terça-feira, 30 de setembro de 2008

Grandes Uniformes - Borussia Dortmund 90´s

Uma clara recordação que tenho da infância: O Campeonato Alemão.

Jogos que ocorriam de manhã, transmitidos com sabor pela TV Cultura, cujo nome da Liga, Bundesliga, me fazia rir infantilmente com os trocadilhos possíveis.


Lembro muito do Jorginho, do Paulo Sergio, do Klinsmann, assim como lembro do Estádio do Bayern, o Olympiastadion, deslumbrante, um fetiche meu, um sonho de visita, com aquela cobertura de vidro acrílico(foto) absolutamente incomparável, que criminosamente foi aposentado em detrimento do Allianz Arena, cansativo aos meus olhos, um tipo de mais-do-mesmo arquitetônico com umas luzinhas bobocas no casco.

Mas não torcia pelo Bayern. Mesmo recehado de brasileiros, mesmo com aquele estádio, mesmo sendo favorito. Meu encanto estava em outra cidade. estava em Dortmund.


Aquela camiseta de cor elétrica, amarela fosforescente, em harmonia com o alambrado do estádio, na mesma cor, linda em qualquer situação, inesquecível com a moldura do sol frio de algumas rodadas da Bundesliga. Era diferente de tudo. Virou meu sonho de consumo.

Me marcou a infância, a época que troquei o desenho pelo futebol e precisava achar fantasia em alguma coisa qualquer, e a encontrei naquelas camisetas, assim como no telhado do estádio do Bayern. A camisa do Dortmund, consegui comprar. Ir à Alemanha, não, e me recusarei a um dia pisar no Allianz Arena (ok, mentira).

Hoje em dia, tá cheio de time usando a cor "limão", a cor "elétrica", como recurso de uniforme alternativo. Hereges. Curvem-se ao Dortmund, que a usava como camisa principal. Que foi referência para uma década de 90 de muita ousadia em experiemntos de uniformes. E que, a despeito do menino que escolheu o time por causa do uniforme, foi campeão da Copa dos Campeões e mundial em 1997, batendo o Cruzeiro em Tóquio, com aquele uniforme que nunca verei igual.


Imagem do uniforme: www.erojkit.blogspot.com
foto do time: www.talkelab.ucsd.edu
Foto do estádio: Panther Media

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Um clube: Hoffenhein

Hoffenhein e o apelo popular na Alemanha
Time de Hoffenheim, 3.300 habitantes, ocupa o segundo lugar em sua estréia na 1ª divisão alemã

Alain Constant
Em Hoffenheim (Alemanha)

O lugar apresenta um aglomerado de sólidas casas com fachadas de cores vivas, um bar, três padarias, uma salsicharia, a pizzaria Mira-Lago e ainda, empoleirado no topo do morro, um pequeno estádio. Seja bem-vindo a Hoffenheim, uma aldeia de pouco menos de 3.300 habitantes situada no sudoeste da Alemanha, no coração do Estado de Baden-Wurtemberg.

Desde o mês de agosto, este minúsculo vilarejo sem qualquer atrativo particular e que não oferece nenhuma vida social palpitante ocupa ainda assim as manchetes dos veículos de comunicação alemães. A razão disso é simples: o clube local do TSG Hoffenheim 1899 que, de maneira inesperada, qualificou-se neste ano para disputar a Bundesliga, representa a menor aglomeração da história a ter um time local competindo no célebre campeonato da primeira divisão alemã. Além disso, desde domingo, 21 de setembro, depois da quinta rodada da competição, ele ocupa o 2º lugar na classificação, após ter triunfado sobre o Dortmund (4 a 1).

Situado a uma boa distância geográfica dos gigantes de Munique, Hamburgo ou Berlim, e sem apresentar qualquer passado futebolístico prestigioso, o "clube dos labregos", conforme o apelido que lhe atribuíram com desdém alguns torcedores do poderoso vizinho Stuttgart, está vivenciando uma aventura bastante incomum.

Para ser totalmente imparcial, vale acrescentar que o clube de Hoffenheim não representa apenas a minúscula aldeia do mesmo nome, como também a cidade vizinha de Sinsheim e seus 50 mil habitantes. Uma pequena estrada conduz de uma aglomeração à outra, enquanto a sede social do clube, de uma modéstia rara, está situada num pequeno edifício ao lado de um posto de gasolina, exatamente na saída de Hoffenheim.

Ao passar novamente pela auto-estrada A6, na saída de Sinsheim, um espetáculo surpreendente aguarda o motorista visitante. Num gigantesco canteiro de obras estão trabalhando dezenas de operários em meio a uma nuvem de poeira levantada pelo vai-e-vem de diversos caminhões. Já bastante avançadas, as obras de um esplêndido estádio de 30 mil lugares deverão ser concluídas até janeiro.

Na espera de se instalarem nesta pequena maravilha, os jogadores do Hoffenheim vêm disputando suas primeiras partidas da Bundesliga "em casa" no Carl-Benz Stadion de Mannheim, situado a cerca de cinqüenta quilômetros do vilarejo. "Nós concluímos um acordo com a companhia ferroviária estatal nacional.

Todos os torcedores que forem detentores de um ingresso para as partidas em domicílio podem viajar gratuitamente a bordo dos trens para irem a Mannheim e retornarem a Sinsheim nos dias de jogo", sublinha Markus Sieger, o diretor da comunicação do clube.

Se o clube de Hoffenheim, que ainda disputava o campeonato da quinta divisão oito anos atrás, está atualmente entre os clubes da elite, é essencialmente graças à fidelidade e à generosidade de um homem que, nos últimos 18 anos vem acompanhando o clube do qual é torcedor desde a sua infância. Um bilionário que acumulou sua fortuna dirigindo a grande companhia de informática SAP, Dietmar Hopp coloca seu dinheiro na roda sempre quando isso é necessário.

"Quando o clube subiu para a terceira divisão, eu tinha estipulado um prazo de cinco anos para que ele se classifique para a Bundesliga. Mas esta meta foi alcançada em apenas dois anos", comentou o "cartola" recentemente, em entrevista ao jornal "Frankfurter Rundschau". Os observadores avaliam em 150 milhões de euros (pouco mais de R$ 400 milhões) as despesas que este mecenas efetuou nos últimos 18 anos em benefício do seu clube adorado. Só a construção do futuro estádio está lhe custando 50 milhões de euros (cerca de R$ 135 milhões), mas nada é bonito ou caro demais para os azuis e brancos do Hoffenheim 1899.

Um verdadeiro clube popular

"Diferentemente do que afirmam os seus detratores, que consideram que este clube nunca foi objeto de qualquer paixão sincera, o Hoffenheim tornou-se um verdadeiro clube popular", sublinha um jornalista alemão. Nesta temporada, o clube mobilizou 14 mil pessoas que compraram sua cadeira cativa, e as partidas em Mannheim têm sido realizadas diante de 26 mil espectadores em média. Todas as cidades e as aldeias deste canto do Baden-Wurtemberg torcem por este pequeno clube, que agora já está disputando de igual para igual com os "times grandes".

O dinheiro de Dietmar Hopp não permitiu apenas contratar os serviços de jovens jogadores promissores, como também os de um treinador de qualidade, Ralf Rangnick, apelidado de o "Professor". Um antigo técnico dos times do Stuttgart e do Schalke 04, ele vem operando verdadeiros milagres desde a sua chegada, no verão de 2006. "A nossa política consiste em confiar em jovens jogadores", diz o técnico. Não é por acaso se o seu time, que apresenta uma média de idade de 24 anos, é o mais jovem de toda a Bundesliga.

O dinheiro de Hopp também permitiu ao clube adquirir estruturas próprias para favorecerem um bom desempenho. Os times de jovens atletas podem contar com boas condições de treinamento em Zuzenhausen, uma localidade situada a três quilômetros de Hoffenheim. Além disso, pela primeira vez na sua história, o clube acaba de conquistar o título de campeão da Alemanha na categoria sub-17.

Enquanto muitos observadores costumavam prever um calvário para os times desconhecidos promovidos quando estes chegassem à Bundesliga, eles precisam agora reavaliar seu julgamento. Contando com um grupo de jovens oriundos não só da Alemanha, como também do Brasil, da Nigéria, do Senegal (no caso, Demba Ba, formado na França, em Montrouge, e que atuou no time de Rouen) ou da Bósnia (Vedad Isibesic, um antigo jogador do Paris-Saint-Germain), o Hoffenheim está agüentando o tranco.

A manutenção na primeira divisão é evidentemente o principal objetivo para este ano, até que se apresentem novas perspectivas, mais ambiciosas. Mas, com o dinheiro de Dietmar Hopp, tudo é possível.


Tradução: Jean-Yves de Neufville

Eu e os colombianos

No último domingo, tive o prazer de conhecer uma turma de três amigos colombianos. Andrés, Heitor e a menina, não sei o nome. Dei o acaso de sentar do lado deles, na arquibancada do Parque Antarctica, para ver Palmeiras e Vasco se enfrentarem.

O trio está no Brasil de férias, e quis viajar para São Paulo de forma meramente turística. Eu me recordei de outro jogo que fui nesse ano, em que o senhor ao meu lado pegou um avião de Cuiabá apenas para ver o jogo. Nosso futebol tem um potencial jamais explorado.

Todos eles torciam pelo Deportivo Cali, de forma que a visita ao campo do Palmeiras tinha uma ponta de masoquismo. Foi naquela "cancha" que o "Cáli" perdeu a Libertadores de 1999. Ficaram sorridentes por eu saber o nome do estádio deles. Ficaram extasiados quando eu escalei o Deportivo Cali de 99. Eu fiquei feliz também em saber do prestígio palmeirense por lá.

Eles devem achar que os brasileiros os ignoram futebolisticamente - como nós, brasileiros, achamos que os europeus fazem conosco. E não estão lá muito errados, infelizmente.

Me contaram sobre a cidade, sobre a história dos clubes, sobre tráfico, concurso de Miss, Higuita, Gavíria (ex-lateral morto com um raio em um treino do Cáli), Córdoba, Dudamel, Asprilla, Brasileirão.

A garota se permite conversar e se comportar sem que os homens ao redor se sentissem estupradores. Deve ser um mal paulistano, esse, das mulheres partirem do princípio que todo homem é um tarado. Os garotos foram simpáticos demais, riram dos momentos de nervoso, quiseram aprender o hino, e não entendiam a ausência de Denílson. "ele não é mais o mesmo", eu dizia.

Fui embora com os sentidos mais atentos. De que sou paulistano e aqui você deve ter noções básicas de como ser um guia turístico - pois esta cidade é, afinal, turística. E de que nosso futebol realmente é muito mal explorado. Judiado.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Chico Buarque

Chico Buarque, também conhecido como "Ele", é torcedor do Fluminense, doente, quase todos sabem.

Chico foi muito amigo do grande cantor, compositor e "tocador de caixa de fósforo" Ciro Monteiro, flamenguista, doente, que morreu em 1973.

Quando nasceu a filha do Chico, em 1969, o Ciro, de sacanagem, tencionou mandar para a menina uma camisa do Flamengo, do tamanho certo para um bebê.

Chico Buarque respondeu "à altura". Fez letra e música como troco ao presente. A letra está aí embaixo. A canção, eu tenho, mas não sei enfiar no computador e agradeço se alguém me ensinar.


Ilmo. sr, Ciro Monteiro ou receita para virar casaca de neném (C. Buarque, 1969)




segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Infame

Enquanto todos esperam pelo Brasileirão, no meio de semana temos...




sexta-feira, 19 de setembro de 2008

O Galo sem Ziza

Sobre Ziza Valladares, que deixou a presidência do Galo, fala Leonardo Bertozzi, da revista Trivela, e que, naturalmente, pela sua torcida, chama o Atlético-MG apenas de Atlético.

"Não acredito que Ziza tivesse más intenções ao assumir a presidência do Atlético. Mas sua gestão no clube ficou marcada pelo despreparo, pela incapacidade de se cercar de pessoas competentes na diretoria, e sobretudo por promessas pouco realistas, como a de um time capaz de brigar por títulos no ano do centenário.

Nada disso, é claro, justifica as ameaças que Ziza sofreu nos últimos meses. O saneamento do Atlético é um trabalho de longo prazo, e só poderá ser feito se as expectativas forem reais. Cobrar racionalidade da torcida já é difícil - e fica mais ainda se nem a diretoria tenta colocar os pés no chão."

E acrescento eu: me lembro das primeiras vezes que vi Ziza pela TV. Personalidade cativante, forma sedutora de argumentar e se comportar, uma imagem simpática, familiar. Gente com o perfil de Ziza consegue convencer massas. E isso pode se tornar um perigo. Como foi o caso.

Diga 10 ao Roque Junior!

Roque Júnior chegou ao Palmeiras. Ele é uma bandeira alviverde, destaque unânime do time campeão da Libertadores, uma reserva emocional ao torcedor, que sempre se sentiu representado em campo ao ver o brio do zagueiro.

Ele vai usar a camisa 33.

Valdívia foi embora, e, entre os números disponíveis de camisa, a 10 estava vaga, como estará até o fim do ano.

Não seria o caso de Roque Júnior jogar com a camisa 10? Não seria uma boa jogada de marketing, com argumentos justos, posto que Roque é um líder por excelência quando falamos de Palmeiras?

A camisa 10 não é mais digna que a 33, para um jogador que o Palmeiras considera um dos maiores ídolos recentes?

Podem chamar a idéia de ousada demais.

Mas eu é que não vou achar bacana a "conservadora" idéia de dar a camisa 33 para ele.

Um número que não me diz nada. E nem a ele, que sequer jogava com a camisa 3.

Sobre Torcidas Organizadas

Aqui, uma dica. Se tu te interessas pelo tema "Torcidas Organizadas", mas faz mais do que passar tinta maniqueísta na questão, e busca compreender o fenômeno, leia esta entrevista com o professor de História Social do Futebol na UFRJ, Bernardo Buarque, no sítio da Revista de História da Biblioteca Nacional.

http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=1790

Fica o link e a indicação.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Grandes Uniformes (?) - Chivas 2007-2008

Na Copa dos Campeões da Europa, o regulamento prevê que o número das camisetas deve ter apenas uma cor de fundo. Ou seja, por exemplo, a Inter de Milão tem que ter as costas da camisa em só uma cor, preta, no caso, posto que é proibido, por incrível que pareça, que o número branco tenha no fundo o tradicional e centenário listrado em azul e preto. Ou azul, ou preto. Os dois, não.

É escalafobético, me parece sem razão. E isso vai se alastrar. Quem vê poesia nos números pretos com fundo celeste e branco da camisa da Argentina, se prepare.

Mas é claro que o fato de algo não constar no regulamento pode significar abrir espaço para insensatos inventores do absurdíssimo. Parece óbvio que o número precisa ser legível, grande, centralizado, em cores não-conflitantes (né, Vasco da Gama?).

Mas a fanfarra toca alto no coração de alguns gênios. O Chivas, do México (com franquia nos States!), entre 2007 e 2008, inovou. Os regulamentos não diziam o contrário, então, podia fazer o que eles fizeram. Essa coisa bizarra:


O uniforme do Chivas deixou, nessa nova temporada, de brincar com os números. Por isso, o atrativo para quem for assistir Atlético-PR e Chivas será apenas o jogo, mesmo.

ps. Veja o exemplo da Inter de Milão, no Italiano e na Copa dos Campeões 2007-2008:

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Dois toques: A derrota em casa e os dois terços

O Grêmio ter perdido em casa para o Goiás não quer dizer nada. Ter ganho só um dos últimos cinco jogos, sim.

É que tá rolando um burburinho por aí especulando que a derrota pro Goiás, em casa, arruinou os planos gremistas de ser campeão. Discordo absolutamente.

Mandante em 13 jogos, o tricolor fez 77% dos pontos, com 9 vitórias. A única derrota foi essa pro Goiás. O vice-líder, Palmeiras, tem um jogo em casa a menos até agora, 86% de aproveitamento, com 10 vitórias. E quando o Palmeiras perdeu em casa para o Sport, também se especulou que o sonho estava acabado.

Mas, tanto o alviverde quanto o Grêmio, somam apenas uma derrota como mandante, até aqui. E isso me parece absolutamente natural. Perder um, ou dois jogos em casa, é algo quase inevitável.
Problema maior é empatar muito, ou ganhar pouco como visitante.


* * *

Desde pequeno, guardo na cabeça uma coisa que disseram na TV mas quase sempre bate com as tabelas dos campeonatos - inclusive os que fazia sozinho em casa.

Ganhe dois terços dos pontos disputados, e você é quase campeão. De cada três pontos, ganhe dois. 66%. Uma vitória e um empate a cada dois jogos. Tirante exceções de campeonatos desequilibrados, é um bom parâmetro.

Pois veja. O Grêmio tem 25 jogos, e 49 pontos. Se algum time estivesse nessa toada dos "dois terços", estaria com 50 pontos. Portanto, líder. Não é "batata", mas é uma referência legalzinha, quase educativa.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Estudiantes x Palmeiras. em 2005?


HISTÓRICO E OBTUSO
Estudiantes e Palmeiras se enfrentaram em 2005, mas no Brasil, ninguém ficou sabendo. Procuramos os motivos para o silêncio que esconde uma grande história alviverde


Por Leandro Iamin e Gabriel Brito

4 de agosto de 2005. No Estádio Jorge Luis Hirsch, em La Plata, um volumoso e entusiasmado público comemora a marcação de um penalty a favor do Estudiantes. Pode ser o empate de uma partida quente, até então com um gol solitário no primeiro tempo. Na linha de fundo, Deola, goleiro do oponente, o Palmeiras, está acuado na frente de uma arquibancada irresponsavelmente próxima ao campo, e diante de Carrusca, com a camisa 10 e pronto para a cobrança na seca e fria noite platense.

O clube brasileiro dirigido por Wilson Macarrão está sob xeque-mate, e, com um grupo jovem, estrelado por atletas como Francis e Thiago Gomes, pode não conseguir reagir a tal revés. Estamos no segundo tempo e buscar um desempate pode ser demasiado perigoso.

Carrusca bate, balança as redes, jogo empatado. Por um segundo. O árbitro Horácio Elizondo apita invasão de campo, sem dar ouvido aos protestos. Ele foi rigoroso. Rigorosidade que só se pede aos árbitros nos grandes jogos. Carrusca de novo. Deola solitário e espremido entre energias rojiblancas. Agora vai.

Carrusca cobra, Deola acerta o canto e defende, e o Palmeiras consegue manter-se na dianteira, num 1x0 bastante truncado, e, de certo, heróico, posto que o clube argentino se aprontava para iniciar o Campeonato Argentino Apertura, no qual foi muito bem, inclusive com rescaldos de sucesso na Libertadores do ano seguinte, quando, mantendo a base, foi eliminado pelo São Paulo, no drama lotérico dos penaltys.

Deola, quando defendeu a penalidade de Carrusca, cumpriu, ainda que sem tal pretensão, uma significativa missão a favor do alviverde, a de, com algum atraso e tomada as devidas proporções, aplicar a revanche pela Final da Libertadores de 1968, feita entre os dois, mas vencida pelo time de Mar del Plata, com Verón e Fucceneco superando os insuperáveis Ademir da Guia e Dudu, numa finalíssima disputada em Montevidéu.

Mas alí não era Libertadores. Nem Sul-americana, nem Mercosul, nem Conmebol. Era uma data festiva, onde o Estudiantes, comemorando seu centenário, convidou as camisas verdes do país vizinho para um flashback, chamou um dos seus maiores adversários na vida para apagar sua centenária vela em grande estilo: testando a própria força, se propondo a competir em alto nível mesmo quando o dia podia ser de festa diante de um adversário meramente figurante.

É como uma partida de "entregas de faixas". Não se pode perder, pois que senão, fica aquela manchinha, aquele incômodo, o chopp fica aguado, a valsa toca fora de tom, a sinfonia parece ficar inacabada. Por isso, a atmosfera era eruptiva. Um jogo insubstituível, e com momentos de violência, posto que houve uma troca de empurrões em alta altura da cronometragem, e 3 jogadores expulsos. Deu Palmeiras, para satisfação dos garotos e um discreto deleite de diretores de velha-guarda. Los Pinchas, derrotados, foram ainda assim ovacionados pelo público, e com justiça, pois foram honestos ao escolher um clube grande para medir forças em campo, e fidalgos ao tratarem os brasileiros com o máximo de atenção e respeito, do lado de fora do gramado.


Gol do Palmeiras?

No dia seguinte ao jogo, passeando por Buenos Aires logo após o desembarque no país, Gabriel Brito olha uma TV numa lanchonete, e, curioso, observa os lances. Não adianta a paisagem de um país novo: se há uma TV com futebol, é para lá que os olhos juvenis se viram. De pé, Gabriel assiste a Bruninho, lateral direito, tramar jogada pelo meio e passar para Francis, que chuta com violência a gol, contando com um desvio na zaga que encobre o goleiro e termina em gol. Gol do... Palmeiras? A legenda intrigou: "Estudiantes 0x1 Palmeiras". Um dia antes ele estava no Brasil, e podia jurar que o Palmeiras não tinha ido para a Argentina coisa nenhuma. Muito menos em Agosto, no meio do Brasileirão. Rápida apuração, e era aquilo mesmo. Tratava-se do Palmeiras, só faltava entender em quais condições.

Em São Paulo, os jornais se dedicaram a falar sobre o choque-rei da noite. Leandro Iamin devora um dos diários, para ler tudo sobre o Palmeiras e São Paulo de logo mais. O tricolor campeão da Libertadores, na crista da onda, com Amoroso e Lugano, e o Palmeiras analisado com ceticismo, apostando em Gioino e Marcinho. Nos sites e programas de TV, um bom destaque é dado para Emerson Leão, que era técnico do São Paulo, saiu pelos fundos e agora treinava o Verdão.

Naquele dia, no anterior e no posterior, o máximo que alguém conseguiu ver nos periódicos nacionais foi uma ou outra nota, sem foto ou manchete, informando secamente que o Palmeiras-B foi à argentina para participar do Centenário do Estudiantes. Nada pautado com pompa, apenas um jogo, nada mais.

Mas... Palmeiras-B? Os argentinos sabiam disso? “Palmeiras llegó a La Plata con mayoría de juveniles”, afirmou o Diário Hoy, de La Plata. Por lá, a derrota foi para o bom e velho Palmeiras, ainda que com tal ressalva, e Gabriel Brito testemunhou pessoalmente. Já em São Paulo, falou-se todo o possível a respeito de um saboroso 3x3 entre o Verdão e seu eterno inimigo, quando estes venciam por 3x0, e cederam o empate no fim do jogo, num golaço improvável de Warley. Palmeiras-B na Argentina? Por aqui, foi como se o time juvenil tivesse visitado o Qatar em busca de amistosos insossos: passou batido.


Cadê o jogo no jornal?

Na vida de um grande garoto passam muitos trabalhos, muitos amigos, muitas namoradas, pretendentes, experiências, e nem sempre dá tempo de dar a atenção justa a todas estas coisas. Na vida de um grande clube senhor, o mesmo acontece. E o que a imprensa noticia é uma espécie de reflexo disso. Para o factual imediato que alimenta e nina o jornal diário, realmente não parece razoável ir à Argentina ver um amistoso, quando se tem um grande clássico do lado da redação. Ainda assim, tratou-se de um encontro com a história, que o Palmeiras, com "B" ou sem "B", teve a chance de ter. E isso não é pouco. Não nos encontramos com nossa própria história assim tão facilmente.

As últimas grandes matérias feitas por brasileiros em solo argentino foram 3 meses antes desse jogo, e por motivo bem menos nobre do que o flashback do centenário: Leandro Desábato, zagueiro do Quilmes que hoje, por sinal, defende o Estudiantes, estava numa grande encrenca por conta de um lamentável episódio envolvendo racismo e o jogador Grafite, então no São Paulo.

Um caso que foi grave, mas, sobretudo, só se tornou tão mais sensacional porque foi alvo de uma cobertura demasiadamente carregada de adjetivos e exclamações por parte dos brasileiros. Não precisava colocar tantas questões filosóficas, políticas e sociais naquele caso. E pudemos pensar que esse processo de um fato se tornar obscuro ou vir à tona com força e categoria, passa por um caminho um pouco lotérico, um tanto imponderável.

Como se fossem penaltys a se cobrar, e a se defender.

Pesquisando na mídia argentina, encontramos relatos que reforçam as experiências in loco que Gabriel Brito tinha na memória. Assim escreveu o Clarín.

“Alrededor de 20.000 personas colmaron el estadio de 1 y 57 para darle colorido y emoción al festejo de los cien años de Estudiantes de La Plata. La ceremonia incluyó premios para varias glorias del club y un partido amistoso (que de amistoso sólo tuvo el nombre) ante el Palmeiras de Brasil.

El partido se jugó tan en serio que Horacio Elizondo, quien dirigió el encuentro, debió expulsar a tres jugadores (Pavone (E), Ortiz (E) y Belem) por juego brusco. El encuentro finalizó 1-0 para el conjunto brasileño y el gol lo marcó Everton a los 25 de la primera etapa.

Sin embargo, la fiesta se vivió antes del partido. Numerosas banderas y bombas de humo de color rojo le dieron marco al ingreso a la cancha de Juan Ramón Verón, el símbolo de aquel equipo conducido tácticamente por Osvaldo Zubeldía que marcó un hito en la historia del fútbol argentino”

O texto do Clarín aponta o zagueiro Belém como expulso pelo Palmeiras. Mas o Diario Hoy de La Plata, em contrapartida, anota o cartão vermelho para Wendel. Com a palavra, o próprio Wendel: “Fui eu mesmo o expulso, mas não foi direto não, foi por dois cartões amarelos”. O Diario Hoy aponta para uma expulsão direta. “Não lembro de lances violentos ou desleais no jogo”, trepida a memória de Wendel, que entrou no segundo tempo e atuou apenas 14 minutos, até ser expulso. Vejamos o que diz o relato da publicação Diário Hoy, de La Plata.


“Estudiantes no estuvo futbolisticamente a la altura de la circunstancia. El equipo albirrojo adoleció de juego y perdió ante el Palmeiras, en el partido por los festejos del centenario. Frio y poco fútbol, un cóctel poco atractivo para la gran cantidad de publico que se acercó a presenciar el primer amistoso del equipo de Mostaza.

(...) El once paulista manejó mejor la pelota, especialmente en el primer tiempo, a través de las proyecciones de Bruninho e Francis. Se notó la diferencia entre un equipo con rodaje y en plena competencia y otro que todavía está atado y saliendo de la pretemporada (...) Quizás el dato más importante haya sido que Merlo probó con línea de tres en defesa ante la ausencia del Tucumano. No funcionó del todo bien, porque se notó que el sistema no está trabajado.

(...) Podría haber llegado al empate a través de um penal que ejecutó Carrusca. Primeiro lo convirtió, pero Elizondo lo anuló por invasión de campo. en el segundo intento se lo atajó el arquero paulista (...) El juego se fue degenerando con las expulsiones de Ortiz y Pavone, y aunque posteriormente Palmeiras quedó com diez.”


Aos garotos, a exposição

Wilson escalou um razoável time. Deola, Bruninho, Junior, Vitor Hugo e Everton; Thiago Gomes, Francis, Zé Forte e Marquinho; João Paulo e Tom. Um time em que poucos tiveram efetiva chance no Palmeiras, mas muitos se profissionalizaram com alguma relevância.

Para essa garotada, a conexão desse jogo com a Final de 1968 era muito distante. Wendel se recorda. "Alguns diretores que foram conosco na viagem nos contaram do passado do jogo e ficaram felizes quando ganhamos". É natural que um jogo internacional, aos olhos de um garoto, seja valioso, e por muitos motivos. A vida dele está começando, o futebol está apontando o futuro para ele. E ele é que não vai ficar apegado aos anos do passado distante. A realidade mostra que o capitão da Seleção Brasileira nada sabe sobre a Final da Copa de 58, e trata-se de uma falha cultural consumada na comunidade dos boleiros. Porque um atleta do Palmeiras-B se emocionaria com uma Final de 1968?

Quem viveu, se emocionou. Chico Primo, conselheiro que foi chefe da delegação na viagem à Argentina, conta com carinho da ocasião, bem como da trajetória verde como um todo na Argentina. “Foi lindo, nosso time ganhar foi belo porque o argentino respeita muito a gente, sabe por quê? É que uma vez o Di Stéfano e o time combinado de River Plate e Boca Juniors usou nosso uniforme (foto acima), e isso é poesia para os ouvidos deles. Não tem como não ficar feliz com uma vitória daquela.”

Chico se referiu a um jogo no ano de 1948, em que o Palmeiras cedeu os uniformes para um combinado de River Plate e Boca Juniors, quando se marcou uma partida amistosa dos dois contra a Seleção Paulista. Jogadores de um não vestiriam a camisa do outro, e a solução foi usar a camisa verde.

Esse tipo de saudosismo saboroso que Chico Primo destila em altas doses atinge, de um jeito ou outro, a cabeça da garotada, mas sequer divide a hierarquia de prioridades deles. "A gente sabia da responsabilidade e via a importância daquilo, mas o jogo era importante para nós porque buscávamos ser vistos pelos olheiros e ser bem falados pelos diretores. Estávamos no B e tínhamos que mostrar serviço, além do prêmio pela vitória, que era bom", revela Wendel, que, mesmo desastrado na Argentina, subiu ao time principal, poucas estações depois. Segundo Chico Primo, o clube recebeu 20 mil dólares pela partida, e parte disso foi dada aos vencedores da contenda.

A História oficial

O jogo passou pelo tempo de forma discreta, escondido, à sombra. O departamento de história do Palmeiras, inclusive, não considera o jogo como oficial, já que foi feito pelo Palmeiras-B, ainda que, pelos registros do time argentino, não haja tal distinção. Compreensível e coerente registro, embora, sentimentalmente, seja um equívoco. Este jogo foi sim feito pelo Palmeiras, com todas as letras maiúsculas.

Chico Primo, o sagaz representante oficial da direção do Palmeiras na viagem,
É um compulsivo e quase folclórico contador de histórias. No entanto, sua riqueza de detalhes e suas participações quase onipresentes nos acontecimentos que relata nos pediram algumas verificações na história oficial da viagem.

Ele conta que na saída do Jorge Luis Hirsch, conhecido como "1 y 57" (nome da Rua e número do estádio albirrojo), algo inusitado deu aos brasileiros a dimensão daquele evento para La Plata. Torcedores do rival Gimnasia simplesmente apareceram na festa em que obviamente não foram chamados, e quiseram azedar o bolo de Los Pinchas. As duas barras inimigas respingaram violência até na jovem e inocente delegação palmeirense, que sofreu para deixar a cancha. "Sobrou pra mim que tomei uma varada de bambu na cabeça, saindo do estádio em uma praça. Aquela confusão pegou todo mundo desprevenido", conta Chico.

Relatos de torcedores afirmam que cerca de 6 mil torcedores ficaram em frente ao estádio, após o jogo, esperando dar meia-noite para festejar de novo. Não encontramos registros acerca deste confronto com a torcida rival, mas, se Chico conta, algo aconteceu, mesmo que com os descontos dos deslizes de memória. Primo nos contou, por exemplo, que o gol da vitória foi marcado por Everton, e que Zé Forte não tinha viajado com a delegação (quando foi perguntado se procedia a informação de que o atleta havia sido desligado do Palmeiras nessa viagem, por chegar embriagado ao hotel). E, na verdade, o gol foi de Francis, e Zé Forte não só estava presente, como foi titular da equipe.

Quanto à embriaguez de Zé Forte, nada se comprovou, e pouco se insistiu na apuração. Desimportâncias.

Naturalmente que, no final das contas, Estudiantes e Palmeiras disputaram um amistoso. Não foi a coisa mais importante da vida do Palmeiras. Não foi o maior pesadelo dos 100 anos do Estudiantes. Na seqüência, o alviverde fez uma rigorosa serie de partidas pelo Brasileirão que consagrou uma volumosa reação, culminando na classificação à Libertadores. Los Pinchas conseguiram honrar o ano dourado com um quarto lugar no Campeonato Argentino.

O tempo passou, como sempre, rápido, e no ano seguinte, mal começado, eles já estavam na Libertadores. E a Terra foi girando, jogos foram se sobrepondo. Deola foi emprestado ao Guarani, Pavone foi um dos grandes goleadores no Clausura de 2006. O Palmeiras voltou à Argentina, foi à Rosário, empatou com o Central, e o Estudiantes veio até Goiás eliminar o time candango no Serra Dourada. Não consta que se encontraram em nenhuma viagem.

Não deu tempo. Ninguém teve tempo para sentar e desfrutar desse interessante capítulo da história verde. Se alguém teve tempo, certamente não teve o jornal, bonitinho, ilustrado, em português, para conferir. Ao menos, agora, teremos as letras deste texto.


* * *
Fotos:
-Jogo, ficha técnica e torcida pincharrata - Jornal Diario Hoy
-Combinado River/Boca - Depto de História do Palmeiras
-foto do time do Palmeiras -
www.palestrinos.com
-Distintivos - www.distintivos.com.br

Poesia Concreta

Se você está em terceiro lugar, e os dois times à frente, assim como o que está atrás, perdem, em casa, na mesma rodada, esta é uma rodada diferente.

Se você vence fora de casa nesta mesma rodada, e se o derrotado é um dos que estão à frente, aí sim tudo fica grande.

A rodada do Palmeiras foi um sonho. É o único dos 5 primeiros que joga em casa na rodada que vem. Me lembro, no Paulistão, da primeira vez que vi esse Palmeiras como postulante de fato ao caneco.

Foi ao vencer o Bragantino fora de casa, num 5x2 que era 0x2, com homem a menos em campo.

Quando o Palmeiras se defendeu sem vergonha da vida no Mineirão, após Lenny ser expulso em um não-lance, e o fez de forma tão concentrada e honesta, deu, por fim, para acreditar que o alviverde deverá ter fôlego.

Via confronto direto, o Palmeiras já pode projetar-se emparelhado ao Grêmio. Já pode, mas ainda não é.

Projetar é uma coisa saborosa, às vezes.

Veja você que, na penúltima rodada, o Palmeiras joga contra o Vitória, na Bahia, em 30 de novembro.

2008, um ano para o palmeirense lavar a alma machucada, com o rival na serie-B e o fim da espera por um título. Projetemos a situação ideal deste clube: a hipótese do Palmeiras se sagrar campeão na penúltima rodada.

No dia 30 de novembro, data da inesquecível derrota para o Manchester United, em Tóquio.
No Barradão, na Bahia, palco onde, em 2002, o Verdão foi rebaixado.

A cada rodada projetam novos candidatos e ratificam eliminados ou rebaixados. E é assim mesmo que tem que ser. O futebol é como a areia debaixo do mar. Mas de tudo que já fucei na tabela desse campeonato, de todos os ângulos que já vi, não achei nada mais redentor e apoteótico que a possibilidade da consagração verde na penúltima rodada.

Seria a poesia concreta.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

A queda e o doping

Imagine-se com um metro e sessenta.

Você tem a bola nos pés, e um zagueiro 30 centímetros maior que você te busca.

Você sabe que esses zagueiros brasileiros são uns derruba-derruba.

Você sabe que os árbitros do Brasil são todos apita-apita.

Você treinou a semana inteira as bolas paradas.

Você vê algum erro em ser um cai-cai?

* * * *
Dodô. Dois anos de suspensão.

Essas suspensões que sempre podem mudar e desvalorizar o dinheiro gasto no jornal do dia anterior.

Mas foi. Assim é. Um dia, suspenso por 120 dias. No outro, absolvido. Depois, suspenso por dois anos. STJD, suprema corte da Suiça, corte arbitral do esporte, cada uma com seus vereditos.

A lei, errada ou não, tem que ser cumprida, diria o simplismo evidente.

Mas é tão complexa a questão do doping. Tão complexo o caso. Tão complexas, e diferentes, as cortes e os tribunais que julgam.

Eu não consigo consentir. Não sinto justiça.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Quinta Coluna

Você sabe porque eu não dou aula de astronomia?

Porque não entendo nada. Confundo com astrologia.

Desonestidade não é só roubar, ludibriar.

É desonesto quem aceita algo que não sabe fazer.

Desonestidade é se propôr a fazer algo que não é capaz. Tão quanto roubar, tão quanto burlar alguma lei.

É desonesto aceitar um cargo para treinar um time de futebol, sem sentir-se capaz disso.

Eu creio que todo ser humano tem auto-crítica.

De modo que é ainda mais desonesto, após aceitar treinar um time de futebol, querer manter-se no cargo, com truculência e discurso mentiroso, e camuflando a auto-crítica.

Como acho desonesto, também, jogar por um time de futebol sem estar com vontade, ou sem estar fisicamente apto para isso.

Tão desonesto quanto quem rouba com a cartola, é quem se omite de chuteiras. Ou quem quer nos enganar com escalafobéticas camisas sociais.

Sinto tristeza por meu coração torcer por vocês, desonestos.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Entre as duas linhas de quatro e o 4-3-3

Tá certo, o Brasil jogou bem, goleou o Chile mesmo perdendo penalty, teve coração, comemorou cada gol com raiva e real alegria.

Diego foi presente, Ronaldinho tecnicamente bem, Luis Fabiano foi o nome, Gilberto Silva foi o outro nome, e a Seleção sentiu-se bem em "colocar" o Chile em seu "devido lugar".

-Nunca mais venham com discursos otimistas. Não apareçam mais com três atacantes pra cima de nós.

Como se isso não explicasse os espaços achados pela nossa seleção. Viesse o Chile num 5-4-1, talvez o jogo fosse 0x0 e os canarinhos culpariam "a retranca chilena, o anti-jogo". Ou "as duas linhas de quatro", aquelas que só o Dunga vê.

Todo discurso é utilizável, não? A retranca é condenada, mas vir jogar com 3 atacantes contra o Brasil parece uma heresia. Não é, necessariamente. Todo esquema é equilibrável.

Para contar esta vitória brasileira, temos que lembrar que ela veio com a qualidade de nosso jogo aberto pelas pontas e o pivô sempre ótimo do camisa 9. Mas também temos que dizer que o árbitro fez vista grossa para, pelo menos, três agressões brasileiras dignas de cartão vermelho no ato. Muito piores que a falta que resultou na expulsão de Valdívia.

O Brasil foi de uma "valentia" violenta do mesmo tamanho da soberba de criticar o desejo chileno de vitória. Um desejo justo, pois até a Venezuela se permitiu ganhar de nós.

Um tiro que saiu pela culatra deles. Mas os nossos avantes não fizeram nenhuma questão de lembrar que jogaram bem porque a marcação adversária foi mais branda que o normal.

Dunga, na Copa América, contra esse mesmo Chile, chamou ignorantemente o 3-5-2 andino de "duas linhas de quatro", para justificar as dificuldades do primeiro tempo. A pérola entrou pra história do futebol nacional.

De modo que penso que demos sorte por Bielsa ter fracassado em sua leitura de jogo.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Álbum

Você não jogava botão.
No tempo que eu era fedelho,
quando o mundo era
meu estrelão,
quando eu fodia o joelho
com a bola de capotão

Você só queria
a figurinha do Edmundo.

Nunca chutou de bico,
nunca ganhou na rebatida.
Não me entendes, gurí,
porque nunca gastou grana
pra tirar a quarta repetida
do Edu Lima do Guarani

terça-feira, 2 de setembro de 2008

VICTOR BIRNER - EM BUSCA DO PESO PERDIDO

MINHA OUTRA PAIXÃO
-Esta série vai se dedicar a conversar com jornalistas esportivos. O assunto: suas paixões que não são esportivas nem jornalísticas.

VICTOR BIRNER - EM BUSCA DO PESO PERDIDO

Espero por Victor Ernesto Birner em uma serena e enxuta redação de rádio. Nas mãos, Pablo Neruda, na TV, um Gre-Nal, e dois metros à frente, Paulo Massini e Juca Kfouri lêem e azeitam o programa que vai ao ar logo mais, o CBN Esporte Clube. Das três opções, a que mais me entretém é observar os jornalistas. Birner, que participa do programa, marca comigo meia-hora antes, e chega em cima da hora. Era um atraso previsto. Dá tempo de buscar um gravador, criticar severamente seu clube do coração em pinceladas rápidas, e andar firme para o estúdio.

Victor, ou Vitor, é acessível e seu raciocínio é veloz. Vestido basicamente sob medida, só sai de sua postura de marcha despojada para exibir às amigas um pedaço de sua cueca temática, sobre seu time do coração. O agasalho é da Inglaterra, e ele gosta mesmo de lá. Começou a vida ouvindo Beatles, entre outras referências maternas, e ao crescer adotou o Iron Maiden como rei do rock, além de admirar o futebol britânico desde os tempos do chuveirinho.

Rostão europeu, barbicha e olho claros, com uma vistosa cabeça raspada e careca, ele é a tese e a antítese de um roqueiro. Por vezes parece ser, às vezes é o oposto, em forma e conteúdo. É sarcástico no papo informal, mas carrega-se de tinta humana e bondosa quando fala sério. Quando tinha cabelo comprido, ainda assim usava branco no meio dos amigos que usavam preto. Assistiu o primeiro show do Sepultura, foi guitarrista de três bandas (com o pseudônimo de Tumba!), suas referências são as clássicas, mas também as alternativas. Sua balada preferida hoje se chama Clash Club. A forma leve de falar do tema não mostra saudade dos tempos de roqueiro, sinal de que ainda o é em essência.

Birner segue em busca do peso perdido do rock, e o procura nos mais curiosos locais, como numa escola de samba. Ele acha o rock conservador, e que cada vez mais se distancia do amor, em nome da procura insensata pelo sucesso. “O mesmo acontece no futebol. O cara não tem mais tesão em jogar pelo vício no esporte”. No jornalismo, porém, Victor consegue manter-se com coração romântico. Quer viver de seu blog, e deixa bem claro sua relação com a profissão: é ele quem a tem, e não o inverso.

Birner teve uma trajetória comum a muitos outros amantes do rock´n roll. Mas soube não ser clichê. Sabe diferenciar o que é herança do rock e o que é herança da idade, da cidade, da vida. Ele tocou nesses assuntos musicais comigo, no meio do CBN EC, entre pausas para entrar no ar e para assistir, sorrindo, as provocações dos demais participantes do programa. Aqui, o que de melhor se pinçou.

Olá Victor. Fale sobre sua formação musical.

Olá Leandro. Bem, minha mãe ouvia Beatles, Elvis, quando eu era criança, e isso me fez gostar de rock. Mas fiquei fanático mesmo por heavy metal, na verdade, quando um amigo do bairro trouxe um disco, “Killers”, do Iron Maiden, isso em 1981. Eu fiquei louco. Depois, com “Number of the Beast”, virei alucinado. E daí pra frente, Black Sabbath, Ozzy, Metallica, ou mesmo Sister Of Mercy... aí não parei mais.

O que mais te motiva a gostar do rock?

Não é só o gostar da música. Ela representa períodos da vida, te traz sensações da adolescência. Por exemplo, eu estudava no Mackenzie, e me lembro que colocava o Iron Maiden no aparelho 3-em-1 que tinha em casa, e ouvia, ouvia, ouvia, quando voltava da escola ou do futebol, sempre que dava. Era uma relação diferente das dos jovens de hoje com a música, que são um pouco mais maldosos e realistas.

Maldosos e realistas?

É, maldosos e realistas, ou, se preferir, práticos e com foco em dinheiro, fama e baladas, e não na música.

Quando rock e futebol se cruzaram, se é que já foram descruzados?

O futebol é mais antigo e algo inexplicável. A relação é muito clara entre rock, futebol e minha vida. Ia aos shows com bandeira, o que dava um certo ar de jogo ao show. Buscava informações, pesquisava os times q os caras do Iron Maiden torciam... Eu mandava cartas ao fã clube, para eles, achando que ele lia. Pessoalmente, ano passado, ele disse que não lia carta alguma.

Hoje o jeito de acompanhar uma banda é diferente?

O rock hoje é mais plastificado, e é por culpa das bandas, em maior parte. Tem quem goste de verdade, claro que tem, mas não vejo mais a mesma intensidade de vibração. E sabe, vejo algo parecido no futebol. Já não tem mais aquela intensidade natural, além da competitividade, da raiva, isso é, a sua relação com o time, ou com a música, parece que depende de outras coisas além do que você sente.

Como assim?

Eu sempre brinco, ou melhor, falo sério, dizendo que na vida é preciso sentir, mais do que ter. Gostar de musica é mais importante do que ter o disco.

O que você gosta no rock mais atual?

Olha, antigamente as bandas faziam 6, 10 discos bons, eram mais constantes. Hoje em dia elas têm algumas boas musicas, em alguns discos. Gosto de White Stripes, pela performance ao vivo, que é bem melhor que num CD. Gosto de Strokes, detesto Oasis. Tô ficando tiozinho, né, Strokes não é mais atual (risos)! Do que ouço hoje, prefiro a musica eletrônica, e mesmo assim ela está em decadência. A música eletrônica está virando rock.

E sua carreira como músico? Como foi?

Entrei em duas bandas que já existiam, a Belial e a Skull Crushers. Era Death Metal. Tocava forte, era uma época que tava estourando o Possessed, Celtic Frost, Hellhammer. Ia a muitos shows, todos que você imagina. Sou do tempo do Lira Paulistana, Carbono 14, vivi isso desde o começo. Andava com o pessoal das bandas, e fui no primeiro show do Sepultura ... Tinha cabelo longuíssimo! Eu era amigo da galera e tocava na banda, até que o pessoal do Vodu me chamou pra tocar.

E esse foi o auge?

Nunca foi meu sonho de verdade. Eu era novo e gostava de tocar. Tocava por tocar, não pra ser famoso. Estamos falando de 87, 88, 89, o Vodu fazia shows em vários lugares, eu aceitei, toquei por um tempo até me encher, não gostava do trabalho do vocalista, da voz dele. Era no tempo das gravadoras aparecendo, algumas cogitavam nos contratar se mudássemos o vocal, e eu larguei sem ter que dizer “to fora”. Apenas não apareci mais (risos).

Deixou de ver o São Paulo por causa da banda?

Não! Tinha um acordo: eu saía de show e de ensaio a tempo de chegar no estádio. Eu fui mais futebol que música na vida. Num comparativo, o futebol fazia um 4x2 na musica, com um gol no finalzinho (risos).

Como músico, qual era sua posição? Como jogador, jogava de quê?

Como músico, eu era um volante genioso, que até desequilibrava, mas pecava por ser egoísta, imprevisível para o grupo. Odiava entrevistas, evitava ir na MTV, não sabia os nomes dos discos, gravava sozinho de madrugada. Queria uma maquina de fumaça perto de mim. Gostava de tocar comigo, pra mim, a relação era com o meu som, e não com o público. Eu virava pra caixa e mudava sozinho as afinações, fazia microfonias. No futebol, jogava bem. Hoje em dia, preciso operar os 2 joelhos, tenho que jogar de tênis (a trava faz mal ao seu joelho)... Perdi de 7x0 pro time do Iron Maiden, nunca perdi daquele jeito na vida! No futebol, eu gostava de ser o que mais corria pelo time. Seria o guitarrista de um time. Totalmente o oposto do que eu era no rock.

Como você lidava com as regras e os padrões do rock?

Quando tocava, eu era viciado Syd Barrett. Ele, nos primeiros discos do Pink Floyd, fazia um som psicodélico, com desafinações, acordes inexistentes, dissonâncias, mas isso no heavy metal era um tabu. E eu o imitava quando tocava. A galera do metal andava de preto. Eu, de cinza, branco, camisa do São Paulo. Eu fazia tudo do meu jeito, ou seja, nunca fui modista.

Nunca? Isso é, o grupo do metal recriminava a mídia, não?

O rock recriminava a mídia, mas porque era recriminado também. É a reação do ser humano que quer estar lá e não consegue. Eu notava que as pessoas se davam bem com a mídia. O pessoal agitava a cabeça, mexia com a galera - eu nunca fiz isso. Abri um show do Motorhead, Ibirapuera lotado, e aquilo não mudava nada pra mim. Minha relação era com a musica, não com a mídia.

E as questões paralelas às tribos como a do rock, como as drogas e os posicionamentos políticos?

Não tenho nada contra drogas. Só não acho saudável consumi-las. Pra mim, é problema de saúde, e não moral, ainda que seja financiar uma indústria criminosa. No rock aquilo era acessível, mas hoje eu sou mais aberto que naquela época. Não há argumento contra fome, falta de educação e médico. Essas coisas de ser contra fome é um viés teoricamente de esquerda. Mas eu não acredito mais, to descrente na esquerda, na direita, não creio mais em grupos muito grandes com idéias. Creio em pequenas ações e ações individuais. Mais que uma passeata, que já fiz, prefiro fazer algo pequeno sem que ninguém saiba.

Isso quem te ensinou foi o rock?

Quem me ensinou isso foi a idade, e algumas fases em busca de auto-conhecimento. De quem passa momentos de euforia e depressão, tenta conhecer várias religiões. No final você se encontra no que acha ser construtivo ou destrutivo. É assim que eu divido o mundo, ao invés de entre bem ou mal. Eu tento ser construtivo, mas sou às vezes destrutivo comigo mesmo. Politicamente é o que eu penso.

Quem é o Raí do seu rock?

Bruce Dickinson, nascido 25 de agosto de 1958... Eu acho que é essa data (Bruce nasceu dia 7, mas Birner não pôde tentar consertar, pois a resposta foi interrompida. Juca o chamava no ar).

Qual é o seu programa musical atual?


Bem, eu gosto de musica pesada. E o rock perdeu peso, assim como o techno perdeu peso... Sabe onde eu encontro esse peso perdido, hoje? Na bateria da Vai-Vai. Não sei sambar, não compro CD ou camisa, não tenho essa relação. Mas sou viciado na bateria, e fico do lado dela. Prefiro-a a 98% das bandas de rock hoje.

Um rockeiro no samba?

No dia da Vai-Vai desfilar nesse carnaval, eu fiquei vendo na TV, até a escola anterior à Vai-Vai, e saí de casa só pra vê-la. Fui, com bandeira e tudo, pra bancada. Chorei muito, vi o desfile e voltei pra casa. Passei mal com a loucura que foi a forma como ela ganhou esse Carnaval, apertado e no finzinho. Foi como uma Libertadores do São Paulo!

Outro aspecto familiar entre música e futebol, sim?

Em dezembro (dia 23, em férias), mandei uma mensagem pra um amigo. Eu tava no Vai-Vai. Olha a mensagem: “Vai-Vai é sãopaulina. Guarde:minha presença deve ter garantido o título. SPFC Libertadores da América!”. A relação é familiar. Sabe, eu adoraria que a música dos estádios mudasse. Sabe, músicas pesadas, com fumaças coloridas... E não a seleção chatíssima de música, aqueles pagodes altos, que não dão emoção no cenário. Mas nunca tive eco. Tocar U2 no Morumbi já é raro, já é muito.



* * *

Correspondência em resposta de Vagner Ribeiro para Robinho

E aí Robbie, meu menino, minha fera!
Desculpa a mensagem lacônica. Eu to com um pouco de pressa, tenho que correr pro aeroporto. Esperei até o último minuto, garoto.
Fiz o que eu pude. Mas Manchester é uma cidade linda, você vai engolir o Cristiano Ronaldo logo logo!Relaxa que vai dar tudo certo.

No Manchester City você não sai da Seleção. Pergunte pro Elano e pro Jô. E não fique com medo, fera, você sabe o que eu sempre te digo: tenho certeza que você vai ser o melhor jogador do mundo!

atenciosamente,Vagner Ribeiro



A correspondência anterior: http://leandroiamin.blogspot.com/2008/09/corresponncia-para-vagner-ribeiro.html

Berbatov e o "Show"

O Manchester United comprou o Berbatov por 38 Milhões de Euros.

O Berbatov.

Por 38 Milhões.

De Euros.


* * * *

"No intervalo, você vai assistir (com tom de leve histeria) ao SHOW de Ronaldinho Gaucho, apesar da derrota em casa para o Bologna"

-Trecho da narração do Esporte Interativo no Campeonato Inglês.

-Acaba logo, geração do grito esportivo.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Corresponência para Vagner Ribeiro

E aí Vagner,

Então, tio, acho que tá tudo dando certo. Pow, eu vi que as coisas iam virar pro meu lado quando conseguimos fazer eu não ir lá pra Olimpíada. Isso me ajudou pakas, dei um monte de declaração triste e a galera até está comentando que se eu tivesse em Pequim, não perderíamos daquele jeito. Lá na Inglaterra tão dando mó força, tá da hora.

Puta plano, Vagner! Acho que esse foi o melhor. Agora, sério, to vendo o presidente dessa merda de time dizer que eu não vou mais sair. Faz alguma coisa rápido, porque eu já não aguento mais dar entrevista coletiva pra falar a mesma coisa. Daqui a pouco vira piada esse papo de ser o melhor jogador do mundo.

Na verdade, velho, eu tô de boa, to relax nesse tempo que os caras do Real tão me deixando descansar. E minha grana tá firmeza. Mas eu tô fazendo a maior correria pra dar tudo certo pra nós, e se a gente vacilar agora, sei não. De repente sai o Dunga da seléssa, eu vou pro banco, e aí, velho, só lamento por você. Porque eu vou continuar dando meus esculachos na Espanha mesmo, pra ser o melhor do mundo por aqui mesmo.

Sei lá, não quero me meter no seu trampo, Vagner. Mas eles tão falando pra caraca. Lá no Brasil o presidente do santos me deu bronca, falou pra eu cumprir contrato. Tem que parar de todo mundo falar essas coisas. Entra ao vivo, manda ofício, força uns vídeos, sei lá, mano. Se der eu até entro no "Bem, Amigos" por telefone, igual o Kaká fez e falou que deu certo. Só vou ficar no veneno se a galera do Madrid ficar na bronca comigo e eu não puder ir embora.

Mas eu confio em você, a moçada esquece rápido dessas paradinhas de começo de temporada. Ainda mais quando eu der aquelas pedaladas só minhas, hehehe.

Abraço, fera. Te cuida.

Robinho R10