laços que estabelecemos com pessoas e com alguns locais. São os resquícios emocionais que travamos com acontecimentos externos. E num estádio, diante de um jogo que transpira paixão, as arquibancadas se tornaram o elo entre os corações pulsantes dos torcedores e seus times em campo. Destruir isso é dizimar sentimentos. (O negrito é meu)

Está bem, mas o que tem a ver uma coisa com a outra, pode você perguntar. Quando se fala em Arenas, se prega o modernismo, o progresso, a máxima potencialidade... E onde ficamos? Nas toscas arquibancadas ou em casa vendo os jogos onde o ingresso custando mais de 100 reais – um quarto do salário mínimo. E sustentando o desenvolvimento tacanho, presente para mim, naquela estrutura do Bezerrão.

Não sou contra algo que seja confortável e seguro para qualquer pessoa. Mas a partir do momento que o preço disso seja excluir aqueles que sempre foram lá fazer sua festa e colocar o consumidor no seu local, tenho por obrigação me opor.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Ronaldo é minha Madonna

Ronaldo vem jogar no Corinthians. Eu moro em São Paulo.

Como quem tem a chance de assistir uma banda mundialmente famosa, eu agora tenho a chance de assistir, do lado de casa, um gênio, um mito.

Gordo ou não, vindo por questões de marketing ou não. É o Ronaldo.

Mesmo que não dê certo, terá jogado no Corinthians, como Garrincha jogou, por exemplo, com poucos registros disso.

Quem o acha acabado, gordo, quem acha que foi uma má contratação, está afundado em um mar de amargor. É preciso muita cólera para desconsiderar um fato bacana desse.

Eu vou assistir. Vale a pena. Trata-se de Ronaldo. Jogador que eu ponho na mesma prateleira de Cruyff, Di Stáfano, Platini ou Eusébio. Um imortal.

Ele é muito mais que uma aposta. Muitíssimo mais que uma questão de marketing. É insano ignorar a notícia mais saborosa dessa pré-temporada que mal começa.

Conheço gente que paga 500 paus num show da Madonna.

Eu não gosto muito de música.

Ronaldo é a minha Madonna.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

A história a se contar

Campeonato de Pontos Corridos fazem correr muitas histórias simultâneas.

E a gente ainda precisa engolir outras novas histórias velhas. Esse banzé de gato envolvendo troca de árbitro, ingresso da Madona e envelope receptado (???) só não é mais absurdo do que o Presidente da CBF, que diz saber de tudo, deixar para contar só na Segunda-feira.

Assim como o Campeão só vai receber a Taça na Segunda-feira, já que a mesma não podia estar em Brasília e Porto Alegre ao mesmo tempo. A CBF já ouviu falar de réplica? Merecia o campeão não levantar sua Taça no gramado?

Vá lá. O Palmeiras ganhou do Cruzeiro no Mineirão. Este venceu o Mengo no Maracanã. O Mengo não venceu nenhum dos dois fora de casa. E daí? Foi só uma observação, não acho que foi isso que decidiu a não-vaga flamenguista na Libertadores.

Mas acho que estes três clubes andaram tomando muita cacetada nas rodadas decisivas, coisa inadmissível, de modo que não considero que eles sejam a história a se contar.

Aí virá você e me dirá que é óbvio: a história a se contar é a do tricampeão, do hexacampeão.

De fato, é. Da recuperação fabulosa, raríssima em qualquer parte do mundo. Do primeiro Tri da história do clube, em qualquer tipo de campeonato. Da invencibilidade por todo o segundo turno, da morte de Portugal Gouvêia, da mitificação de Muricy, do campeão que é o campeão, e, ora ora, é o dono da festa!

Entretanto os pontos corridos permitem outras histórias. A do Campeão é a trivial, é a evidente, a unânime, e esse humilde blog iria apenas replicar sobre o que só se fala.

Mas há o Vasco da Gama. Que ensaiou silenciosamente (ou nem tão silenciosamente) por muitos anos esse final de semana fatídico. Que coloca ardilosamente Roberto Dinamite e Edmundo como atores frontais do terrível fim de tarde vascaíno. Mas que tem Eurico Miranda (leia este nome como uma marca, não como uma pessoa, pois são muitos os outros nomes menos nobres e tão nocivos quanto, por trás dele) como roteirista, diretor, ator principal.

Deus sabe o quanto dói. Eu sei. Das grandes massas do país, só um carioca não sabe. Só um mineiro, só dois paulistas, só um gaúcho, só um paranaense. Aos poucos, todos vão entrando nessa roda, que existe desde o começo desse século - não me venha com os rebaixamentos de outras décadas, pois nunca foram sérios e respeitados.

E o Campeonato Brasileiro, que, dizem, é o único do mundo onde 12, 13 times podem ser campeão, se mostra o contrário disso. É o grande Campeonato onde 12, 13 times podem ser rebaixados a qualquer momento.

A alegria tricolor já estava na geladeira desde domingo passado. É o fato inédito mais retumbante desse ano de 2008, este, sim, montado contra todos os prognósticos, até os vindos de dentro do clube. Só Muricy acreditou, e bastou.

Porém, eis aí um real legado dos pontos corridos. São muitas histórias. E a do Vasco é muito forte, dura por natureza, duríssima por ser tão anunciada, com detalhes tão sórdidos, em casa, perdendo um jogo que, ainda que ganhasse, de nada serviria - ou melhor, serviria como um mínimo de dignidade para o torcedor.

Um filme de terror, daqueles deprimentes. Outro daqueles improváveis em que o mocinho reverte seu sofrimento de forma arebatadora. E nem precisei ir à vídeo-locadora.

Tantas histórias.
Felizes tricolores.
Tristes flamenguistas.
Floripa mudando de cor.
Duplamente tristes os portugueses.

Foi um grande campeonato.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Luiz Fernando Bindi

Hoje Luiz Fernando Bindi faria 36 anos de vida. Morreu no dia 22 de julho.

Se você não conheceu o trabalho do Bindi, foi por falta de tempo. Certamente você o conheceria daqui, sei lá, um, dois anos. Se você conheceu seu trabalho, sabe o tamanho da destreza e categoria.

Eu conheci o trabalho e a pessoa. Fui um privilegiado. Quando ele partiu, este blog não existia. Este blog, inclusive, é dedicado a ele. E, abaixo, o que eu escrevi, no dia 23, certamente o texto mais difícl que já escrevi.

Feliz aniversário, Bindão.

* * * * *

Nessum Dorma

Chego em casa quase meia-noite. Minha mãe me recepciona e eu lhe presenteio com um aparelho de MP3 que ganhara horas antes. Ela agradece mas não entende muito. Explico didaticamente a finalidade do bichinho. Ela comemora e pergunta se pode ouvir qualquer música. Digo que ponho o que ela pedir. Ela cita uma música. Eu pasmo. pergunto porque justo aquela.

-Essa música a Vandinha pediu pra eu ouvir no dia que ela morreu, quando a gente era menina.

Eu engulo seco. Tento lhe contar uma má notícia, mas opto por uma frase mais simples.

-Mãe... a gente se acostuma com essa coisa de morte?
-Ah, filho... não tem jeito, sempre dói. A gente não aprende.

Eu tomo o MP3 de sua mão e vou para o quarto, chorar e escrever estas linhas. A música que ela citou era exatamente a mesma que estava ouvindo, horas antes, fim de tarde, na mesa de trabalho, quando recebi a notícia que me congelou a espinha.

Estava vendo o blog do meu amigo, o jornalista e geógrafo Luiz Fernando Bindi. Uma postagem nova tinha uma foto curiosa, que mostrei ao parceiro de sala, e depois enviei, por link, para alguns amigos online. Um deles me respondeu.

-Legal a foto, mas você me enviou pela foto ou pela morte?

E foi assim que soube que Bindi partiu. Estava na sala de seu blog, no quintal de sua postagem, avisando os vizinhos para que olhassem aquele quintal. Tão vivo. A música se seguiu enquanto eu chorava e tinha que receber na porta o tal amigo que me daria o MP3.

Não consigo levantar da cadeira. "Digam que não estou". Tento notícias. E é fato que o coração amável do gordinho mais batuta da Mooca parou de bater. Falo com meu amigo Kadj Oman, para dizer a ele que sou feliz em te-lo conhecido este ano. Algo que queria ter dito a Bindi, a melhor pessoa que conheci nos últimos tempos.

A última vez que falei com ele foi via SMS, como sempre fazíamos após os jogos do Palmeiras. abro a mensagem e não soa como vindo de um falecido. Falo com uma colega da rádio 105FM. Vão pipocando mensagens pela internet toda. Perplexas. Tetricamente, recados choviam no orkut do nosso Bindi.

Que me chamava de "Foca de Base", desde que montamos uma metáfora futebolística para os estágios de nossa carreira, que, inclusive, ele vinha tão feliz em construir. Que eu chamava de "novo Claudio Zaidan", posto que costumávamos ter os mesmos ídolos. Que nunca me poupou, nunca foi paternalista, e isso só valorizou cada elogio que fez aos meus atributos profissionais. Que já me deu conselhos amorosos, morais, me deu dicas de mercado e cinema, e sempre foi absolutamente generoso ao passar seus conhecimentos, dividir suas informações, ensinar seus métodos, a quem quer que fosse, e a mim também. Ele sabia que o único capital intangível está naquilo que fica quando a gente se vai.

Falávamos muito sobre ópera. Tínhamos cachorros da mesma raça, e o amor dele pelos bichos era divino. Eu tinha prazer em ter no Bindi um lugar pra aprender de pouco em pouco, um nome que eu podia ter como referência, porque ele era um profissional obcecado por lisura e conduta linear, e uma pessoa de inesgotável doçura. Um cara e tanto. Só 35 anos. Um dos maiores arcabouços culturais desse país não pode mais ser acessado.

Eu não queria só agradecer a força que ele sempre me deu desde que viu meu trabalho. Eu queria tocar minha carreira com ele por perto. Sabe lá o que será do meu futuro. Mas eu queria ver o que seria do promissor futuro dele. Não verei.

É normal que, quando alguém morre, surgam relatos hiperbolizando a bondade do sujeito. Aos olhos de quem não o conheceu, Luiz Fernando Bindi é uma dessas vítimas. Pois ele era uma espécie de unanimidade em seu universo. Sábio e confiável à primeira vista. Um dos mais talentosos pesquisadores desse país. Um cara que, por mais torpe que soe, não podia nem merecia morrer tão cedo, e tão antes de tanta gente. Insubstituível.

Dói e a questão não é se acostumar. É certo que vai ficar um pigarro, um arranhão na garganta. Esta falta vai incomodar a cada um de nós. Por mais que daqui pra frente tudo aconteça de bom, haverá a ressalva: "Mas seria melhor se o Bindi estivesse por aqui". O moço tão simples e de tão absurda capacidade, que eu conheci a tão pouco tempo e já tenho que me despedir. E fui.

-Você era amigo do trabalho dele?

-Não. Eu era aluno.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Sobre Leões
















Não adiantaria dizer ao torcedor da Portuguesa que é assim mesmo, que há uma nova realidade no futebol brasileiro, e nessa realidade planejamento, profissionalismo e estrutura são mais do que meros termos retóricos e vazios.

Tampouco ganharei a simpatia do lusitano se avaliar a Portuguesa como acima dessa mentalidade perfeitinha do futebol atual. A Lusa é errante, é tranco-e-barrancosa, isso é nobre, mas "e daí?", vai me responder o rubro-verde.

Às vezes noto que o rubro-verde não se importa nem com argumentos prós, muito menos com contras. Ele é à prova de argumentos.

Hoje são só 20 times na Elite, então é difícil se manter. "E o Barueri pode ser um desses?" Ora, o Barueri montou uma estrutura compromissada com políticos, e já faz alguns anos. "Mas doze anos atrás a Portuguesa foi finalista do Brasileirão!".

O fato é que não dá para consolar um lusitano. Não tem caminho. Esse time tem uma pinta única, vai na contra-mão da cultura brasileira que reza que "quanto menos torcida, mais vergonha você deve ter de seu próprio time". A Portuguesa é colônia. É cheia de piadas prontas, de cagadas, de mesquinharias. E é incapaz de causar antipatia nacional.

Mas o torcedor da Lusa muito menos vai ficar satisfeito se eu disser que vou às vezes ao Canindé, e que são muitos os não-lusitanos que torcem "um pouquinho" pelo time. Eu mesmo, torço. E não é porque os acho menores, inofensivos, café-com-leite. Na verdade, eu não sei porquê. O Canindé me relaxa, a Portuguesa representa bem o futebol que eu amo, mística e à flor da pele.

Esse torcedor da Lusa é engraçado. É mesmo um leão. Eu sempre os comparei a um siri. Valente como é, se o siri tivesse o tamanho de um tubarão, não haveria baleia para tirar farinha com ele. E nessa cidade que sufoca tudo que não é "maior", existir a Lusa, na Marginal e à margem das grandes manchetes, beira o inacreditável.

Eu tenho e tive amigos portugueses. Um faleceu, outro vive nas bancadas, outro até foi da assessoria de imprensa. Tive um primo que jogou lá, nos juniores, e ele ficou 14 meses sem receber salário. Não tenho raiva. Entendo a Lusa. Entendo o futebol brasileiro. Entendo que alguns cartolas que passaram pelo Canindé nunca souberam interpretar esse time, e o rubro-verde há de pagar por isso por mais alguns anos.

Eles estão outra vez na Segunda Divisão. Por mais previsível que fosse, é triste dialogar com meu amigo. No primeiro minuto, me senti constrangido, penalizado, horrorizado com o tom de sua voz, com a dor que ele estava sentindo.

Mas no segundo minuto, assim, naturalmente, a coisa se inverteu. Entendi porque não há nenhuma maneira de tentar consolar um torcedor da Portuguesa: apenas não é preciso.

Era mais fácil ele me convencer que ir pra Série-B é uma boa do que eu convencê-lo de qualquer coisa. Inclusive, eu saí do papo convencido que, se a Lusinha vai fazer falta na A, por outro lado nem vai doer estar na B, preencher a B, valorizar a B, que a cada ano está mais forte. A Portuguesa já passou, terna, por coisa muito pior. O torcedor canindeísta há de se sacrificar de novo, e não vai reclamar com deus nem jogar isso na cara das "grandes torcidas" do país. Estas que se acham as fodonas da Rua de Cima só porque estão em maior número.

Faz parte da via-crucis do português. Toda massa sofre suas tragédias. Nenhuma reage à elas igual o lusitano. No fundo, eles gostam do estrago.

Não há nada mais forte que um peito rubro-verde.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Um casamento e dois finalistas

Um dos grandes amigos que tenho na vida resolveu se casar no dia 30 de novembro, às 17 horas. A penúltima rodada do Brasileirão foi acompanhada por mensagens de celular, vinda de amigos nas casa e estádios por aí. O que podia ser a rodada derradeira do Campeonato estava com cara de último capítulo de novela, com todos os núcleos reunidos.

No casamento, tinha palmeirense, flamenguista, fluminense, gremista e saopaulinos, estes, os mais ansiosos, claro. Fogos de artifício dispersos deixavam todos aflitos. O Grêmio é o primeiro a ficar bem, e o torcedor gaucho, como padrinho da cerimônia, relaxa. O noivo é corintiano, diga-se.

A informação do gol do Flu veio num torpedo que desviou as atenções do casório, e seguiu-se de um festival de mímicas para os mais distantes saberem. A torcedora carioca tirou um baratinho. Nunca meu celular foi tão visado. O gol de empate do São Paulo veio antes do SMS. Fogos de artifício desembestaram nos arredores. Provocação de volta.

Os 10 minutos finais foram dentro do carro. Acabou a cerimônia, ia começar a festa, mas alguns se reuniram no rádio do automóvel. O flamenguista encostou só para comprovar a informação do 3x0. Estava 3x3. Ele saiu andando e resmungando, foi engraçado.

Nada acontecia em Salvador, e o Palmeirense estava satisfeito assim, pois o último boletim informava vitória do Colorado no Cruzeiro. Acabam os jogos. O gremista parecia lamentar saber que teria outra semana tensa. O flamenguista não foi mais visto. Os saopaulinos debateram sobre o tal "não está nada ganho", e não estava mesmo.

E o palmeirense que vos escreve comentou que este Campeonato Brasileiro merecia mesmo uma última rodada

Analisando lá em cima

Como escrevi no artigo acima, um casamento me impediu de assistir à rodada 37 desse espetacular campeonato. Farei uso do que lí, vi, ouvi, pesarei os conjuntos das obras, especularei sobre o futuro dos que estão lá em cima, tudo agora.

FLAMENGO
-O Flamengo é mesmo lamentável. O 3x0 virou 3x3, e Caio Júnior, de novo, mostra inaptidão para momentos agudos e decisivos. Mas não é só isso, nem só os muitos pontos perdidos em casa sem explicação.

Do goleiro ao Presidente, literalmente, todos falaram demais. Foram os sacaneadores oficias do tal "chorão Botafogo". Mas nenhum botafoguense foi capaz desse ato inominável de tornar público o telefone de um árbitro. Time destemperado, como o Palmeiras de 2007. Mão do tecnico.

O Maraca deixou de ser a casa, e a faixa do "Brasileiro é Obrigação" só não era mais cretina do que os rojões que outros torcedores soltaram nos jogadores, naquele fatídico treino. Entre escapadas às boates e eliminações inacreditáveis, como na Libertadores, o ano tem tudo para ser desastroso por completo, na rodada final.

CRUZEIRO E PALMEIRAS

-O Cruzeiro e o Palmeiras dão pinta de que pegarão as vagas restantes para a Libertadores. Mas são dois times que, entre goleadas sofridas e jogos apáticos, já mostraram que podem muito bem tropeçar na hora H.

Sobretudo o Palmeiras e sua intranquilidade fora de campo. A sorte deste é ter, na teoria, o quadro mais simples, só precisando igualar o resultado de um dos dois concorrentes. O Zeiro me pareceu mais linear ao longo do ano, merece mais a vaga. O Palmeiras tem rendimento honesto, mas os pecados extra-campo são tantos, mas tantos, que vai saber se a bola resolve bater na trave de novo.

SÃO PAULO E GRÊMIO

-São Paulo e Grêmio chegaram até o fim da maratona. Os mandantes ganhando, dá Grêmio Campeão. Qualquer um dos outros 4 resultados possíveis, dá São Paulo. São chances bem distribuídas, ambas conquistas são factíveis, alcançáveis. Me parece claro que o time paulista está mais perto do caneco, até porque o mandante não será tão mandante assim.

Uma pena ao São Paulo não ter ganho o título nesse domingo. Não por nada, mas por uma única razão romântica. O ex-Presidente Marcelo Portugal Gouveia, um dos maiores Presidentes da história do SPFC, morreu no sábado, e teria sido uma homenagem "da bola" ao homem que viabilizou esses anos potentes do São Paulo.

Mas o Campeonato premiou o time que mais o liderou. O Grêmio será, se perder a competição, o único que pode considerar que perdeu mesmo o título. Eles estiveram tantos pontos na frente, venceram o SPFC nos dois turnos... a sensação seria de que "entregaram" o caneco. Mas o pragmatismo do time gaúcho vingou. O tricolor paulista ainda tem alternado boas a más atuações. Venceu alguns jogos mesmo jogando péssimamente. É o tipo da coisa que um dia dá errado, sobretudo quando se tem 17 jogos invictos. Questão de probabilidade.

O Grêmio, então, aguarda essa má jornada do adversário. A única coisa que eu aposto de forma certeira, é que, no olímpico, o Grêmio vence o Galo. O resto, quero ver no que vai dar.