segunda-feira, 20 de abril de 2009

O Palmeiras e o fôlego

O Palmeiras e o fôlego

O Palmeiras começou 2009 voando, cheio de velocidade, explosão, Willians e Maurício Ramos mostraram-se ser mais do que se esperava. Marcos foi entrando em forma, Keirrson chegou, Marquinhos estava se recuperando de cirurgia e alimentava projeções de um time ainda melhor. Lenny desencantou, Xavier mostrava gols e elegância, Edmílson desembarcou para jogar, a Pré-Libertadores nem fez cócegas ao alviverde.
Nada disso se vê mais. Entre contusões, quedas de ordem técnica e, possivelmente, de cunho motivacional, o verdão não consegue mais emplacar dois bons jogos. Preparou-se por um mês para a decisão na Ilha do Retiro, e lá brilhou. Já se vão duas semanas, 3 jogos, 3 jornadas apagadas.

Que Vanderlei Luxemburgo não está no auge da carreira, todo mundo sabe. Mas o estilo "manager" que ele pretensamente pratica apresenta lacunas graves. A formação tática inicial não vingou, só com Pierre de volante o time roubava pouco, corria muito atrás da bola. Era exposto, e Cleiton Xavier foi naturalmente sendo designado a atuar mais recuado.

Função que Diego Souza, por origem, faria com mais qualidade. Inclusive porque a saída de bola, e o trabalho dos volantes alviverdes, é péssimo. Marcar o Palmeiras pode ser difícil, mas quando uma retranca se encaixa, quando a parte ofensiva é neutralizada e é hora dos volantes oferecerem solução, isto não ocorre.

Quem consegue marcar o ataque do São Paulo, por exemplo, precisa preocupar-se com Jean, que virá de trás. Contra o Palmeiras, este elemento não é oferecido (a não ser que Fábio Costa tome um frangaço num chute fraco...).

Outro ponto é a aposta. Seguindo o exemplo sãopaulino, mas agora um mal exemplo, Muricy foi de Dagoberto como ala direito, na semi-final diante do Corinthians, em que foi eliminado. Não deu certo, mas o Palmeiras, que não tem ninguém realmente apto para a lateral ou a ala direita, não busca alternativas, nem na base, nem no elenco. Em 2008, Luxa acertou quando testou Martinez na zaga. Em 2009, nada tenta.

Luxemburgo já foi mais criativo. E sua comissão técnica já foi mais eficiente. Eu não consigo deixar de imaginar que o trabalho físico, liderado por Antônio Mello, vai mal. O Palmeiras está sem cintura, sem molejo, não consegue movimentar-se. Como - tirante Diego Souza - não é um time forte ou corpulento, jogadores como Xavier, Marquinhos ou Keirrison simplesmente não conseguem jogar com suas características.

Fora do Paulistão, com o curso da Libertadores comprometido. Edmílson contundido, Marquinhos em pé de guerra com a torcida, Keirrison disperso, Lenny imaturo, sem criatividade, sem soluções de banco ou soluções táticas. Danilo e Maurício não conseguiram o broche de xerifes, nem Cleiton Xavier vestiu o chapéu de mestre-cuca. Sobra ao torcedor Diego Souza e sua bravura, e Pierre, um líder involuntário pela garra, mas, ao mesmo tempo, um entrave tático, posto que está especialemnte mal com a bola no pé em 2009.

Luxa é caro, ter a Traffic assim tão íntima custa caro, e o tempo para recuperação é curto e precioso.

terça-feira, 7 de abril de 2009

A experiência de um Fla-Flu




Não existia uma lógica que explicasse minha ida ao Rio de Janeiro num final de semana normal como esse. Pra ver o Maracanã? Mas o Fla-Flu de domingo não valerá nada! Pra conhecer as praias? Espera uma semana e vá no feriado!

Fui no impulso, e bons impulsos não podem ser rejeitados. Sem saber onde ia dormir, pois ainda não desconfiava que um rapaz, gaúcho e sãopaulino, que sequer me conhecia pessoalmente, me deixaria debaixo de um teto, a poucos metros da praia de Copacabana.

O Rio de Janeiro é um labirinto semântico, é fácil defini-lo com os olhos, não com as palavras. Seu povo é receptivo e marrento, eles sabotam qualquer estereótipo verbal. Os contrastes não são só visuais, mas conceituais. Eu vi os micro-shorts das meninas, vi rapazes sem camisas em restaurantes, e será que, afinal, a vulgaridade está no que se veste?

Domingo de Fla-Flu. Pela manhã, fiz minha farra solitária em Copacabana. Cooper, exercícios, chopp, tomei sol, mergulhei, e quando sentei na sombra pra ler jornal, vi em minha frente ser montado um campo de handebol de praia feminino. Isso existe. Assisti um pouco, e vi que o esporte é novo, ainda carece de adaptações na regra, o jogo não é nada atrativo. Uma bola de futebol americano corre de mão em mão mais à esquerda, e, ao fundo, começa a maratona aquática, uma travessia pelo mar que contou com trasmissão da TV.

Sentindo falta do futebol, ou mesmo do futevôley, fui me aprontar para o Maracanã. Metrô. Entram umas 25 pessoas juntas e animadas. Faço amizade com um desses. É o capitão de um time militar que veio jogar um campeonato de futebol no Rio. Vieram todos de Brasília com a família. Ele era vascaíno, estava curioso pra conhecer o estádio-mãe. A cada estação, mais torcedores entram, e dos dois times.

Para um paulistano, isso choca. Quero dizer que sei, claro que sei, que no Rio de Janeiro a violência entre torcedores é grande (existe violência pequena?) e a relação com a polícia não é nada boa. Mas existe uma diferença capital entre a violência das torcidas no Rio e em São Paulo. Aparentemente, no Rio de Janeiro os torcedores comuns se impõem. Reconhecem a violência, mas não abrem mão do metrô, que é deles. Fazem o que tem que ser feito.

Outro aspecto é o jornal. Lí dois jornais diferentes, cariocas, e não encontrei textos carrancudos, pessimistas, daqueles que desencorajam os mais novos e desanimam os mais velho. O caderno de esportes carioca ainda é romântico, não há campanha anti-estádio. O torcedor se escora no que está no jornal, que é o que a sociedade lê. Se o jornal faz campanha anti-estádio, a sociedade se amedronta, e o torcedor não acha eco, nem em casa, nem no metrô.

Posto isso, lembremos também que o Rio é cidade com praia, e aquelas garotas que citei sequer tiram os micro-shorts pra ir ao estádio. Elas influem tanto quanto a polícia na manutenção do bom andamento das coisas, elas inibem "bagunças" de "machões", num exemplo semelhante ao argumento dos que dizem que a grade de proteção só fomenta a violência. Os organizados podem levar faixas, bandeiras, adereços variados, o clima fica bom e bonito, todos estão ocupados, vendo ou fazendo a festa visual, a festa sonora.

Vale dizer que comprei o ingresso em um minuto, faltando meia-hora pro jogo começar. Um minuto. Em São Paulo, faltando 30 minutos pro jogo começar, eu perderia o pontapé inicial. Ainda mais porque, pra entrar, demoro mais muitos minutos. No Maracanã, em 30 segundos com o ingresso na mão, já estava do lado de dentro das catracas. É engraçado o sistema de revista, pois eu só precisei levantar a camiseta. Ou será que o engraçado é poder entrar com o jornal na mão? Vocês sabiam que em São Paulo é proibido entrar no estádio com o jornal na mão?

Muito bem impressionado com a maneira informal e racional de se tratar o torcedor, me admirei em subir a rampa com as torcidas misturadas. Ao fim da rampa, você escolhe se vai pra esquerda ou pra direita, em alguma das duas massas. Telefonei pra uma amiga flamenguista, e um amigo fluminense. Ela ia ficar do lado de fora. Fui apoiar, então, o tricolor. camisas de Fred, e, pasmei, camisas de Washington.

E a torcida canta músicas de referências locais. Gostei das versões de cantos inspiradas em canções de RPM, Roupa Nova ou mesmo funks. Vai ao longe da chatice paulistana de lotar as bancadas com "da-lhe ô, da-lhe ô" e outras melodias argentinas, tendo raríssimas exceções. O torcedor carioca, além de ter o Maracanã, está em momento mais liberto e criativo que o paulista. Ele pode levar coisas, ele pode fazer coisas, ele não aponta o dedo raivoso para as torcidas organizadas, ele não tem receio de pegar o metrô.

No Maraca não se vende cerveja. exemplo copiado de São Paulo. É discutível. Pra mim, discursos de terror em tribunas esportivas, entrevistas com líderes de torcida que só subvertem a importãncia das mesmas, e trabalho obsessivamente ostensivo da polícia são, por exemplo, mais nocivos que uma cerveja. Futebol não é um evento como show de uma orquestra. É tenso, à flor da pele, isso é próprio do futebol, não da cerveja, e se me dizes que uma cerveja potencializa o instinto brigão de um brigador, eu te respondo que a prioridade ainda é o torcedor vascaíno que saiu de Brasília, está indo conhecer o estádo-mãe, e, por ventura, vai querer uma cerveja pra desfrutar o momento.

Saio do estádio após o 1x1 de final elétrico, e, veja você, bebo cerveja, a 500 metros do estádio, com a amiga flamenguista que não entrou. Domingo que vem tem Fla-Flu de novo. Agora, valendo classificação, eliminação. Dá vontade de ir de novo. Foi um ótimo fim-de-semana, e meus olhos vêem flores. Adorei a experiência. Não há o que extingua o aspecto perigoso de dar de cara com a violência em um local desses, enquanto o país não mudar antes. Mas fiquei otimista em ver a forma como é tratado o jogo, nos jornais e nas ruas, na entrada e na saída. É algo que se aproxima do que eu julgo ser ideal.

Acho que o modelo carioca de geir um clássico dá mais certo que o paulista.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Minha burrice?

Estes são os meus dois volantes pra Seleção: Denílson e Diego Souza.

Se dá errado e mostra-se preciso alguém de mais pegada, temos alguns nomes medianos por aí no estilo Josué. Se dá errado e precisamos de mais leveza, temos alguns nomes bons por aí no estilo Hernanes.

Denílson é gostoso de se ver jogar. Sai bem com a bola, tem um passe ótimo, parece ser taticamente inteligente, e sabe fazer falta, sabe bater quando precisa. Diego Souza tem a força, o arranque, sua saída de bola de trás é mais consistente do que suas jogadas de drible, lá na frente.

Vale lembrar que Diego, pelo Grêmio, atuava assim. E no Fluminense, também. Quando perdeu Lucas Leiva para a Seleção, o tricolor gaúcho jogou pela Libertadores dessa forma (Goiano, Diego, Tcheco, carlos Eduardo), e Diego correspondeu.

Felipe Melo é outro que me agrada, e pode jogar nessas duas posições. Teria este no banco.

E digo mais. Em nome de dois volantes que sabem partir pro jogo, e em nome da vocação natural de nossos laterais que atacam, colocaria três zagueiros. Hoje sobram zagueiros, em relação a atacantes, e em relação a volantes pegadores, no Brasil.

A imprensa, em primeira instância, me chamaria de burro. Seja você o primeiro.

Maradona nas alturas

Defendo Maradona. Não sou daqueles que acham que tudo que Maradona faz é legal, e tudo que Pelé faz é chato. Aliás, pelo contrário. Mas defendo Maradona nessa.

Não acho que Maradona quebrou a cara com a derrota absurda que comprovou o efeito da altitude na prática do futebol.

Maradona foi garoto-propaganda da campanha boliviana "pró-altitude", ocorrida no fim de 2007 quando a FIFA vetou partidas nas alturas.

Agora, treinando a Seleção Argentina, perde de seis, com um time pregado, morto por falta de ar em La Paz.

Na entrevista após o jogo, voltou a defender a bandeira de antes, e não diminuiu a vitória boliviana. A imprensa local aplaudiu, a nossa apontou teimosia.

Quando eu ver Maradona dizer, de forma clara, que jogar nas alturas e jogar no nível do mar é a mesma coisa, retiro tudo que disse acima e afirmo que sua declaração é mentirosa e/ou estúpida.

Por enquanto, acho que Maradona é da opinião de que a altitude não pode ser motivo de veto, e não pode-se reclamar da altura, já que trata-se de uma questão geográfica.

Acho essa opinião legítima. Reconhecer que a altitude influencia, mas reconhecer, também, que o mundo não é plano e faz parte do jogo.

Me parece que Dieguito não defende a tese de que altitude e nível do mar são iguais, mas a de que os dois lugares tem os mesmos direitos. Ele não está brigando com a ciência, mas com o regulamento.

Defendo que Maradona se mantenha nessa opinião.