Semanas atrás, o Flamengo, que vive batendo cabeça com a Nike, tomou uma atitude pitoresca em nome da superstição. Embalado e disparando no Brasileirão, o time trocou de modelo de uniforme, agora com listras mais finas. E perdeu os dois primeiros jogos.
A culpa das derrotas foi atribuída às listras. Como ninguém pensou nisso antes, a camisa foi planejada, apresentada, aprovada, elaborada, fabricada e distribuída. Só após isso que lembraram do tal mal agouro das listras finas.
Numa ação de anti-marketing, a camisa saiu de campo, sem sair das lojas. Mas as vitórias nem por isso voltaram. Mais 4 ou 5 jogos complicados e sem vitórias, e, ora ora, os supersticiosos se dessupersticiopolizaram. A velha camisa nova voltou e em pouco tempo venceu.
Os flamenguistas tem lembranças extasiantes dos anos 80. Nessa década quase toda, o rubro-negro jogou com um uniforme de listras mais grossas. Virou um signo, uma marca, um detalhe que a paixão, só ela, faz virar pauta, assunto, questão existencial.
O time de 1981, Campeão Mundial, usava faixas mais grossas, como você vê na foto acima (tá, em Tóquio o mengo usou branco, vale o registro). A partir daí o time da Gávea imaculou o estilo nos anos seguintes, com poucas listras - e o eterno patrocínio da Petrobrás.
Acontece que em 1980, no ano anterior, como você vê nessa foto ao lado, as faixas eram mais finas. E isso não impediu, ao que parece, que o Flamengo fosse o Campeão Brasileiro.
A culpa não é do tamanho das listras. A culpa é do Zico, que joga um pouco mais de bola que o Íbson. Do Júnior, que me parece levemente superior ao Juan.
De toda forma, o Flamengo vem voltando a viver e criar histórias que fazem parte de seu folclore e seu potencial, como a média de público de 39 mil pagantes em 2007, ou o absurdíssimo de elevar Obina ao patamar de novo Fio Maravilha. Essa história das listras me soa deliciosa, romântica, engraçada. Só concebível num time como o Flamengo.