segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Até 2009

O blog criou-se. Estará firme em 2009. Mas vai parar pra descanso.

Volta na segunda semana de janeiro.

Estarei em praias paradisíacas, comendo em restaurantes internacionais, conhecendo mulheres respeitáveis.

Ou não.

Vou descansar e torcer para L. Gonzaga Belluzzo, a única salvação política do Palmeiras, ser confirmado candidato à Presidência por esses dias.

Obrigado a cada um por cada vez que direcionou-se pra cá. Conto contigo em 2009.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

FLAVIO GOMES - UM LABORATÓRIO PARA O MUNDO

MINHA OUTRA PAIXÃO – FLAVIO GOMES

“Essa série tem a intenção de entrevistar jornalistas esportivos, sobre uma paixão não-jornalística e não-esportiva”

* * * *

"Paixão, mesmo, acho que não tenho nenhuma" .

Eu procurei o escritório de Flavio Gomes na Avenida Paulista com uma suspeita em mente. Será que o jornalista mais viajado da paróquia, tão nitidamente apaixonado por automobilismo, lusitano doente, não tem nenhuma outra paixão na vida? Será que o desinteresse em cultuar alguma coisa é justamente o seu barato, ou trata-se de uma chata personalidade pacata?
Sou recebido pelo baixinho batuta, e entro em seu escritório amplamente decorado. Sento numa poltrona amarela, enquanto ele, ao telefone, discute sobre pistas e carros favoritos para cada pista. Na parede, o bico de um antigo carro de Fórmula Ford, miniaturas às dúzias, quadros com fotos e reportagens, credenciais, cacarecos de significado meramente pessoal. Muito bom gosto em tudo, nas cores, na bagunça, tudo arejado, computadores que dão vontade de sentar pra escrever. E Flavio Gomes, ainda menor no meio de sua mesa com informações, todas elas aparentemente úteis, com destaque ao laptop, o Marlboro e o celular, solta um prático “então vamos lá?”.

Fala com categoria, tem um semblante jovial e simplista demais para suas argumentações. Após 5 minutos, o que eu concluo é que a paixão por carros é tão arrebatadora que ele na verdade não sente necessidade de ser, ou se dizer ser, aficionado por outras coisas. Claro, suas paixões elementares, como seus dois filhos, não contam, ainda mais porque não parece ser o tipo de coisa que Flavio se sente à vontade pra falar. Sinto um humor na linha de raciocínio de Gomes. Ele deve se divertir muito com a própria imaginação. Chegou seu almoço, um macarrão num pote nem tão apetitoso, mas ele garante ser muito bom (pene com aspargos e presunto cru do Ritz, "uma das coisas desta cidade que eu adoro"). Abrir o saco de queijo ralado com os dentes não é lá muito prático. Mas almoçar sem descansar a cabeça, e sem fazer digestão aponta que Flavio Gomes é um ser adaptado à vida implacável de São Paulo. E eis a paixão, a sua outra paixão possível, a paixão que o "desapaixonado" encontrou em seu peito: a cidade de São Paulo.

Antes de ser o multimídia (de araque, segundo ele) que atua, entre outros muitos lugares, na ESPN Brasil, Rádio Eldorado, Lance! e iG (onde tem seu blog e seu empreendedor portal), Flavio teve uma trajetória ousada, coisa de gente grande, sem trocadilhos. Fez apostas, passou por Folha, Placar, Jovem Pan, Bandeirantes e lançou o livro O Boto do Reno, em 2005, um Diário de Viagem que tem de tudo, até São Paulo. Nasceu em 1964 e passou os primeiros anos de vida em Moema (foto, em sua casa que resiste até hoje). Em 72, aos 7 anos, em razão do trabalho do pai, foi morar no Rio de Janeiro. Após 3 cariocas anos, em 75 ele volta a São Paulo e em 78 vai morar em Campinas. Trabalho nômade, o de seu pai. No interior paulista foram mais 4 anos. Seguindo os passos do irmão que correu pra Sampa, Flavio sabia que a carreira que sempre sonhou estava na capital, e desde 1982 Gomes não muda mais de cidade. "Passei muitos anos viajando o mundo, poderia morar em muitos lugares, e nunca quis sair de São Paulo.

Ser criado em lugares diferentes ajuda algumas de suas compreensões e aspirações. O momento político era importante - Flavio é de uma entressafra que não tinha idade pra lutar contra a ditadura, e que se formou justamente no fim da negra fase. O time de futebol também pesava, afinal, foram exatas 100 vezes que ele saiu de Campinas só para ver a Lusa no Canindé. Tinha também o ambiente universitário, os empregos... Está aí um pedaço do papo com Flavio Gomes. Foi uma conversa tão gostosa em seu escritório, que é como se estivéssemos em uma mesa de bar. Confira:

LI: O que contava para você quando decidiu-se por São Paulo?

FG: Tudo contava. A Portuguesa contava muito pra mim. Nos 4 anos que vivi em Campinas, eu vinha sempre aos jogos da Lusa e anotava as partidas. Foram 100 jogos. Isso era uma paixão forte, então, contava bastante. Tinha a parte política também. Tancredo se elegeu em 85, mas em 79 já era claro que o governo militar estava dando os últimos passos. Eu nunca tive uma vida política muito ativa, mas eu queria ver aquilo de perto. E outras coisas me atraíam, como o ambiente universitário, o político, a criação do PT... Isso tudo acontecia aqui, e não em campinas, ou outra cidade menor ainda. Minha intenção era viver isso, aqui.

Sua paixão por carros, ou ter um carro, te ajudou a descobrir São Paulo?

Ganhei um carro aos 18, e isso ajudou quando podia ir a um jogo da Lusa de carro, por exemplo. Só para coisas assim, de independência, e não para descobrir a cidade. Eu andava muito e sempre de ônibus e metrô. Quando passei a andar de carro, as minhas artérias na cidade eram as mesmas que eu tinha no transporte público. Mas me dava autonomia. Eu não descobri São Paulo fisicamente de carro. Carro nunca foi pra mim um símbolo de hedonismo, para comer mulher e me exibir. Era um facilitador de coisas práticas.

Interlagos é um bairro que você gosta?

Interlagos não é meu bairro predileto. O autódromo, sim, é o lugar que eu mais gosto. O bairro, não. Interlagos tem uma história e um nascimento interessantes - o bairro e o autódromo. Na década de 40, aquilo ali era deserto, e não caberia um autódromo daquele tamanho em outro lugar que não aquele.

O que é pior pra São Paulo: a classe media e sua mentalidade ou a periferia e sua pobreza prática?

Na balança, o mais problemático... empata. A violência de algumas periferias se equipara à estupidez da classe média. Eu não sou freqüentador da periferia, São Paulo é diferente do Rio de Janeiro, onde a classe média vai aos morros. Em São Paulo, fisicamente, a periferia é mais espalhada em relação às regiões centrais. Então, não tenho conhecimento da realidade da periferia, minha realidade é muito urbana, é onde “vale o rodízio”, e é um pouco a de toda a classe média, à qual eu pertenço. Há muito mais preocupação na periferia em melhorar as coisas, com comunidades ativas, ONGs, do que na área nobre, que já está perdida e habitada por babacas que não querem melhorar nada.
Babacas?

Te dou um exemplo. Um rapaz que eu conheço, certa vez, enfiou a Mercedes no buraco, e saiu xingando a cidade, o prefeito, tudo, porque tem buraco. Eu, que sei que ele faz uma manobra com o negócio dele, para pagar imposto em locais mais baratos, como Cotia, disse a ele que se ele caísse num buraco em Cotia, ele poderia reclamar da cidade. Aqui, não, porque aqui ele não pagava nada, e eu sim. A classe média tem muito disso. Não gosto da classe media daqui. Tenho bronca dela. Ela se comporta de um jeito em Paris, em Londres, e de outro aqui. Aqui, ela é espaçosa, desrespeitosa, tem raiva do motoqueiro, do mendigo, do pobre.

Qual o horário que São Paulo lhe é mais gostosa?

Adoro São Paulo de madrugada, bem tarde, o centro de madrugada, quando você enxerga a cidade ao invés de carros, e quando tem menos barulho. De manhãzinha, a mesma coisa. São Paulo é charmosa nesse horário. A madrugada é silenciosa. A cidade se esconde quando todos estão acordados.

Viver viajando pra fora do país te ajuda a interpretar São Paulo?

Morar em São Paulo é que me ajuda a interpretar o exterior! São Paulo não é uma cidade para iniciantes, amadores. Se você consegue viver em SP, vive em qualquer lugar do mundo. Sempre usei muito minha experiência de São Paulo para me encaixar em vários lugares do mundo.

Onde encontramos o Flavio Gomes de folga?

Olha, não tenho um programa específico. São Paulo tem isso, também. Qualquer dia, qualquer hora, você pode escolher um programa. No meu prédio de trabalho tem um cinema, e se eu me encher e quiser ver um filme às 14h, vou. Em São Paulo tem todo tipo de programa o tempo todo. E pelos meus horários indefinidos, eu não costumo repetir meus programas. É certo dizer que na minha folga, estou "por aí".

Dá pra imaginar como seria o Flavio Gomes "Carioca"?

Eu acho que, se tivesse vivido sempre no Rio, eu seria jornalista do mesmo jeito (sua primeira lembrança da profissão é, quando criança, de um jogo de tabuleiro onde o jogador era um repórter que tinha de cobrir incêndios, acidentes e assassinatos). Eu, carioca, seria mais envolvido com os problemas da cidade do que me envolvo com os daqui. O contato com os problemas do Rio é mais constante, próximo, e o Rio é uma cidade que eu acho que precisa ser cuidada, pega no colo, e não vejo isso em São Paulo. São Paulo se vira sozinha, se auto-conserta, como o meu Lada (foto), que se quebra e conserta-se porque sabe que eu não vou cuidar dele. Em São Paulo, a mesma coisa. Eu seria um pouco mais "Gabeira".

Você provavelmente iria enfartar com Jacarépaguá...

Eu me envolveria mais com Jacarépaguá, faria alguma mobilização - não resolveria nada, mas faria - contra aquilo (O autódromo foi mutilado e condenado em nome de obras para o Pan-2007). Faria mais do que fiz, por exemplo, quando mutilaram Interlagos. Mas mutilaram Interlagos porque falaram "ou faz isso, ou não tem F-1." São Paulo tem essa faceta muito prática, também.

Qual carro representaria bem São Paulo? O Lada?

Não... O Lada, definitivamente, não, apesar do fato de ele se auto-consertar. Um carro... Não tem. Nenhum. Ou todos. Seria um baita mix.

E em que lugar fora do Brasil você se sente em São Paulo?

Olha, onde me sinto como em São Paulo é em Bangkok. Lá você tem essa mesma sensação de que, apesar de toda a bagunça, está tudo sob controle.

E quando a cidade está sob controle pra você? Quando estás na Av. Paulista?

Saber que eu estou com São Paulo em volta, aqui na Avenida Paulista, é fundamental pra mim, sem dúvida. Não sei se pro meu processo criativo, mas pra minha atividade como um todo. Acho que a Avenida Paulista está para São Paulo da mesma forma que São Paulo está para o Brasil. Ela carrega muito da essência da cidade.

Se você tivesse o poder, para quem entregaria a condução dessa cidade?

Difícil... A pessoa que mais entende essa cidade, seu mecanismo, sua essência, pra mim, é a Soninha. Mas, veja só, eu não votei nela. Acho que, na prática, não haveria meios de ela exercer isso na prefeitura. Mas ela é a pessoa que eu escolheria como a que mais conhece a cidade.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Queimados no Palmeiras

Tentei buscar as imagens, mas não consegui. Pela súmula, chequei os minutos. E passo aqui o que ouvi de uma pessoa do Palmeiras.

Leandro e Pierre tomaram cartão amarelo nos minutos finais de um jogo ganho contra o Ipatinga. Pendurados, não foram até Salvador, enfrentar o Vitória na penúltima rodada. Como eram lances evitáveis numa partida sob controle, houve quem interpretasse os lances como propositais por parte dos atletas.

Luxemburgo foi o primeiro a interpretar assim. Alguns diretores e torcedores notaram isso também. Logo após o jogo discutiu-se isso nos vestiários.

Leandro foi embora do Palmeiras. Pierre só não vai também e agora porque, afinal, é o Pierre.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Bezerrão Stadium

Por Davi Agathocles

Sempre se ouve falar sobre a ilusão do crescimento existente no Brasil. Meio mambembe, nas coxas, aos trancos e barrancos (e também barracos), nosso país tentou moldar-se semelhante potências mundiais.

E onde se veria esse reflexo? No futebol, é claro. Todos os anos alguns pregam a adequação do nosso calendário ao futebol europeu, que nossos times devem ter planejamento de pais moderno, e os nossos estádios? Esses são verdadeiros desastres para os que analisam o futebol desta forma.

Não estou aqui para defender nossa estrutura. Ninguém é capaz de dizer que nossos estádios são verdadeiros oásis de conforto. Porém, não se deve ignorar que neles estão contidos fatos e relações históricas, maiores do que qualquer pilar construindo por algum conglomerado de empresas.

A final do campeonato brasileiro trouxe-me a possibilidade de conhecer um desses estádios novos que estão sendo construidos rumo a 2014. O Bezerrão no Gama – que eu tinha visto na TV – seria o palco do Hexa do tricolor. Logo de chegada eu fiquei surpreso. Uma grande estrutura se apresentava à frente, impressionando não só eu, mas todos os que me acompanhavam. “Pelo menos, parece que meu dinheiro foi bem gasto”, brincou um dos meus colegas.

Mais próximo já me senti mais habituado: as filas desorganizadas demonstravam que um velho vício persiste nesse estádio moderno (??): tratar mal o torcedor. Passando a fila, entrei nas arquibancadas do estádio. E lá ficou mais a mostra...

Sinalização deficiente, banheiro pequeno, pessoas despreparadas para dar informação, uma estrutura enorme, ao lado de uma arquibancada pequena e mal equipada. Esse é o retrato do modernismo brasileiro. Lembrou-me a proclamação da república, quando os burgueses conclamavam o avanço nacional e o povo bestializado na rua se perguntava o que era essa tal de república.

Voltando ao início desse texto. As lembranças são laços que estabelecemos com pessoas e com alguns locais. São os resquícios emocionais que travamos com acontecimentos externos. E num estádio, diante de um jogo que transpira paixão, as arquibancadas se tornaram o elo entre os corações pulsantes dos torcedores e seus times em campo. Destruir isso é dizimar sentimentos. (O negrito é meu)

Está bem, mas o que tem a ver uma coisa com a outra, pode você perguntar. Quando se fala em Arenas, se prega o modernismo, o progresso, a máxima potencialidade... E onde ficamos? Nas toscas arquibancadas ou em casa vendo os jogos onde o ingresso custando mais de 100 reais – um quarto do salário mínimo. E sustentando o desenvolvimento tacanho, presente para mim, naquela estrutura do Bezerrão.

Não sou contra algo que seja confortável e seguro para qualquer pessoa. Mas a partir do momento que o preço disso seja excluir aqueles que sempre foram lá fazer sua festa e colocar o consumidor no seu local, tenho por obrigação me opor.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Ronaldo é minha Madonna

Ronaldo vem jogar no Corinthians. Eu moro em São Paulo.

Como quem tem a chance de assistir uma banda mundialmente famosa, eu agora tenho a chance de assistir, do lado de casa, um gênio, um mito.

Gordo ou não, vindo por questões de marketing ou não. É o Ronaldo.

Mesmo que não dê certo, terá jogado no Corinthians, como Garrincha jogou, por exemplo, com poucos registros disso.

Quem o acha acabado, gordo, quem acha que foi uma má contratação, está afundado em um mar de amargor. É preciso muita cólera para desconsiderar um fato bacana desse.

Eu vou assistir. Vale a pena. Trata-se de Ronaldo. Jogador que eu ponho na mesma prateleira de Cruyff, Di Stáfano, Platini ou Eusébio. Um imortal.

Ele é muito mais que uma aposta. Muitíssimo mais que uma questão de marketing. É insano ignorar a notícia mais saborosa dessa pré-temporada que mal começa.

Conheço gente que paga 500 paus num show da Madonna.

Eu não gosto muito de música.

Ronaldo é a minha Madonna.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

A história a se contar

Campeonato de Pontos Corridos fazem correr muitas histórias simultâneas.

E a gente ainda precisa engolir outras novas histórias velhas. Esse banzé de gato envolvendo troca de árbitro, ingresso da Madona e envelope receptado (???) só não é mais absurdo do que o Presidente da CBF, que diz saber de tudo, deixar para contar só na Segunda-feira.

Assim como o Campeão só vai receber a Taça na Segunda-feira, já que a mesma não podia estar em Brasília e Porto Alegre ao mesmo tempo. A CBF já ouviu falar de réplica? Merecia o campeão não levantar sua Taça no gramado?

Vá lá. O Palmeiras ganhou do Cruzeiro no Mineirão. Este venceu o Mengo no Maracanã. O Mengo não venceu nenhum dos dois fora de casa. E daí? Foi só uma observação, não acho que foi isso que decidiu a não-vaga flamenguista na Libertadores.

Mas acho que estes três clubes andaram tomando muita cacetada nas rodadas decisivas, coisa inadmissível, de modo que não considero que eles sejam a história a se contar.

Aí virá você e me dirá que é óbvio: a história a se contar é a do tricampeão, do hexacampeão.

De fato, é. Da recuperação fabulosa, raríssima em qualquer parte do mundo. Do primeiro Tri da história do clube, em qualquer tipo de campeonato. Da invencibilidade por todo o segundo turno, da morte de Portugal Gouvêia, da mitificação de Muricy, do campeão que é o campeão, e, ora ora, é o dono da festa!

Entretanto os pontos corridos permitem outras histórias. A do Campeão é a trivial, é a evidente, a unânime, e esse humilde blog iria apenas replicar sobre o que só se fala.

Mas há o Vasco da Gama. Que ensaiou silenciosamente (ou nem tão silenciosamente) por muitos anos esse final de semana fatídico. Que coloca ardilosamente Roberto Dinamite e Edmundo como atores frontais do terrível fim de tarde vascaíno. Mas que tem Eurico Miranda (leia este nome como uma marca, não como uma pessoa, pois são muitos os outros nomes menos nobres e tão nocivos quanto, por trás dele) como roteirista, diretor, ator principal.

Deus sabe o quanto dói. Eu sei. Das grandes massas do país, só um carioca não sabe. Só um mineiro, só dois paulistas, só um gaúcho, só um paranaense. Aos poucos, todos vão entrando nessa roda, que existe desde o começo desse século - não me venha com os rebaixamentos de outras décadas, pois nunca foram sérios e respeitados.

E o Campeonato Brasileiro, que, dizem, é o único do mundo onde 12, 13 times podem ser campeão, se mostra o contrário disso. É o grande Campeonato onde 12, 13 times podem ser rebaixados a qualquer momento.

A alegria tricolor já estava na geladeira desde domingo passado. É o fato inédito mais retumbante desse ano de 2008, este, sim, montado contra todos os prognósticos, até os vindos de dentro do clube. Só Muricy acreditou, e bastou.

Porém, eis aí um real legado dos pontos corridos. São muitas histórias. E a do Vasco é muito forte, dura por natureza, duríssima por ser tão anunciada, com detalhes tão sórdidos, em casa, perdendo um jogo que, ainda que ganhasse, de nada serviria - ou melhor, serviria como um mínimo de dignidade para o torcedor.

Um filme de terror, daqueles deprimentes. Outro daqueles improváveis em que o mocinho reverte seu sofrimento de forma arebatadora. E nem precisei ir à vídeo-locadora.

Tantas histórias.
Felizes tricolores.
Tristes flamenguistas.
Floripa mudando de cor.
Duplamente tristes os portugueses.

Foi um grande campeonato.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Luiz Fernando Bindi

Hoje Luiz Fernando Bindi faria 36 anos de vida. Morreu no dia 22 de julho.

Se você não conheceu o trabalho do Bindi, foi por falta de tempo. Certamente você o conheceria daqui, sei lá, um, dois anos. Se você conheceu seu trabalho, sabe o tamanho da destreza e categoria.

Eu conheci o trabalho e a pessoa. Fui um privilegiado. Quando ele partiu, este blog não existia. Este blog, inclusive, é dedicado a ele. E, abaixo, o que eu escrevi, no dia 23, certamente o texto mais difícl que já escrevi.

Feliz aniversário, Bindão.

* * * * *

Nessum Dorma

Chego em casa quase meia-noite. Minha mãe me recepciona e eu lhe presenteio com um aparelho de MP3 que ganhara horas antes. Ela agradece mas não entende muito. Explico didaticamente a finalidade do bichinho. Ela comemora e pergunta se pode ouvir qualquer música. Digo que ponho o que ela pedir. Ela cita uma música. Eu pasmo. pergunto porque justo aquela.

-Essa música a Vandinha pediu pra eu ouvir no dia que ela morreu, quando a gente era menina.

Eu engulo seco. Tento lhe contar uma má notícia, mas opto por uma frase mais simples.

-Mãe... a gente se acostuma com essa coisa de morte?
-Ah, filho... não tem jeito, sempre dói. A gente não aprende.

Eu tomo o MP3 de sua mão e vou para o quarto, chorar e escrever estas linhas. A música que ela citou era exatamente a mesma que estava ouvindo, horas antes, fim de tarde, na mesa de trabalho, quando recebi a notícia que me congelou a espinha.

Estava vendo o blog do meu amigo, o jornalista e geógrafo Luiz Fernando Bindi. Uma postagem nova tinha uma foto curiosa, que mostrei ao parceiro de sala, e depois enviei, por link, para alguns amigos online. Um deles me respondeu.

-Legal a foto, mas você me enviou pela foto ou pela morte?

E foi assim que soube que Bindi partiu. Estava na sala de seu blog, no quintal de sua postagem, avisando os vizinhos para que olhassem aquele quintal. Tão vivo. A música se seguiu enquanto eu chorava e tinha que receber na porta o tal amigo que me daria o MP3.

Não consigo levantar da cadeira. "Digam que não estou". Tento notícias. E é fato que o coração amável do gordinho mais batuta da Mooca parou de bater. Falo com meu amigo Kadj Oman, para dizer a ele que sou feliz em te-lo conhecido este ano. Algo que queria ter dito a Bindi, a melhor pessoa que conheci nos últimos tempos.

A última vez que falei com ele foi via SMS, como sempre fazíamos após os jogos do Palmeiras. abro a mensagem e não soa como vindo de um falecido. Falo com uma colega da rádio 105FM. Vão pipocando mensagens pela internet toda. Perplexas. Tetricamente, recados choviam no orkut do nosso Bindi.

Que me chamava de "Foca de Base", desde que montamos uma metáfora futebolística para os estágios de nossa carreira, que, inclusive, ele vinha tão feliz em construir. Que eu chamava de "novo Claudio Zaidan", posto que costumávamos ter os mesmos ídolos. Que nunca me poupou, nunca foi paternalista, e isso só valorizou cada elogio que fez aos meus atributos profissionais. Que já me deu conselhos amorosos, morais, me deu dicas de mercado e cinema, e sempre foi absolutamente generoso ao passar seus conhecimentos, dividir suas informações, ensinar seus métodos, a quem quer que fosse, e a mim também. Ele sabia que o único capital intangível está naquilo que fica quando a gente se vai.

Falávamos muito sobre ópera. Tínhamos cachorros da mesma raça, e o amor dele pelos bichos era divino. Eu tinha prazer em ter no Bindi um lugar pra aprender de pouco em pouco, um nome que eu podia ter como referência, porque ele era um profissional obcecado por lisura e conduta linear, e uma pessoa de inesgotável doçura. Um cara e tanto. Só 35 anos. Um dos maiores arcabouços culturais desse país não pode mais ser acessado.

Eu não queria só agradecer a força que ele sempre me deu desde que viu meu trabalho. Eu queria tocar minha carreira com ele por perto. Sabe lá o que será do meu futuro. Mas eu queria ver o que seria do promissor futuro dele. Não verei.

É normal que, quando alguém morre, surgam relatos hiperbolizando a bondade do sujeito. Aos olhos de quem não o conheceu, Luiz Fernando Bindi é uma dessas vítimas. Pois ele era uma espécie de unanimidade em seu universo. Sábio e confiável à primeira vista. Um dos mais talentosos pesquisadores desse país. Um cara que, por mais torpe que soe, não podia nem merecia morrer tão cedo, e tão antes de tanta gente. Insubstituível.

Dói e a questão não é se acostumar. É certo que vai ficar um pigarro, um arranhão na garganta. Esta falta vai incomodar a cada um de nós. Por mais que daqui pra frente tudo aconteça de bom, haverá a ressalva: "Mas seria melhor se o Bindi estivesse por aqui". O moço tão simples e de tão absurda capacidade, que eu conheci a tão pouco tempo e já tenho que me despedir. E fui.

-Você era amigo do trabalho dele?

-Não. Eu era aluno.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Sobre Leões
















Não adiantaria dizer ao torcedor da Portuguesa que é assim mesmo, que há uma nova realidade no futebol brasileiro, e nessa realidade planejamento, profissionalismo e estrutura são mais do que meros termos retóricos e vazios.

Tampouco ganharei a simpatia do lusitano se avaliar a Portuguesa como acima dessa mentalidade perfeitinha do futebol atual. A Lusa é errante, é tranco-e-barrancosa, isso é nobre, mas "e daí?", vai me responder o rubro-verde.

Às vezes noto que o rubro-verde não se importa nem com argumentos prós, muito menos com contras. Ele é à prova de argumentos.

Hoje são só 20 times na Elite, então é difícil se manter. "E o Barueri pode ser um desses?" Ora, o Barueri montou uma estrutura compromissada com políticos, e já faz alguns anos. "Mas doze anos atrás a Portuguesa foi finalista do Brasileirão!".

O fato é que não dá para consolar um lusitano. Não tem caminho. Esse time tem uma pinta única, vai na contra-mão da cultura brasileira que reza que "quanto menos torcida, mais vergonha você deve ter de seu próprio time". A Portuguesa é colônia. É cheia de piadas prontas, de cagadas, de mesquinharias. E é incapaz de causar antipatia nacional.

Mas o torcedor da Lusa muito menos vai ficar satisfeito se eu disser que vou às vezes ao Canindé, e que são muitos os não-lusitanos que torcem "um pouquinho" pelo time. Eu mesmo, torço. E não é porque os acho menores, inofensivos, café-com-leite. Na verdade, eu não sei porquê. O Canindé me relaxa, a Portuguesa representa bem o futebol que eu amo, mística e à flor da pele.

Esse torcedor da Lusa é engraçado. É mesmo um leão. Eu sempre os comparei a um siri. Valente como é, se o siri tivesse o tamanho de um tubarão, não haveria baleia para tirar farinha com ele. E nessa cidade que sufoca tudo que não é "maior", existir a Lusa, na Marginal e à margem das grandes manchetes, beira o inacreditável.

Eu tenho e tive amigos portugueses. Um faleceu, outro vive nas bancadas, outro até foi da assessoria de imprensa. Tive um primo que jogou lá, nos juniores, e ele ficou 14 meses sem receber salário. Não tenho raiva. Entendo a Lusa. Entendo o futebol brasileiro. Entendo que alguns cartolas que passaram pelo Canindé nunca souberam interpretar esse time, e o rubro-verde há de pagar por isso por mais alguns anos.

Eles estão outra vez na Segunda Divisão. Por mais previsível que fosse, é triste dialogar com meu amigo. No primeiro minuto, me senti constrangido, penalizado, horrorizado com o tom de sua voz, com a dor que ele estava sentindo.

Mas no segundo minuto, assim, naturalmente, a coisa se inverteu. Entendi porque não há nenhuma maneira de tentar consolar um torcedor da Portuguesa: apenas não é preciso.

Era mais fácil ele me convencer que ir pra Série-B é uma boa do que eu convencê-lo de qualquer coisa. Inclusive, eu saí do papo convencido que, se a Lusinha vai fazer falta na A, por outro lado nem vai doer estar na B, preencher a B, valorizar a B, que a cada ano está mais forte. A Portuguesa já passou, terna, por coisa muito pior. O torcedor canindeísta há de se sacrificar de novo, e não vai reclamar com deus nem jogar isso na cara das "grandes torcidas" do país. Estas que se acham as fodonas da Rua de Cima só porque estão em maior número.

Faz parte da via-crucis do português. Toda massa sofre suas tragédias. Nenhuma reage à elas igual o lusitano. No fundo, eles gostam do estrago.

Não há nada mais forte que um peito rubro-verde.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Um casamento e dois finalistas

Um dos grandes amigos que tenho na vida resolveu se casar no dia 30 de novembro, às 17 horas. A penúltima rodada do Brasileirão foi acompanhada por mensagens de celular, vinda de amigos nas casa e estádios por aí. O que podia ser a rodada derradeira do Campeonato estava com cara de último capítulo de novela, com todos os núcleos reunidos.

No casamento, tinha palmeirense, flamenguista, fluminense, gremista e saopaulinos, estes, os mais ansiosos, claro. Fogos de artifício dispersos deixavam todos aflitos. O Grêmio é o primeiro a ficar bem, e o torcedor gaucho, como padrinho da cerimônia, relaxa. O noivo é corintiano, diga-se.

A informação do gol do Flu veio num torpedo que desviou as atenções do casório, e seguiu-se de um festival de mímicas para os mais distantes saberem. A torcedora carioca tirou um baratinho. Nunca meu celular foi tão visado. O gol de empate do São Paulo veio antes do SMS. Fogos de artifício desembestaram nos arredores. Provocação de volta.

Os 10 minutos finais foram dentro do carro. Acabou a cerimônia, ia começar a festa, mas alguns se reuniram no rádio do automóvel. O flamenguista encostou só para comprovar a informação do 3x0. Estava 3x3. Ele saiu andando e resmungando, foi engraçado.

Nada acontecia em Salvador, e o Palmeirense estava satisfeito assim, pois o último boletim informava vitória do Colorado no Cruzeiro. Acabam os jogos. O gremista parecia lamentar saber que teria outra semana tensa. O flamenguista não foi mais visto. Os saopaulinos debateram sobre o tal "não está nada ganho", e não estava mesmo.

E o palmeirense que vos escreve comentou que este Campeonato Brasileiro merecia mesmo uma última rodada

Analisando lá em cima

Como escrevi no artigo acima, um casamento me impediu de assistir à rodada 37 desse espetacular campeonato. Farei uso do que lí, vi, ouvi, pesarei os conjuntos das obras, especularei sobre o futuro dos que estão lá em cima, tudo agora.

FLAMENGO
-O Flamengo é mesmo lamentável. O 3x0 virou 3x3, e Caio Júnior, de novo, mostra inaptidão para momentos agudos e decisivos. Mas não é só isso, nem só os muitos pontos perdidos em casa sem explicação.

Do goleiro ao Presidente, literalmente, todos falaram demais. Foram os sacaneadores oficias do tal "chorão Botafogo". Mas nenhum botafoguense foi capaz desse ato inominável de tornar público o telefone de um árbitro. Time destemperado, como o Palmeiras de 2007. Mão do tecnico.

O Maraca deixou de ser a casa, e a faixa do "Brasileiro é Obrigação" só não era mais cretina do que os rojões que outros torcedores soltaram nos jogadores, naquele fatídico treino. Entre escapadas às boates e eliminações inacreditáveis, como na Libertadores, o ano tem tudo para ser desastroso por completo, na rodada final.

CRUZEIRO E PALMEIRAS

-O Cruzeiro e o Palmeiras dão pinta de que pegarão as vagas restantes para a Libertadores. Mas são dois times que, entre goleadas sofridas e jogos apáticos, já mostraram que podem muito bem tropeçar na hora H.

Sobretudo o Palmeiras e sua intranquilidade fora de campo. A sorte deste é ter, na teoria, o quadro mais simples, só precisando igualar o resultado de um dos dois concorrentes. O Zeiro me pareceu mais linear ao longo do ano, merece mais a vaga. O Palmeiras tem rendimento honesto, mas os pecados extra-campo são tantos, mas tantos, que vai saber se a bola resolve bater na trave de novo.

SÃO PAULO E GRÊMIO

-São Paulo e Grêmio chegaram até o fim da maratona. Os mandantes ganhando, dá Grêmio Campeão. Qualquer um dos outros 4 resultados possíveis, dá São Paulo. São chances bem distribuídas, ambas conquistas são factíveis, alcançáveis. Me parece claro que o time paulista está mais perto do caneco, até porque o mandante não será tão mandante assim.

Uma pena ao São Paulo não ter ganho o título nesse domingo. Não por nada, mas por uma única razão romântica. O ex-Presidente Marcelo Portugal Gouveia, um dos maiores Presidentes da história do SPFC, morreu no sábado, e teria sido uma homenagem "da bola" ao homem que viabilizou esses anos potentes do São Paulo.

Mas o Campeonato premiou o time que mais o liderou. O Grêmio será, se perder a competição, o único que pode considerar que perdeu mesmo o título. Eles estiveram tantos pontos na frente, venceram o SPFC nos dois turnos... a sensação seria de que "entregaram" o caneco. Mas o pragmatismo do time gaúcho vingou. O tricolor paulista ainda tem alternado boas a más atuações. Venceu alguns jogos mesmo jogando péssimamente. É o tipo da coisa que um dia dá errado, sobretudo quando se tem 17 jogos invictos. Questão de probabilidade.

O Grêmio, então, aguarda essa má jornada do adversário. A única coisa que eu aposto de forma certeira, é que, no olímpico, o Grêmio vence o Galo. O resto, quero ver no que vai dar.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Não me matem de vergonha

Abaixo está um texto escrito por mim em abril de 2007.

Escrevi assim que aconteceu aquele episódio do tal fax da FIFA dizendo que o Palmeiras era mesmo campeão mundial de 1951, o que faria o time colocar uma estrela no peito, 56 anos depois. O texto é do torcedor, por isso os termos ferozes.

Soube hoje que dirigentes de Palmeiras e Santos preparam documento oficial para pedir à CBF que reconheça os Robertões como Campeonato Brasileiro. Justo quando um rival se tornará hexa. Assim como o "documento oficial" pedindo o Mundial partiu do Palmeiras assim que um outro rival o conquistou.

Pequeno, constrangedor, vergonhoso. Meu time há de me matar de vergonha, ainda, com essa mentalidade oficialista.

Mais uma piada pronta estará oferecida para os torcedores rivais. O capital intangível não se torna tangível por vias políticas. O capital intangível é um tesouro inestimável, por assim o ser.

Eis o texto "premonitório":

*************

Estrelas, para mim... para quê?

Que pesquisem, que olhem com o respeito que a conquista merece.

Que saibam, ou então que não interfiram.

Falo dos adversários, mas falo mais aos palmeirenses.

A tristeza é o esvaziamento.

Ando falando com amigos sobre o Mundial de 51. É ou não é? Dane-se!

O pior ao Palmeiras já aconteceu. O Palmeiras conquistou uma taça que, desde 1951, é um tesouro incalculável no patrimônio alviverde. E essa geração imbecil de palmeirenses, que gosta da Mancha Verde e acha o Sérgio um goleiro legal, está a um passo de passar a borracha.

Uma taça histórica. 1951. O povo gritava "campeões do mundo!". Os jornais se desmanchavam em idolatria. Nossos heróis queriam ser reconhecidos, berravam em nossa cara, "nos ouçam!"...passou... 1960... 1970... 1980... 1990... 2000...

Não ouvimos nosso povo, não ouvimos nossos heróis. Decidimos ouvir os políticos da FIFA. Aí mora o problema. O crime. O Palmeiras esvazia uma conquista, e estampará uma estrela para provar essa insanidade.

Passamos 56 anos ignorando os heróis, para dar ouvidos aos engravatados. A geração imbecil transformou o motivo de orgulho em uma discussão de botequim. Triste de quem ousou saber a historia, e a vê ser pisada nas mãos da ignorância maciça.

É a fome. Falta títulos? Que se regurgite os passados. Uma vez campeões mundiais em 1999, os palmeirenses nao teriam "fome" de Mundial, ok? Logo, não buscaríamos esse reconhecimento político, e manteríamos o valor das duas conquistas. Mas na falta de um, estragamos o outro...

Não precisávamos de estrelas na camisa. Não precisávamos de um fax da FIFA. Precisávamos conhecer nosso passado, ouvir nossos avôs, respeitar nossa realidade. Se assim fosse, estaríamos, já há 56 anos, estampando uma estrela moral, de orgulho por defender o país em 1951 - chamando ou não de Mundial. Se assim fosse e nada tivéssemos, seria desse nada que viveríamos, e viveríamos bem também.

Seria tão lindo ter orgulho em dizer "ganhamos a Taça Rio!"... Mas estamos em meio a uma geração que sequer sabe que em 1951 não havia Internet. Só interessa bater boca. Só se gosta do estrago. Dane-se a realidade. Nesse caminho, chega-se à conclusão, "óbvia" para o nível ideológico: campeão mundial e pronto, ponto final.

Eu tinha orgulho da taça Rio. Mas ela virou um bloco rápido de programa barato, virou uma piada do Marco Aurélio Cunha, um sorriso do Citadini. Virou palpitaria. A estrela que ficava escondida e era alviverde e imponente, agora estará exposta, morta de constrangimento, para todo esse mundo de imbecis olharem para ela e iniciarem intermináveis discussões a vácuo.

O Palmeiras está a fazer o mesmo com seus Robertões. Esperará a CBF dizer que é um campeonato nacional, para depois cair na vala comum das discussões vazias? Respeitem a história, mas respeitem de fato! O time é muito mais que apenas tetracampeão nacional. Mas a ignorância leva à hipocrisia, e prefere-se esse tipo de conquista, a "adaptada" ao seu "novo tempo". O "moderno" hoje é chamar de "mundial". Daqui 50 anos, a gente vê o que será moderno, batuta, bacana, e tenta se adequar.

E parabeniza-se Mustafá Contursi pelo "empenho nesse reconhecimento". Mustafá, derrotado no Mundial de 99, que sabe a razão do Palmeiras não jogar o Mundial de 2000, consegue trabalhar em seu terceiro Mundial. Perdeu em 99, abdicou em 2000 e tocou fogo no de 1951. Um gênio.

Se ainda houver como eu me proteger dessa massa esvaziadora, eu morrerei orgulhoso da Taça Rio de 51. Mas temo que esse tipo de abordagem, essa exposição da estrela na camisa, essa transformação da realidade de fato, faça simplesmente apagar o que foi certamente o maior momento da historia do Palmeiras.

Rezarei.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Obtusos e sem carisma

Caro leitor, você sabe qual é a diferença entre Denílson e Robinho?

Fácil.

A diferença é que os jogos do Betis não passavam na nossa TV.

Apenas isso.

Dois toques: as distorções

Grande vitória do concentrado Internacional, diante de um estranhamente apático Estudiantes. Jogar com um homem a menos desde os 25 minutos foi o ponto "heróico" da coisa. Vou me ater a este lance.

Guiñazu é o anti-Kléber do futebol brasileiro. O volantão colorado é o mais violento jogador do nosso Brasileirão, mas é sempre aliviado nas adjetivações. Ele é sempre o aguerrido, o raçudo. Parece que ele joga com uma liminar no calção, autorizando-o a bater com salvo conduto. E pelo jeito essa liminar só vale em território nacional.

Ah, e outra: não foi penalty no Nilmar, este bom atacante que na noite de ontem deu mais um "bom exemplo" para a nossa nova geração de atacantes, que passam a vida sonhando em mergulhar nas áreas do mundo todo, ao invés de fazer gol.

Vivem elogiando o botinudo e o cai-cai. Entre o 8 e o 800.

* * *

A Globo anuncia para a manhã de domingo mais um "Desafio Internacional de Futsal", estrelando a Seleção Brasileira campeã do mundo do esporte.

Compreendo que o Brasil do Futsal não é lá muito admirado no país, e por isso suas atividades precisam ser hiperbolizadas.

Mas não seria mais honesto chamar a partida de "amistoso", que é apenas e tudo o que ela é?

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Grandes Uniformes - Alemanha 1990

Sempre achei que a Alemanha tinha um uniforme privilegiado. As cores de sua bandeira podiam ser exploradas nos detalhes dos dois uniformes, já que tanto um quanto o outro, branco e verde, não eram cores oficiais da bandeira e ainda combinavam com o vermelho-preto-amarelo germânico.

Hoje o uniforme reserva da Alemanha perdeu a mística. Aquela camiseta verde alemã fez parte de minha vida.

Quando eu era pequeno, os jogos de vídeo-game que tinha não contavam com times brasileiros. Uma forma de duelar com meu amigo corinthiano, e simular um "Palmeiras x Corinthians", era jogar "Alemanha x Alemanha". Assim, com times iguais, o equilíbrio estava garantido, e era a única forma do corinthiano jogar de branco e preto, e o palmeirense de verde e branco.

Era mais estimulante que simular com "Austria x Irlanda".

Aliás, a camisa verde da Alemanha tem explicação irlandesa. É uma homenagem à esta seleção, que foi a primeira adversária alemã após a II Guerra Mundial.

Mas voltando aos sempre criativos desenhos que fazem referência á bandeira alemã, a minha opinião não tem dúvidas que o maior acerto da (quase) eterna parceira Adidas foi no uniforme do Tri Mundial. Que, até pelo título, se tornou mítica.

Essa roupa significou o auge dos experimentos não-lineares da Adidas, que fuçava com mais ousadia nas estampas e nas formas desde o fim da década de 80. Tendo sido a década de 90 a mais fértil em termos de invenções e pirotecnias, esta camisa da Alemanha pode ser considerada uma espécie de pai da espécie.

Camisa de Matthäus, Völler, Brehme, Klinsmann e outros nomes dignos de usar esta pérola.



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Grandes Uniformes (???) : Vasco 2009



Isto aí é o que o Vasco da Gama chama de uniforme para 2009. Como homenagem para o rebaixamento, pode até parecer justo. Mas estamos falando de uma coisa séria, de algo que foi aprovado de verdade. Ao vascaíno que temia ter apenas a sua histórica faixa transversal para se apegar, outro golpe. Até a maior marca do Vasco está maculada.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

O mais justo dos três canecos

Vamos lá, o São Paulo não perde mais esse campeonato. Ok, até pode perder, uma derrota para o Flu em casa não é de todo impossível, tal e coisa... mas será muito, muito surpreendente se acontecer do caneco escapar.

Porque, entre todos os cinco que foram reais concorrentes ao título, todos os outros quatro perderam de 3, 4 e/ou 5 nas últimas 5, 6 ou 7 rodadas. Isso é de uma imaturidade gritante, em relação ao tricolor que não perde faz 16 rodadas.

Os outros facilitaram a vida do São Paulo? Não, não é bem isso. É que foi um campeonato de bom nível, perder ponto estava na conta do comum. Era preciso ganhar jogos na sorte, jogos no apito, jogos na raça, além da qualidade.

O São Paulo jogou muito mal contra o Botafogo no primeiro turno, e contra o Náutico no segundo turno. Ganhou os dois e nem sabe bem como. O árbitro ajudou o São Paulo contra o Botafogo, e deu São Paulo. O árbitro prejudicou o São Paulo contra a Portuguesa, e também deu São Paulo.

Muricy, no meio do ano, precisava arrumar a zaga. Recebeu Rodrigo e Anderson (o Palmeiras trouxe Jeci e Gladstone). Faltou volante, ele foi buscar Jean na base, e dane-se se o Dunga punha o Ricky na Seleção. Ele não apenas subiu um jogador da base, mas foi atrás de uma solução, ao invés de chorar alguma não-contratação ou má fase.

Fez mais, ao tornar público que queria Hugo, quase dispensado pela direção, no time. Causou mais um pouco de mal-estar com alguns diretores, mas conquistou seu grupo. Recebeu Miranda, após a cirurgia, e isso curou definitivamente a dor-de-cabeça defensiva.

Dagoberto encontrou sua melhor forma no Tricolor, não houve pânico após o empate-derrota contra o Palmeiras, e o discurso (que era até sensato) derrotista que era usado após a derrota polêmica para o Grêmio foi, sem pressa, virando um equívoco.

Porque mesmo o mais correto pensamento torna-se equivocado diante de um trabalho tão ereto e firme como esse que Muricy faz. Muricy, Autuori, Cuca, Leão...

Era uma grande temporada, a de 2004. Virou uma sensacional fase em 2005. Em 2006, tivemos que dizer que o SPFC vivia um triênio especial, algo clássico. Chegamos ao fim de 2008, e este São Paulo já representa uma geração, uma era de ouro.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

JORNALISTA COMEÇA AOS 12

1995. Um improvável estádio de futebol aparece na tela da TV, e não dá pra compreender aquela fina faixa de sol que rasga o gramado. Em campo, Palmeiras e Internacional de Limeira estão prontos. É estranho, mas as torcidas, atrás dos gols, são apenas vultos. O som também está misterioso, assim como toda a transmissão. É um som sem som, uma imagem sem imagem. Uma coisa bizarra.

Facilmente explicada, porém.

Não há jogo, na verdade. Nem transmissão. Não nas formas que a gente conhece. Existe uma criança, aos 10, e isso basta. Ela jogou as figurinhas do álbum para o tapete, e com gols e uma bolinha de plástico, estava simulado um jogo de futebol. Um garoto é um mundo. E o jogo imaginário, do campeonato imaginário, nem era o mais importante.

A criança vinha andando agachada lá de fora do quarto, com os olhos cerrados. Como se fosse um efeito especial da TV. O sol que escapa da janela é comentado pelo repórter de campo, representado por uma figurinha aleatória. “os refletores cortam a faixa de sol e fazem uma sombra”, diz ele. Antes e depois do jogo, estas figurinhas alternativas estão posicionadas ao redor do tapete. São os cinegrafistas e os repórteres.

Antes do jogo, a chegada dos times. Uso um guia de ruas. Após o jogo, monto um vestiário com réguas, e faço as entrevistas. E fim.

Um jornalista é jornalista desde os 12 anos. Um relato como esse pode significar que a criança queria é ser jogador de futebol. Mas não. A linha oculta aponta para o prazer periférico do trabalho coadjuvante e ativo, a cobertura, o acompanhamento, os trejeitos e vícios do trabalho – no caso, de uma transmissão futebolística.

Nas Olimpíadas de 2000, ficava acordado esperando um flash de 15 segundos, no meio do intervalo comercial da Band, com uma câmera estática mostrando a paisagem urbana. Não havia nada de mais, mas aquela não-notícia cotidiana me significava mais que os jogos em si. Era a cidade, a vida ao redor do evento.

O jornalista acaba se apegando ao bastidor, ao caminho que ele percorre de forma oculta. Há delícia em ser paralelo ao fato. Tem um fascínio periférico no jornalista, que vem lá de trás. O jornalista tenta traduzir a realidade, dar uma versão atrativa do fato, e isso exige uma visão maior que a dos olhos. Isso é tudo que se faz quando se é menino, dentro do seu mundo que, não fosse tão minuciosa capacidade criativa, estaria fadado ao coisa-alguma, à chatice solitária.

Será que todo menino é um jornalista? Será que as garotas que brincam com a Barbie imaginam os Paparazzis?

A gente tem maneiras simples e educativas de perceber como a presença da imprensa é ativa em nosso corpo coletivo. Desde pequeno a gente decifra as idiossincrasias dos narradores da TV, capta o “Boa Noite” do jornal. Só alguns, entretanto, tratam de, involuntariamente, humanizar essas influências, e projetá-las em seu próprio espaço solitário de um modo que ele vira um espectador de seus próprios experimentos imaginários, ao invés de, como seria o normal, ser o astro, o herói, o imortal de seu enredo de ações criativas. Estes têm grande chance de virar jornalistas.

E daí você consegue explicar como o time que eu torço perdeu para a Inter de Limeira, no tapete do meu quarto, num jogo controlado inteiramente por mim, onde só eu estava interessado. Eu não era o camisa 10 do Palmeiras, nem o árbitro do jogo. Eu era o narrador, e o repórter, e o cinegrafista.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Torcedor é Torcedor

Amigos, eu trabalho com Carnaval, na Organização deste, e, em razão disso, muitas vezes encontro com Presidentes das Escolas de Samba, algumas delas provindas de Torcida Organizada.

Uns minutos atrás, Cosmo Damião Freitas, o Presidente da Escola Torcida Jovem do Santos, sentou-se em minha mesa. Conversava comigo. Viu um diário esportivo na mesa, e abriu a primeira página.

Deu de cara com uma propaganda onde Pelé está com as camisetas de Flamengo e São Paulo.

Cosmo é santista de velhíssima guarda, uma figura única, folclórico, cheio de trejeitos, daqueles personagens raros.

Cosmo começou a sacudir o jornal. Colocou de volta na mesa e passou alguns minutos resmungando, repetidamente, "Aí não, o Negrão é patrimônio do Santos, do-San-Tos! Aí o Negrão tá esculachando, eu vou falar um montão. Quê isso, aí o Negrão pisou na bola..."

Realmente perturbado, não quis ouvir meus comentários. Os ouvidos se fecharam por alguns instantes. Ficou uma fera.

Isto é futebol.

Futebol: justiça social ou esportiva?

Esse texto é de meu amigo Kadj Oman, dono do blog que você pode, e deve, acessar e que está ao lado, na minha lista de parceiros.

O mais importante da argumentação que aqui está é que ela te obriga a pensar, a bolar sua opinião, seu ponto de vista. Formule a sua.

Corinthians Mais Paulista do que Nunca

A rodada de sábado na Série B fez do Corinthians mais paulista do que nunca.

Não pelo resultado. Nem pelo adversário. Mas pelo resultado contra esse adversário.

Fazer 3 x 1 no Villa Nova significou não só subir o Santo André como deixar os goianos praticamente fora da briga pela última vaga, agora nas mãos de Barueri ou Bragantino.

Serão ao menos 5 paulistas na Série A do ano passado. Número que sobe para 7 se Santos e Lusa não caírem.

Enquanto isso, na B, o Villa, que sonhava repetir um clássico de Goiânia na Série A após muitos anos, vai ter que se contentar com fazer outro clássico da cidade na Série B, já que o Atlético Goianiense já subiu, com campanha impecável, na Série C.

E o Corinthians ainda pode deixar a Série B ainda mais paulista se vencer o Avaí e ajudar o Santo André a chegar ao vice.

Algo anunciado desde o começo dos pontos corridos.

Não que eu tenha algo contra Santo André ou Bragantino (já o Barueri, bem, de time de empresários com público de 230 pagantes em cada jogo já bastaram São Caetano e Ipatinga), mas ter no campeonato nacional sete equipes do mesmo estado - pior, sete equipes da Grande São Paulo - só ajuda a transformar centro em mais centro ainda e deixar a periferia cada vez mais distante.

Se o Náutico cair, ano que vem teremos na Série A, do Nordeste, apenas Sport e Vitória. Do Norte, ninguém. Do Centro-Oeste, só o Goiás. Juntos, menos do que os já citados sete - ou mesmo cinco - paulistas.

E no país onde a concentração de renda é provavelmente a maior do mundo, a desigualdade econômica e social entre pessoas - e clubes - promoverá cada vez mais a transformação do Campeonato Brasileiro em Campeonato Paulista, ou Rio-São Paulo com convidados Sul-Minas.

Nesse cenário, defender o campeonato de pontos corridos é, antes de qualquer argumento de "justiça esportiva", de "regulamento que premia o mais constante", uma postura de injustiça econômica.

Não tem como deixar de ser. É fácil ser mais constante quando se é um gigante do centro. Difícil é trazer um Campinense da Paraíba - ou mesmo um antigo gigante América do Rio! - para a Série B, que dirá para a A.

Então talvez exista a possibilidade de um regulamento "menos justo" esportivamente ser "mais justo" socialmente. E se há algo irrefutável por aqui é que nada é mais urgente no Brasil do que justiça social.

O que fazer, então? Voltar para o mata-mata? Brasileirão com 100 clubes? Classificação partindo dos Estaduais (como acreditava ser o que acontecia um ingênuo e metódico inglês que conheci por aqui)?

Sinceramente, não sei.

Não porque tenho preguiça de pensar em outro modelo. Mas porque é difícil ter alguma esperança de mudança no futebol, logo o futebol onde o ranço coronelista tipicamente brasileiro é ainda tão forte, e onde a via alternativa que se coloca é de um capitalismo ainda mais concorrencial entre os clubes.

Nessas horas, me pergunto para que serviram tantos anos de estudo e profissão de alguns jornalistas se o máximo que conseguem fazer é "denunciar" o que não está de acordo com o modelo de sucesso europeu.

O mesmo modelo de sucesso que, ao chegar por aqui em fins do século XIX, encontrou uma sociedade rural cheia de negros, pobres e imigrantes prontos à subvertê-lo e criar Garrinchas e Pelés.

Me parece que pensar saiu de moda.

O lance agora é brincar de seguir o mestre.

Mesmo que o mestre nos guie para um futuro do qual, contraditoriamente, não poderemos participar.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

No comments



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Atualização: O amigo Paulo Domenico sugere preciosa entrevista do treinador do catania, o Zenga. No papo, que está neste link, ele diz querer treinar o Palmeiras, como lembro neste post.

Mancha que mancha

2006. Tite assume o Palmeiras na lanterna, após 9 rodadas de fracassos, e, depois de um jogo e da pausa pra Copa do Mundo, o Verdão sai do limbo, jogando bem. Numa derrota em Recife para o Santa Cruz, porém, Salvador Palaia manda Tite calar a boca publicamente, e a torcida Mancha Verde aparece do nada no aeroporto, para agredir o treinador, que foi demitido, ou convidado a pedir demissão.

2008. O Palmeiras de Luxemburgo viaja ao Rio de Janeiro para uma partida que, desde sempre, é complicada e importante, diante do Mengo. Para cobrar alguma coisa qualquer, aparece a Mancha Verde, e o resultado: Luxa fratura o cotovelo.

As duas histórias não são semelhantes apenas em estilo e gratuidade. Os atos fora de contexto da Torcida em questão aconteceram também no mesmo período. Estamos perto de uma eleição no Palmeiras.

A gente tenta tratar Torcida Organizada com olhos de sociólogo, entendendo o fenômeno, interpretando-as como parte espelhada da sociedade.

Mas a Mancha Verde é apenas uma ala política, radical, a única capaz de agredir, literalmente e figurativamente, o próprio time.

Num desses jogos pelo Brasileirão, eu, com o pé machucado, pedi, mancando, carona para uma van. Ao entrar, notei que era a Mancha Verde de Campinas. Eles apontavam o dedo para carros no trânsito. Sujeitos ocasionais eram xingados. Palmeirenses eram xingados três vezes mais. Um deles tomou um tapa na cara. Por nada.

Mancham. Envergonham. Sujam. Não é nenhuma novidade.

Posso discutir com palmeirenses que são à favor da Arena, e por isso parecem cuspir no nosso digníssimo estádio atual. Posso discutir sobre Traffic, sobre Luxemburgo e sua débil opulência argumentativa. Posso discutir com aqueles que querem falar sobre tamanho de torcida, pesquisas, assim como posso discutir sobre fidelidade, a despeito de muitos palmeirenses e manchistas que arrotam por aí que são mais "especiais" que outras torcidas.

Menos sobre a Mancha Verde. Esta, que pelas mesmas razões políticas já avançou na Parmalat e em Felipão, já ultrapassou todos os limites, já deu todos os exemplos e demonstrações do que é. Sobre esse assunto não discuto mais.

No estádio do Palmeiras, cada "ala" canta sua própria música. Na final do paulistão, passei quinze horas espremido numa fila sabotada pela Mancha. Após o jogo, a mesma Mancha fez da Rua uma praça de guerra. Bah, não preciso elencar mais coisas tão ululantes, porém termino com a declaração sensacional de um dos "bambas" da Mancha Verde, após eu perguntar o que ocorreu no aeroporto.

"Na verdade eu não sei, cara, o que aconteceu. Mas o Luxa sabe porque apanhou".

Brilhante. E ainda tem alguns que não entendem porque a bola alviverde bate no travessão, na linha, e não entra.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

O porque das dores

Pedi licença ao meu amigo, mas não fui embora com ele quando acabou o jogo entre Palmeiras e Grêmio. Ele foi, eu fiquei. Preferi sentar e olhar alguma coisa acontecer.

Sei lá, de repente São Marcos corre e se joga nas redes, afinal, só faltou para ele se transformar na bola do jogo. Ou então um jornalista sai correndo pelo gramado dizendo que tem um grampo telefônico bombástico, e os jogos terão que voltar!

Nada, nada disso. Na verdade estava perplexo. Saboreando a tristeza a que me proponho passar cada vez que condiciono minha alegria à vitória ou à derrota. Tentando entender o ato heróico e circense do maior de todos os palmeirenses, algo que não consigo definir, e isso é bom, porquê gosto que meu ídolo seja vulnerável, não tenha pés de barro.

Pois a perfeição divina não me atrai, muito menos a pretensa postura impecável dos homens. Assim como, parafraseando Jimi Hendrix, ser feliz não é uma de minhas prioridades. São Marcos foi um felino arredio e ignorou as ordens de quem acha que é seu dono, e não é bem isso que me alegra. Os gauchos vieram, nos deram um tapa na cara e foram embora, e não é bem isso que me dói.

Fui talvez o último torcedor verde a sair do estádio. Os gauchos ainda estavam lá. Olhei cada pedaço daquele estádio vazio. A torre de iluminação está velha como o placar, a piscina tem uma marola bucólica de fim de tarde, cabecinhas se movem nas cabines de imprensa.

Me ocorreu, alí, que pode ser que eu não vá aos dois jogos que restam no Parque Antarctica. E que, ano que vem, aconteça mesmo do estádio ser fechado para virar uma arena perfeitinha como Luxemburgo, sem cimento pra sentar, sem chuva pra tomar, sem o imponderável com a cara de São Marcos.

Me ocorreu, finalmente, que aqueles poderiam ser meus últimos minutos dentro do Parque Antarctica, da forma que eu o conheci. Nada mais me esperava fora dalí, e eu fiquei por ainda mais tempo, com medo de ser a última vez que veria aquela paisagem. Desculpem, mas eu não tenho coragem de ser a favor da Arena.

Mas tive que me retirar. Indo embora, encostei em um carro que estava de rádio ligado. Me detive a torcer por uma definição alentadora sobre Marcos que saísse da boca de Mauro Beting.

Me ocorreu que ele tem um coração que ama, que torce, e ele está alí, falando, ereto, direto. Me ocorreu que temos a mesma profissão, e falar de forma lúcida e firme naquela hora, só com treino mesmo. Me ocorreu também que tínhamos um amigo em comum, que morreu, e que torcia pelo mesmo time, e não teve um só jogo nesse campeonato que eu não tenha lembrado dele.

Descobri, então, porque fiquei tão devastado em constatar que meu time, nosso time, não será o Campeão Brasileiro.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Papo com o Iamin # 3

Dessa vez, eu e Paulo Júnior conversamos sobre clubes em ano de centenário. É uma figura, esse Paulo Júnior. O papo na verdade é com o Paulo Júnior. Depende do ponto de vista. Vai lá no blog dele, que lá o papo é com ele.

Inter, Vitória, Coritiba, Fla, Flu, Vasco, San Lorenzo, Corinthians, Palmeiras, e, claro, o Resende-RJ, são lembrados nesses nove minutos de uma questão palpitante, inquietante: o que o centenário tem que o nonagésimo terceiro aniversário não tem?

Tá aí.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Carta extraviada para Dunga

Dunga,

não levo muito jeito com as palavras, sou um tanto tímido, você até brinca com isso e meu chiclete, hehe, então escreverei pouco.

Assim, eu andei falando recentemente para a imprensa que estava numa fase infeliz, e era verdade, tanto dentro quanto fora de campo. Cheguei a dizer que era o pior momento da carreira.

Pode parecer mentira, mas aquelas vaias no Maracanã me fizeram ver as coisas de outro ângulo. Eu vi que meus problemas pessoais não eram tão grandes, e também percebi que ninguém ia me ajudar, se eu não me ajudasse!

Mas você me ajudou, e tudo deu certo. Agora o Santos está muito bem na tabela, meu melhor futebol voltou, e, chapa, você não virou a cara pra mim. Você foi um grande parceiro, eu nem sei como te agradecer por ter apostado em mim.

E mais. A força que você me dá é tão grande que eu me sentiria disposto até a jogar na meia. Saiba que se precisar, eu estou aí para te recompensar...

Não ligue para os críticos. Você tem um coração de ouro.

abraço,
Kléber

Roleta Russa

Uma reflexão ao nobre leitor: Você se sente justiçado pelo STJD?

Não considere quando um jogador do seu time é absolvido ou punido. Pense num julgamento alheio ao seu clube. Você sente como se a decisão trouxesse credibilidade ao Campeonato?

Ao final da competição, você nota que a participação do STJD foi indispensável, que o Tribunal trouxe à competição a ordem que era necessária?

O STJD faz justiça?

Caso faça, eis aí um exemplo para o mundo. Todo o planeta deve se espelhar nesse modelo brasileiro de intervenção da Justiça?

Já passou a época dos portões fechados, dos jogos que voltaram de forma a ferir o regulamento, e a moda atual é o julgamento obsessivo de qualquer lance, retroativo ou não, visto pelo árbitro ou não, em slow-motion ou não. Agressão. Ou seria só ato hostil?

O "Cai-Cai" do Duque de Caxias na Serie-C foi punido com exclusão do campeonato no próximo ano, além da perda dos pontos em 2008.

Recorre-se. E o Duque já não é mais excluído.

É assim no STJD. Nenhuma instância é igual a outra. A justiça que parte de uma roleta russa.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

O meu Circo

*O desabafo não é meu. Ou melhor, não é só meu. Tenho certeza.

Me desculpem os Flinstones, Tom & Jerry. Me desculpe, Chaves.

Fred é atacante do América Mineiro, Tom e Jerry jogaram no santos, Chaves é um mexicano...centro-avante.

Eu via como me enxergavam na escola. Eu era impotente. Hoje até a namorada fala que sou doente. Mas a culpa não é minha. E não pense, também, que me é um peso. Eu sei reagir, e jogar na sua cara que a Xuxa e a Eliana não te fizeram uma pessoa mais culta ou legal do que eu.

Gotham City, não sei onde fica. Springfield, também não, mas é nos Estados Unidos. Você sabia que as madeiras da quadra do Boston Celtics são colocadas em formas de quadradinhos, ao contrário do convencional, com tábuas retas e longas? E daí onde fica Gotham City?

Virei um atlas. Acham que eu leio muitos livros, só porque eu sei a capital da Iugoslávia, da Hungria, da Áustria - esse povo nunca ouviu falar de Rapid Viena. Me acham muito culto por saber a ordem das cores da bandeira da Bélgica, da Romênia, da Bolívia, mas ora, onde estavam estes em junho de 1994? Não viram a tabela da Copa?

Aliás, será que é absurdo contar que a abertura da Copa de 94 foi num 17 de junho? Ué, pra mim absurdo é o Pica-Pau colocar a mão nas costas e tirar, do nada, uma marreta, uma bomba, uma granada. Absurdo é colecionar um álbum de figurinhas, assistir um jogo, e não se interessar com a tabela, com as cores, com as histórias. Absurdo é assistir os Jetsons e não procurar saber quem foi o desenhista, o roteirista.

É uma sina ser chamado de obsessivo, e vai ser assim. Mas não sou. Sou só uma vítima. Ou um privilegiado. Na minha TV não passava a Xuxa, mas a ESPN, e não era eu o dono do controle remoto. No meu vídeo-game não tinha Mario Bros matando tartarugas com os pés, mas tinha FIFA Soccer, e não fui eu quem comprou os jogos.

Eu não posso renegar o que a vida fez de mim. Entre o excêntrico e o nerd existe aquele que foi levado, seduzido, e se tornou submisso diante das próprias escolhas. Não fui ao circo na infância. Ao estádio de futebol, ia toda semana. A culpa não é minha.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Pare de me ler!

É, isso mesmo. Deixe de me ler, e aponte seus olhos para o maior cronista da história do futebol.

Nelson Rodrigues

AQUI , cronicas do livro "O Berro Impresso das Manchetes".

Simplesmente não há nada melhor para ler do que Nelson Rodrigues.

Olê Telê!

A torcida do São Paulo é, atualmente, a mais criticada do país.

Culpa de diretores obsessivos que usam argumentos discutíveis para uma arrancada rumo ao posto de maior torcida do país.

Culpa de um estigma discutível que acusa esta massa de só aparecer nas decisões, só ir "na boa". Estigma reforçado nas épocas de média de público muito baixa.

Culpa de uma patrulha dos rivais, posto que o São Paulo não sai de cima das tabelas e isso incomoda, além de fazer surgir torcedores "de ocasião".

Estes mesmos rivais gostam de lembrar que, 4 anos atrás, essa torcida xingava Rogério Ceni em um fatídico jogo em que eles, os torcedores "oficiais", foram de amarelo ao Pacaembu.

Como todo estereótipo, existem distorções e verdades. O torcedor Tricolor tem um estádio que, de enorme que é, exige uma frequencia de alto volume, pois que senão os vazios das bancadas saltam aos olhos. Mas o torcedor tricolor não é só ausência ou desapego. Muito pelo contrário.

Um parente meu, torcedor saopaulino roxo, veio do interior, ontem, e me mandou uma mensagem no celular: "Eu não me lembrava mais, mas absolutamente nada se compara a um gol no estádio".

Outra coisa: não há nada no futebol brasileiro atual que seja mais arrepiante, digno, respeitoso e emocionante do que o côro de "Olê olê olê olê, Telê, Telê" que a torcida sãopaulina faz ecoar no Morumbi.

É especial, espetacular, e destrói os estigmas negativistas a respeito da cultura e do comprometimento do torcedor do São Paulo.

Sobre Felipe Massa

Na Fórmula 1, é próprio do torcedor confundir o "seu piloto" com um herói sem pés de barro. O cara está lá, "sozinho", com roupa de astronauta, numa máquina inalcançável para nós, meros mortais.

Daí a gente interpreta como comum o sentimento dilacerante, de dó e dor, que o brasileiro entrega para Felipe Massa, após perder o título da forma mais incomum possível nos registros históricos.

É verdade, foi um fim de corrida impactante, que comeu uns minutos da Rodada do Brasileirão, de tão incrédulo que fiquei ao fim da peleja automotiva.

Mas me permitam ser um pouco conservador. Hamilton foi conservador, a corrida não teria sido essa se a tabela não fosse aquela. Não é isso que eu quero falar, mas vale citar que o inglês, se perdesse, perderia por uma infelicidade inominável (como em 2007), e não porque ele não era capaz de ser mais do que sexto lugar.

É preciso dizer que Hamilton esteve na conta de seu chá inglês.

Mas o que quero dizer é outra coisa.

Ano passado, após perder o título de forma surreal, Hamilton foi visto, de noite, numa boate paulistana, dançando e cantando.Devia estar triste, perplexo e tal, mas a vida seguia.

Agora é Massa que perde "na última volta". Parte o coração ver as mãozinhas com luvas secarem as lágrimas dos olhos emoldurados no capacete. Esse gesto humanizou o piloto. Que bom.

Não foi a morte de um herói. Foi uma derrota. Apeguemo-nos no que Massa disse assim que a corrida acabou. Isso é esporte, tem que saber perder. Na certa ele jantou com a família, e deve ter sorrido bastante, relaxado, pois o dever está cumprido.

Vai doer nele, daqui 20, 30 anos, quando, nos momentos solitários, ele lembrar que uma chance única de ganhar em casa foi perdida numa circunstância única. Vai doer pra ele, quando lembrar que uma festa que lhe transformaria em mito, virou espetáculo de compaixão com um humano.

E essa dor é só dele, a gente não tem nada com isso. Também não temos nada com a alegria dele na janta de domingo. O que a gente tem a fazer é encarar os fatos, como se encara em todo esporte. E esquecer esse desejo oculto e mórbido de transformar um competidor em um representante de coisas muito maiores - e lamentar, com chiliques e histerias, o fato de não termos um novo ícone divino para "distorcer torcendo".

Ele foi vice-campeão. Tantos outros já foram, meu time já foi, que pena, e a vida segue.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

São Paulo e o chá

O Botafogo perdeu para o São Paulo, ontem, num dos jogos mais decisivos para a caminhada Tricolor.

Como foi ano passado, no Maracanã, quando o Botafogo disputava o título, no fim do primeiro turno. Perdeu, e nunca mais foi o mesmo na competição.

Como foi em 1981, na semi-final do Brasileirão, numa histórica virada dos paulistas.

Perde o Botafogo, com duas falhas gritantes em dois gols saopaulinos. Podem queixar-se do árbitro que anulou gol legítimo, mas não podem queixar-se da vida, da sorte. Não adianta o Presidente invadir o gramado, ou renunciar, nada.

No primeiro turno, foi ainda pior ao Botafogo. Jogando no Morumbi, o time carioca pressionava, mandava na partida. Um São Paulo capenga e inoperante estava em vias de tomar o gol da virada, mas, nos minutos finais, fez 2x1.

A vitória do primeiro turno foi mais achada pelo São Paulo, que não merecia. A vitória no segundo turno, ontem, foi mais dada pelo Botafogo, que não se controla.

Subterfúgios serão buscados, é chato falar do árbitro quando se erra tanto e se atua mal como atuou o Botafogo. O fato é que o São Paulo sabe jogar na conta do chá.

E o Botafogo fez mais. Deu colheres de chá.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

"Os três pontos que é o mais importante"

Luxemburgo não quer mais que São Marcos fale "bobagens". Sob seu comando, não quer mais que as famosas declarações do goleiro saiam, assim, tão "espontâneas", veja você, que absurdo, ser espontâneo é mesmo perigoso.

E os jornalistas que ouviram isso, nada questionaram. Alguns fizeram até um ensaio "carnavalesco" para o tema. "Marcos causa outro mal-estar", sugerem.

É verdade que Marcos usa o coração quando fala de futebol, e nas derrotas, o que sai de sua boca é quase tudo que está na garganta do torcedor.

Mas o treinador não quer. O "grupo" respondeu que "roupa suja se lava em casa".

Ainda que, de fato, no campo, a roupa sequer tenha sido suada.

A "roupa suja" se lava longe da imprensa? Para ela (ou seja, para o torcedor), deve-se usar o discurso vazio, resultado do trabalho honesto da assessoria de imprensa?

"O mais importante é os três pontos, clássico é clássico, o grupo está unido, o adversário é muito forte, não tem nada ganho". É assim, Luxa?

É assim, inclusive porque os donos dos microfones nem se movem para que não o seja.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Vitória do Palmeiras SIM

Affonso Della Monica não conseguiu permissão para prorrogar seu mandato atual na Sociedade Esportiva Palmeiras.

Faltaram 12 votos para que o "SIM" fosse dado, em nome de qualquer argumento tão ou mais pífio do que "continuar na presidência apara acompanhar o processo da Arena palestra".

12 nomes. Um deles, do Vice-Presidente Paulo Nobre, não se perca pelo sobrenome. Nobre votou "NÃO", e "puxou" outros votos iguais ao dele, afinal, é nome influente.

Della Monica não tem motivos para ficar chateado com seu Vice-Presidente. Aliás, ele mesmo foi por tantos anos o Vice de Mustafá Contursi.

Mustafá que, claro, votou contra, e isso deve doer em Della Monica, que vê em Mustafá um espelho - sem essa de que são opositores -, um exemplo que tenta seguir sem nenhum carisma.

Agora várias frentes possuem pouco tempo para azeitar a salada política alviverde, que culmina nas eleições de janeiro. Tudo em meio a reta final do Brasileirão.

Mustafá (que deve indicar Mario Gianinni à presidência, ainda que este tenha negado, claro, a informação a este blogueiro), Della Monica, Paulo Nobre, "União verde e Branca" (Chapa que contém vários dos nomes da diretoria atual), outros peixes pequenos e novas uniões que se formarão daqui pra frente. É disso que o Palmeiras tratará em suas alamedas nos próximos meses.

Vão simular pixações de muro, como já pixaram. Vão usar jornalistas "compromissados" politicamente, como já usaram. Vão se acusar, se aliar, se separar.

Mas Della Monica não fica, não permanece, e o Palmeiras ganha com isso.

Como deixam?




Permitam-me falar de basquete.

Acabo de notar que o Seattle Sonics, tradicional time de basquete da NBA, acabou. Mudou-se para Oklahoma, com outro nome.

Eu "torcia" pelos Sonics na infância. escolhi uam vez pra jogar no video-game, e adotei uma fajuta devoção.

O time chegou às finais contra os Bulls de Michael Jordan. Eu cresci e acompanhei a NBA com um sorrisinho: "ah, um dia o Sonics ganha algo e eu abro uma cerveja pra comemorar".

O time acabou, e não há torcida organizada pra quebrar tudo, nem amantes para fazerem greve de fome. A franquia se desfez, e tudo bem.

Acaba-se uma parte de minha infância, de minha década de 90. Acaba-se a NBA da forma que eu conheci.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Sobre comemorar o Acesso.

Comemore, pois!

Sobre a volta corinthiana à Serie-A, não há muito a falar, pois era algo sabido a tanto tempo, que, se fosse pra escrever, já teria que ter escrito. Não há novidade no acesso alvi-negro, não há necessidade de sublinhar o merecimento.

Minha observação vai para o corinthiano que não quer comemorar. Tem alguns destes por aí. Torcedores que acham que Serie-B não presta, que não há sentido celebrar uma conquista dessas. Ainda ressentidos com o rebaixamento, querem desprezar o acesso.

Rejeitam a alegria só porque já foram tristes um dia. Pensamento tacanho. Burrice.

Mais do que burrice. O Corinthiano bate no peito para apelidar seu time de "Time do Povo".

Povo é povo, é maioria, é massa. Times do tamanho do Corinthians são poucos. Time gigante é elite, é minoria.

Serie-A é para vinte. Series inferiores, para milhares. A Serie-B representa uma espécie de "campeonato do povo", e no fundo foi Legal o Timão fazer parte dela, para voltar ao seu lugar sabendo um pouco mais do que ele mesmo representa.

É isso. Não comemorar um "título inferior" é "coisa de burguês". Tudo que o Corinthians não é.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Azulão não é Bangu, pafêro

Quando terminei de ler o livro de Flávio Gomes, chamado O Boto do Reno, onde ele conta sobre suas viagens pelo mundo acompanhando a fórmula-1, agradeci o livro (quem não fala com o livro?), pela sua generosidade em me fazer sentir-me viajante. Ter passaporte, dar uma de Dunga e convocar as peças mais importantes para a seleção de coisas de sua mala, ser chique.

Tenho dúvidas sobre a resistência do meu humor para viagens duradouras demais. Gosto de escrever bastante, de pensar, de escrever por dentro (escrevo com o cérebro, leio com o cérebro, e jogo fora em seguida), acho que me dou bem se viajar sozinho. Fazer o quê, meus poucos anos de vida, até agora, não me proporcionaram relevantes ações turísticas, ainda que o livro nos transporte de alguma forma.

Em 2001, foi a primeira vez que saí de São Paulo. Passei 4 dias no Rio de Janeiro. Um inferno. Fiquei perturbado em ter que conviver com carros cujas placas começam com K, L, M. Aquilo era um estupro à minha rotina. Peguei um congestionamento num viaduto nas Laranjeiras, que me fez sentir em São Paulo, apesar das placas. Um carioca vendia biscoitos Globo entre os carros, e comi, claro, biscoito Globo é tão tradicional quanto o Maracanã.

Essa coisa de tradição é complicada. Na praia, quis tomar o tal Chá Mate Leão, ou Limão, sei lá, o chá tradicional. O vendedor não tinha (apesar de gritar "Olha o Mate, mate leããão, ou limããão"), e só no meio de minha degustação eu notei que estava tomando um GuaraPlus. E, claro, GuaraPlus não tem nada a ver com o que eu queria. Cariocas sabem persuadir.

Dormia na Ilha do Governador, e, em quatro dias, estive em todo canto do Rio. Na Ilha, pra tomar banho, meu anfitrião apareceu com uma lista de instruções para ligar o botão, ou "butão". Jamais ouvira falar naquilo. É um tipo de cofre de bronze que fica na parede do banheiro, e, com alguma técnica, você o aciona, e só assim a água do seu banho fica quente.

Perplexo, eu até que tentei. Odeio banho frio. Odeio. Mas o tal aquecedor não ligava, fazia ruídos estranhos, e não consegui ligá-lo. Temi pela morte antes da missão ser cumprida. Ok, fazia muito calor, estávamos em dezembro, mas o banho quente é um item indispensável em minha vida de idiossincrasias.

O Rio é legal. Comi uma pizza maravilhosa, a Coca-Cola é melhor, e a polícia toma conta. Fui querer ver o cristo redentor, às 3 horas da manhã. Inadvertidamente, o Athos preto foi enfiado nas ruelas do barranco que leva ao cristo. Não sei como não morri, pois é claro que o cristo estava fechado, é óbvio que minhas opções de caminho eram idiotamente aleatórias, e, normal, dei de cara com uma turma de rapazes nada amistosos, uma cena de filme, de um Cidade de Deus. Eles tiveram dó, fizeram gracinhas, sugeriram uma volta no dia seguinte. Pude-me ver sendo carbonizado. Fuga.

A polícia cuida, claro. Um Hyundai sinistro no morro do cristo, de madrugada? Claro, no ato, entraram em ação, pararam o carro, pedindo documentos, gentilmente munidos de metralhadoras. Abre-se o porta-malas. Há um carregamento. De bolsas de couro, naturalmente, afinal era o motivo da viagem, uma entrega de bolsas de couro para o natal. Bolsas abertas. Não se acha o pó nem o pacote, nem a pedra. Não se acha explicação plausível para subir no morro. Sei lá, saí vivo.

Mas foi uma viagem bacana. No carro, tinham duas fitas. Legião Urbana ao vivo, e Furacão 2000, essa só para o caminho de volta - lembrança turística da Cidade Maravilhosa. Resumidamente, o silêncio era melhor. Estávamos às vésperas da Final do Brasileirão de 2001, e foi um choque aos cariocas saberem que eu e boa parte dos paulistas odiávamos o São Caetano, e queríamos mais é que o Furacão faturasse o título. "Azulão não é Bangu, pafêro!".

Foi nessa viagem, aliás, que ouvi sobre Robinho pela primeira vez na vida. Um amigo cujo filho era zagueiro dos juniores do Botafogo, contava sobre um amistoso, sei lá se era amistoso, jogo de juniores pra mim é sempre amistoso, em que o Santos veio ao Rio. "Um neguinho, rapaz, do Santos. Robinho. O que ele fazia com a bola... eu fiquei com dó do meu filho". 12 meses depois, o neguinho era Campeão Brasileiro.

Eu moro em São Paulo, e sou crítico da cidade. Não gosto, Não consigo vê-la muito bem. Sou míope para ela. Talvez me falte o olhar turista para com ela. Foi agora, em 2008, que estive hospedado pela primeira vez em um hotel.

Trabalho com carnaval, e, nos dias da festa de Momo, fiquei num espaçoso quarto do lendário hotel San Raphael, no centro. Espetáculo. Me embananei pra preencher a ficha. Não conseguia abrir a porta. Entrei, ufa, e não sabia como ligar a luz. Pensei, tentei, e constatei que tinha que enfiar o cartãozinho no lugar para enfiar o cartãozinho. Enfiei, e a luz ligou. E a TV ligou! Que susto. Que silêncio amedrontador, quebrado por Antero Greco comentando amenidades na telinha.

Vamos lá, relaxe, você está num hotel! Vou tomar um banho. Vejo uma banheira. Meu primeiro banho de banheira? Claro. Não acho o troço para obstruir o ralo. Improviso uma meia. Não consigo ligar o chuveiro, nem a mangueira. A maçaneta da água, ou interruptor, não sei como se chama o botão que faz ligar o chuveiro, é de uma complexidade irritante, e, quando concluo que devo puxar pra trás, puxo. E vem um jato de água gelado na minha cara. Forte, muito forte. Agora, onde esquenta essa água? Nunca soube. Odeio banho frio, abortei minha banheira. Escovei o dente numa pia de água quente, revoltante.

Chega meu parceiro de quarto, bate na porta e eu grito que ela está aberta. Descubro então que porta de hotel não se abre por fora. Acordo e demoro quase 10 minutos para descobrir que é na tal sobreloja que se come o café da manhã. Procurei discretamente uma balança para pesar minha janta, achando que era por quilo. Ri da cara de um amigo que quis jantar ás 4 da madrugada, olha olha, imagina se a cozinha do hotel está aberta. Não dei gorjeta nem deixei carregarem minha mala. Fui embora duas vezes sem deixar a chave na portaria. Um completo asno, em todos os aspectos de todas as atividades que envolvem um hóspede de hotel.

Saída da cidade, hospedagem em hotel, viagem de avião. Não faz muito tempo, fui pra Brasília e encarei uma viagem aérea. Já numa época em que adquiri certo medo por meios de transporte, coisas da vida. 900 por hora, 10 mil metros de altitude, 30 graus negativos do lado de fora do avião. E eu achando o maior barato sobrevoar Araxá, paraíso hospitaleiro onde do alto se avista o sol primeiro, segundo o enredo da Beija-Flor em 2000, eu acho.

4 dias usando terno e gravata e uma perturbadora ausência de relevo, sei lá, qualquer montanhazinha, uma escada que fosse já me era um alento. Tempo seco, o que é um chavão brasiliente, e a aprendizagem-mestra de que, em Brasília, você precisa apenas conhecer o seguinte: eixinho, eixão, tesourinha. Com eixinho, eixão e tesourinha, você se dá bem, chega onde for. A não ser que chova, pois nesse caso as tesourinhas perigam de alagar. Mal deu pra curtir, foi trabalho a beça, mas, enfim, é outra cidade, outra arquitetura, outra fala, outro jeito de apertar a mão e outra forma do garçon colocar coca-cola no seu copo. Eu detesto isso, o preço da coca-cola que eu compro contém o meu prazer de abrir a lata e colocar coca no copo. Se alguém faz isso por mim, quero desconto na minha coca-cola.

Faltam poucas coisas a se conhecer nessa vida, não? Meu próximo destino deve ser Arkansas, nos Estados Unidos. Alguma pessoa desse estado entrou no meu blog 29 vezes nos últimos 35 dias, e eu morro de curiosidade de saber quem é. Não há nenhuma, absolutamente nenhuma pista de quem seja, mas eu o tenho como um amigo. Imagino ele acordando no Arkansas, tomando aquele café-da-manhã típico do Arkansas, ligando seu computador comprado no Arkansas, e timbusca, acessando meu blog.

Esse rapaz, assim como o trio de colombianos que conheci no Parque Antarctica outro dia, fazem parte de meu pacote de intercâmbios.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Dois toques - Beckham e o Botafogo

David Beckham vai jogar no Milan por 6 meses. Um inglês especialista em marketing afirma que o clube italiano terá um lucro de 15 Milhões de Euros com essa adição em seu plantel. De imediato. Depois de 6 meses, o lucro será ainda maior. Baseia-se na "marca" do jogador, no sucesso asiático dessa marca, no diabo a quatro.

É inacreditável.

Beckham hiperboliza a realidade de que alguns jogadores dão lucro quando chegam, enquanto ficam, e quando saem. E o custo, e o prejuízo, e o equilíbrio na "cadeia alimentar" financeira?

Ainda vou entender esse processo, direitinho.

* * *

O Botafogo voltou da Argentina com um resultado horroroso pela Sul-americana. A derrota para o Estudiantes fez o sempre imbecil cartola botafoguense, Carlos Montenegro, contar que o grupo tem um racha entre Carlos Alberto e Lucio Flávio, supostos líderes de grupos internos no plantel.

O primeiro, inclusive, não foi pra Argentina e foi fotografado batendo bola numa pelada. Montenegro se mostra surpreso e diz que "nessa época do ano, sempre o Botafogo entrega o ouro". A começar por ele.

No hotel, em La Plata, o Fogão foi roubado, o dinheiro das diárias (e não dos salários atrasados) foi usurpado por assaltantes.

E desmorona o Botafogo. Parece mentira.

Choque-Rei de Empates

Em 1986, o Tricolor dos Menudos impôs seu melhor futebol diante do Palmeiras de Mario Travaglini. Pita, Silas, Careca e Sidnei controlaram o Choque-Rei no Pacaembu, que foi pro intervalo 2x1. Aos 3 da etapa final, careca faz 3x1. O Palmeiras contraria o enredo do jogo e alcança o empate. 3x3. Poucos minutos depois, Oscar faz 4x3 pro Tricolor. E Ditinho, no minuto final, determina o 4x4 que ficou pra história.

Em 1999, outro 4x4, numa partida memorável de Dodô, com gol de Rogério Ceni, em que o Palmeiras marcou quatro gols saídos de bola parada e Marcos fez a sua mais espetacular defesa na carreira, segundo ele mesmo disse recentemente.

Em 2005, no Morumbi, o São Paulo, voando baixo e campeão da Libertadores, engoliu o Palmeiras e fez 3x0 sem maiores complicações. Marcinho, aquele atacante que nunca estourou, diminuiu na primeira etapa, Gioino (!) e Warley (!!) marcaram no segundo tempo, e o Verdão de Emerson Leão buscou um 3x3 improvável, comemorado como vitória.

Agora, em 2008, um outro empate para guardar, um 2x2 que coroou um ano em que Palmeiras e São Paulo monopolizaram as atenções do futebol paulista.

Soma-se a estes jogos a Final do Brasileiro de 1973, empate em 0x0, os empates nos jogos de ida das Libertadores de 94 e 2006, e outros tantos espalhados pela história. Empates para as torcidas rivais cultuarem juntas.


O empate de 1999

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Pititi

Chego em casa, e na porta está a minha revista TRIP, cuja qual sou assinante de longa data e um fã incondicional. Uma simpática edição sobre longevidade, apesar de um ensaio fotográfico com uma anciã semi-nua.

Passei as folhas, vi nosso caro Flávio Gomes falando sobre seus DKW, vi alquimistas, profetas, mas me detive, claro, na entrevista de Ronaldo, o Fenômeno, para as páginas negras da TRIP, a melhor entrevista do país na atualidade.

A apresentação da entrevista cita o seguinte: "O abismo entre imagem íntime e imagem pública não angustia Ronaldo, embora ele se queixe da fama, observando, por exemplo, que nunca posou para a revista Caras".

A declaração, na entrevista, foi esta:

Mas eu nunca quis ser uma celebridade, nesse sentido de querer tirar foto pra Caras, mostrar meu cachorro ou sei lá o que mais. Eu queria ser um bom jogador


Perfeito. Entrevista lida. Coincidências da vida. Meu organismo trabalhou e tive que usar o banheiro. Não levo minha TRIP querida para lugar tão pouco aprazível. Lá, sentado, leio a Caras, que é muito mais a cara.

E, vejam vocês, estava lá, para apreciação, uma antiga, de abril de 1997. Na Capa, Abílio Diniz malhando com os filhos, João Paulo, triatleta, e Pedro Paulo, piloto, grande Pedro Paulo.

Primeira matéria: Ronaldo anuncia noivado e diz que Susana Werner é a mulher de sua vida.

Entre fotos posadas constrangedoras (Ronaldo sentado num cavalinho de madeira, próprio para crianças), lá está ele, o Fenômeno, brincando com seu cachorro, o Pititi.

Pois é.

Inferior Tribunal

Entrevista com Paulo Schmidt, procurador geral do STJD. Não é preciso selecionar muito além de sua declaração mais célebre, consagradora, que explica de forma clara o que os "homens da moralidade" definem como "justiça desportiva".

O senhor assiste a todos os jogos do Brasileirão?


Analisamos lances específicos, assistimos a alguns jogos, acompanhamos alguns programas e suas repercussões. Ah, mas isso é injusto? Não. Tem equipes que são mais televisionadas que outras. Quem é mais visto está sendo mais televisionado tem quebra de isonomia porque está recebendo mais. Ganha mais direito de imagem, de arena, e de transmissão. É natural cobrar melhor disciplina de quem é mais fiscalizado. Violência precisa ser coibida. Não gostou? Não cometa infração.

Não acho preciso gastar tecla e espaço em meu blog para argumentar que, por princípio e definição, a justiça se baseia no equilíbrio, na igualdade. O procurador sugere o contrário, e acha lindo. Vai à TV e resmunga, diz que o órgão que representa tem sido muito atacado, pois são "homens com vocação para a justiça".

Desembargadores, delegados, procuradores, coronéis. O futebol do país explica um pouco do país, certo? Sinto o futebol brasileiro contando sobre o país, numa tal década de 60.

ps. Os grifos são meus.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Cai o Júnior. Cai o Rival.

2007. Caio Júnior treina o Palmeiras. O trabalho é apenas digno, há chances de Libertadores, mas na rodada final, sucumbe. A alegria da torcida, entretanto, é o rebaixamento do rival. O Corinthians caiu!

2008. Caio Júnior treina o Flamengo. O trabalho é apenas digno, há chances de Libertadores, mas o time é instável e hoje estaria fora. Entretanto, há razões para alegria, pois o Vasco está perto do rebaixamento.

Sortudo, esse Caio Júnior.

Ingresso!

Se você quer colocar o Palmeiras em desordem e pânico, tanto torcida quanto diretoria, não provoque, não grite por Marcelinho Carioca ou Manchester United. Grite "Ingresso".

Mais pano pra manga foi dado nesta semana. Não só pelo óbvio tumulto na frente das bilheterias, poucos guichês, muita torcida, tempo recorde de esgotamento, mais de cem reais nas mãos do cambistas. Nada de novo.

A BWA não enviou um lote de ingressos ao programa de associados Onda Verde. "Esquecimento", diz o programa do "torcedor oficial" do verdão.

O torcedor associado tem seu ingresso garantido, por 30 Reais. Os ingressos se esgotaram, sem que este lote fosse designado. Culpa da BWA? Também. Que raio de programa oficial do torcedor é esse que deixa o rapaz sem ingresso?

A Onda Verde garantiu que, pra compensar, os sócios teriam ingresso grátis para Palmeiras x Goiás. Puxa, que recompensa.

Mas o pior problema não é esse. Sexta-feira, de noite, um comunicado aos associados informou que os ingressos estavam disponíveis. Mas não estavam esgotados?

Vou acreditar que a cota da Onda Verde foi extraviada, perdida, esquecida, mas encontrada, por sorte e em tempo. É mais razoável do que acreditar em super-poderes de algum multiplicador de ingressos, que seria, penso eu, um novo Messias, quem sabe.

Não se esqueça que a BWA é um nome de enorme, gigante importância no braço-de-ferro político-eleitoral do Palmeiras. Uma empresa que fez de seu vínculo com o alviverde muito mais do que se prevê em contrato, isso é, uma relação de cliente e contratante.

* * *
Para ilustrar com outra abordagem essa questão entre o Palmeiras e seus ingressos, posto aqui o link para um texto de minha autoria, publicado no blog do Victor Birner, após o Campeonato Paulista.

http://blogdobirner.net/2008/05/09/a-fila-e-a-fila/

Palmeiras x São Paulo, em 5 toques

As expulsões ajudaram a quem?

Num primeiro momento, o Palmeiras foi o mais prejudicado pela dupla expulsão aos 5 minutos de jogo.

O árbitro, sei lá, deu na telha, assim, do nada, de expulsar dois jogadores que se esbarraram num choque-rei.

O placar acabara de ser aberto, o São Paulo tinha o controle psicológico do jogo, e o Palmeiras teve que gastar uma substituição para descobrir-se de novo no gramado. O São Paulo já sabia o que tinha que fazer, e sua saída de contra-ataque não sentiu tanto a falta de Borges.

Porém, na etapa final, talvez fosse bacana que Eder Luiz entrasse no lugar de Borges. Na etapa final, o jogo defensivo tricolor poderia dar certo num duelo 11 contra 11. Não gostei de Jean, e interpretei que os três zagueiros foram muito para "o choque".

Eu acho que, 11 contra 11, o segundo gol do Tricolor sairia da mesma forma. Mas, 11 contra 11, não sei se sairia o primeiro gol do Palmeiras.

Jogadores Indolentes custam caro

Jogadores indolentes custam um preço. Qualquer jogador, a qualquer time. Ontem, foi Léo Lima que custou ao Palmeiras.

Léo Lima vinha sendo lucro. Seu gol no choque-rei do Paulistão foi o verdadeiro gol do título, e o gol que colocou o Palmeiras no século 21. Foi falha de Rogério Ceni? Talvez. Mas foi golaço, e Léo foi ótimo ao longo da competição.

Ontem, apesar de mal escalado, sem um par de mentalidade conservadora na cabeça da área, nada justifica sua completa desconcentração. Fez um penalty clamoroso, e errou um passe primário no lance do segundo gol tricolor.

Custa seu preço. Denílson foi bem na etapa final, ajudou a reação. Foi o herói da vez? Talvez. Quando será que vem o revés? Na minha tese, cedo ou tarde o preço por ter Denílson pode ser pago.

E o contrário é verdadeiro. Claro que o jogo de ontem é só mais um jogo da carreira de Rogério Ceni. Mas ter um jogador de real compromisso emocional com o time paga algumas despesas. A atuação de Ceni ontem é para fazer evaporar as interrogações sobre aquela falha do Paulistão.

Ninguém questiona o Muricy?

Muricy, ontem, mais uma vez, repetiu seu discurso. "Não gosto de falar de abitragem, não falo sobre arbitragem, nem quando ganha, nem quando perde, nem quando empata".

Outra vez, ninguém questionou essa ação do treiandor de mostrar-se diferente dos outros. 3 minutos, contados no relógio, de pesquisa na internet:

Muricy detona Sálvio
http://br.truveo.com/Revoltado-Muricy-detona-arbitragem/id/807791677

Muricy critica arbitragem após derrota no estádio Olímpico http://www1.folha.uol.com.br/folha/esporte/ult92u434597.shtml

Contra o Nacional, do Uruguai, na Libertadores
"Ele deixou o jogo correr demais. Não me surpreendeu, ele sempre é assim. Gosta de favorecer a equipe da casa."

Contra o Goiás, pelo Brasileirão:
"Ele não teve segurança para dar o gol. Foi até a metade do campo e dois voltou. Foi pressionado pelos jogadores do Goiás. Ficou claro que foi no grito. Eu não gosto de falar de arbitragem mas o lance do pênalti foi algo escandaloso. O pênalti não existiu."

Bem Observado, Muricy!
No entanto, Muricy Ramalho foi muito feliz, ontem, nos vestiários, quando creditou o grande duelo à semana de treinos que Palmeiras e São Paulo tiveram.

Não é uma regra, e nem acho que os treinadores fizeram mirabolâncias nestes dias. Mas é relacionável. Por parte física e mental, principalmente. Taticamente, ter treinos mais constantes e tempo para falar do adversário, certamente faz muito bem.

Não acho o calendário atual apertado ou discrepante. Mas esta observação de Muricy esteve acima da média repetitiva das coletivas atuais.

Kleber vale mais que Valdívia ao Palmeiras

Considero, definitivamente, Kleber um jogador a ser levado muito a sério pela diretoria alviverde.

Acho um tanto subjetivo falar sobre "perfil de Libertadores", uma vez que enfrenta-se muito time brasileiro para chegar no topo desta. Também acho que outros reforços possíveis citados podem ser mais habilidosos, jovens, decisivos.

Mas Kleber ocupou seu espaço. Empresta ao time uma personalidade rara. A torcida do Palmeiras, acostumada a cultuar a "Era Pedrinho", "Era Caio Júnior" e "Era Valdívia", merece mais pegada e representatividade em campo. Dessas três "Eras" citadas, só a de Valdívia é argumentável.

Valdívia foi valorizado, e, carismático, abasteceu a auto-estima verde, jogou uma bola redonda, apesar do excesso de milonga, e foi embora após o lateral Leandro lhe raspar a careca, minutos após o título do Paulistão.

Mas o chileno foi e é questionado sobre a força de decidir, a personalidade e a concentração para grandes e delicados momentos.

Kleber não pode ser questionado por isso. Ele tem uma rara inteligência, em campo, de entender os momentos do jogo. Ele cresce nas horas certas de uma partida. Seu excesso é de anti-milonga.
O Palmeiras deverá jogar a Libertadores em 2009 e Kleber ficar ou ir embora é uma informação da mais alta relevância a esse respeito.