quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Paulo Comelli e a classe

de Leandro Iamin

Paulo Comelli pediu demissão (ou foi demitido, depende da fonte) do Oeste ainda no intervalo da última partida deste time. E se mandou pra casa antes do 2° tempo começar.

Alega que houve interferência em seu trabalho. Que alguém "de cima" lhe pediu que tomasse alguma atitude.

Comelli foi digno, se a visão do acontecido for mesmo essa, simples, rasa, apenas pediram e ele apenas se mandou.

Futebol é cheio de nuances. Tudo é, aliás. Ou cheio de sujeira também, se assim preferir.

Interferência no trabalho de treinador é sim comum. Comelli não me contou que a América foi descoberta ao descortinar esse suposto embaraço.

A interferência tampouco vem só por parte de dirigentes, e muito menos afeta só o cargo do treinador.

Comelli reclamou e saiu de seu emprego, mas eu prefiro observar que ele foi vítima da própria classe. Classe desunida de treinadores que muitas vezes se aproveitam dessas mesmas interferências de diretores, ás vezes de empresários, torcedores, terceiros e quartos.

Classe de treinadores que não se importa com sindicato, não dá a mínima pra ética, pouco busca aprofundar-se no estudo da profissão e seu entorno.

Classe que sabe que é assim, e permite que seu cotidiano profissional seja sempre esse, raspando na troca de favor, esbarrando no tapismo-nas-costas.

O futebol catapultou essa função do futebol muito mais do que a mesma evoluiu no país. Treinador de time pequeno, treinador de base, treinador de ponta, todos sofrem com um descrédito ético que na verdade pouco lutam para combater.

Porque se falta mais visão, mais postura, mais união entre os treinadores, fica muito mais fácil pra um diretor pedir, ordenar, apontar dedo, ameaçar, chantagear, demitir, e contratar outro amanhã.

Dia seguinte: Paulo Comelli deixou o Oeste e assumiu o Sertãozinho. Será que ele está mesmo tão chocado ou preocupado com o que viu 24 horas antes no vstiário do Oeste?

A aldeia de Luís Fabiano

de Leandro Iamin

Luís Fabiano fez mais um de seus gols pelo Sevilla nesse meio de semana, pela semi-final da Copa do Rei. Gol difícil, de cabeça, saltando pra trás e encobrindo o goleiro.

Na comemoração, vestiu um chapéu que é a marca registrada do presidente do clube em dias de jogo.

A imprensa adorou a homenagem ousada do atacante. Os espanhois apreciaram a ideia e sublinharam o tamanho do futebol do camisa 9 da Seleção.

Que joga muito, que é uma fera, que eu aposto como um dos maiores nomes da próxima Copa. Mas que, como não joga no quadradinho da alegria (Milan, Inter, Real, Barça...), vive a ouvir os outros sugerirem que desperdiça sua carreira num time mediano.

Na minha opinião, Fabiano tem bola pra jogar em qualquer time. Gosto dele, mas gosto ainda mais por isso não afetá-lo, isso é, ele gosta do Sevilla.

Não é o maior time do mundo. Ele sabe. Mas tem torcida, disputa coisas, lha paga bem, tem estrutura, história. Precisa ser o maior time do mundo?

Lá ele conquistou títulos, perdeu coisas dolorosas, lá ele alcançou a Seleção, lá ele viu companheiro de time morrer em campo, lá ele tem carinho - campeão ou não. Porque se desesperar em ir passear em outra aldeia?

Quem acha que Luís Fabiano perde tempo no Sevilla, que vá assistir aos jogos do efêmero Chelsea, cujos jogadores mal parecem vinculados à camisa, à Londres.

Acho improvável, mas que bom seria Luís Fabiano encerrando a carreira no Sevilla. Vestindo o chapéu do presidente, sendo aplaudido de pé por uma das cidades mais cheias de personalidade no mundo.

Ser rei em Sevilha deve ser mais legal do que ser só mais um em Madrid.