sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Onde estão seus feriados?

Poucos dias atrás discutiu-se largamente sobre a religião, ou a demonstração exagerada desta, dentro dos campos de futebol.

Os que são contra defendem que o esporte deve ser laico. Que os católicos-cristãos-evangélicos possuem permissividades que os ateus e os demonistas não possuem, o que esbarra longinquamente numa discussão sobre discriminação.

Os que são a favor, sentem-se discriminados.

Agora, o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, proclamou feriado nacional a todos os servidores públicos no dia seguinte à classificação de sua seleção à Copa do Mundo de 2010.

A pergunta que me faço é o que diferencia o moço que não possui religião do que não gosta de futebol.

O caso da religião nos campos virou capa de revista, foi tratado com seriedade virulenta. O feriado do Sr. Lugo, ao contrário, é tratado como pauta divertida, exemplo de como o futebol é bacanão.

Não devia ser. Quem não gosta de futebol deve ter tido a sensação de que parte do país parou um dia por causa de uma coisa irrelevante.

Assim como quem vota no derrotado legitima a eleição do vencedor, aquele que não gosta de futebol é quem dá corpo personal à comunidade do esporte.

E não faz sentido surgir um feriado a partir disso. Quem não gosta de futebol deve gostar, pode ser, de atletismo. Onde estão seus feriados?

Se o futebol precisa ser laico, tampouco um presidente pode exaltar-se assim numa comemoração. E o estado não deve comemorar uma classificação à Copa do Mundo desse jeito.

Ou então deveria fazer o mesmo com outros esportes.

O futebol é o cristão da história. Os outros esportes são compostos de ateus.

Lugo mandou mal. Até porque o Paraguai já está habituado a ir à Copa.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Histórias de Love

O artilheiro do amor que acaba de voltar ao meu Palmeiras me emocionou. No dia da confirmação, confesso que caíram duas lágrimas, uma de cada olho, enquanto comia um pão matinal.

Lembrança com afeto de um tempo bom que vivi. Era meu primeiro ano como universitário, um momento de maturidade, descobertas, mas de Palmeiras na Segunda Divisão.

Fui a quase todos os jogos daquela campanha. Sempre sozinho. Ingressos a 5 reais comprados numa peixaria no Mercadão da Lapa. Protestos contra a diretoria, noites na rua, 2x7 pro Vitória em casa, discussão com Oberdan Cattani.

Seja lá como for, isso tudo foi gostoso e estava debruçado na arquibancada, no primeiro degrau, quando Vagner Love deu, de cabelo colorido, a volta olímpica com a Taça na mão.

A relação com Love é de carinho. No momento mais difícil, aquele menino deu folclore e qualidade, auto-estima e gols. Mas minha relação com Vagner Love vem de antes.

Meu primo se tornou jogador de futebol. Em 2002, ele era juvenil da Portuguesa. Fui ao Canindé vê-lo jogar. Palmeiras x Portuguesa. No jogo preliminar, feito pela categoria mais velha, Vagner estava no banco.

A Lusa foi pro intervalo vencendo, 1x0. Entrou o moleque, camisa 17. Em 15 minutos, ele marcou dois gols. 2x1. O time que tinha Alceu como capitão, tinha também um destaque no banco.

Alguns meses depois, veio a Copa São Paulo de Juniores. Eu passava férias em São José dos Campos, onde o Palmeiras jogou a primeira fase da competição, em 2003. Fui aos jogos, claro.

Na rodada final, era preciso ganhar por 5 gols para classificar. E Vagner não estava em campo. Ninguém no estádio podia supor o motivo do craque alviverde estar de fora. Nem no banco.

Chega o intervalo, e descubro que Vagner está, todo de preto, nas cadeiras do estádio. Vou até lá. Ele dá autógrafos para uns garotos. Eu não quero assinatura.

-Vagner, porque você não está jogando?

O atacante me olhou, fez cara de dor, colocou a mão na coxa, e sentenciou.

-Panturrilha, cara.

Mais tarde, chegando em casa, assisti perplexo o diretor de futebol Márcio Araújo contando a versão oficial da "contusão" de Vágner. Uma contusão que lhe deu o apelido eterno de Vágner Love.

Ele mentiu pra mim, mas gosto dele de verdade.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Qual conclusão se tira?

Estes são os números dos jogos do final de semana, pelas Ligas Nacionais na Europa, em comparação ao Brasileirão.

Nosso futebol é o mais violento do mundo? Ou são nossos árbitros que usam o cartão de forma doentia?



Campeonato Inglês
29 amarelos, 0 vermelhos, 0 expulsos

Campeonato Alemão
24 amarelos, 0 vermelhos, 0 expulsos

Campeonato Francês
33 amarelos, 0 vermelhos, 2 expulsos

Campeonato Turco
45 amarelos, 0 vermelhos, 1 expulso

Campeonato Português
35 amarelos, 0 vermelhos, 1 expulso

Campeonato Holandês
37 amarelos, 0 vermelhos, 1 expulso

Campeonato Brasileiro
58 amarelos, 4 vermelhos, 9 expulsos.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

E se fosse ontem? - SANTOS MÍSTICO E DEDO-DURO

(Trata-se de uma ficção. O que aconteceria se fatos atuais acontecessem em outra época, quando a história, as lendas e os folclores eram criados com mais frequancia que hoje?)

Foi uma época estranha, aquela do Santos FC. Na esteira da década de 50, onde o clube praiano começava a montar aquele que foi o seu maior time de todos os tempos, um caso curioso incomodou todos os diretores.

Havia alguém passando informações internas para os jornais. Um "dedo-duro". Notícias de bastidores, papos de vestiários, intrigas e balões de ensaio, tudo saía no jornal e ninguém sabia de onde vinha.

Quando o treinador santista esbravejou publicamente e prometeu caçar o responsável por aquilo, um jornal da região deu a manchete: "DEDO-DURO SANTISTA É ALVO DE CAÇA". Isso explica, naturalmente, que no jogo seguinte, contra a Ferroviária em Araraquara, a torcida do Santos tenha ensaiado um canto de "deeeeeedoooo".

Essa é a explicação para o apelido santista, que perdura até hoje.

Mas isso não foi tudo, claro. Os dedo-duros praianos foram o centro de outra grande polêmica. Tudo porque um volante foi afastado do time, provavelmente por motivos de curandeirismo. Um pai-de-santo havia dito que era ele o problema da falta de harmonia espiritual do plantel.

O jogador ficou marcado por isso, chegou a ser marginalizado, e o Santos, então, virou piada por esta estranha e mal contada história. Seja como for, dias após o afastamento, chegou na cidade o menino Edson Arantes do Nascimento. O inigualável Pelé, que, nos primeiros relatos jornalísticos com a camisa branca, era também citado como o "Craque Místico", numa insinuação de que seu futebol devia-se à depuração espiritual santista.

Para completar esta fase santista, não podemos nos esquecer de um lateral-direito limitado, que jogava pelo Vasco e foi vendido ao São Paulo. Sem sucesso nas chances que teve, o jogador foi emprestado ao Santos. Novo fracasso.

O Santos, então, quis devolver o atleta ao São Paulo, de graça. O Tricolor não quis a devolução, e, por sua vez, devolveu o jogador ao Vasco. O jogador voltou ao seu clube de origem, sendo que todas as transações após a primeira aconteceram de forma gratuita.

Não à toa, o jogador ficou conhecido como "Nem-de-Graça" até o fim de sua carreira.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

O campo e o teatro

O futebol têm suas leis intangíveis, têm sua moral própria, interna.

Muitas vezes se assemelha com o mundo fora das 4 linhas. Algumas vezes é o contrário.

O Brasil possui, na várzea, um tesouro. Um dos únicos argumentos possíveis de quem defende ser o Brasil o "país do futebol".

Jogo na várzea toda semana, e preciso disso. Competir no campo, para não precisar competir em outros setores da vida.

Ter adversários lá dentro, pra redimensionar e relativizar os amigos e as relações fora dalí.

Meu time estava em uma crise braba. Muitas derrotas. E enfrentaria seu maior rival. Eu queria encontrar respostas.

Era o capitão. Deixei de ser. Usava uma camisa. Mudei de número. Era lateral. Fui pra zaga. 2° tempo: 0x3.

O time em conflito interno, xinga-se. Lance comum, e eu arranco da zaga. Quando vejo, passei os zagueiros deles, e recebo a bola. 1x3.

Caio de joelhos e choro. Pra mim, aquela arrancada e aquele gol já me eram uma resposta. Porque o futebol tem dessas mensagens dissociadas do sucesso.

O jogo, na lama deliciosa da várzea pós-chuva, fica tenso. Pancadas, provocações, e eu passo pra lateral, em virtude do arranque do 1° gol.

Um deles desaba. A bola vem pra mim. Não respeito o tal "fair play", vou pra cima da marcação. Recebo pontapé. O jogo pára para o atendimento, e para as ameaças.

Entre cotovelos e solas, bato mais boca e ganho um escanteio-com-solada. Vou pra área. A bola vem. Em dou passos pra trás e tomo um soco no rosto.

Ainda assim, sai o gol. Gol com soco. Confesso, não vi. Tive que revidar a agressão. Alguém me agarra e me lembra que está 2x3.

O jogo fica frenético desde então. Lance final. Escanteio. Eu corro e pego a bola para cobrar. Nunca cobrei um escanteio na minha vida.

Reclamam e me cobram pelo ato. Irredutível e irresponsável, eu cobro. E o gol de empate sai, de cabeça. Caio no barro, às lágrimas, enquanto ouço uma porção de espectadores cantarem meu nome.

Em qualquer outro lugar do mundo, eu ficaria triste, Frustrado, por tomar um soco, revidar, provocar, afrontar.

Mas, nos contextos de um jogo de futebol, o peso das coisas muda.

Não sou inimigo de quem me bateu. A briga lá dentro não é pessoal. "Pára de brigar porque foi gol" é o argumento que bastou. Pra um lado e pro outro.

Acabo de viver o jogo mais maluco que já joguei. A vitória não veio e isso não é importante. Meus gols e assistências também não me são o mais importante.

Importante, pra mim, alí, foi poder sentir na pele o que há de mais primitivo, primordial e fundamental neste esporte.

Em cada campo de várzea vivem os mesmos anjos e demônios que rabiscam enredos improváveis em tudo que é canto do futebol.

A sorte é que, enquanto existem esses campos, a gente pode, por algumas vezes, ser a estrela daquilo que, pela vida toda, assistimos, apenas assistimos.

Futebol e o meu mundo real

Em 2005, após a classificação do São Paulo para a semi-final da Libertadores, eu, palmeirense, tive o que mais pode se aproximar de uma certeza inequívoca. Meu coração ainda estava fragilizado com a eliminação, dias antes, de meu time na mesma Libertadores, para o mesmo São Paulo. Era preciso estar antipático aos meus algozes.

Na boca do vestiário, Rogério Ceni responde apressado para muitos repórteres. Um deles faz uma observação sobre estar a apenas 4 jogos do "desejo tricolor". Pela primeira vez naquela entrevista forçada, Ceni move o pescoço e procura o interlocutor. Olha bem para o jornalista e o interrompe. "Eu não desejo ganhar a Libertadores. Eu preciso".

Eis minha sensação de certeza. Seria muito difícil tirar aquilo do Tricolor.

Na época eu era um estudante de jornalismo. Dos 4 anos de faculdade, passei mais de três deles caindo em entrevistas e concursos de emprego. Um mísero estágio aqui, dívidas alí, bicos, e, faltando 5 meses pra formatura, estou diante do que pode ser minha última entrevista de trabalho como estudante.

E nela, me lembrei de Rogério Ceni. Eu precisava do trabalho. Citei a mesma frase dele (porque você quer trabalhar conosco?). Ganhei o trabalho e nele fiquei por 3 anos. Não foi pelo uso da frase de efeito. Mas minha situação alí poderia ser comparada a de Ceni, lá.

E estou falando de um vilão palmeirense. Mas poderia falar de mil outros exemplos vindos de São Marcos, de minha infância com Evair, de Scolari, as Copas do Mundo, os sul-americanos sub-20, cada chuva e cada sol em cada jogo que vi e que joguei, o futebol no vídeo-game, no estrelão, no tapete de casa.

O futebol é capaz de traduzir em forma de metáfora todas as minhas experiências relevantes. O futebol é a coisa que me dá a leitura alternativa de minhas próprias vivências. Cada um tem, ou deveria ter, a sua própria poesia intangível, seja ela uma religião, uma banda de música, novelas, o que for, algo que nos absolva e nos dê a oração sem ladainha, nos dê a canção sem aula de partitura.

No meu caso, é o futebol. Que me explica a fé, me mostra os opostos, ensina a me propor perder para poder ganhar, e me dá pequenas coisas que me fazem todo sentido e que nunca saem de mim, me formam o caráter, me fazem não ser tão pesado o tempo todo.

O mundo do futebol explica o mundo real também nas imperfeições. Seria chato e sem sentido se assim não fosse. Os rebaixamentos e os terremotos estão quites. A beleza pode ser triste, a tristeza pode ser bela, tudo é uma questão de leitura.

Uma questão de saber interpretar, saber ser ponderado para ouvir o futebol, terno o suficiente para entender suas ironias. É preciso tato, para não levar tão ao pé da letra, ou ao extremo possível, um goleiro "precisar" de uma conquista (ou um garoto de um emprego).

E é preciso compreender que, no futebol ou na vida, nem toda mensagem é objetiva e justa, algumas delas sequer são alcançáveis, muitas são utópicas, inclusive. Mas existe um pensador chamado Sócrates, aquele Brasileiro, ex-Corinthians, que disse sabiamente que "quem não tem utopia, já nasceu morto".

E até isso o futebol nos explica.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Palmeiras sem TV

Da segunda metade da década de 70 até o fim da de 80, produzimos nossas primeiras imagens de ótima qualidade, de fôlego, profundidade e bastante replicadas.

Antes disso, muitos gols, mas poucos compactos, poucos teipes, pouca nitidez. Depois disso, os "tempos modernos", que, mesmo que seja reprisado, não tem o mesmo glamour.

Essas imagens dos anos 70 e 80 são deliciosas. O áudio, os rojões e as bandeiras simples nas bancadas, as formas de narração, os uniformes mais tradicionais, imaculados e sem calções misturados, o visual dos atletas, a bola, a rede, tudo! É sempre um deleite ver essas imagens.

Formam as novas gerações de amantes do futebol, que assistem a isso para entenderem o presente.

Pois bem. Ao palmeirense, é aflitivo notar que esses anos "áureos" do romantismo visual com o "rec" ligado foram anos de nenhum título.

Imagens como Serginho Chulapa fazendo o gol de 84 pelo Santos, ou o calcanhar do Sócrates em 82, o carrinho de Viola em 88, os Menudos do São Paulo de 85, a década de Zico no Maracanã, são, todas elas, formadoras de nossa relação afetiva com a bola.

E essa época, embora tenha o mesmo peso histórico das outras, é mais repetida, mais vista, com mais carga emocional. E isso agride um pouco o palmeirense.

Primeiro, porque os dois Brasileirões conquistados pelo Verdão, em 72 e 73, foram, desgraçadamente, com dois 0x0, e não há muitas boas imagens sobre isso, tampouco dos Robertões e Taças Brasil de antes.

E, sobretudo, de toda essa safra deliciosa de imagens saborosas, o palmeirense tem 3 pequenos "grandes momentos": a despedida de Ademir da Guia, o 4x1 sobre o Flamengo no Maracanã em 79, e o gol feito pelo juiz José de Assis Aragão, em 83, num Palmeiras x Santos.

É como se o hiato de títulos palmeirense tivesse acontecido justamente na época mais reprisada.

É uma questão estética importante, contribui para a formação do caráter do novo torcedor, que tem nas cores e nuances dessas imagens algo como uma aula, uma conversa com o avô.

Um golpe de azar, de certo. A fila de 23 anos do Corinthians não é rica em imagens. Mas o título, em 77, é um documento que qualquer arquivo de Tv possui na íntegra, o que contribui, inclusive, pra mística da conquista.

O Palmeirense precisa sa resignar por isso, ou esperar que as imagens da década de 90 se tornem velhas.

Mas, mesmo assim, é diferente. A primeira geração altamente gravada e televisionada de nosso futebol foi ingrata ao Palmeiras.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

MAURO BETING, TARANTELA NA DISCOTECA

Minha outra Paixão - Mauro Beting

“Essa série tem a intenção de entrevistar jornalistas esportivos, sobre uma paixão não-jornalística e não-esportiva”


* * *


Mas aí você há de perguntar: quem não gosta de música? É verdade, eu não conheço ninguém que, alegadamente, rejeite ouvir qualquer som. Mas aí eu vou ponderar: você conhece de música napolitana? Apresentou programa de rock, foi colunista de revista musical? Fez a lista de músicas do seu casamento, tem uma gigantesca coleção de hinos? Faz fitas para amigos, trabalhou alguma vez como DJ?

Mauro Alexandre Zioni Beting responde sim a tudo isso. Parte de sua carga melancólica é sequela de anos e anos ouvindo música, sentindo-as, respeitando-as. O comentarista da Rádio Bandeirantes (e apresentador da Band Sports, e colunista do Lance!, entre outros, sei lá, trinta trabalhos) me recebeu no estúdio onde participa do programa Esporte em Notícia. Ao seu lado, “apenas” Claudio Zaidan, José Silvério e Sérgio Patrick. O privilégio de estar alí não termina por aqui. Beting não se contém com jingles de propagandas, e dança animadamente em homenagem a alguns. Quem viu, viu. Indiferença musical não é com ele.

Aguardo sem pressa o programa encerrar-se. E topo seguir Mauro até a cantina do complexo Bandeirantes. Antes disso, ele finaliza uma pesquisa sobre Grandes Finais de Campeonatos Paulistas, derruba um copo de água na mesa do estúdio, e limpa usando um jornal velho que estava surrado dentro de sua pasta.

Fácil entrevistar Mauro Beting. Os primeiros dez minutos de conversa foram um rasgo só, não deu tempo para que eu fizesse sequer uma pergunta completa – e no entanto ele respondeu várias perguntas espontâneamente. O papo passou por família, pela frustração de não tocar instrumento e não saber cantar, sua carreira pouco reconhecida de compositor, e, também, pela relação de futebol com música. Tendo a participação desafinada do comentarista Neto, que chegou e sentou-se conosco, Beting, entre filmes, seriados e shows, mostra-se mesmo um amante da música. Segue aí.

Mauro, grande Mauro, sua outra paixão é...

Sem contar família, futebol... Eu diria que minha maior paixão é a música, concorrendo muito de perto com cinema e televisão, seriados de televisão, não a programação normal. Agente 86, Wonder Years, Friends, Seinfield, 24 Horas... sou aficionado, e são seriados que poderiam ter passado no cinema. Quando penso nos grandes filmes de minha vida, como Era Uma Vez na América, a saga do Poderoso Chefão, eu penso que eu amo esses filmes, também, pela trilha sonora. É o casamento da trilha sonora com a cena que fazem algumas coisas ficarem absolutamente inesquecíveis.

A paixão então é a música em contextos, em parcerias.

O casamento da imagem com a música é maravilhoso. Se você fechar os olhos não consegue ver um grande filme. Mas consegue ouvir uma grande música. E a grande canção vai às vezes te trazer não só memórias afetivas, como vai te levar, te reportar a um outro tempo, um tempo que você viveu, gostaria de ter vivido, projeta viver no futuro, coisas que gostaria de viver, através daquela realidade mágica que a música te transporta. Entao eu nao vejo nada mais completo do que música.

Em quais outras atividades a música revoluciona?

Clipes. Clipe de gols, clipe de meu filho... Se você acerta a música, sai de baixo , mas se erra... Se colocar Calypso, nem a lua-de-mel com sua esposa vai ser salva. Te dou um exemplo de The Way to Look Tonight, que me lembra a noite de encantamento com minha mulher, que é do Tony Bennet (e se o Tony cantar pra mim o hino do Corinthians, eu vou adorar). se eu começar a falar de música eu não vou parar, seja ela de 1m58, como Great Balls of Fire (Jerry Lee Lewis), que foi a primeira vez que meu corpo, com nove anos, imaginou o que poderia vir a ser amor e sexo (risos), e me incendiou, até tantas coisas maravilhosas que só de ouvir... eu choro. Eu sou desses que chora. Fui ver o Roger Waters em 2007, no Morumbi, e eu tava preparado para aquilo, sabia que ia ouvir aquilo, mas no primeiro acorde de Wish You Here, chorei no Morumbi como jamais chorei em vitórias ou derrotas do Palmeiras.

A sua primeira recordação musica, então, é...

Eu existo por causa da música, de certa forma! Os meus pais se conheceram em uma rádio, em São Paulo, chamada 9 de Julho, onde minha mãe era produtora, e meu pai era locutor de um programa chamado Bombons de Música para a Petizada, um sucesso no final dos anos 50. Aí deu no que deu. Eu cresci num ambiente musical, no sentido de ouvir música. Meu pai toca até um banco, se um banco for dado a ele. Harpa, violão, toca tudo que der pra ele. Minha mãe não, e uma grande frustração minha é não saber tocar nenhum instrumento. Minha mulher se vira no piano, ta aprendendo violão, meu filho mais novo ta aprendendo guitarra, o mais velho bateria, então eu fico imerso na música mesmo sem saber tocar.

E quais os horários que você se relaciona com a música?

Por vezes eu trabalho ouvindo musica. Um ouvido no estádio, e o outro ouvindo música. Escrever, quase sempre é com música. tenho discernimento que tenho que cantar pra mim mesmo. Quando moleque, queria tocar todos os intrumentos, ou quase todos....tuba, não (risos). Repenso seriamente em aprender gaita. Mas passei por fases de querer tocar todos os intrumentos. Eu infelizmente nao consigo ouvir tudo que eu quero. Então prefiro ouvir o máximo que consigo a perder tempo me ouvindo tocar.

E a questão da música e as relações pessoais, amigos e tal?

Uma virtude que eu tenho é uma coisa meio DJ: posso não lembrar o nome da pessoa, de onde a conheço, mas se ela me disse que gosta de Rolling Stones, eu não me esqueço. Sou um bom DJ no sentido de saber misturar os sons, e já era assim quando eu fazia fitas para amigos. É uma delicia, um prazer que eu tenho, mostrar músicas para as pessoas, mixar, casar, e esse é um lado meu "compositor", de juntar sons. E me dá uma vantagem que eu tenho que saber fazer também no jornalismo, que é saber ser plural, o mais plural possivel. Então, a princípio, não tenho preconceitos, busco ser eclético. Eu adoro por exemplo musica napolitana, gosto de todo tipo de blues, gosto de jazz, e também gosto de coisas inconfessáveis, como Abba...

Quais são as suas músicas engatilhadas?

A do celular é de uma banda chamada 10.000 Maniacs, chamada Gun Shy. Gosto muito deles, os elementos folk e a vocalista, Natalie Merchant, tem uma voz muito característica. É uma musica que me lembra momentos marcantes de minha vida, e uma banda que me remete ao amor pela minha mulher, pelos meus filhos, então me toca muito sempre. U2 e REM são bandas que estão sempre comigo. Pink Floyd não está sempre comigo porque não é algo pra se ouvir a qualquer hora , Stevie Ray Vaughan está sempre comigo. Quando ele morreu em 90 foi como se tivesse morrido um amigo. Na musica napolitana é um cantor que grava temas de desde o seculo XIII... Roberto Murolo.

E esse gosto por música italiana?

A música italiana é aquela do Cantautore, dos anos 60, de Luigi Tenco, Sergio Endrigo, isso me cativa muito por ser a musica que eu ouvia em casa quando era menino. A música napolitana é uma particularidadde mas eu tento disseminar. Estou devendo inclusive um CD para o Carlinhos Neves (preparador físico do São Paulo), que é um baita cara culto. O Murolo eu dei pro Nasi, que é um cara que gosta mais de músicas calabresas, de preferências ligadas à máfia, coisas do Nasi (risos). Mas eu sei até onde dá pra ir. Quando vou ser DJ na Funhouse, por exemplo, eu não vou colocar música napolitana, eu me adequo aos ambientes, mas fico feliz em ser o primeiro no ciclo de amigos a mostrar aos outros U2, REM, entre outros.

Disseminar música italiana deve ser complicado, poucos gostam aqui...

Em 1995 fui de lua-de-mel pra Italia com minha mulher. Pouco antes meu pai voltara da Italia e trouxe um disco de um cara chamado Bocelli. Gostou da capa, ouviu, gostou da música e me trouxe. Na época eu mostrei pro diretor da rádio onde trabalhava, a música Com Te Partirò. Argumentei que era bonita e comercial pra cacete, mesmo que não fosse o perfil da rádio, tal e coisa. Bom, passou um ano, e ele tocou na novela, foi um mega-sucesso e o Andrea Bocelli é uma estrela até hoje.

Na Itália a ópera é forte, musicalmente. Você gosta?

Não gosto propriamente de ópera. Mas gosto de algumas árias, e algumas que acabam me matando, como Una Furtiva Lacrima, Nessun Dorma, muitas das mais populares, mas essas me derrubam. Uma das poucas coisas que exigi no meu casamento foi escolher as músicas da cerimônia e da festa. Tocou, na entrada dela, um tema operístico que é muito importante pra historia minha com minha mulher, que se chama Va Pensiero, que é quase um segundo hino italiano. E terminei com Amapola, uma versão que é também do filme Era Uma Vez na América.

Juntando duas paixões: um personagem de seriado e uma trilha sonora:

Adoraria ter o humor do Seinfeld, e resolver os problemas como Jack Bauer (risos). Gostaria de ser o Kevin Arnold. Nada supera Kevin Arnold.

Considerando que música é um gosto universal, aonde sua paixão passa essa média?

Quando eu escuto sozinho, acho. Tenho um problema em escutar sozinho (nesse momento, Neto, ele mesmo, interrompe a entrevista, e senta-se conosco). Tem música que ao pegar a introdução, como por exemplo Five, do Living Colour, poderosíssima, eu escuto umas 20 vezes seguidas. Acho espetacular. E isso pode ser um problema pois irrita os outros. É chato pra quem tá do lado se eu fico repetindo trechos de música. Quando eu trabalhei com música mesmo, não como DJ, mas como crítico musical na Bizz ou no programa na Brasil 2000 com o Kid Vinil, eu tinha tempo para me dedicar muito mais a isso. Era uma delícia, se eu pudesse ficava de DJ o tempo inteiro, e só não to trabalhando hoje com algum programa de música porque... (“Porque senão você vai ver tua mulher que hora?” emenda Neto) Exato! Neto acaba de resumir a resposta (gargalhadas).

E suas investidas como DJ?

Discotequei na Funhouse em 2008, esse ano de novo, e tenho um projeto de discotecagem, com o Simoninha, mais de música brasileira, que eu também adoro e tenho material. (Neto toma o gravador e faz uma pergunta indecorosa a respeito do prestígio e da sexualidade dos DJs. Perde-se algum tempo até que voltemos ao assunto publicável).

Outro gosto seu é por hinos. Confere?

A internet é sensacional e muito me ajudou nisso. Eu apareci em muito lugar falando dessa minha outra paixão. Na Copa de 98, Alemanha x México, eu transmitindo pela Band. o nome Beting é alemão, eu acho o hino alemão belíssimo, e se eu estou num estádio, num jogo desses , e toca um hino com aquela carga, eu choro mesmo. E nesse jogo em especial eu me emocionei um pouco mais, e ao fim do hino a transmissão veio pra mim, mas eu não tinha condições de falar. No Italia x França, poucos dias depois, eu não tava transmitindo o jogo, mas chorei também com os hinos, o estádio de Saint Dennis inteiro cantando junto a Marselhesa (“Pô, Napoleão é o maior filho da p...” , observa Neto. “Mas o hino é maravilhoso”, retoma Beting).

Sua coleção deve ser extensa...

Quando eu era moleque meu vô me deu um LP com 14 hinos nacionais. Eu jogava futebol de botão, e aí botava o hino, deixava os botões alinhados, pegava uma caixinha de fósforos e simulava que esta era uma câmera andando rosto a rosto nos jogadores. O hino da Turquia, que não tinha time forte na década de 70, era meu curinga, todo time que eu não tinha o hino usava o hino da Turquia.

É bom lembrar que, sobre hinos, você tem inclusive composições, né?

Minha curta carreira como compositor de hinos existe, sim. Eu fiz o hino do meu time de Campos do Jordão, que se chama Palestra. Também fiz um hino alternativo para a Albânia, que é assim: (aqui, um artifício de áudio serviria para ouvirmos um trecho desse hino, que, inclusive, é o único hino nacional que espinafra uma nação desafeta. Mas Beting já disse mais acima que tem discernimento sobre seu talento como cantor. Se ele disse, tá dito, não gostou, reclama com ele).




Nota do editor: Mauro Beting, gentil como sempre, me ofereceu uma carona após a entrevista. Topei. E em seu aparelho de som estava tocando Laurin Hill.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Vélez: um campeão borrado

Com 36 anos sem título, o modesto Huracán contava com toda a torcida argentina. Com chuva e atraso, o Vélez, em casa e pela vitória, bancava o vilão contra o Huracán, a quem bastava empatar.

O jogo começou veloz, aberto. O Huracán estava à vontade, trocando passes, mas o "furacão" não foi mais forte que a chuva de granizo que interrompeu o jogo aos 18, por cerca de 20 minutos.

Esses 20 minutos foram de insistentes replays: um gol legítimo do Huracán foi anulado, por impedimento. Nem polêmico o lance foi: posição legal!

Na volta, o Vélez controlou o jogo. Vertical, com pontas abertos ganhando o fundo, e o Huracán se encolheu. Aos 24, Araujo derrubou Martínez, e dessa vez o juiz acertou. penalty pro Vélez.

Monzón caiu pra sua direita e espalmou pra fora! No escanteio, Arano tirou, de cabeça, em cima da linha. El Globo passou ileso por dois lances agudos, mas continuou sem conseguir ser cadenciado como gosta.

Martinez, camisa 7 azul, caía pelos lados, objetivo e veloz como um Euller. O Vélez imprime um ritmo forte, e tem seu melhor momento no jogo. Mas de nada adiantou.

No final da primeira etapa, o Huracán deu dois enormes sustos, com uma bola no travessão, inclusive. Mas, de novo, a confiança do visitante foi freada pelo juiz: intervalo.

Na etapa final, o Platense foi sincero em posicionar-se muito recuado, com uma linha de 5 atrás, tendo um líbero. Isso neutralizou os lances de velocidade de Los Fortineros, obrigou o meio a pensar mais.

Mensagem dada, reação tomada: Larrivey, atacante de área, entrou no lugar do laeral Dias. O Huracán responde colocando um atacante descansado e de velocidade, Cesar González.

Nas trocas, o Huracán se deu bem. O Vélez não teve mais calma pra bolar soluções. Faltando 20 minutos, Velazquez, rápido mas nada prestigiado com a torcida, uma espécie de Denílson, entrou para "salvar" O Vélez.

A pressão não surtia efeito. Até que, num balão aos 40, o Vélez venceu a zaga e Larrivey teve sua chance. Porém, ele atingiu o goleiro em falta escandalosa.

O árbitro ignorou, e, no rebote, Maxi Moralez empurrou pra rede. É o gol do título fortinero.

E o início da perda completa de compostura do time prejudicado. O autor do gol sofre cãimbra e vai expulso, por tirar a camisa. O jogo não anda.

A bola rola, e num arremesso lateral, uma bagunça é armada entre os bancos de reservas. o jogo não anda.

A bola rola de novo e Larrivey se indispõe com a zaga do Globo. Empurra-empurra, sopapos, e Sebá, zagueiro do Vélez, aquele mesmo ex-Corínthians, aparece com o rosto cheio de sangue.

O jogo não anda. São 58 minutos, e o árbitro Gabriel Brazenas apita o final da Final, que ele apitou tão mal.

O Vélez é o novo campeão. Posto que a Argentina toda havia adotado o Huracán para apoiar, os lances controversos à favor do novo campeão serão lamentados por dias e dias.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Corinthians: campeão nas horas erradas?

O Corinthians perde a final da Copa do Brasil de 2001, para o Grêmio.
Mas ganha em 2002.
E se estrepa na Libertadores de 2003.

Tivesse ganho a Copa do Brasil de 2001, jogaria a Libertadores de 2002.
Que foi bem mais fraca que a de 2003.
A Final de 2002 foi entre São Caetano e Olímpia!

O Corinthians perde a final da Copa do Brasil de 2008.
Mas ganha em 2009.
Não sabemos como será em 2010.

Mas se estivessem na Libertadores desse ano...

quarta-feira, 1 de julho de 2009

FURACÃO A UM PASSO DO TÍTULO

Na Argentina, dois fatos raros acontecem nesse domingo. Uma decisão de pontos corridos via confronto direto, e a chance do Huracán se sagrar campeão nacional.

Los Quemeros chegaram na última rodada líderes. 38 pontos. Com 37, está o Velez. Na rodada final, Velez x Huracán, na cancha do vice-líder. Um jogo para a história.

O último (ou primeiro) titulo argentino do Huracán, El Globo, foi em 1973. Antes, o currículo do Furacão Hermano consistia em 4 títulos na década de 20, em escalão de competição amadora. Estes são os 5 campeonatos relevantes do pequeno clube de Buenos Aires. Seu maior rival é o San Lorenzo, que, assim como o Huracán, fez 100 anos em 2008.

Os heróis de 73: Roganti, Chabay, Buglione, Alfio Basile (ele mesmo!), Carrascosa, Brindisi, Russo, Babington (que posteriormente foi tecnico do Globo, trazendo o time de volta da Serie-B), Houseman, Avallay e Larrosa (artilheiro). O técnico? Cesar Luis Menotti. Menotti começou a carreira de treinador em 70, pelo Newell´s, e seu trabalho pelo Huracán em 73 foi consagrador. Graças a este título, conquistado com 3 rodadas de antecipação, Menotti foi para a seleção argentina, onde, em 78, ganhou a Copa do Mundo.

Após essa glória e a sequencia de semi-finalista da Libertadores de 74, o Huracán só chegou perto do caneco em 94, quando, dirigidos por Hector Cúper, o treinador preferido de Ronaldo, foram vice-campeões outra vez.

René Houseman era o craque do Huracán campeão de 73. Houseman era um driblador adorável, uma das referências de uma criança chamada Diego Armando Maradona. Foi no Huracán que Houseman jogou a maior parte da carreira, dividindo-se com a seleção do país, inclusive em Copa do Mundo (atuou em River, Colo-Colo e Independente, sempre por pouco tempo). Houseman foi uma descoberta clínica de Menotti, que o achou no obtuso Defensores de Belgrano.

Mito
Reza uma lenda que, na véspera do jogo do título de 73, Houseman não se apresentou no clube. Menotti, aflito, num momento de intuição, imaginou que Houseman estaria num dos campos de várzea de Belgrano, onde morava. E foi até lá. E encontrou Houseman. No banco de reservas. Menotti, então, teria ficado indignado, não com o ato irresponsável de seu craque, mas sim com o fato de seu principal jogador ser um mero reserva no clube de bairro, e em cima desse raciocínio Houseman tomou um dos muitos sermões que Menotti lhe aplicou no Huracán e depois na Seleção. “Como um fenômeno aceita ser reserva?”, questionava Menotti.

O novo Houseman?:
No jogo de domingo, a maior esperança do Globo chama-se Matías de Federico, 20 anos, baixinho técnico, tipicamente argentino, ele é, ao lado do também atacante Pastore, 19, uma das maiores revelações da competição. Vale lembrar que ano passado o Botafogo avançou nas conversas e quase trouxe Federico. Mas não trouxe...

* * *

torcida do huracán em video emocional
http://www.youtube.com/watch?v=PAa4--fV3uU

Vídeo com imagens do título de 73 do Huracán
http://www.youtube.com/watch?v=pit2TQ3XWkE&feature=related

Imagens da partida decisiva de 73
http://www.youtube.com/watch?v=GkXOvnqSVWY

* Um orgulho particular do Huracán: em 1945, Di Stéfano começou carreira pelo Ríver Plate. Fez apenas um jogo: contra o Huracán. E arrebentou. No ano seguinte, o craque imortal vestiu sua primeira camisa inteiramente branca na carreira: ele atuou pelo Huracán, emprestado, em 1946. 25 jogos, 10 gols, e o retorno ao Ríver em 47.


(após uma pausa , pois pausa é mais honesto em blog do que contar gotas, estamos de volta por aqui)

segunda-feira, 1 de junho de 2009

O DECIMO-PRIMEIRO MANDAMENTO

Quando 20 pessoas saem da Europa de férias, juntas, preocupadas apenas em jogar bola e fazer o bem, é hora de agradecer o futebol, nossa reza disfarçada cotidiana.

Por Leandro Iamin e Kadj Oman

São 16 horas do dia 25 de maio, quarta-feira de sol e chuva em São Paulo. Pela TV, todo mundo que ama futebol e não está preso no trabalho assiste à Final da Copa dos Campeões da Europa. Manchester e Barcelona fazem o duelo mais importante da região mais próspera economicamente do futebol, e é de se imaginar que todos os olhos estejam voltados para lá.

Mas um grupo de cerca de 20 pessoas, contendo ingleses e escoceses, inclusive torcedores do Manchester, está dividido: parte assiste ao jogo, parte se encontra entrando num avião, no Aeroporto de Guarulhos, partindo de volta para Bristol, Inglaterra, a oeste de Londres. Todos eles amam futebol. Eles dispensaram a Final. Eles formam um time de futebol. Eles passaram dez dias no Brasil por causa do futebol.

Estamos falando do Easton Cowboys and Cowgirls. Uma coletividade semelhante a um time de várzea brasileiro, que soma à prática do futebol ações políticas, como o discurso anti-racismo e anti-facismo. Nascidos em 1992, eles só queriam jogar bola. Mas Bristol é uma região multicultural, recebe gente de muito lugar diferente, e aí está o embrião da ideologia dessa rapaziada.

O Clube Easton, após fundado, começa a ser inclusivo naturalmente, passa a crescer e oferecer recreação para crianças, famílias, e seus integrantes levam a sério a proposta de buscar a liberdade como conceito social ligado e explicado pelo futebol. Lá na Inglaterra, passam a receber visitantes de outros lugares, de outros países, de outros continentes, em festivais de futebol e debates pensantes. Organizam inclusive Copas do Mundo Alternativas com estes visitantes - desde 1998. E passam, num segundo momento, a serem eles os visitantes.

Em 2008, um integrante do Easton Cowboys achou pela Internet um vídeo de uma banda de música composta por rockeiros-boleiros, chamada Fora de Jogo. Essa banda é composta pelas mesmas pessoas que foram o embrião de um time de futebol de várzea paulistano, chamado Autônomos, existente desde 2006. Os ingleses mandam um alô em um e-mail que demora 6 meses para ser lido. Mas que é respondido com entusiasmo. O Autônomos tem os mesmos interesses futebolístico-sociais do Easton.

Então, após viagens para Palestina, México e África do Sul, a delegação de Bristol agenda viagem para o Brasil. Aos rapazes do rubro-negro da Lapa, a incumbência é recebê-los e montar um cronograma de atividades, em campo e fora dele. Um privilégio que dará muito trabalho...


Com que grana, cara-pálida?

É realmente insólito que um grupo viaje tão longe para jogar bola. “Desocupados ou ricos”, pode-se pensar. Na verdade, os Cowboys usam dinheiro do próprio bolso, mas conseguem renda através de um bar cujo dono possui os mesmos princípios, e vale sublinhar que princípio, nesse caso, não é ser “punk”, ou ser “anarquista”, ou ser “de esquerda”. Falamos do princípio da fraternidade, do anti-racismo de fato, da real luta por trás de tudo, chamada guerra de classes. Com shows de música, doações, vendas de camisas e outros lucros pequenos, eles conseguem resolver a parte financeira. Depois disso, tudo que precisam fazer é tirar férias ao mesmo tempo.

A trupe marrom-e-branca (as cores do alemão St. Pauli) desembarcou com 17 homens e duas mulheres. Recebidos pelo Autônomos, foram direto ao campo de jogo, num forte amistoso vencido pelos brasileiros por 4 a 2. No mesmo final de semana, participaram de um evento anarquista com muito futsal. Também foram torcedores ilustres nas partidas do Autônomos, e também das Autônomas, o time feminino. Viajaram ao Rio de Janeiro, e fizeram amistoso na areia de Copacabana (com direito a um surreal desafio extra contra integrantes da Gaviões da Fiel, que lá estavam para Fluminense x Corinthians).

Conheceram o Maracanã nesse mesmo Fluminense x Corinthians, e também o Bruno José Daniel em dia de Santo André x Flamengo. Enfrentaram outros times de várzea, as meninas fizeram amistoso feminino, futebol, futebol, futebol, futebol. E política. Todos eles participaram, também, de debates em universidades e de um programa de rádio, além de conhecerem mais de perto algumas das realidades do Brasil pobre.

Muitas bandeiras em uma só

Steve não entra em campo. Tem um cabelo punk, um aspecto nada vivaz, fala de forma torta, mas é um exemplo enorme da capacidade de integração do Easton. Ele morou 5 anos na rua, por resultado de nunca se encontrar socialmente em seu meio. Mas no futebol, ou melhor, no futebol que o Easton lhe apresentou, ele encontrou seus valores em ação, isso é, um grupo plural e interessado nas idéias de igualdade, sem hipocrisias.

E quando lembramos da pluralidade do time e de Charlie, o descendente de filipino que é o craque do time, aparece Kaz e nos engole. Muito alto, voz de locutor, um senhor, um doce de pessoa. Descendente de iraquiano. Emotivo, chorou com o Cristo Redentor, contemplou por minutos o mar, e explica que, numa vida intranquila que ele tem, o Easton é o que lhe faz ter 18 anos de novo.

Não existem histórias muito diferentes quando o assunto é explicar o amor pelo futebol. O amor desse pessoal, no entanto, encontra eco naquilo que nosso esporte querido tem de mais generoso, e que, infelizmente, Robinho e Cristiano Ronaldo jamais ouviram falar. Nas partidas do Easton, abriu-se uma faixa: "Unidos contra o racismo". Não se quer salvar o mundo no Easton. É uma faixa, mas é mais, é um gesto, uma postura. É simples como tem que ser.

Parte do dinheiro trazido foi apenas para se fazer o bem, para se investir em algo social. É o futebol como competição em campo para representar a oposição ao mundo que estimula a competição de gêneros, raças, classes sociais, países.

Jock, o treinador do Easton, é escocês, tem os joelhos destroçados, e foi embora com recordações de Palmeiras e de Corinthians na bagagem. Jack Daniels, zagueiro e capitão de nome sugestivo, também. Lally, a talentosa menina que aprendeu a jogar para poder brincar com seus irmãos na infância, vestiu uma camisa do São José. E Paulius, o lituano do FC Vova, time nos mesmos moldes do Easton localizado em Vilnius, capital da Lituânia, e que veio ao Brasil "emprestado" aos Cowboys, levou consigo uma camisa do Santo André.

Ou melhor, Paulius não foi-se assim, tão convicto. Figuraça, o rapaz agregou-se à delegação inglesa e veio mais para ver o cenário punk, por sua banda de música. Mas, agora, só pensa em voltar ao Brasil: tudo culpa de uma garota bonita que o tirou da rota. O único que durante toda a viagem cravou seco: sou palmeirense. De novo, culpa da garota.

See you in England

O futebol leva valores à sociedade, sempre levou. O futebol que constrói arenas na Europa por compulsão pode ser tão perigoso quanto a especulação imobiliária que mata um pouco a cada ano o futebol de várzea, nosso capital intangível. O futebol é uma moldura, um exemplo, uma proposta lúdica de representação política, das coisas que devemos fazer e das posturas que devemos ter.

Quando alguém diz que futebol é só uma atividade opulenta, para doentes verem caras "correndo atrás de uma bola", consegue, ainda que sendo tão raso, achar um ou outro argumento, por exemplo, numa Final de Copa dos Campeões, mesmo com sua campanha (vaga) sobre fair play e sua cruzada (inconsistente) contra o racismo.

Mas aí temos o privilégio de ver duas dúzias de pessoas gastando suas férias e suas economias para conhecer nossa mais simples realidade. Não encheram o saco de ninguém com nenhum “papo-cabeça” sobre ideologia. Não era esse o caso. O Easton é a postura do Easton. Sacrifício, fraternidade, boa-vontade, bondade. E amor por futebol, nosso esporte querido, que precisa ser lembrado em um anexo de nossas orações diárias.

Os cowboys ingleses aqui estiveram para nos ajudar a estabelecer um décimo-primeiro mandamento: não macular o futebol nem subestimar sua essência e seu poder inclusivo. Homens, mulheres, crianças, senhores, senhoras e uma bola.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

O Palmeiras e o fôlego

O Palmeiras e o fôlego

O Palmeiras começou 2009 voando, cheio de velocidade, explosão, Willians e Maurício Ramos mostraram-se ser mais do que se esperava. Marcos foi entrando em forma, Keirrson chegou, Marquinhos estava se recuperando de cirurgia e alimentava projeções de um time ainda melhor. Lenny desencantou, Xavier mostrava gols e elegância, Edmílson desembarcou para jogar, a Pré-Libertadores nem fez cócegas ao alviverde.
Nada disso se vê mais. Entre contusões, quedas de ordem técnica e, possivelmente, de cunho motivacional, o verdão não consegue mais emplacar dois bons jogos. Preparou-se por um mês para a decisão na Ilha do Retiro, e lá brilhou. Já se vão duas semanas, 3 jogos, 3 jornadas apagadas.

Que Vanderlei Luxemburgo não está no auge da carreira, todo mundo sabe. Mas o estilo "manager" que ele pretensamente pratica apresenta lacunas graves. A formação tática inicial não vingou, só com Pierre de volante o time roubava pouco, corria muito atrás da bola. Era exposto, e Cleiton Xavier foi naturalmente sendo designado a atuar mais recuado.

Função que Diego Souza, por origem, faria com mais qualidade. Inclusive porque a saída de bola, e o trabalho dos volantes alviverdes, é péssimo. Marcar o Palmeiras pode ser difícil, mas quando uma retranca se encaixa, quando a parte ofensiva é neutralizada e é hora dos volantes oferecerem solução, isto não ocorre.

Quem consegue marcar o ataque do São Paulo, por exemplo, precisa preocupar-se com Jean, que virá de trás. Contra o Palmeiras, este elemento não é oferecido (a não ser que Fábio Costa tome um frangaço num chute fraco...).

Outro ponto é a aposta. Seguindo o exemplo sãopaulino, mas agora um mal exemplo, Muricy foi de Dagoberto como ala direito, na semi-final diante do Corinthians, em que foi eliminado. Não deu certo, mas o Palmeiras, que não tem ninguém realmente apto para a lateral ou a ala direita, não busca alternativas, nem na base, nem no elenco. Em 2008, Luxa acertou quando testou Martinez na zaga. Em 2009, nada tenta.

Luxemburgo já foi mais criativo. E sua comissão técnica já foi mais eficiente. Eu não consigo deixar de imaginar que o trabalho físico, liderado por Antônio Mello, vai mal. O Palmeiras está sem cintura, sem molejo, não consegue movimentar-se. Como - tirante Diego Souza - não é um time forte ou corpulento, jogadores como Xavier, Marquinhos ou Keirrison simplesmente não conseguem jogar com suas características.

Fora do Paulistão, com o curso da Libertadores comprometido. Edmílson contundido, Marquinhos em pé de guerra com a torcida, Keirrison disperso, Lenny imaturo, sem criatividade, sem soluções de banco ou soluções táticas. Danilo e Maurício não conseguiram o broche de xerifes, nem Cleiton Xavier vestiu o chapéu de mestre-cuca. Sobra ao torcedor Diego Souza e sua bravura, e Pierre, um líder involuntário pela garra, mas, ao mesmo tempo, um entrave tático, posto que está especialemnte mal com a bola no pé em 2009.

Luxa é caro, ter a Traffic assim tão íntima custa caro, e o tempo para recuperação é curto e precioso.

terça-feira, 7 de abril de 2009

A experiência de um Fla-Flu




Não existia uma lógica que explicasse minha ida ao Rio de Janeiro num final de semana normal como esse. Pra ver o Maracanã? Mas o Fla-Flu de domingo não valerá nada! Pra conhecer as praias? Espera uma semana e vá no feriado!

Fui no impulso, e bons impulsos não podem ser rejeitados. Sem saber onde ia dormir, pois ainda não desconfiava que um rapaz, gaúcho e sãopaulino, que sequer me conhecia pessoalmente, me deixaria debaixo de um teto, a poucos metros da praia de Copacabana.

O Rio de Janeiro é um labirinto semântico, é fácil defini-lo com os olhos, não com as palavras. Seu povo é receptivo e marrento, eles sabotam qualquer estereótipo verbal. Os contrastes não são só visuais, mas conceituais. Eu vi os micro-shorts das meninas, vi rapazes sem camisas em restaurantes, e será que, afinal, a vulgaridade está no que se veste?

Domingo de Fla-Flu. Pela manhã, fiz minha farra solitária em Copacabana. Cooper, exercícios, chopp, tomei sol, mergulhei, e quando sentei na sombra pra ler jornal, vi em minha frente ser montado um campo de handebol de praia feminino. Isso existe. Assisti um pouco, e vi que o esporte é novo, ainda carece de adaptações na regra, o jogo não é nada atrativo. Uma bola de futebol americano corre de mão em mão mais à esquerda, e, ao fundo, começa a maratona aquática, uma travessia pelo mar que contou com trasmissão da TV.

Sentindo falta do futebol, ou mesmo do futevôley, fui me aprontar para o Maracanã. Metrô. Entram umas 25 pessoas juntas e animadas. Faço amizade com um desses. É o capitão de um time militar que veio jogar um campeonato de futebol no Rio. Vieram todos de Brasília com a família. Ele era vascaíno, estava curioso pra conhecer o estádio-mãe. A cada estação, mais torcedores entram, e dos dois times.

Para um paulistano, isso choca. Quero dizer que sei, claro que sei, que no Rio de Janeiro a violência entre torcedores é grande (existe violência pequena?) e a relação com a polícia não é nada boa. Mas existe uma diferença capital entre a violência das torcidas no Rio e em São Paulo. Aparentemente, no Rio de Janeiro os torcedores comuns se impõem. Reconhecem a violência, mas não abrem mão do metrô, que é deles. Fazem o que tem que ser feito.

Outro aspecto é o jornal. Lí dois jornais diferentes, cariocas, e não encontrei textos carrancudos, pessimistas, daqueles que desencorajam os mais novos e desanimam os mais velho. O caderno de esportes carioca ainda é romântico, não há campanha anti-estádio. O torcedor se escora no que está no jornal, que é o que a sociedade lê. Se o jornal faz campanha anti-estádio, a sociedade se amedronta, e o torcedor não acha eco, nem em casa, nem no metrô.

Posto isso, lembremos também que o Rio é cidade com praia, e aquelas garotas que citei sequer tiram os micro-shorts pra ir ao estádio. Elas influem tanto quanto a polícia na manutenção do bom andamento das coisas, elas inibem "bagunças" de "machões", num exemplo semelhante ao argumento dos que dizem que a grade de proteção só fomenta a violência. Os organizados podem levar faixas, bandeiras, adereços variados, o clima fica bom e bonito, todos estão ocupados, vendo ou fazendo a festa visual, a festa sonora.

Vale dizer que comprei o ingresso em um minuto, faltando meia-hora pro jogo começar. Um minuto. Em São Paulo, faltando 30 minutos pro jogo começar, eu perderia o pontapé inicial. Ainda mais porque, pra entrar, demoro mais muitos minutos. No Maracanã, em 30 segundos com o ingresso na mão, já estava do lado de dentro das catracas. É engraçado o sistema de revista, pois eu só precisei levantar a camiseta. Ou será que o engraçado é poder entrar com o jornal na mão? Vocês sabiam que em São Paulo é proibido entrar no estádio com o jornal na mão?

Muito bem impressionado com a maneira informal e racional de se tratar o torcedor, me admirei em subir a rampa com as torcidas misturadas. Ao fim da rampa, você escolhe se vai pra esquerda ou pra direita, em alguma das duas massas. Telefonei pra uma amiga flamenguista, e um amigo fluminense. Ela ia ficar do lado de fora. Fui apoiar, então, o tricolor. camisas de Fred, e, pasmei, camisas de Washington.

E a torcida canta músicas de referências locais. Gostei das versões de cantos inspiradas em canções de RPM, Roupa Nova ou mesmo funks. Vai ao longe da chatice paulistana de lotar as bancadas com "da-lhe ô, da-lhe ô" e outras melodias argentinas, tendo raríssimas exceções. O torcedor carioca, além de ter o Maracanã, está em momento mais liberto e criativo que o paulista. Ele pode levar coisas, ele pode fazer coisas, ele não aponta o dedo raivoso para as torcidas organizadas, ele não tem receio de pegar o metrô.

No Maraca não se vende cerveja. exemplo copiado de São Paulo. É discutível. Pra mim, discursos de terror em tribunas esportivas, entrevistas com líderes de torcida que só subvertem a importãncia das mesmas, e trabalho obsessivamente ostensivo da polícia são, por exemplo, mais nocivos que uma cerveja. Futebol não é um evento como show de uma orquestra. É tenso, à flor da pele, isso é próprio do futebol, não da cerveja, e se me dizes que uma cerveja potencializa o instinto brigão de um brigador, eu te respondo que a prioridade ainda é o torcedor vascaíno que saiu de Brasília, está indo conhecer o estádo-mãe, e, por ventura, vai querer uma cerveja pra desfrutar o momento.

Saio do estádio após o 1x1 de final elétrico, e, veja você, bebo cerveja, a 500 metros do estádio, com a amiga flamenguista que não entrou. Domingo que vem tem Fla-Flu de novo. Agora, valendo classificação, eliminação. Dá vontade de ir de novo. Foi um ótimo fim-de-semana, e meus olhos vêem flores. Adorei a experiência. Não há o que extingua o aspecto perigoso de dar de cara com a violência em um local desses, enquanto o país não mudar antes. Mas fiquei otimista em ver a forma como é tratado o jogo, nos jornais e nas ruas, na entrada e na saída. É algo que se aproxima do que eu julgo ser ideal.

Acho que o modelo carioca de geir um clássico dá mais certo que o paulista.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Minha burrice?

Estes são os meus dois volantes pra Seleção: Denílson e Diego Souza.

Se dá errado e mostra-se preciso alguém de mais pegada, temos alguns nomes medianos por aí no estilo Josué. Se dá errado e precisamos de mais leveza, temos alguns nomes bons por aí no estilo Hernanes.

Denílson é gostoso de se ver jogar. Sai bem com a bola, tem um passe ótimo, parece ser taticamente inteligente, e sabe fazer falta, sabe bater quando precisa. Diego Souza tem a força, o arranque, sua saída de bola de trás é mais consistente do que suas jogadas de drible, lá na frente.

Vale lembrar que Diego, pelo Grêmio, atuava assim. E no Fluminense, também. Quando perdeu Lucas Leiva para a Seleção, o tricolor gaúcho jogou pela Libertadores dessa forma (Goiano, Diego, Tcheco, carlos Eduardo), e Diego correspondeu.

Felipe Melo é outro que me agrada, e pode jogar nessas duas posições. Teria este no banco.

E digo mais. Em nome de dois volantes que sabem partir pro jogo, e em nome da vocação natural de nossos laterais que atacam, colocaria três zagueiros. Hoje sobram zagueiros, em relação a atacantes, e em relação a volantes pegadores, no Brasil.

A imprensa, em primeira instância, me chamaria de burro. Seja você o primeiro.

Maradona nas alturas

Defendo Maradona. Não sou daqueles que acham que tudo que Maradona faz é legal, e tudo que Pelé faz é chato. Aliás, pelo contrário. Mas defendo Maradona nessa.

Não acho que Maradona quebrou a cara com a derrota absurda que comprovou o efeito da altitude na prática do futebol.

Maradona foi garoto-propaganda da campanha boliviana "pró-altitude", ocorrida no fim de 2007 quando a FIFA vetou partidas nas alturas.

Agora, treinando a Seleção Argentina, perde de seis, com um time pregado, morto por falta de ar em La Paz.

Na entrevista após o jogo, voltou a defender a bandeira de antes, e não diminuiu a vitória boliviana. A imprensa local aplaudiu, a nossa apontou teimosia.

Quando eu ver Maradona dizer, de forma clara, que jogar nas alturas e jogar no nível do mar é a mesma coisa, retiro tudo que disse acima e afirmo que sua declaração é mentirosa e/ou estúpida.

Por enquanto, acho que Maradona é da opinião de que a altitude não pode ser motivo de veto, e não pode-se reclamar da altura, já que trata-se de uma questão geográfica.

Acho essa opinião legítima. Reconhecer que a altitude influencia, mas reconhecer, também, que o mundo não é plano e faz parte do jogo.

Me parece que Dieguito não defende a tese de que altitude e nível do mar são iguais, mas a de que os dois lugares tem os mesmos direitos. Ele não está brigando com a ciência, mas com o regulamento.

Defendo que Maradona se mantenha nessa opinião.

terça-feira, 31 de março de 2009

Acima Assinado

Kadj Oman é um amigo de atos diferenciados. Em todos os cantinhos da vida.
Seu blog está aqui nos indicados.
E sua mais recente epopéia virou, com justiça, notícia.

É simplesmente genial: acompanhem aqui

segunda-feira, 30 de março de 2009

desculpas

O tempo e a vida estão num momento delicado e que me tiram um pouco da leitura dos noticiários, e da produção de textos, e da vida virtual como um todo.

É por pouco tempo. Perdoem a escassez.

segunda-feira, 16 de março de 2009

A sala

Eu tive um lugar, que não é nenhuma arquibancada, que me serviu como um banco de faculdade, que me ajudou, me formou um amante do futebol. Devo a esse lugar boa parte do que e de como aprendi a raciocinar o esporte.

É a sala do meu melhor amigo. Eu não tinha TV a cabo. E, por assim, dizer, eu também não tinha pai. Em 20 minutos eu estava na casa dele. Era fascinante, o campeonato italiano, inglês, espanhol, mil replays, uma Tv à prova de Faustão. O pai do meu amigo era Nápoli, era Colônia, o irmão dele era Dortmund, e ele era Liverpool. Era saudável. Eles eram corinthianos, eu, o oposto. Igualmente saudável, e alí, com eles, assisti a mais de um Derby.

O pai do meu melhor amigo é jornalista. Nós viramos. Naquela sala, a gente jogava futebol de botão nas noites, e era o adulto, o pai, que fazia as tabelas. No computador do quarto, o simulador de futebol era dividido com todos. A mesa da cozinha dele já foi gol. O quintal já foi campo. Mas falo da sala. É a sala que me toca.

Eles me deixaram viver grandes maratonas futebolísticas, sempre com a maior generosidade do mundo. Eu não queria ir embora, eu pressionava minha mãe para ter a bendita TV a cabo em casa. TV a cabo, leia-se futebol europeu. Por ver menos, eu sabia menos. Eu me esforçava para acompanha-los nas acaloradas discussões naquela sala. Eles tinham umas revistas importadas, uma coleção de camisas extensa, que assim, falando, até parece que eu tinha inveja.

Pois bem. A casa está vendida. O pai já não mora lá. Ainda assim, foi com eles que assisti, domingo que se foi, ao Derby do Ronaldo. Tinha que empatar,por nós. E, ao empatar, tinha que ser do Ronaldo - naquela sala, vibrei com Ronaldo nas Copas do Mundo, nas raras chances que tinha de torcer pro mesmo time que eles.

Uma semana depois, e é aniversário do pai da casa. Jantar na casa dele. Um pouco de cerveja, e o sono. Acordo às 3 da manhã. desço pra sala. O pai está dormindo no sofá. Eu mudo de canal. Não acho um jogo. Mas contemplo a sala. Lembro do tempo que tive alí. Me permito ir à geladeira, pego um refresco, sorrio me exergando sujo de quintal, moleque, alí no sofá. Volto, e logo meu amigo também acorda. São 3h30 da manhã. Ele aperta o botão do controle remoto. E está passando um teipe do Arsenal.

Ele não viu, mas caiu uma lágrima. A mesma que cai agora ao escrever. Eu estava alí, assistindo, talvez, ao último jogo naquela sala. Um jogo absolutamente desimportante, como tantas centenas que assistimos juntos.

Ao fim deste, é verdade que vimos outro teipe, do Palmeiras, e, no domingo, vimos trechos de alguns outros jogos. Mas é do jogo entre Arsenal e Blackburn que jamais vou me esquecer. E veja só, sem fazer força: foi com eles que soube que o fim da fila do Arsenal virou livro, filme, Febre de Bola. Foi por eles que soube que a título do Blackburn, em 95, significou o fim de um jejum de mais de 50 anos.

Mais uma coisa que se vai de minha vida. A casa onde eu mais respirei futebol. Valeu demais.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Ronaldo


Sai o gol de Ronaldo.

Claro que dói, ao torcedor do time oposto. O meu, no caso.

Dói pelo gol. Mas um gol num clássico em que o Palmeiras está confortável com o empate. Não é tão ruim assim.

Paulistão, primeira fase, olha, os motivos de tristeza são todos muito pequenos diante da história por trás do gol. Eu confesso que, com a cara fechada, pensei em mil poesias, e admirei.

Pela TV, ví um comentarista, após Luxa criticar a arbitragem, dizer que é preciso ser generoso nessa hora, e lembrar de Ronaldo. O cara da arbitragem na Globo disse que não era pro Fenômeno tomar cartão amarelo pela comemoração.

Calma aí. Primeiramente, acho normal o treinador adversário, que está trabalhando, ficar cego para a poesia do gol rival. Lembro do gol corinthiano em 2001, no Paulistão, contra o Santos, de Ricardinho. Geninho, treinador santista, invadiu o campo e nunca soube explicar a razão do ato. Ele ficou cego. Luxa também ficou e eu acho válido.

Assim como também concordo que Abade, o árbitro, pode dar o cartão amarelo sem ter que lembrar-se da história de vida do amarelado. Não é obrigação dele ser sentimental.

A torcida alviverde, aquela que era formada, no começo de tudo, por imigrantes, comemorava o tal "silêncio na favela". Tudo normal, não vejo juízo de valor num canto desse, até porquê a própria nação corinthiana trata o termo com nobreza, e não como um insulto.

Mas foi a moldura perfeita, esse canto dos palestrinos, para o quadro do suburbano que colocou-se um passo acima do maior clássico do Brasil.

Pra mim, Ronaldo está no mesmo patamar de Cruyff, Eusébio, Di Stéfano, e outros nomes imortais.

Pra mim, história de vida, como a de Ronaldo, só a de Garrincha e a de Maradona.

Foi o gol do Ronaldo. O corinthiano comemorou por Ronaldo. E o palmeirense ficou menos triste, porque não foi propriamente um gol do Corinthians. antes de tudo foi o gol do Ronaldo.

Homem a quem todos querem bem.

Alguma sobservações do Derby


-A piada é ótima, aquela que diz que o Ronaldo, de tão pesado, derrubou o alambrado. Quando ouvi a gracinha, por um segundo esqueci do tamanho da cena. Quantas metáforas cabem numa cena daquela? A torcida correndo em direção ao alambrado, e o homem lá, no pico do mundo, em cima do arame. Imagem inesquecível.

-Da mesma forma, o clima mudar em P. Prudente, justo na hora do segundo tempo, chega a ser engraçado. No sol escaldante, com o tempo abafado, seria temerário colocar o Fenômeno. Mas veio a ventania, fechou o tempo. E Mano só precisou dar um tapa nas costas do homem.

-O Palmeiras, como eu previa no começo da temporada, veio com dois volantes, além dos três zagueiros. Xavier não faz a função de voltar bem, o Verdão sabe que fica exposto. Pierre jogou mal, outra vez, e bem mal, a despeito de parte da torcida que o idolatra. Um primeiro tempo sem criatividade, Keirrison teve que sair da área, Diego se desdobrou, mas os riscos defensivos foram poucos. Um cobertor de mendigo.

-O Corinthians, outra vez em outro clássico, fez uma espécie de boicote ao primeiro tempo. Contra o São Paulo foi semelhante. Time armado de forma muito dura, sem participação dos laterais, nem apoio de volantes, como Elias, que poderia ter explorado, por exemplo, o setor alviverde pendurado desde o começo do jogo. Jorge Henrique jogou 10 minutos e só, errou demais.

-A falha grotesca do goleiro Felipe mudou o jogo. Presente para o Palmeiras, que errou ao optar pelo contra-ataque através da saída de Diego Souza, que estava achando espaços. O Timão fez, agora sim, três trocas ofensivas. Aí, sim, Elias ficou solto. Aí sim, entrou no jogo. Um erro, pois poderiam ter feito coisa melhor na primeira etapa, onde o Palmeiras estava mais duro que o Corinthians.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Desideal

Existe um quadro que o palmeirense julga ideal e possível: exorciza os demônios e se vinga do Sport, vence os dois jogos contra eles. Enquanto isso, LDU e Colo-Colo ganham seus jogos em casa, cada um leva 3. Fim de quatro rodadas, todo mundo com seis pontos.

Seria uma salada gostosa pro Palmeiras. Mas é o quadro ideal, e não o provável.

Se você notar que os quatro jogos restantes para o Palmeiras, na Libertadores, serão nas mesmas semanas das partidas decisivas do Paulistão, pode contar com um Palmeiras à flor da pele. Um Palmeiras que fará, talvez, 8 jogos (os quatro da Libertadores e eventuais quatro finais de Paulistão) importantíssimos. Conte com um Palmeiras cansado.

Um Palmeiras no limite. Que tende a chegar na fase final da Libertadores, nesse quadro, sem muitos recursos, sem muitas reservas. Como foi em 2005 e 2006, nas derrotas para o São Paulo.

Analisar o quadro ideal também tem das suas "desidealidades".

quarta-feira, 4 de março de 2009

Mancha

Palmeiras x Colo-Colo. Taça Libertadores da América.

Alheios ao jogo desde o começo (provocou risos a tentativa bagunçada e nada criativa de encaixar o nome Keirrison em uma melodia), os 50 ou 60 mocinhos da Mancha Verde, aos 30 minutos de jogo, começou a cantar:

"É, dia 8! É, dia 8! É, dia 8!"

Alusão constrangedora ao clássico de domingo entre Palmeiras e Corinthians. Que, por mais importante que seja, é um jogo do Paulistão, algo que deve ser ignorado no meio d eum jogo importante da Libertadores. Sobretudo com a partida 0x0.

No fim do jogo, após a derrota aplicada pelos chilenos ao clube da casa, os mesmos mocinhos cantaram que "Luxemburgo só ganha paulistinha".

Contraditório, já que, se o dia 8 vale mais que a Libertadores, então é Paulistão, não Paulistinha.

Estranho, já que, na Final de 2008, eu passei 18 horas numa fila totalmente violada pela Mancha Verde, desesperada com os ingressos para assistir a Final do Paulistão. Ou seria do Paulistinha?

É claro que a coisa é generalizada. Os amendoins velhos de sempre vaiaram cada vez que o Edmílson pegou na bola, desde o terceiro gol chileno. Jogos de Libertadores lotam qualquer estádio de alienados esportivos.

Mas os sociólogos haverão de tentar explicar os atos da Mancha Verde na arquibancada.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Voltando. E com a BWA

O blog ficou parado uns dias em razão do carnaval, tempo esse em que trabalhei integralmente. Outra vez pedindo desculpas, e voltando, enfim, com uma "novidade":

O Palmeiras fez uma inteligente promoção para os jogos da primeira fase da Libertadores. O pacote com os três jogos em casa saíam com desconto.

Sábado, dia de Palmeiras x Guaraní, movimento grande na Rua Turiassú. Logo, portanto, obviamente, uma ótima oportunidade para vender esses pacotes num número bacana.

Das 10h às 16h, foram vendidos 20 pacotes. Um a cada 18 minutos. Não foi por falta de compradores. Foi por falta da mínima competência da empresa BWA.

Teve gente que largou a fila de 4 horas (!!!) porque Palmeiras e Guarani já estavam no gramado do Palestra Itália, ao menos esse jogo o torcedor haveria de assistir.

Sensacional.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Essa coragem toda e tola


O Palmeiras 100% entrou em campo concentrado para enfrentar o atual campeão, fora de casa, pela Libertadores. Parada dura, ainda mais para um time que carece de maturidade, posto que é começo de temporada.

O Verdão esteve bem. Edmilson conseguia ser uma sobra flutuante, uma vez que, pautado na marcação individual de Pierre em Manso, o sistema defensivo cuidava bem das movimentações do ataque equatoriano, que, nesse tempo, não trabalhou jogadas e só tinha as laterais do campo como opção.

Mas Pierre segue o mesmo. Pierre precisa melhorar, e muito, se quer de fato ser considerado um jogador de ponta. Aguerrido e faminto, é incapaz, porém, de fazer uma marcação intensa, individual, sem se queimar. Manso precisou de 18 minutos para amarelar o camisa 5.

E depois disso, Manso jogou muito, muito mais que Pierre. Deu o passe do primeiro gol, tirou o Palmeiras do relativo conforto, habitou a cabeça da área verde. Pierre viu navios, e rezou para ver outro volante ao seu lado. Mas, pior, viu foi um zagueiro a menos.

Luxemburgo ousou. Tirou o também pendurado Maurício Ramos, no intervalo, já que o time perdia, 2x1, graças a outra falha lamentável de Marcos, o segundo nessa Libertadores. Mesmo com a recompensa do empate aos 3 da etapa final, o Verdão seguiu um time exposto demais nessa etapa.

Porque Pierre, como dito, já pendurado e mal em campo, virou presa fácil de um LDU que avançava com bola, com Urrutia, com todo o seu meio-campo, trabalhando com competência, colocando bola nas costas dos laterais, com Bieler aparecendo facilmente após primeiro tempo apagado, atacando e, veja você, ao mesmo tempo, dono também dos contra-ataques.

Marquinhos, que entrou no lugar de Maurício, mudando o esquema tático para trazer volume no ataque, simplesmente não jogou. Sua displiscência já desagradou. Nas três vezes que atuou pelo time, mostrou-se indolente, no mundo da lua, crendo que sua pretensa habilidade resolve algo. Preguiçoso como Dorival Caymmi, sem a poesia de Jorge Amado, não convenceu a torcida que , ao falar de atacante baiano, lembra-se de Oséas e da Libertadores 1999.

E é assim, cheio de espaços, que Manso faz 3x2, numa cobrança de falta linda. O Palmeiras, dessa vez, não acha recursos para voltar pra briga. Está bagunçado, não recupera a bola. Nem Lenny nem Evandro mudaram o panorama, mas isso já era de se esperar, pois entraram, os dois, fora de posição, ao lado de companheiros ilhados em campo, rifando a bola (Armero) ou querendo resolver sozinhos (Diego).

Luxa foi corajoso, mas mandou mal. Como era previsível, no jogo em que o time foi cobrado na defesa, faltou um volante. Foi nobre mas vão o ato de sacar um zagueiro, mudar-se para o 4-4-2. O resultado é normal, é o jogo mais difícil da primeira fase para o Palmeiras.

Isso só não pode servir para que o time se resigne e deixe pra lá algumas falhas infantis, de ordem tática e comportamental. Pois, além do supracitado, Edmilson fez falta desnecessária que deu em gol, e Armero agrediu Urrutia no primeiro tempo.

Caminho longo, Palmeiras.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

duas dicas de parceiros

Meu amigo Gabriel Brito, em seu blog que começa a viver, faz uma brilhante, mas brilhante mesmo, avaliação sobre os fatos ocorridos domingo, no Morumbi, entre torcedores.

É corinthiano, e não destila um "ódio de coitadinho". Compreende as ações do São Paulo. Mas avalia o Tricolor, assim como avalia, de maneira irretocável, a postura da Polícia Militar.

Seu texto faz a devida crítica, sobretudo, ao trabalho da imprensa. Que constrói suas verdades em cima de fontes oficiais, como Gabriel mesmo coloca, e ajuda a asfixiar a identidade do torcedor, sem precisar usar gás de pimenta.

Ele estava presente, ele é um torcedor. Se ninguém dá ouvidos para torcedores, que você perca 10 minutos, agora, para dar olhos a este relato. O texto é longo, mas vale a pena.

Tem gente que, ao ler este texto, não vai acreditar que foi escrito por um sujeito que estava alí, no meio da Gaviões da Fiel.

Afinal, torcedores são todos vândalos que não sabem falar, não sabem se expressar...

O texto, aqui.

* * *

No novíssimo blog de Kadj Oman, o "Vai, Lateral!", que é um espaço obrigatório para quem quer fugir da superficialidade generalizada na análise sobre torcidas, há, na recente postagem que encontras aqui, um trecho que preciso destacar, em nome da definição desse espaço, que é filho dos anos 90, tempo em que as arquibancadas eram divididas nos clássicos paulistas.

Kadj Oman faz uma divagação crítica sobre seu estádio ideal, o estádio que ele não encontra em São Paulo.

"Meu outro estádio precisaria de uma outra cidade.
De um outro país.
De um poder que fosse, de fato, público.
E enquanto meu outro estádio está longe, meu estádio atual é cada vez menos meu.
Porque eu, dialeticamente, não consigo ser eu mesmo sem ter do outro lado o outro.
Que me arrancam aos poucos.
De dez em dez por cento."


É para arrepiar-se.

Marcão, contratado pelo Palmeiras: gostei

Quando a secretária da Conmebol já guardava seu carimbo, veio o Palmeiras e inscreveu Marcão, defensor que era do Inter e já foi do Furacão.

Com quem conversei, a opinião e a impressão dominantes é a de que Marcão é grosso, presepeiro, pouco confiável.

Eu tenho uma opinião diferente. Marcão realmente não é um grande jogador, nem sua experiência é assim tão alentadora.

Em 2008, Luxemburgo acertou o time, por algumas rodadas, atuando com Martinez como zagueiro pela esquerda.

Edmílson tem atuado de uma forma singular em 2009. Um líbero à frente da zaga.

Acho que Marcão pode ir muito bem como zagueiro pela esquerda, nos moldes de Martinez em 2008, com saída de bola e bom posicionamento.

E apostaria que Marcão faria de forma razoável um substituto de Edmílson, que atua com o cérebro, preenchendo espaços à frente da zaga.

Por isso, eu acho que foi uma boa contratação.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Enquanto falamos da violência

O estádio do Morumbi pareceu mal planejado para o clássico.
A Polícia não está apta para a Copa.
Nem o estádio.
Prometem reformas no estádio.
Mas como tem sido raro ler alguma crítica à polícia.
Torcedor Organizado virou um termo do nosso folclore.
É um sinônimo de agressor, de opressor.
Porque dá alguns péssimos exemplos.
E porque perde espaço quando não usa sua bandeira para questões importantes.
É possível ir ao estádio de futebol SIM, sem se deparar com violência alguma.
Basta detectar onde está a fatia realmente violenta da arquibancada. E evitá-la.
E ter a sorte de não dar de cara com alguma ação polical desastrada.
São esses os dois perigos. A torcida do adversário já não é o maior medo.
Mesmo que esteja em 90%.

E enquanto falamos de violência, o jogo teve um lance importante.
Túlio dá uma braçada em André Dias.
O bandeirinha não levanta a bandeira.
No tempo certo de um replay de TV, o árbitro recorre ao bandeirnha.
Usa o argumento de que foi chamado via rádio.
O bandeirinha teria visto a agressão e contado ao árbitro.
Mas não levantou a bandeira.
O mesmo torcedor que é o assunto do dia, precisa ver as sinalizações claras da arbitragem.
Sinal de rádio não mostra lisura.
Bandeira apontada pro chão significa que a vida segue.
Não foi o que ocorreu. Alguém viu pela TV e contou pro árbitro? A suspeita é válida.
E lamentável.

Uma pergunta infame

Quando escolhe-se um conselho deliberativo, do que estamos falando?

Um conselheiro, por definição, dá conselhos.

Quem delibera, delibera e pronto.

Quem delibera não precisa aconselhar.

Um conselheiro deliberativo tem um cargo que, em tese, se auto-anula.

Não é?

E após o Carnaval, quando este blogueiro terá mais tempo para viver, perguntas menos imbecis vão aparecer.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

one question

Até quando o Campeonato Paulista, em suas primeiras rodadas, servirá de parâmetro para técnicos serem demitidos?

Heim Santos? Heim Lusa?

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Muitas palavras sobre divisão de torcida

A situação é delicada. Pode ser tratada com tinta de praticidade, mas é delicada.

Antes de tudo: ninguém trata dignamente o torcedor. Nem o próprio torcedor se trata com dignidade.

Esperar que o São Paulo, ou qualquer clube, pense, cheio de bondade, no conforto do torcedor visitante, é como querer que a TV Globo pense nos torcedores quando ajusta horários de partidas.

A Globo já quis ajudar o futebol brasileiro, e passaram-lhe a perna, no fim da década de 80. E, antes do clube, a federação, a confederação, a polícia, a empresa que cuida do guichê, as torcidas organizadas e outros setores também precisam rever o tratamento a se dar ao torcedor, tanto o local quanto o visitante.

Digo isso pra mostrar que entenderia uma ação danosa ao visitante feita por qualquer clube, em troca de benefício próprio. Claro, preferiria que fosse diferente, mas, no nosso futebol de hoje, não condeno ações egoístas, já que ninguém é obrigado a ter a grandeza e a generosiade de acreditar em algo ou alguém relacionado ao nosso futebol.

Isso posto, devo dizer que sinto saudade dos tempos de guichê único. Era comprar, e pronto. Na hora do jogo, a corda e os cavaletes iam cedendo espaço para a torcida que tivesse comprado mais. Era sempre uma surpresa. Era gostoso e democrático.

E era melhor uma corda que um ferro, ou um vidro à prova de bala. Torcedor não é animal.

Acontece que esse expediente cabe em estádios como Morumbi, Mineirão e Maracanã, que possuem uma compleição física favorável. Mineirão e Maracanã são públicos. O Morumbi, não.

Na Vila Belmiro, no Parque Antarctica e no Pacaembu, com arquibancadas assimétricas, não é possível fazer o mesmo esquema dos estádios citados acima. Não é nenhum absurdo, então, imaginar que o SPFC pode sentir-se prejudicado, por ter seu estádio e dividi-lo, ao passo que quando visita Palmeiras e Santos, fica espremido, e quando vai ao Pacaembu, tem só uma cabeceira.

Trata-se do assunto essa semana como se fosse uma novidade. Não é, já fazem alguns anos que clássicos na cidade, fora do Morumbi, possuem divisão diferente de 50/50%. O que, aliás, semanticamente, já queba meu desejo romântico do passado: o esquema do guichê único, onde quem comprar mais empurra a corda pro lado adversário, não prevê porcentagem alguma. 50/50% já é uma divisão, por definição.

A forma de conduzir a notícia está errada. Nossa cidade está traumatizada. Somos o túmulo da arquibancada, como diz meu amigo corintiano Gabriel Brito. Nada pode, nem faixa, nem bandeira, nem um sanduíche na entrada. Gabriel é um exemplo de torcedor comum, que vai a todos os jogos. Todos. Que acreditou que seria recompensado por isso, por acompanhar o time na serie-B, e que agora veria seu time por cima, com ou sem Fenômeno.

Mas aí, Corinthians x Palmeiras foi pra Presidente Prudente. E Corinthians x São Paulo, ele não achará ingresso, pra não falar de segurança. Contra os rivais, está excluído. Contra o Mirassol numa noite de quinta-feira, ele estará no Pacaembu, fiel, pagando o alto preço pelo péssimo serviço do Pacaembu. É justo?

É o tipo do caso em que entendo todos os lados. Portanto, o tipo do caso em que eu tendo a imaginar um meio-termo.

Acho razoável, num jogo que se prevê de enorme público corintiano, deixar uma cabeceira, atrás do gol, só pro torcedor alvinegro. No caso contrário, acharia razoável o Tobogã ser tricolor. O SPFC quer dinheiro, o futebol cobra isso de todo time. O Palmeiras e o Santos "abriram mão" de dinheiro para terem o fator campo contra o São Paulo.

Mas o São Paulo, diferente do que fez nos mil anos que se passaram, está disposto até a não lotar o Morumbi, contanto que sua torcida seja maior, e que isso acentue o fator campo. No Brasileirão e no Paulistão foi assim contra o Palmeiras.

Tem muita letra aqui em cima, e poderia ter muito mais. É um assunto que evoca tradição, bom-senso, política, segurança, torcidas organizadas, dinheiro. E que permite muitas interpretações, todas elas com certa dose de razão.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

O Palmeiras e o azeite

Há um novo parâmetro para o Palmeiras. Após sete vitórias em sete jogos no ano (seis no campo e uma nas urnas), goleando quando foi preciso, sobrando em jogos fáceis, vencendo na marra com o time reserva, faltava o clássico, e o Santos foi pulverizado em 30 minutos, tendo o Palmeiras perdido a chance de manter o ritmo e enfiar históricos seis ou sete.

Desde que Luxemburgo concordou que não eram favoritos à Libertadores, mídia e público se resignaram. Mas também tiraram o peso das manchetes, das coberturas. e o Palmeiras se montou sem alarde. Ignorando protestos de organizadas e placares de jogo-treino. O grupo e a comissão resistiram ao ácido processo eleitoral e ao contundente trabalho midiático de lembrar o mundo que os rivais tem o tri e tem o fenômeno.

Keirrison chegou atrasado, Edmilson chegou sem dar certezas. E o parâmetro mudou. O time agora precisa buscar a Libertadores. Até uma semana atrás, o Palmeiras era o time do Paulistão que, na Libertadores, chegaria perto de algo apenas na base de um sacrifício improvável para o jovem grupo.

Agora, não. "Opa", dissemos todos. "O Palmeiras tem azeite". O Verdão já criou a expectativa que não criara durante a pré-temporada. expectativa gera cobança. Esqueça o que Luxa falou. O Palestra, a partir dos 30 minutos contra o Santos, se deu o direito de ser candidato à Libertadores. Pra valer. Mais ambição, mais rigidez nas análises. Não é pessimismo útil. É entender que o status alcançado por esse plantel verde vai demandar afinação constante.

Então, vamos lá. Edmílson não tem substituto de características, e não ter o camisa 3 é perder substância tática. Não se entenda que ter Edmilson é ter um híbrido, ter um 4-4-2, ter dois volantes. Não é. Quando for preciso defender-se, quando o adversário precisar mais do gol, o Palmeiras terá que recorrer a dois volantes. Quem sai? Willians, e perder velocidade? Diego, e perder o passe e a cadência? E o Marquinhos, joga, e ao jogar, muda o estilo?

Jéci ainda é lento, a ala direita ainda não tem solução das boas. E o Parque Antarctica, vai ser fechado mesmo? A casa verde será o Pacaembu? Isso importa muito. E Keirrison, será que fica no Palmeiras até o final da Libertadores? Não duvide disso, nada mais é impossível no nosso mercado e eu não estranharia uma coisa dessa.

E São Marcos? E o clima ao redor de Luxa? E a tabela ingrata desde a primeira fase?

Comemore, palmeirense, mas preocupe-se. Agora, mínimos detalhes são muito importantes. É o que acontece com quem alcança o status de favorito.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Os árbitros desumanos

A Pré-Libertadores me fez, de uma vez por todas, observar neste espaço uma questão a respeito da arbitragem brasileira.

Anzoátengui x Cuenca foi um jogo de raríssima deslealdade. Com lances que, de tanta truculência, causaram sorrisos em quem assistiu. Pachuca x Universidad de Chile também foi pegado, faltoso, teve agressão e empurra-empurra, e terminou num pontapé cinematográfico de um mexicano num chileno.

Veremos em 2009 o auge do STJD e seu show demagogo, que faz justiça com uma metralhadora automática nas mãos, e joga os árbitros numa frigideira ainda mais quente.

O jornalista Vitor Birner lembra nesse post de lance ocorrido no jogo do fim de semana entre Liverpool x Chelsea. Concordo com tudo, é a análise correta pra mim. Lampard foi expulso em uma jogada plasticamente forte, mas que, à luz dos replays, se mostrou diferente.

O que escreveria aqui, é o que Birner escreveu lá. Quem cuida da justiça não precisa, necessariamente, de punho firme e ego inflado, ou qualquer outro sintoma de auto-defesa diante da insegurança. Não tem problema nenhum em errar.

Sou contra a profissionalização do árbitro de futebol. Porque não aceito a idéia de que um "amador" seja pior, em via de regra, que um "profissional". Muitas vezes não é.

Adoraria ver um jogador de time de ponta que trabalhasse em outra coisa fora dos treinos e dos jogos, igual fazem os árbitros.

Profissional ou amador, quem executa uma função precisa assumir suas limitações. Desonesto não é só quem rouba. Desonesto é quem pratica algo que não sabe, se propõe a algo que não consegue. Seria desonesto eu abrir uma loja para consertar video-cassete.

Por isso me incomodo com um árbitro que tem, ainda que um mínimo que seja, receio de admitir erros em campo. Na condição de humano, é desonesto tomar posição dessa naturza. Conviva naturalmente com seu erro. Trabalhe para minimizá-lo. Seu eventual diploma não te garante nenhum acerto a mais. Me parece razoável pensar assim.

No Brasil, as imagens de TV, tão polêmicas, servem pra punir, pra chocar, pra denunciar. Nunca serviram pra que um árbitro pedisse desculpas por um erro.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Aviso aos navegantes

Amigos,
Para quem não sabe, eu trabalho com a comunicação do evento do carnaval paulistano. Ao saber isso, tu deves imaginar que são, agora, os dias dias mais corridos de meu ano.

Isso explica a rareada de letras nesse espaço. Mas calma. Me entendam. Em breve vem uma nova entrevista nessa parede, e em breve ela volta de vez aos trabalhos.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

animal

"Não dá para combater com tropas, porque teríamos de ter tantos soldados quanto mulheres bonitas"

Silvio Berlusconi, primeiro-ministro da Itália,
respondendo sobre a possibilidade de tropas federais serem usadas no combate ao aumento dos casos de estupro.


Este é o homem forte do futebol do Milan, sugerindo que a culpa dos estupros são das mulheres bonitas, e não da cabeça criminosa do animal agressor.

De causar repulsa.

Preferi colocar isso, que é uma declaração pública, do que especular sobre o caso em que Robinho é acusado de estuprar uma moça de 18 anos na Inglaterra.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Belluzzo - um nome que virou adjetivo

Poderia não ser o caso de Belluzzo ser o que Belluzzo é. Não precisava tanto. O novo Presidente do Palmeiras esbanja, seu currículo tem páginas inteiras que podem ser usadas apenas como lambuja, se comparado com concorrentes recentes pela mesma cadeira em que hoje ele senta.

Não é só o preparo. É o amor. Não só o amor pelo Palmeiras. Mas pelo futebol, pelo esporte, no sentido mais reto e correto da palavra.

"Ser Presidente do Palmeiras é um compromisso que tenho com minha biografia", disse ele em entrevista no último domingo. De arrepiar.

Pra quem é da minha geração, Belluzzo não precisava ser todo esse Belluzzo. Eu nunca vi, nos meus 24 anos de vida, um Presidente do Palmeiras dar uma entrevista em que eu, ao fim dela, pudesse abaixar o volume e pensar que "é, eu entendi o que ele disse".

Só isso já seria um alento. Mas Belluzzo é mais. Belluzzo tem dois ouvidos e os usa, não tem idiossincrasias ou obsessões egocêntricas, come democracia todo dia no café-da-manhã, vai saber montar seu sucessor e gerir seus quatro vice-presidentes com a maior facilidade.

Vices que, aliás, foram outra vitória alviverde. Se por um lado Salvador Palaia, o homem da auto-entrevista, ganhou um posto, não há como não comemorar a derrota de Ebem Gualtieri, o moço classista que acha que a quase-tragédia na compra de ingressos para a Final do Paulistão 2008 foi culpa da falta de estudo das pessoas espremidas na fila, da mesma forma que o ingresso mais caro do Brasil servia pra "selecionar o público".

Há o que trabalhar. Pensar na questão dos ingressos faz o palmeirense lembrar do "serviço" da BWA. Aí, lembramos da tal Arena de mil utilidades. Aí, começa a pipocar uma série de questões, algumas urgentes, em que será preciso muito estômago, muita cintura e muito cérebro para resolver.

Mas eu já estaria satisfeito em ouvir uma única entrevista sincera do Presidente do meu clube. Que bom que terei ainda mais que isso.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

São Paulo: Rebaixado?

Esta página da Folha de S. Paulo saiu ontem no site da Época e, claro, trouxe de volta à tona a imortal discussão sobre o rebaixamento do São Paulo.


Justo quando começa o Campeonato Paulista, somos exercitados a questionar as razões de ele, hoje, não ser o que já foi um dia. Um dos motivos é a credibilidade, dividindo a lista com alguns outros fatores que desabonam a prática, mas não tiram o romantismo e a importância biográfica da competição.

A matéria que saiu no site da Época é forte, contundente e desafiador, e está aqui.

A Folha de S. Paulo desmentiu recentemente o Guia da FPF. O Guia apontava o SPFC como rebaixado em 1990, e a Folha não concordou. A FPF, então, mudou de opinião, concordou com a Folha, desmentiu o seu próprio Guia, e colocou a culpa toda no historiador do Guia.

Acontece que a própria Folha, na ocasião, como mostra a foto, cravava o São paulo como rebaixado.

O historiador, que ficou como o mordomo da história, acusou o livro A História do Campeonato Paulista, escrito em 97 por Valmir Storti e André Fontenelle, este segundo, veja que mundo pequeno, o autor desta mesmíssima matéria da Época.

Mas, pegando este livro em mãos e indo mais adiante, vemos que a questão do regulamento não é mais grave que o regulamento da fase final da competição. Segue abaixo o texto do referido livro:

"Pela primeira vez, um time rebaixado à segunda divisão no ano anterior era campeão da primeira. (...)Tudo graças a uma "virada de mesa", que criou um novo tipo de regulamento no Paulista, apenas para acomodar o São Paualo. Assim, dois times da série fraca disputariam as finais com seis times da série forte. Beneficiado pelo regulamento (já que teria pela frente adversários muito mais fracos) (...), o São Paulo massacrou a concorrência.

Absurdo ainda maior cometeu o regulamento na segunda fase. São Paulo e Palmeiras terminaram empatados em pontos ganhos, e quem passou à final foi o São Paulo, por ter feito mais pontos na primeira fase. Não se levou em conta que haviam sido pontos contra equipes da segunda divisão, enquanto o Palmeiras enfrentara as melhores equipes do estado."


Na ocasião, o São Paulo era um clube 3-0-0. O Paulistão era maior, mais longo e mais prestigiado que hoje. É inadmissível, em qualquer época, um regulamento bizarro como esse, do começo ao fim.

Muita água passou, a discussão volta, mas um grito unânime há de ser ouvido: Federação Paulista de Futebol, QUE LAMBANÇA!

E não falo só do Campeonato de 1990. É ridícula a forma com que a FPF tratou os profissionais que pesquisaram e fizeram o Guia. Não se muda de lado assim tão facilmente. Um urro crítico da Folha, e a FPF optou por jogar a bomba no colo de quem fez, e muito bem feita, a pesquisa.

Isso não se chama postura linear.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

LEONARDO BERTOZZI - UM MINEIRO VIDRADO NA SAPUCAÍ

Minha Outra Paixão - Leonardo Bertozzi

“Essa série tem a intenção de entrevistar jornalistas esportivos, sobre uma paixão não-jornalística e não-esportiva”

* * * *

Me senti confortável em telefonar para Leonardo Bertozzi diretamente de minha mesa de trabalho na União das Escolas de Samba Paulistanas. Tudo ao meu redor remete ao carnaval, e isso supriria a ausência da presença (brilhante!) do Editor do Site da Trivela, a mais conceituada revista especializada em futebol internacional da atualidade. Supre, por que a paixão secreta deste mineiro de 28 anos é justamente esse: o carnaval.

Com algumas ponderações. Seu caso de paixão, seu negócio, é com os desfiles cariocas. Da Sapucaí, pra ser mais preciso. Nada de Boi Bumbá, de marchinhas, quase nada de Anhembi. Uma paixão que surgiu através da apuração, tão dramática quanto uma familiar final de campeonato, e uma paixão que, curiosamente, não lhe faz torcer por nenhum pavilhão - diferentemente do futebol italiano, especialidade do jornalista, que afirma torcer por todos os clubes e mais a seleção Azurra.

Bertozzi é mineiro, morou criancinha em Salvador, está em São Paulo desde o fim de 2002, e não vai demorar a aparecer pela segunda vez na Sapucaí, onde só esteve uma vez, no desfile das campeãs de 1996. Lançou o site futebol europeu, passou pelo site oficial do seu clube do coração, o Galo Mineiro, até chegar na Trivela em 2007, na mesma época em que atuou como comentarista da Bandsports e da FX.

O som preferido de Bertozzi é mais pop, menos samba. Mais italiano, menos brasileiro. Engana-se quem acha que só gosta de carnaval quem ama o ritmo do samba. Leonardo sequer sabe sambar - ao menos, na sua maior paixão que é o futebol, ele se sai como um razoável goleiro, segundo ele mesmo.

Bertozzi não parece reclamar do fato de assistir sozinho aos desfiles. "Nenhum amigo meu gosta!". Desde garoto, ele conta, recusava viagens carnavalescas pra curtir, em casa, o evento, sob a narração inesquecível de Fernando Vanucci, Paulo Stein e a programação full time da Manchete. "O carnaval alternativo, de bailes, essas coisas, já não gostava", pondera um dos expoentes atuais do jornalismo esportivo que cuida com açúcar e afeto das pautas alternativas.

Porém, parece que vem aí uma companheira em potencial. Laura, sua filha, está pra nascer, justo na época do carnaval. É a primeira cria de Bertozzi, casado com Priscila, também jornalista, do site Máquina do Esporte.

O sotaque mineiro é indisfarçável, mesmo por telefone. E o carinho de Leonardo pela obra que brota do cimento da Sapucaí também salta aos olhos. Sua memória para anos, desfiles e momentos é, assim como para assuntos futebolísticos, potente. Em uma dúzia de perguntas, aí está o que Bertozzi sente e pensa do Carnaval.

Como você conheceu o carnaval e como vocês se aproximaram?

Cara, foi como muita gente, acredito. Eu comecei a acompanhar o carnaval do Rio de Janeiro a partir da apuração. Era criança e passava o carnaval com a família. Na 4ª feira eu achava um barato aquela coisa da apuração, as notas 10, os caras brigando... um barato, e foi minha primeira relação com a festa.

E o contato com os desfiles veio em seguida...

Sim, nos anos seguintes me interessei também em ver os desfiles, a organização toda. O primeiro desfile que eu me lembro de ter visto bem claramente foi o de 1989, da Imperatriz. A partir daí eu me amarrei cada vez mais. Tentava virar a noite, nem sempre conseguia, mas depois via o compacto à tarde. Depois vinha a apuração, o desfile das campeãs... Em 96 eu tive a chance de ver ao vivo as campeãs. Eu tinha 15 anos, foi inesquecível.

Mineiro, longe da sapucaí, você pulava o carnaval aonde?

Isso tudo, de começar a assistir, foi morando em Belo Horizonte. Morei em BH até me formar na faculdade, só que no carnaval eu viajava com a família pra Araxá, no interior de minas, e lá tinha muita festa de carnaval. Só eu preferia assistir aos desfiles, ao invés de sair.

Se você começou a ver o carnaval a partir da apuração, então podemos traçar um paralelo com o futebol. Sua relação com o carnaval é mais pela competição do que pela arte?

Certamente. Acho o espetáculo belo, a coisa de representar a cultura brasileira. Mas o que eu curto mesmo é a competição. Nos anos 90, me lembro, tinha até uma polemica sobre a Imperatriz, que ganhou seguidamente e falavam que era uma "escola chata"... Mas pô, eles estão lá pra competir, vão fazer o negócio pra ganhar! Pra mim sempre foi claro que o carnaval era um grande campeonato.

E a parte estética? Se sobrepõe ao conteúdo?

Olha, gosto de aprender com um desfile. Não chego a assistir um desfile com papelzinho na mão, anotando ou lendo, mas gosto. A parte estética, ainda mais com o advento, nos anos 90, desses carros mais tecnológicos, está em alta. E também tem outra: ninguém vai gostar de uma escola que se apresente feia, por mais que o enredo seja bom. Têm atualmente o ingrediente das rainhas da bateria, essas celebridades que dão destaque também à estética.

Existem outras comparações possíveis entre carnaval e futebol?

No RJ a paixão de clube e de escola é semelhante. Lá é normal o cara ser Flamengo e Mangueira. Aqui em SP, nem tanto, é incomum o cara falar que é Vai-Vai e Corinthians. Só em casos como a Gaviões da Fiel, que é ligada diretamente ao futebol. O envolvimento que o carioca tem é muito forte, e essa ligação é muito parecida com a ligação que a gente tem com o futebol.

Atrações semelhantes, como Boi-Bumbá, te atraem também?

Sinceramente, não. Desconhecimento meu? Talvez. Mas nunca me interessei por me aprofundar. O carnaval me fazia preferir ficar em casa na boa a viajar, na adolescência.

Você frequenta, compra, participa, acompanha de perto algum aspecto de alguma escola?

Não sou consumidor ou frequentador. Quando fui em 96, achei muito legal, inclusive porque o desfile das campeãs é mais leve, mais divertido, e é legal se aproximar das escolas. Mas acompanho à distância, não sou um consumidor oficial.

Seus desfiles prediletos, viu na TV ou ao vivo?

Os que vi ao vivo foram belos mas não foram os que mais me marcaram. Gosto de lembrar o de 1993 do Salgueiro, espetacular. A Estácio de Sá em 92, que ganhou da Mocidade... Dois sambas que mataram a pau. A gente fica mais crítico com o tempo, então os mais inesquecíveis pra mim são alguns de quando eu era mais novo. Mas tem o exemplo do samba do Chico Buarque na Mangueira, em 98, que foi sensacional também.

O normal hoje entre as torcidas de futebol do Brasil é cantar músicas de origem latinas. Porque o carnaval perdeu espaço nas bancadas?

São duas coisas: tem o lado da perda da identidade, sim, mas também é uma fase pobre em termos de samba. Você não vê mais sambas propícios, como Ole-lê Ola-lá (Pega no ganzê / pega no ganzá), que toda torcida canta, é mais adaptável, com melodia mais fácil, ou mesmo o Explode Coração (na maior felicidade...). Acho que a penetração das músicas latinas é um fato sim, mas também por culpa da falta de um samba forte, que faz o povo o levar aos estádios.

Fundemos a escola Acadêmicos do Bertozzi. Qual seria seu enredo pra 2009?

Meu enredo seria a história das Copas do Mundo, temperada pelos títulos do Brasil. Já fizeram enredo de alguns times, e esse seria rico, pegaria momentos históricos muito fortes, com varias épocas diferentes do Brasil, de 1958 a 2002... Espero que alguém ainda o faça.