sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Não me matem de vergonha

Abaixo está um texto escrito por mim em abril de 2007.

Escrevi assim que aconteceu aquele episódio do tal fax da FIFA dizendo que o Palmeiras era mesmo campeão mundial de 1951, o que faria o time colocar uma estrela no peito, 56 anos depois. O texto é do torcedor, por isso os termos ferozes.

Soube hoje que dirigentes de Palmeiras e Santos preparam documento oficial para pedir à CBF que reconheça os Robertões como Campeonato Brasileiro. Justo quando um rival se tornará hexa. Assim como o "documento oficial" pedindo o Mundial partiu do Palmeiras assim que um outro rival o conquistou.

Pequeno, constrangedor, vergonhoso. Meu time há de me matar de vergonha, ainda, com essa mentalidade oficialista.

Mais uma piada pronta estará oferecida para os torcedores rivais. O capital intangível não se torna tangível por vias políticas. O capital intangível é um tesouro inestimável, por assim o ser.

Eis o texto "premonitório":

*************

Estrelas, para mim... para quê?

Que pesquisem, que olhem com o respeito que a conquista merece.

Que saibam, ou então que não interfiram.

Falo dos adversários, mas falo mais aos palmeirenses.

A tristeza é o esvaziamento.

Ando falando com amigos sobre o Mundial de 51. É ou não é? Dane-se!

O pior ao Palmeiras já aconteceu. O Palmeiras conquistou uma taça que, desde 1951, é um tesouro incalculável no patrimônio alviverde. E essa geração imbecil de palmeirenses, que gosta da Mancha Verde e acha o Sérgio um goleiro legal, está a um passo de passar a borracha.

Uma taça histórica. 1951. O povo gritava "campeões do mundo!". Os jornais se desmanchavam em idolatria. Nossos heróis queriam ser reconhecidos, berravam em nossa cara, "nos ouçam!"...passou... 1960... 1970... 1980... 1990... 2000...

Não ouvimos nosso povo, não ouvimos nossos heróis. Decidimos ouvir os políticos da FIFA. Aí mora o problema. O crime. O Palmeiras esvazia uma conquista, e estampará uma estrela para provar essa insanidade.

Passamos 56 anos ignorando os heróis, para dar ouvidos aos engravatados. A geração imbecil transformou o motivo de orgulho em uma discussão de botequim. Triste de quem ousou saber a historia, e a vê ser pisada nas mãos da ignorância maciça.

É a fome. Falta títulos? Que se regurgite os passados. Uma vez campeões mundiais em 1999, os palmeirenses nao teriam "fome" de Mundial, ok? Logo, não buscaríamos esse reconhecimento político, e manteríamos o valor das duas conquistas. Mas na falta de um, estragamos o outro...

Não precisávamos de estrelas na camisa. Não precisávamos de um fax da FIFA. Precisávamos conhecer nosso passado, ouvir nossos avôs, respeitar nossa realidade. Se assim fosse, estaríamos, já há 56 anos, estampando uma estrela moral, de orgulho por defender o país em 1951 - chamando ou não de Mundial. Se assim fosse e nada tivéssemos, seria desse nada que viveríamos, e viveríamos bem também.

Seria tão lindo ter orgulho em dizer "ganhamos a Taça Rio!"... Mas estamos em meio a uma geração que sequer sabe que em 1951 não havia Internet. Só interessa bater boca. Só se gosta do estrago. Dane-se a realidade. Nesse caminho, chega-se à conclusão, "óbvia" para o nível ideológico: campeão mundial e pronto, ponto final.

Eu tinha orgulho da taça Rio. Mas ela virou um bloco rápido de programa barato, virou uma piada do Marco Aurélio Cunha, um sorriso do Citadini. Virou palpitaria. A estrela que ficava escondida e era alviverde e imponente, agora estará exposta, morta de constrangimento, para todo esse mundo de imbecis olharem para ela e iniciarem intermináveis discussões a vácuo.

O Palmeiras está a fazer o mesmo com seus Robertões. Esperará a CBF dizer que é um campeonato nacional, para depois cair na vala comum das discussões vazias? Respeitem a história, mas respeitem de fato! O time é muito mais que apenas tetracampeão nacional. Mas a ignorância leva à hipocrisia, e prefere-se esse tipo de conquista, a "adaptada" ao seu "novo tempo". O "moderno" hoje é chamar de "mundial". Daqui 50 anos, a gente vê o que será moderno, batuta, bacana, e tenta se adequar.

E parabeniza-se Mustafá Contursi pelo "empenho nesse reconhecimento". Mustafá, derrotado no Mundial de 99, que sabe a razão do Palmeiras não jogar o Mundial de 2000, consegue trabalhar em seu terceiro Mundial. Perdeu em 99, abdicou em 2000 e tocou fogo no de 1951. Um gênio.

Se ainda houver como eu me proteger dessa massa esvaziadora, eu morrerei orgulhoso da Taça Rio de 51. Mas temo que esse tipo de abordagem, essa exposição da estrela na camisa, essa transformação da realidade de fato, faça simplesmente apagar o que foi certamente o maior momento da historia do Palmeiras.

Rezarei.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Obtusos e sem carisma

Caro leitor, você sabe qual é a diferença entre Denílson e Robinho?

Fácil.

A diferença é que os jogos do Betis não passavam na nossa TV.

Apenas isso.

Dois toques: as distorções

Grande vitória do concentrado Internacional, diante de um estranhamente apático Estudiantes. Jogar com um homem a menos desde os 25 minutos foi o ponto "heróico" da coisa. Vou me ater a este lance.

Guiñazu é o anti-Kléber do futebol brasileiro. O volantão colorado é o mais violento jogador do nosso Brasileirão, mas é sempre aliviado nas adjetivações. Ele é sempre o aguerrido, o raçudo. Parece que ele joga com uma liminar no calção, autorizando-o a bater com salvo conduto. E pelo jeito essa liminar só vale em território nacional.

Ah, e outra: não foi penalty no Nilmar, este bom atacante que na noite de ontem deu mais um "bom exemplo" para a nossa nova geração de atacantes, que passam a vida sonhando em mergulhar nas áreas do mundo todo, ao invés de fazer gol.

Vivem elogiando o botinudo e o cai-cai. Entre o 8 e o 800.

* * *

A Globo anuncia para a manhã de domingo mais um "Desafio Internacional de Futsal", estrelando a Seleção Brasileira campeã do mundo do esporte.

Compreendo que o Brasil do Futsal não é lá muito admirado no país, e por isso suas atividades precisam ser hiperbolizadas.

Mas não seria mais honesto chamar a partida de "amistoso", que é apenas e tudo o que ela é?

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Grandes Uniformes - Alemanha 1990

Sempre achei que a Alemanha tinha um uniforme privilegiado. As cores de sua bandeira podiam ser exploradas nos detalhes dos dois uniformes, já que tanto um quanto o outro, branco e verde, não eram cores oficiais da bandeira e ainda combinavam com o vermelho-preto-amarelo germânico.

Hoje o uniforme reserva da Alemanha perdeu a mística. Aquela camiseta verde alemã fez parte de minha vida.

Quando eu era pequeno, os jogos de vídeo-game que tinha não contavam com times brasileiros. Uma forma de duelar com meu amigo corinthiano, e simular um "Palmeiras x Corinthians", era jogar "Alemanha x Alemanha". Assim, com times iguais, o equilíbrio estava garantido, e era a única forma do corinthiano jogar de branco e preto, e o palmeirense de verde e branco.

Era mais estimulante que simular com "Austria x Irlanda".

Aliás, a camisa verde da Alemanha tem explicação irlandesa. É uma homenagem à esta seleção, que foi a primeira adversária alemã após a II Guerra Mundial.

Mas voltando aos sempre criativos desenhos que fazem referência á bandeira alemã, a minha opinião não tem dúvidas que o maior acerto da (quase) eterna parceira Adidas foi no uniforme do Tri Mundial. Que, até pelo título, se tornou mítica.

Essa roupa significou o auge dos experimentos não-lineares da Adidas, que fuçava com mais ousadia nas estampas e nas formas desde o fim da década de 80. Tendo sido a década de 90 a mais fértil em termos de invenções e pirotecnias, esta camisa da Alemanha pode ser considerada uma espécie de pai da espécie.

Camisa de Matthäus, Völler, Brehme, Klinsmann e outros nomes dignos de usar esta pérola.



.

Grandes Uniformes (???) : Vasco 2009



Isto aí é o que o Vasco da Gama chama de uniforme para 2009. Como homenagem para o rebaixamento, pode até parecer justo. Mas estamos falando de uma coisa séria, de algo que foi aprovado de verdade. Ao vascaíno que temia ter apenas a sua histórica faixa transversal para se apegar, outro golpe. Até a maior marca do Vasco está maculada.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

O mais justo dos três canecos

Vamos lá, o São Paulo não perde mais esse campeonato. Ok, até pode perder, uma derrota para o Flu em casa não é de todo impossível, tal e coisa... mas será muito, muito surpreendente se acontecer do caneco escapar.

Porque, entre todos os cinco que foram reais concorrentes ao título, todos os outros quatro perderam de 3, 4 e/ou 5 nas últimas 5, 6 ou 7 rodadas. Isso é de uma imaturidade gritante, em relação ao tricolor que não perde faz 16 rodadas.

Os outros facilitaram a vida do São Paulo? Não, não é bem isso. É que foi um campeonato de bom nível, perder ponto estava na conta do comum. Era preciso ganhar jogos na sorte, jogos no apito, jogos na raça, além da qualidade.

O São Paulo jogou muito mal contra o Botafogo no primeiro turno, e contra o Náutico no segundo turno. Ganhou os dois e nem sabe bem como. O árbitro ajudou o São Paulo contra o Botafogo, e deu São Paulo. O árbitro prejudicou o São Paulo contra a Portuguesa, e também deu São Paulo.

Muricy, no meio do ano, precisava arrumar a zaga. Recebeu Rodrigo e Anderson (o Palmeiras trouxe Jeci e Gladstone). Faltou volante, ele foi buscar Jean na base, e dane-se se o Dunga punha o Ricky na Seleção. Ele não apenas subiu um jogador da base, mas foi atrás de uma solução, ao invés de chorar alguma não-contratação ou má fase.

Fez mais, ao tornar público que queria Hugo, quase dispensado pela direção, no time. Causou mais um pouco de mal-estar com alguns diretores, mas conquistou seu grupo. Recebeu Miranda, após a cirurgia, e isso curou definitivamente a dor-de-cabeça defensiva.

Dagoberto encontrou sua melhor forma no Tricolor, não houve pânico após o empate-derrota contra o Palmeiras, e o discurso (que era até sensato) derrotista que era usado após a derrota polêmica para o Grêmio foi, sem pressa, virando um equívoco.

Porque mesmo o mais correto pensamento torna-se equivocado diante de um trabalho tão ereto e firme como esse que Muricy faz. Muricy, Autuori, Cuca, Leão...

Era uma grande temporada, a de 2004. Virou uma sensacional fase em 2005. Em 2006, tivemos que dizer que o SPFC vivia um triênio especial, algo clássico. Chegamos ao fim de 2008, e este São Paulo já representa uma geração, uma era de ouro.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

JORNALISTA COMEÇA AOS 12

1995. Um improvável estádio de futebol aparece na tela da TV, e não dá pra compreender aquela fina faixa de sol que rasga o gramado. Em campo, Palmeiras e Internacional de Limeira estão prontos. É estranho, mas as torcidas, atrás dos gols, são apenas vultos. O som também está misterioso, assim como toda a transmissão. É um som sem som, uma imagem sem imagem. Uma coisa bizarra.

Facilmente explicada, porém.

Não há jogo, na verdade. Nem transmissão. Não nas formas que a gente conhece. Existe uma criança, aos 10, e isso basta. Ela jogou as figurinhas do álbum para o tapete, e com gols e uma bolinha de plástico, estava simulado um jogo de futebol. Um garoto é um mundo. E o jogo imaginário, do campeonato imaginário, nem era o mais importante.

A criança vinha andando agachada lá de fora do quarto, com os olhos cerrados. Como se fosse um efeito especial da TV. O sol que escapa da janela é comentado pelo repórter de campo, representado por uma figurinha aleatória. “os refletores cortam a faixa de sol e fazem uma sombra”, diz ele. Antes e depois do jogo, estas figurinhas alternativas estão posicionadas ao redor do tapete. São os cinegrafistas e os repórteres.

Antes do jogo, a chegada dos times. Uso um guia de ruas. Após o jogo, monto um vestiário com réguas, e faço as entrevistas. E fim.

Um jornalista é jornalista desde os 12 anos. Um relato como esse pode significar que a criança queria é ser jogador de futebol. Mas não. A linha oculta aponta para o prazer periférico do trabalho coadjuvante e ativo, a cobertura, o acompanhamento, os trejeitos e vícios do trabalho – no caso, de uma transmissão futebolística.

Nas Olimpíadas de 2000, ficava acordado esperando um flash de 15 segundos, no meio do intervalo comercial da Band, com uma câmera estática mostrando a paisagem urbana. Não havia nada de mais, mas aquela não-notícia cotidiana me significava mais que os jogos em si. Era a cidade, a vida ao redor do evento.

O jornalista acaba se apegando ao bastidor, ao caminho que ele percorre de forma oculta. Há delícia em ser paralelo ao fato. Tem um fascínio periférico no jornalista, que vem lá de trás. O jornalista tenta traduzir a realidade, dar uma versão atrativa do fato, e isso exige uma visão maior que a dos olhos. Isso é tudo que se faz quando se é menino, dentro do seu mundo que, não fosse tão minuciosa capacidade criativa, estaria fadado ao coisa-alguma, à chatice solitária.

Será que todo menino é um jornalista? Será que as garotas que brincam com a Barbie imaginam os Paparazzis?

A gente tem maneiras simples e educativas de perceber como a presença da imprensa é ativa em nosso corpo coletivo. Desde pequeno a gente decifra as idiossincrasias dos narradores da TV, capta o “Boa Noite” do jornal. Só alguns, entretanto, tratam de, involuntariamente, humanizar essas influências, e projetá-las em seu próprio espaço solitário de um modo que ele vira um espectador de seus próprios experimentos imaginários, ao invés de, como seria o normal, ser o astro, o herói, o imortal de seu enredo de ações criativas. Estes têm grande chance de virar jornalistas.

E daí você consegue explicar como o time que eu torço perdeu para a Inter de Limeira, no tapete do meu quarto, num jogo controlado inteiramente por mim, onde só eu estava interessado. Eu não era o camisa 10 do Palmeiras, nem o árbitro do jogo. Eu era o narrador, e o repórter, e o cinegrafista.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Torcedor é Torcedor

Amigos, eu trabalho com Carnaval, na Organização deste, e, em razão disso, muitas vezes encontro com Presidentes das Escolas de Samba, algumas delas provindas de Torcida Organizada.

Uns minutos atrás, Cosmo Damião Freitas, o Presidente da Escola Torcida Jovem do Santos, sentou-se em minha mesa. Conversava comigo. Viu um diário esportivo na mesa, e abriu a primeira página.

Deu de cara com uma propaganda onde Pelé está com as camisetas de Flamengo e São Paulo.

Cosmo é santista de velhíssima guarda, uma figura única, folclórico, cheio de trejeitos, daqueles personagens raros.

Cosmo começou a sacudir o jornal. Colocou de volta na mesa e passou alguns minutos resmungando, repetidamente, "Aí não, o Negrão é patrimônio do Santos, do-San-Tos! Aí o Negrão tá esculachando, eu vou falar um montão. Quê isso, aí o Negrão pisou na bola..."

Realmente perturbado, não quis ouvir meus comentários. Os ouvidos se fecharam por alguns instantes. Ficou uma fera.

Isto é futebol.

Futebol: justiça social ou esportiva?

Esse texto é de meu amigo Kadj Oman, dono do blog que você pode, e deve, acessar e que está ao lado, na minha lista de parceiros.

O mais importante da argumentação que aqui está é que ela te obriga a pensar, a bolar sua opinião, seu ponto de vista. Formule a sua.

Corinthians Mais Paulista do que Nunca

A rodada de sábado na Série B fez do Corinthians mais paulista do que nunca.

Não pelo resultado. Nem pelo adversário. Mas pelo resultado contra esse adversário.

Fazer 3 x 1 no Villa Nova significou não só subir o Santo André como deixar os goianos praticamente fora da briga pela última vaga, agora nas mãos de Barueri ou Bragantino.

Serão ao menos 5 paulistas na Série A do ano passado. Número que sobe para 7 se Santos e Lusa não caírem.

Enquanto isso, na B, o Villa, que sonhava repetir um clássico de Goiânia na Série A após muitos anos, vai ter que se contentar com fazer outro clássico da cidade na Série B, já que o Atlético Goianiense já subiu, com campanha impecável, na Série C.

E o Corinthians ainda pode deixar a Série B ainda mais paulista se vencer o Avaí e ajudar o Santo André a chegar ao vice.

Algo anunciado desde o começo dos pontos corridos.

Não que eu tenha algo contra Santo André ou Bragantino (já o Barueri, bem, de time de empresários com público de 230 pagantes em cada jogo já bastaram São Caetano e Ipatinga), mas ter no campeonato nacional sete equipes do mesmo estado - pior, sete equipes da Grande São Paulo - só ajuda a transformar centro em mais centro ainda e deixar a periferia cada vez mais distante.

Se o Náutico cair, ano que vem teremos na Série A, do Nordeste, apenas Sport e Vitória. Do Norte, ninguém. Do Centro-Oeste, só o Goiás. Juntos, menos do que os já citados sete - ou mesmo cinco - paulistas.

E no país onde a concentração de renda é provavelmente a maior do mundo, a desigualdade econômica e social entre pessoas - e clubes - promoverá cada vez mais a transformação do Campeonato Brasileiro em Campeonato Paulista, ou Rio-São Paulo com convidados Sul-Minas.

Nesse cenário, defender o campeonato de pontos corridos é, antes de qualquer argumento de "justiça esportiva", de "regulamento que premia o mais constante", uma postura de injustiça econômica.

Não tem como deixar de ser. É fácil ser mais constante quando se é um gigante do centro. Difícil é trazer um Campinense da Paraíba - ou mesmo um antigo gigante América do Rio! - para a Série B, que dirá para a A.

Então talvez exista a possibilidade de um regulamento "menos justo" esportivamente ser "mais justo" socialmente. E se há algo irrefutável por aqui é que nada é mais urgente no Brasil do que justiça social.

O que fazer, então? Voltar para o mata-mata? Brasileirão com 100 clubes? Classificação partindo dos Estaduais (como acreditava ser o que acontecia um ingênuo e metódico inglês que conheci por aqui)?

Sinceramente, não sei.

Não porque tenho preguiça de pensar em outro modelo. Mas porque é difícil ter alguma esperança de mudança no futebol, logo o futebol onde o ranço coronelista tipicamente brasileiro é ainda tão forte, e onde a via alternativa que se coloca é de um capitalismo ainda mais concorrencial entre os clubes.

Nessas horas, me pergunto para que serviram tantos anos de estudo e profissão de alguns jornalistas se o máximo que conseguem fazer é "denunciar" o que não está de acordo com o modelo de sucesso europeu.

O mesmo modelo de sucesso que, ao chegar por aqui em fins do século XIX, encontrou uma sociedade rural cheia de negros, pobres e imigrantes prontos à subvertê-lo e criar Garrinchas e Pelés.

Me parece que pensar saiu de moda.

O lance agora é brincar de seguir o mestre.

Mesmo que o mestre nos guie para um futuro do qual, contraditoriamente, não poderemos participar.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

No comments



***
Atualização: O amigo Paulo Domenico sugere preciosa entrevista do treinador do catania, o Zenga. No papo, que está neste link, ele diz querer treinar o Palmeiras, como lembro neste post.

Mancha que mancha

2006. Tite assume o Palmeiras na lanterna, após 9 rodadas de fracassos, e, depois de um jogo e da pausa pra Copa do Mundo, o Verdão sai do limbo, jogando bem. Numa derrota em Recife para o Santa Cruz, porém, Salvador Palaia manda Tite calar a boca publicamente, e a torcida Mancha Verde aparece do nada no aeroporto, para agredir o treinador, que foi demitido, ou convidado a pedir demissão.

2008. O Palmeiras de Luxemburgo viaja ao Rio de Janeiro para uma partida que, desde sempre, é complicada e importante, diante do Mengo. Para cobrar alguma coisa qualquer, aparece a Mancha Verde, e o resultado: Luxa fratura o cotovelo.

As duas histórias não são semelhantes apenas em estilo e gratuidade. Os atos fora de contexto da Torcida em questão aconteceram também no mesmo período. Estamos perto de uma eleição no Palmeiras.

A gente tenta tratar Torcida Organizada com olhos de sociólogo, entendendo o fenômeno, interpretando-as como parte espelhada da sociedade.

Mas a Mancha Verde é apenas uma ala política, radical, a única capaz de agredir, literalmente e figurativamente, o próprio time.

Num desses jogos pelo Brasileirão, eu, com o pé machucado, pedi, mancando, carona para uma van. Ao entrar, notei que era a Mancha Verde de Campinas. Eles apontavam o dedo para carros no trânsito. Sujeitos ocasionais eram xingados. Palmeirenses eram xingados três vezes mais. Um deles tomou um tapa na cara. Por nada.

Mancham. Envergonham. Sujam. Não é nenhuma novidade.

Posso discutir com palmeirenses que são à favor da Arena, e por isso parecem cuspir no nosso digníssimo estádio atual. Posso discutir sobre Traffic, sobre Luxemburgo e sua débil opulência argumentativa. Posso discutir com aqueles que querem falar sobre tamanho de torcida, pesquisas, assim como posso discutir sobre fidelidade, a despeito de muitos palmeirenses e manchistas que arrotam por aí que são mais "especiais" que outras torcidas.

Menos sobre a Mancha Verde. Esta, que pelas mesmas razões políticas já avançou na Parmalat e em Felipão, já ultrapassou todos os limites, já deu todos os exemplos e demonstrações do que é. Sobre esse assunto não discuto mais.

No estádio do Palmeiras, cada "ala" canta sua própria música. Na final do paulistão, passei quinze horas espremido numa fila sabotada pela Mancha. Após o jogo, a mesma Mancha fez da Rua uma praça de guerra. Bah, não preciso elencar mais coisas tão ululantes, porém termino com a declaração sensacional de um dos "bambas" da Mancha Verde, após eu perguntar o que ocorreu no aeroporto.

"Na verdade eu não sei, cara, o que aconteceu. Mas o Luxa sabe porque apanhou".

Brilhante. E ainda tem alguns que não entendem porque a bola alviverde bate no travessão, na linha, e não entra.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

O porque das dores

Pedi licença ao meu amigo, mas não fui embora com ele quando acabou o jogo entre Palmeiras e Grêmio. Ele foi, eu fiquei. Preferi sentar e olhar alguma coisa acontecer.

Sei lá, de repente São Marcos corre e se joga nas redes, afinal, só faltou para ele se transformar na bola do jogo. Ou então um jornalista sai correndo pelo gramado dizendo que tem um grampo telefônico bombástico, e os jogos terão que voltar!

Nada, nada disso. Na verdade estava perplexo. Saboreando a tristeza a que me proponho passar cada vez que condiciono minha alegria à vitória ou à derrota. Tentando entender o ato heróico e circense do maior de todos os palmeirenses, algo que não consigo definir, e isso é bom, porquê gosto que meu ídolo seja vulnerável, não tenha pés de barro.

Pois a perfeição divina não me atrai, muito menos a pretensa postura impecável dos homens. Assim como, parafraseando Jimi Hendrix, ser feliz não é uma de minhas prioridades. São Marcos foi um felino arredio e ignorou as ordens de quem acha que é seu dono, e não é bem isso que me alegra. Os gauchos vieram, nos deram um tapa na cara e foram embora, e não é bem isso que me dói.

Fui talvez o último torcedor verde a sair do estádio. Os gauchos ainda estavam lá. Olhei cada pedaço daquele estádio vazio. A torre de iluminação está velha como o placar, a piscina tem uma marola bucólica de fim de tarde, cabecinhas se movem nas cabines de imprensa.

Me ocorreu, alí, que pode ser que eu não vá aos dois jogos que restam no Parque Antarctica. E que, ano que vem, aconteça mesmo do estádio ser fechado para virar uma arena perfeitinha como Luxemburgo, sem cimento pra sentar, sem chuva pra tomar, sem o imponderável com a cara de São Marcos.

Me ocorreu, finalmente, que aqueles poderiam ser meus últimos minutos dentro do Parque Antarctica, da forma que eu o conheci. Nada mais me esperava fora dalí, e eu fiquei por ainda mais tempo, com medo de ser a última vez que veria aquela paisagem. Desculpem, mas eu não tenho coragem de ser a favor da Arena.

Mas tive que me retirar. Indo embora, encostei em um carro que estava de rádio ligado. Me detive a torcer por uma definição alentadora sobre Marcos que saísse da boca de Mauro Beting.

Me ocorreu que ele tem um coração que ama, que torce, e ele está alí, falando, ereto, direto. Me ocorreu que temos a mesma profissão, e falar de forma lúcida e firme naquela hora, só com treino mesmo. Me ocorreu também que tínhamos um amigo em comum, que morreu, e que torcia pelo mesmo time, e não teve um só jogo nesse campeonato que eu não tenha lembrado dele.

Descobri, então, porque fiquei tão devastado em constatar que meu time, nosso time, não será o Campeão Brasileiro.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Papo com o Iamin # 3

Dessa vez, eu e Paulo Júnior conversamos sobre clubes em ano de centenário. É uma figura, esse Paulo Júnior. O papo na verdade é com o Paulo Júnior. Depende do ponto de vista. Vai lá no blog dele, que lá o papo é com ele.

Inter, Vitória, Coritiba, Fla, Flu, Vasco, San Lorenzo, Corinthians, Palmeiras, e, claro, o Resende-RJ, são lembrados nesses nove minutos de uma questão palpitante, inquietante: o que o centenário tem que o nonagésimo terceiro aniversário não tem?

Tá aí.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Carta extraviada para Dunga

Dunga,

não levo muito jeito com as palavras, sou um tanto tímido, você até brinca com isso e meu chiclete, hehe, então escreverei pouco.

Assim, eu andei falando recentemente para a imprensa que estava numa fase infeliz, e era verdade, tanto dentro quanto fora de campo. Cheguei a dizer que era o pior momento da carreira.

Pode parecer mentira, mas aquelas vaias no Maracanã me fizeram ver as coisas de outro ângulo. Eu vi que meus problemas pessoais não eram tão grandes, e também percebi que ninguém ia me ajudar, se eu não me ajudasse!

Mas você me ajudou, e tudo deu certo. Agora o Santos está muito bem na tabela, meu melhor futebol voltou, e, chapa, você não virou a cara pra mim. Você foi um grande parceiro, eu nem sei como te agradecer por ter apostado em mim.

E mais. A força que você me dá é tão grande que eu me sentiria disposto até a jogar na meia. Saiba que se precisar, eu estou aí para te recompensar...

Não ligue para os críticos. Você tem um coração de ouro.

abraço,
Kléber

Roleta Russa

Uma reflexão ao nobre leitor: Você se sente justiçado pelo STJD?

Não considere quando um jogador do seu time é absolvido ou punido. Pense num julgamento alheio ao seu clube. Você sente como se a decisão trouxesse credibilidade ao Campeonato?

Ao final da competição, você nota que a participação do STJD foi indispensável, que o Tribunal trouxe à competição a ordem que era necessária?

O STJD faz justiça?

Caso faça, eis aí um exemplo para o mundo. Todo o planeta deve se espelhar nesse modelo brasileiro de intervenção da Justiça?

Já passou a época dos portões fechados, dos jogos que voltaram de forma a ferir o regulamento, e a moda atual é o julgamento obsessivo de qualquer lance, retroativo ou não, visto pelo árbitro ou não, em slow-motion ou não. Agressão. Ou seria só ato hostil?

O "Cai-Cai" do Duque de Caxias na Serie-C foi punido com exclusão do campeonato no próximo ano, além da perda dos pontos em 2008.

Recorre-se. E o Duque já não é mais excluído.

É assim no STJD. Nenhuma instância é igual a outra. A justiça que parte de uma roleta russa.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

O meu Circo

*O desabafo não é meu. Ou melhor, não é só meu. Tenho certeza.

Me desculpem os Flinstones, Tom & Jerry. Me desculpe, Chaves.

Fred é atacante do América Mineiro, Tom e Jerry jogaram no santos, Chaves é um mexicano...centro-avante.

Eu via como me enxergavam na escola. Eu era impotente. Hoje até a namorada fala que sou doente. Mas a culpa não é minha. E não pense, também, que me é um peso. Eu sei reagir, e jogar na sua cara que a Xuxa e a Eliana não te fizeram uma pessoa mais culta ou legal do que eu.

Gotham City, não sei onde fica. Springfield, também não, mas é nos Estados Unidos. Você sabia que as madeiras da quadra do Boston Celtics são colocadas em formas de quadradinhos, ao contrário do convencional, com tábuas retas e longas? E daí onde fica Gotham City?

Virei um atlas. Acham que eu leio muitos livros, só porque eu sei a capital da Iugoslávia, da Hungria, da Áustria - esse povo nunca ouviu falar de Rapid Viena. Me acham muito culto por saber a ordem das cores da bandeira da Bélgica, da Romênia, da Bolívia, mas ora, onde estavam estes em junho de 1994? Não viram a tabela da Copa?

Aliás, será que é absurdo contar que a abertura da Copa de 94 foi num 17 de junho? Ué, pra mim absurdo é o Pica-Pau colocar a mão nas costas e tirar, do nada, uma marreta, uma bomba, uma granada. Absurdo é colecionar um álbum de figurinhas, assistir um jogo, e não se interessar com a tabela, com as cores, com as histórias. Absurdo é assistir os Jetsons e não procurar saber quem foi o desenhista, o roteirista.

É uma sina ser chamado de obsessivo, e vai ser assim. Mas não sou. Sou só uma vítima. Ou um privilegiado. Na minha TV não passava a Xuxa, mas a ESPN, e não era eu o dono do controle remoto. No meu vídeo-game não tinha Mario Bros matando tartarugas com os pés, mas tinha FIFA Soccer, e não fui eu quem comprou os jogos.

Eu não posso renegar o que a vida fez de mim. Entre o excêntrico e o nerd existe aquele que foi levado, seduzido, e se tornou submisso diante das próprias escolhas. Não fui ao circo na infância. Ao estádio de futebol, ia toda semana. A culpa não é minha.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Pare de me ler!

É, isso mesmo. Deixe de me ler, e aponte seus olhos para o maior cronista da história do futebol.

Nelson Rodrigues

AQUI , cronicas do livro "O Berro Impresso das Manchetes".

Simplesmente não há nada melhor para ler do que Nelson Rodrigues.

Olê Telê!

A torcida do São Paulo é, atualmente, a mais criticada do país.

Culpa de diretores obsessivos que usam argumentos discutíveis para uma arrancada rumo ao posto de maior torcida do país.

Culpa de um estigma discutível que acusa esta massa de só aparecer nas decisões, só ir "na boa". Estigma reforçado nas épocas de média de público muito baixa.

Culpa de uma patrulha dos rivais, posto que o São Paulo não sai de cima das tabelas e isso incomoda, além de fazer surgir torcedores "de ocasião".

Estes mesmos rivais gostam de lembrar que, 4 anos atrás, essa torcida xingava Rogério Ceni em um fatídico jogo em que eles, os torcedores "oficiais", foram de amarelo ao Pacaembu.

Como todo estereótipo, existem distorções e verdades. O torcedor Tricolor tem um estádio que, de enorme que é, exige uma frequencia de alto volume, pois que senão os vazios das bancadas saltam aos olhos. Mas o torcedor tricolor não é só ausência ou desapego. Muito pelo contrário.

Um parente meu, torcedor saopaulino roxo, veio do interior, ontem, e me mandou uma mensagem no celular: "Eu não me lembrava mais, mas absolutamente nada se compara a um gol no estádio".

Outra coisa: não há nada no futebol brasileiro atual que seja mais arrepiante, digno, respeitoso e emocionante do que o côro de "Olê olê olê olê, Telê, Telê" que a torcida sãopaulina faz ecoar no Morumbi.

É especial, espetacular, e destrói os estigmas negativistas a respeito da cultura e do comprometimento do torcedor do São Paulo.

Sobre Felipe Massa

Na Fórmula 1, é próprio do torcedor confundir o "seu piloto" com um herói sem pés de barro. O cara está lá, "sozinho", com roupa de astronauta, numa máquina inalcançável para nós, meros mortais.

Daí a gente interpreta como comum o sentimento dilacerante, de dó e dor, que o brasileiro entrega para Felipe Massa, após perder o título da forma mais incomum possível nos registros históricos.

É verdade, foi um fim de corrida impactante, que comeu uns minutos da Rodada do Brasileirão, de tão incrédulo que fiquei ao fim da peleja automotiva.

Mas me permitam ser um pouco conservador. Hamilton foi conservador, a corrida não teria sido essa se a tabela não fosse aquela. Não é isso que eu quero falar, mas vale citar que o inglês, se perdesse, perderia por uma infelicidade inominável (como em 2007), e não porque ele não era capaz de ser mais do que sexto lugar.

É preciso dizer que Hamilton esteve na conta de seu chá inglês.

Mas o que quero dizer é outra coisa.

Ano passado, após perder o título de forma surreal, Hamilton foi visto, de noite, numa boate paulistana, dançando e cantando.Devia estar triste, perplexo e tal, mas a vida seguia.

Agora é Massa que perde "na última volta". Parte o coração ver as mãozinhas com luvas secarem as lágrimas dos olhos emoldurados no capacete. Esse gesto humanizou o piloto. Que bom.

Não foi a morte de um herói. Foi uma derrota. Apeguemo-nos no que Massa disse assim que a corrida acabou. Isso é esporte, tem que saber perder. Na certa ele jantou com a família, e deve ter sorrido bastante, relaxado, pois o dever está cumprido.

Vai doer nele, daqui 20, 30 anos, quando, nos momentos solitários, ele lembrar que uma chance única de ganhar em casa foi perdida numa circunstância única. Vai doer pra ele, quando lembrar que uma festa que lhe transformaria em mito, virou espetáculo de compaixão com um humano.

E essa dor é só dele, a gente não tem nada com isso. Também não temos nada com a alegria dele na janta de domingo. O que a gente tem a fazer é encarar os fatos, como se encara em todo esporte. E esquecer esse desejo oculto e mórbido de transformar um competidor em um representante de coisas muito maiores - e lamentar, com chiliques e histerias, o fato de não termos um novo ícone divino para "distorcer torcendo".

Ele foi vice-campeão. Tantos outros já foram, meu time já foi, que pena, e a vida segue.