Time de Hoffenheim, 3.300 habitantes, ocupa o segundo lugar em sua estréia na 1ª divisão alemã
Alain Constant
Em Hoffenheim (Alemanha)
O lugar apresenta um aglomerado de sólidas casas com fachadas de cores vivas, um bar, três padarias, uma salsicharia, a pizzaria Mira-Lago e ainda, empoleirado no topo do morro, um pequeno estádio. Seja bem-vindo a Hoffenheim, uma aldeia de pouco menos de 3.300 habitantes situada no sudoeste da Alemanha, no coração do Estado de Baden-Wurtemberg.
Desde o mês de agosto, este minúsculo vilarejo sem qualquer atrativo particular e que não oferece nenhuma vida social palpitante ocupa ainda assim as manchetes dos veículos de comunicação alemães. A razão disso é simples: o clube local do TSG Hoffenheim 1899 que, de maneira inesperada, qualificou-se neste ano para disputar a Bundesliga, representa a menor aglomeração da história a ter um time local competindo no célebre campeonato da primeira divisão alemã. Além disso, desde domingo, 21 de setembro, depois da quinta rodada da competição, ele ocupa o 2º lugar na classificação, após ter triunfado sobre o Dortmund (4 a 1).
Situado a uma boa distância geográfica dos gigantes de Munique, Hamburgo ou Berlim, e sem apresentar qualquer passado futebolístico prestigioso, o "clube dos labregos", conforme o apelido que lhe atribuíram com desdém alguns torcedores do poderoso vizinho Stuttgart, está vivenciando uma aventura bastante incomum.
Para ser totalmente imparcial, vale acrescentar que o clube de Hoffenheim não representa apenas a minúscula aldeia do mesmo nome, como também a cidade vizinha de Sinsheim e seus 50 mil habitantes. Uma pequena estrada conduz de uma aglomeração à outra, enquanto a sede social do clube, de uma modéstia rara, está situada num pequeno edifício ao lado de um posto de gasolina, exatamente na saída de Hoffenheim.
Ao passar novamente pela auto-estrada A6, na saída de Sinsheim, um espetáculo surpreendente aguarda o motorista visitante. Num gigantesco canteiro de obras estão trabalhando dezenas de operários em meio a uma nuvem de poeira levantada pelo vai-e-vem de diversos caminhões. Já bastante avançadas, as obras de um esplêndido estádio de 30 mil lugares deverão ser concluídas até janeiro.
Na espera de se instalarem nesta pequena maravilha, os jogadores do Hoffenheim vêm disputando suas primeiras partidas da Bundesliga "em casa" no Carl-Benz Stadion de Mannheim, situado a cerca de cinqüenta quilômetros do vilarejo. "Nós concluímos um acordo com a companhia ferroviária estatal nacional.
Todos os torcedores que forem detentores de um ingresso para as partidas em domicílio podem viajar gratuitamente a bordo dos trens para irem a Mannheim e retornarem a Sinsheim nos dias de jogo", sublinha Markus Sieger, o diretor da comunicação do clube.
Se o clube de Hoffenheim, que ainda disputava o campeonato da quinta divisão oito anos atrás, está atualmente entre os clubes da elite, é essencialmente graças à fidelidade e à generosidade de um homem que, nos últimos 18 anos vem acompanhando o clube do qual é torcedor desde a sua infância. Um bilionário que acumulou sua fortuna dirigindo a grande companhia de informática SAP, Dietmar Hopp coloca seu dinheiro na roda sempre quando isso é necessário.
"Quando o clube subiu para a terceira divisão, eu tinha estipulado um prazo de cinco anos para que ele se classifique para a Bundesliga. Mas esta meta foi alcançada em apenas dois anos", comentou o "cartola" recentemente, em entrevista ao jornal "Frankfurter Rundschau". Os observadores avaliam em 150 milhões de euros (pouco mais de R$ 400 milhões) as despesas que este mecenas efetuou nos últimos 18 anos em benefício do seu clube adorado. Só a construção do futuro estádio está lhe custando 50 milhões de euros (cerca de R$ 135 milhões), mas nada é bonito ou caro demais para os azuis e brancos do Hoffenheim 1899.
Um verdadeiro clube popular
"Diferentemente do que afirmam os seus detratores, que consideram que este clube nunca foi objeto de qualquer paixão sincera, o Hoffenheim tornou-se um verdadeiro clube popular", sublinha um jornalista alemão. Nesta temporada, o clube mobilizou 14 mil pessoas que compraram sua cadeira cativa, e as partidas em Mannheim têm sido realizadas diante de 26 mil espectadores em média. Todas as cidades e as aldeias deste canto do Baden-Wurtemberg torcem por este pequeno clube, que agora já está disputando de igual para igual com os "times grandes".
O dinheiro de Dietmar Hopp não permitiu apenas contratar os serviços de jovens jogadores promissores, como também os de um treinador de qualidade, Ralf Rangnick, apelidado de o "Professor". Um antigo técnico dos times do Stuttgart e do Schalke 04, ele vem operando verdadeiros milagres desde a sua chegada, no verão de 2006. "A nossa política consiste em confiar em jovens jogadores", diz o técnico. Não é por acaso se o seu time, que apresenta uma média de idade de 24 anos, é o mais jovem de toda a Bundesliga.
O dinheiro de Hopp também permitiu ao clube adquirir estruturas próprias para favorecerem um bom desempenho. Os times de jovens atletas podem contar com boas condições de treinamento em Zuzenhausen, uma localidade situada a três quilômetros de Hoffenheim. Além disso, pela primeira vez na sua história, o clube acaba de conquistar o título de campeão da Alemanha na categoria sub-17.
Enquanto muitos observadores costumavam prever um calvário para os times desconhecidos promovidos quando estes chegassem à Bundesliga, eles precisam agora reavaliar seu julgamento. Contando com um grupo de jovens oriundos não só da Alemanha, como também do Brasil, da Nigéria, do Senegal (no caso, Demba Ba, formado na França, em Montrouge, e que atuou no time de Rouen) ou da Bósnia (Vedad Isibesic, um antigo jogador do Paris-Saint-Germain), o Hoffenheim está agüentando o tranco.
A manutenção na primeira divisão é evidentemente o principal objetivo para este ano, até que se apresentem novas perspectivas, mais ambiciosas. Mas, com o dinheiro de Dietmar Hopp, tudo é possível.
Tradução: Jean-Yves de Neufville
Imagem: www.distintivos.com.br
2 comentários:
Hopp representa um tipo diferente de mecenas esportivo, diferente dos que estão na inglaterra por lucro (Glazer e Hicks), por busca de mídia (Familia XXX de Abu Dhabi) ou por lavagem de dinheiro (Ahn?). Hopp tem o prestígio de ter criado o maior software de gestão empresarial do mundo e ser um dos homens mais ricos do mundo, os investimentos no Hoffenheim (que diga-se, foram bem menores do que outros bilionários fizeram) mostraram ser acertados, a vinda de Carlos Eduardo na temporada passada, a construção de um bom e sólido projeto, além do fato do time não parecer tão "armado" quanto outros times de bilionários. Um time de uma aldeota, mas a aldeota de um gênio, que deve pelo menos beliscar um lugar na Liga Européia de 2009/10, e por que não na Liga dos Campeões da UEFA
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