quinta-feira, 31 de março de 2011

Coléra lusitana

Neste domingo Benfica e Porto se enfrentam no Estádio da Luz. Ganha o Porto e será o campeão português antecipado.

Abaixo, uma nota oficial do Porto, que explica claramente o que aconteceu por lá. Vale a leitura, franca e colérica, coisa rara em notas oficiais de clubes.


A lei à moda de Lisboa

O FC Porto foi hoje informado numa reunião com a Polícia de Segurança Pública que o Benfica pretende impedir a entrada no Estádio da Luz de todos os adereços alusivos ao nosso clube, como sejam bandeiras, estandartes ou faixas no jogo de domingo.

Trata-se de uma decisão ilegal que o FC Porto já denunciou através de uma exposição que enviou ao Ministério da Administração Interna, à Secretaria de Estado da Juventude e do Desporto, ao Conselho de Segurança e Ética no Desporto, à Liga Portuguesa de Futebol Profissional e à Federação Portuguesa de Futebol.

O Benfica pretende com uma medida sectária e própria das ditaduras mais reaccionárias impedir o apoio à nossa equipa, isto perante a complacência das autoridades, como se Portugal fosse uma república das bananas.

O FC Porto exige o cumprimento da lei e recorda às próprias autoridades que se há alguém que se acha no direito de estar acima da lei é o próprio Benfica, que continua a permitir a entrada no seu estádio de todos os adereços alusivos às claques No Name Boys e Diabos Vermelhos, dois agrupamentos ilegais, porque nunca efectuaram o registo dos seus elementos, como acontece com todas as outras claques desportivas em Portugal.

Mas nem isso impede, por exemplo, que esses grupos de adeptos entrem no Estádio da Luz com material alusivo a claques ilegais, façam explodir tochas e outro material pirotécnico.

Pior, depois de confirmar que pretende impedir os adeptos do FC Porto, organizados (legalizados) ou não, de entrar com adereços de apoio à equipa, a própria polícia confirmou que os grupos organizados mas ilegais do Benfica poderão entrar no estádio com todo o seu material.

No Estádio do Dragão todos os adeptos das equipas adversárias entram com material alusivo aos seus clubes e, no caso das claques legalizadas, com material do próprio grupo, sejam tambores, megafones, etc. No caso de claques ilegais, o FC Porto impede a entrada de qualquer tipo de adereço, excepto os de apoio ao próprio clube do adepto, que são sempre permitidos. De resto, como foi bem visível nas últimas ocasiões em que o Benfica jogou no Estádio do Dragão.

A obrigatoriedade de registo e legalização das claques é de 2004. Desde então que há duas claques, os No Name Boys e os Diabos Vermelhos, ambas do Benfica, que são ilegais. Haverá no país maior exemplo de impunidade do que este? Passaram mais de seis anos, em todos os jogos do Benfica as claques estão lá, todo o país as vê, mas as autoridades portuguesas ainda não tiveram oportunidade de fazer uma “investigação implacável”. Definitivamente, é tempo de em Portugal todos os cidadãos e todas as instituições serem tratados da mesma forma.

Para que serve um Governo que faz uma lei e depois não a consegue aplicar? Obviamente para nada.

Finalmente, apelamos a todos os adeptos do FC Porto que, apesar do clima provocatório e intimidatório que o Benfica está a criar para o jogo de domingo, mantenham sempre um comportamento cívico e pacífico.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Uma imagem

Achar momentos realmente emocionantes no futebol profissional(óide) e perfeitinho de hoje é cada vez mais dificil.

Os cinco minutos do vídeo abaixo são arrepiantes.

Mostra o trajeto da seleção de Portugal do hotel para o estádio, na tarde da final da EuroCopa, em Lisboa.

A forma apaixonada e alucinada com que são seguidos ajuda a ter noção do que o futebol é capaz.

Pessoas seguem o ônibus e dão sua força. Fazem isso correndo, de moto, a cavalo, por helicóptero, nos barcos, nos viadutos, de todos os jeitos. Até avião saudou a "selecção".

O time treinado por Felipão perdeu a final em questão. Mas isso parece muito menos importante diante dessas imagens, que mudaram o domingo de uma nação e, arrisco dizer, a vida de todos aqueles que estavam dentro do ônibus.

segunda-feira, 21 de março de 2011

No meu time, Diego Souza seria volante

De Leandro Iamin

Diego Souza, com Mano Menezes no Grêmio vice-campeão da Libertadores de 2007, atuava de segundo volante (Lucas Leiva era uma alternativa para esta posição, embora a formação ideal tivesse ambos).

Do Grêmio ele foi para o Palmeiras, depois Atlético-MG, e cada vez mais virou atacante. Fez um bom Brasileirão em 2009, como meia-atacante. Chegou 2010 e Diego assumiu de vez o novo posicionamento.

Fracassou. No Galo, não conseguiu espaço em formação alguma.

Diego Souza não é um grande marcador, mas é forte e consegue chegar com força no ataque. Chuta bem, gosta de lançar, é ofensivo. Me parece ter o perfil de um bom 2° volante.

E, se fosse ele, tentaria sê-lo no Vasco.

Não é pela seleção

O veterano Felipe joga de volante pela esquerda na equipe cruzmaltina, hoje. Perdeu a briga na "meiuca", onde o Vasco tem bons nomes.

Diego jogaria mais que Felipe na função, com certeza.

Mano Menezes usa Elias na posição. Já testou outros nomes, e sabe da qualidade de seu ex-atleta nessa função.

Acho dificil que Mano um dia escolha refazer sua dupla de volantes dos tempos de Grêmio. Diego teria de jogar muito e na verdade acho que Ricardo Gomes o usará mais avançado.

Portanto, não penso na hipótese por causa da Seleção. Penso, sim, no próprio talento do atleta.

O novo camisa 10 cruzmaltino busca recomeçar sua carreira após afundar com ela em Minas Gerais. Se achar uma posição onde consiga jogar como jogou um dia, ótimo.

Falta criatividade e coragem

De Leandro Iamin

O futebol brasileiro passa por crise criativa não só dentro das 4 linhas.

Diariamente o nome de Adriano está nas manchetes vinculado a algum clube. Quando não é o Imperador, é o Vágner Love, o Grafite ou outro medalhão caro qualquer.

Ninguém mais tem coragem de achar um jogador barato e promissor em um time do interior. Falta criatividade para observar estes atletas.

Nomes menos badalados geram menos ações do tal do marketing, o que não justifica nada para mim.

As categorias de base também são menos exploradas do que deveriam. Opção barata e que sempre deu certo, o "menino da base" vive perdendo terreno para o "especulado e consagrado craque do exterior".

Gilson Kleina

Nesta segunda, o Fluminense anunciou acordo com Gilson Kleina, que em seguida recusou o convite para treinar o Tricolor.

Nos poucos minutos em que ele foi "oficialmente" o treinador do Flu, muitos fizeram piada, debocharam da escolha.

Mas Kleina não é um nome errado.

Faz um excelente trabalho com a Ponte Preta em 2011. Teve boas passagens por Duque de Caxias, Ipatinga e o gaúcho Caxias. Não chegou ontem no futebol, foi assistente de Abel no Olympique de Marselha.

É sério, claro e inteligente quando dá entrevistas, e me parece evidente que é um bom nome de uma nova geração de treinadores.

Eu arriscaria. Quem não arrisca ou usa a criatividade, vai ter sempre as mesmas - e caras, caríssimas - opções.

Prefiro o Fluminense com Kleina e Rafael Moura que especulando Grafite e torrando grana, por exemplo, em um Adilson Batista.

De volta

Após o tal do longo, mas não tenebroso, inverno, voltarei a cuidar do espaço com coisas novas.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O Muro de Berlim e o Mapa do futebol alemão


de Leandro Iamin

Quando vemos a primeira divisão brasileira concentrada em poucos Estados e vagando ao redor de um "eixo", temos um mapa que explica a divisão social e financeira desse gigante território.

A falta que faz um time do norte, a luta pelos nordestinos manterem-se na elite, e o circulo vicioso que isso causa (fora da elite, menos dinheiro, menos prestígio, menos torcida) justifica outros significados para um mesmo jogo, posto que o caminho que um time longe do "eixo" trilha rumo ao sucesso é mais espinhoso. Muitas vezes, estes se vestem com um orgulho regional para equilibrar partidas.

No entanto, não somos o único país cujo mapa da bola explica o mapa da história. A geografia de todos os países dialoga, ao menos um pouco, com a distribuição de seus principais clubes.

20 anos após a queda do Muro de Berlim, que dividia a Alemanha em ocidental (aberta ao capital) e oriental (fechada), o mapa da BundesLiga, primeira divisão alemã, nos conta muito do que é o país.

Abaixo, você vê onde se localizam os 20 times que compõem a Bundes. Em amarelo, o território oriental dos tempos de Muro de Berlim.

Apenas um clube da elite alemã vive no território "oriental". É o Hertha, que, além de ser da capital Berlim, é disparado o último colocado do Alemão. Ou seja, pro ano que vem a BundesLiga pode ser 100% "ocidental".

20 anos depois, e os times dessa região seguem com dificuldades para manterem-se no nível estrutural de seus concorrentes conterrâneos.


Sobre o mapa

A Alemanha encontra uma concentração maior na região da Renânia e do Norte-Vestfália. Bochum, Dortmund e Gelsenkirchen são cidades vizinhas, e ladeadas por M´Gladbach, Leverkusen e Köln. Nessa região, cidades como Duisburg, Bielefeld e Aachen possuem regularmente times na elite.

Norte e sul possuem times quase fixos: ao norte, Werder Bremen e Hamburgo são fortes, e o Wolfsburg segue o mesmo caminho. No sul, a região bávara coloca o Bayern, e ao seu sudoeste a região é próspera com as cidades de Stuttgrt e Frankfurt, por exemplo.

Vale lembrar que, na região da Alemanha Oriental, além do Hertha Berlin, o Cottbus é um time de recente participação na BundesLiga, assim como o Hansa Rostock.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

De palmeirense para corinthiano

De Leandro Iamin

Provavelmente eu era o único palmeirense presente no Parque São Jorge naquele 7 de junho de 2000. Horas antes Marcelinho perdera o pênalti que eliminara o alvinegro da Libertadores. Era dia de luto. Para eles, claro.

Meu primo jogava pelos juvenis do Timão. Eu, vizinho do clube alvinegro, o acompanhava. Naquela manhã eu queria gritar e abraçar palestrinos. Mas estava dentro do clube derrotado. É claro que não vou contar aqui as expressões, os vultos, os silêncios que vi, ouvi e senti lá dentro. Seria deselegante.

Nessa época, assistia muito os treinos do time profissional, campeão do mundo (haverá sempre a deliciosa controvérsia sobre isso, tem que ser assim, o Palmeiras foi barrado no baile e o assunto jamais acaba), esperando meu primo. Ficava perto dos jornalistas. Via o trabalho deles e adorava. Seis anos depois virei um deles.

Posso dizer que a profissão que escolhi foi, também, um pouco graças ao Corinthians.

Como devo dizer que, por morar em São Paulo, o Corinthians faz parte de minha biografia, mais do que eu posso supor. Este time é mesmo o avesso do avesso do avesso. A cidade também. Eles são maioria, alvo, vidraça, a história a se contar. Protagonistas dos outros mundos, antagonistas de si mesmos, masoquistas aos olhos distraídos.

Tinha 8 anos e estava no Morumbi em 12 de junho de 93, quando meu time venceu o deles e saiu da fila de 16 anos. Pouco depois estava no Pacaembu na final do Rio-S. Paulo. Campeão. Mais dezoito meses e assisti, no mesmo Pacaembu, diante do mesmo Corinthians, meu time levar o brasileirão.

E não eram fregueses, não soava assim. Eles cantavam mais que nós após o fim do jogo de 94. Cada vitória era um desabafo. Lembro de um amigo, o Gabriel. Palmeirense. Foi a um derby comigo nesse ano de 94. Deu Corinthians. Chegando na casa do Gabriel, haviam uns 10 corinthianos trepados em seu portão, o esperando chegar e cantando corinthianices. Gabriel foi detonado, sofreu o maior bullyng de sua vida.

Gabriel acabou virando corinthiano. O Corinthians pressiona. Atrapalha, não é conveniente. É mal educado, espaçoso.

Volte 20 anos. O Timão nada tinha além de títulos estaduais. Mas suas derrotas eram as mais lembradas, e eles tinham 77. Tinham o IV centenário, a quebra do jejum contra o Santos de Pelé, etc, etc, etc. E tinham invasão de Maracanã, democracia, torcida crescendo na fila, mais etcéteras. Eles não precisam do melhor argumento para ganhar uma discussão.

Muitas vezes acreditam demais nas próprias retóricas, a ponto de realmente o menos importante, ou o menos nobre, se tornar o essencial.

Vieram 5 estrelas na camisa. Um Dualib e algumas parcerias que não valeram a pena. Um
rebaixamento que quebrou, literalmente, a imagem de São Jorge. Ilusões do estádio que nunca sai, da Libertadores que nunca vem, de coisas que este time nunca precisou, mas que, de tanto tempo que sobra, parece necessário.

Porque o dia do Corinthians não tem 24 horas. É muito assunto pra pouco dia. É muito signo, muita mandinga, muita referência. Como gostam de dizer, muita mística.

Uma mística que realmente é capaz de ganhar jogos sofridos, aquela coisa do "tudo ser mais
difícil". Mas a mística corinthiana também é caótica. As maiores mazelas e derrotas do Timão são fruto, ironicamente, de parte de suas maiores virtudes.

Perdem a cabeça, a razão, os jogos, de tanto que amam. Possuem um ciclo orgânico em que destróem (ou humanizam, ou reinventam) os próprios mitos, ícones, lendas, ídolos. Sempre saem do estádio jurando que vão golear o próximo adversário. No fundo acham super charmosa essa coisa de não ter Libertadores.

Não tem lógica, e nem é pra ter. Corinthiano pobre e maloqueiro não tem urgência de virar rico. Corinthiano derrotado e molhado de chuva não tem urgência de ser campeão, finalista, líder.
Ok, boa parte das torcidas são assim em alguma escala. Mas são pouquíssimos no mundo que possuem tanta vocação para o protagonismo quanto o corinthiano.

Este palmeirense aplaude o centenário do Corinthians. O Coringão é o maior rival do meu Palestra. E é o time mais rejeitado do país atualmente. Acho que o Brasil tem inveja do Palmeiras. Todos gostariam de ser o principal rival deste alvinegro anormal.

Não é a maior torcida, nem o mais vencedor, nem o mais rico, mais velho, mais colorido.
Também não são os mais diferentes, afinal nada que seja diferentão atrai 30 milhões de seres.

Talvez eles sejam a melhor idéia, não sei.

Não sou corinthiano e esta resposta eu não tenho. Nem o corinthiano, apaixonado que é e ligeiramente míope por isso, tem. O que pode explicar um pouco, só um pouco, deste time.

Parabéns ao Corinthians. De coração.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Um problema para o DeLorean

De Leandro Iamin



Este é o DeLorean, carro protagonista da trilogia De Volta para o Futuro.

Através dele, uma das mais famosas ficções do cinema mundial viaja pelo passado e também pelo futuro, correndo assim o risco de ter o presente modificado, o que poderia ter consequências trágicas ou cômicas.

O DeLorean que volta e avança no tempo foi invenção do cientista Dr. Emmett Brown, que teve como assistente o sagaz garoto Marty McFly. Esta dupla provavelmente será chamada pela CBF e pelo Clube dos 13 nos próximos dias, com uma missão espinhosa.

A Taça das Bolinhas, afinal de contas, deverá ir para um novo destino: Gávea ou Morumbi. Atentos à escolha, a torcida do Sport Recife quer ver a taça em São Paulo. Já o Mengo a quer para si, como se isso fosse resolver a questão: afinal, quem é o Campeão Brasileiro de 1987?

Eu tenho uma sugestão.

Uma vez decidido o destino da taça, chamamos Dr. Brown, e viajamos de volta para o ano de 1987. Quando chegarmos lá, é só dar um jeito de impedir que uma das torcidas comemore, que uma das massas se considere campeã nacional.

Se o troféu da discórdia for parar nas mãos do Flamengo, será preciso, também, voltar ao carro e partir apressado para 2007, com a missão de tirar dos corações sãopaulinos a sensação de que eles são os "primeiros pentacampeões".

Porém, se o novo endereço da taça for na zona sul paulistana, aí o trabalho da turma do Spielberg se concentra em 1987: será preciso apenas dar garantias de exclusividade à torcida do Leão, quem sabe fazendo uma camisa "Campeão único de 87".

Ironia, claro

Decisões engravatadas não vão adiantar. Decidem o endereço de uma taça física, mas não redefinem a realidade de uma conquista sentimental. Torcedores de Flamengo e Sport comemoraram como campeões nacionais.

As duas torcidas possuem motivos para isso. Seus argumentos são válidos. Suas festas foram respaldadas pela opinião pública, pelo povo ao seu redor. Não há como voltar no tempo e alterar esta realidade.

A consciência e a razão não são assim tão mecânicas. É possível dois lados opostos terem convicções opostas, e ambas estarem certas.

Ainda que decidam, em 2010, que algum dos Nacionais de 1987 simplesmente não existiu, e que os supostos participantes da "farsa" estarão rebaixados para a oitava divisão, quem gritou "é campeão", gritou com razão. E não há o que desfaça isso.

Nem o DeLorean de Dr. Emmett Brown.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

A Várzea: E que Golaço

Recomendo o texto abaixo do amigo Kadj. Um conto que retrata o "outro" futebol muito bem.

de Kadj Oman

Passou a bola pro meia-direita e gritou, "devolve". Recebeu, perto da linha de fundo. "Vai cruzar", é o que todo mundo pensa, sempre. Não cruzou. Cortou pra dentro, conseguiu algum ângulo pra chutar, mesmo que de pé esquerdo. Foda-se. Desceu o cacete na bola e ela entrou no cantinho, raspando a trave. Um golaço, que todos os outros dez espectadores favoráveis ao seu time - o resto dele - aplaudiram com fervor. Uma pena que não tivesse sido num Maracanã lotado, com certeza entraria pros gols mais bonitos da rodada, quiçá do ano. Mas ele sabia que era assim, futebol de várzea, de verdade, não tem torcida, quase nunca. Nem arquibancada tem, muitas vezes. Sem falar do uniforme, cada meião de uma cor, um azul, outro preto, o goleiro sem luvas. Pra quê tudo isso? Era tanta parafernália naqueles jogos do futebol profissional que ele não suportava nem pensar em uma câmera ali filmando, nem que fosse daquelas Super-8 antigas. Quem tinha visto o golaço tinha, quem não tinha, nunca mais.


Era assim todo sábado. Quer dizer, ele não fazia gol sempre, muito menos golaço, que lateral-direito só de vez em quando tem uma chance de marcar. Mas todo sábado ele saia de casa carregando o jogo de camisas pra encontrar os outros dez, que quase nunca eram os mesmos, e ir pra algum campinho de várzea dos que ainda existiam na cidade. Na verdade, imaginava, essa coisa de dizer que os campinhos sumiram não é assim tão verdade, as pessoas que não procuram mais direito. Em dois meses eles já tinham conhecido cinco diferentes, só ali pelo bairro. "Vai ver ninguém tem mais tempo pra jogar bola", pensou, e também todos esses prédios e carros, condomínios privados, a molecada vive agora é no cimento, futebol de salão. Isso quando não prefere gastar o tempo que tem vendo jogo pela TV, desses profissionais. Algo que ele não entendia.

Os narradores eram ruins, cegos, burros. Os comentaristas mais pareciam gravadores, repetiam sempre a mesma coisa, tem que jogar pelas pontas, correr atrás do prejuízo, onde já se viu. Trabalhava tanto pra fugir do prejuízo e vinha uma anta daquelas dizer pra correr atrás. Se fosse um "Desafio ao Galo", quem sabe, aquilo sim era divertido. Futebol profissional não, era demais, preferia mil vezes voltar pra casa enlameado por causa da chuva no campo de terra batida do que assistir aquele monte de propaganda em tudo quanto é canto, camisa, meião, chuteira, até na luva do goleiro. É claro que quando criança sonhava em jogar nos grandes estádios do mundo, Maracanã, Pacaembu, quem sabe um San Siro ou um Camp Nou, Monumental de Nuñez. Mas imagina só, dar entrevista pra esses repórteres altamente idiotas, ia acabar passando por antipático. E aguentar jogador estrela então, nem pensar, marmanjo querendo dar uma de madame não era com ele mesmo. Aquilo não era mais jogo, era um circo, futebol mesmo estava na várzea, tinha certeza.


É claro que, bem, dentro do time ali também existia uma relação de poder, ele sabia. Não era por acaso que o meia-direita habilidoso preferia às vezes não tocar pra ele, mesmo que estivesse livre. Sabia que era considerado inferior dentro do jogo, que cobravam mais dele do que confiavam. E aguentava quieto, porque estava feliz em jogar, apesar de incomodado às vezes, não era pra ser assim. “Será que até aqui aquele bando de propaganda sobe na cabeça da meninada”, pensava, devia ser isso, eram todos muito novos e muito enfiados em casa, assistindo aqueles comerciais. Mas não era por mal, eram bons meninos, companheiros, mesmo que na hora das faltas cada um deles se sentisse um Beckham. Beckham, vê se pode, olha quem eles tem como exemplo de batedor de faltas, nunca tinham visto um Zico, um Rivelino.

É, ele também não tinha, mas seu pai sempre contava, e ele escutava, e via os videotapes da Copa de 70 como quem assiste a uma obra-prima da humanidade, uma das sete maravilhas do mundo. Era aquilo que ele tinha na memória, mesmo que fosse uma memória de algo que ele nunca viveu, pelo menos não presencialmente. Uma história que ele escutou e recriou como sendo sua, e quem pode dizer que não era? Conhecimento se faz assim, de pai pra filho, de história em história, a tal da sabedoria do povo, não com essa coisa de tira-teima, "eu vi, pai, eu vi, dez centímetros impedido", nada disso.

Imagina se um treco desses mostra que quando o meia-direita devolveu a bola ele estava sete centímetros na frente do último zagueiro? Não, aquele gol era dele, só dele e de quem tinha visto, nenhum aparelho eletrônico podia mais tirar, um a zero aos trinta e cinco do segundo tempo, e que golaço. Colocou a camisa pra dentro do calção de novo, enxugou o suor da testa, olhou pra arquibancada convencido de que qualquer um dos 150 mil espectadores ausentes teria dito que aquele gol tinha valido o ingresso.


E foi marcar o ponta-esquerda.

Verdade Paraibana

(não sei quem é o autor)

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Paulo Comelli e a classe

de Leandro Iamin

Paulo Comelli pediu demissão (ou foi demitido, depende da fonte) do Oeste ainda no intervalo da última partida deste time. E se mandou pra casa antes do 2° tempo começar.

Alega que houve interferência em seu trabalho. Que alguém "de cima" lhe pediu que tomasse alguma atitude.

Comelli foi digno, se a visão do acontecido for mesmo essa, simples, rasa, apenas pediram e ele apenas se mandou.

Futebol é cheio de nuances. Tudo é, aliás. Ou cheio de sujeira também, se assim preferir.

Interferência no trabalho de treinador é sim comum. Comelli não me contou que a América foi descoberta ao descortinar esse suposto embaraço.

A interferência tampouco vem só por parte de dirigentes, e muito menos afeta só o cargo do treinador.

Comelli reclamou e saiu de seu emprego, mas eu prefiro observar que ele foi vítima da própria classe. Classe desunida de treinadores que muitas vezes se aproveitam dessas mesmas interferências de diretores, ás vezes de empresários, torcedores, terceiros e quartos.

Classe de treinadores que não se importa com sindicato, não dá a mínima pra ética, pouco busca aprofundar-se no estudo da profissão e seu entorno.

Classe que sabe que é assim, e permite que seu cotidiano profissional seja sempre esse, raspando na troca de favor, esbarrando no tapismo-nas-costas.

O futebol catapultou essa função do futebol muito mais do que a mesma evoluiu no país. Treinador de time pequeno, treinador de base, treinador de ponta, todos sofrem com um descrédito ético que na verdade pouco lutam para combater.

Porque se falta mais visão, mais postura, mais união entre os treinadores, fica muito mais fácil pra um diretor pedir, ordenar, apontar dedo, ameaçar, chantagear, demitir, e contratar outro amanhã.

Dia seguinte: Paulo Comelli deixou o Oeste e assumiu o Sertãozinho. Será que ele está mesmo tão chocado ou preocupado com o que viu 24 horas antes no vstiário do Oeste?

A aldeia de Luís Fabiano

de Leandro Iamin

Luís Fabiano fez mais um de seus gols pelo Sevilla nesse meio de semana, pela semi-final da Copa do Rei. Gol difícil, de cabeça, saltando pra trás e encobrindo o goleiro.

Na comemoração, vestiu um chapéu que é a marca registrada do presidente do clube em dias de jogo.

A imprensa adorou a homenagem ousada do atacante. Os espanhois apreciaram a ideia e sublinharam o tamanho do futebol do camisa 9 da Seleção.

Que joga muito, que é uma fera, que eu aposto como um dos maiores nomes da próxima Copa. Mas que, como não joga no quadradinho da alegria (Milan, Inter, Real, Barça...), vive a ouvir os outros sugerirem que desperdiça sua carreira num time mediano.

Na minha opinião, Fabiano tem bola pra jogar em qualquer time. Gosto dele, mas gosto ainda mais por isso não afetá-lo, isso é, ele gosta do Sevilla.

Não é o maior time do mundo. Ele sabe. Mas tem torcida, disputa coisas, lha paga bem, tem estrutura, história. Precisa ser o maior time do mundo?

Lá ele conquistou títulos, perdeu coisas dolorosas, lá ele alcançou a Seleção, lá ele viu companheiro de time morrer em campo, lá ele tem carinho - campeão ou não. Porque se desesperar em ir passear em outra aldeia?

Quem acha que Luís Fabiano perde tempo no Sevilla, que vá assistir aos jogos do efêmero Chelsea, cujos jogadores mal parecem vinculados à camisa, à Londres.

Acho improvável, mas que bom seria Luís Fabiano encerrando a carreira no Sevilla. Vestindo o chapéu do presidente, sendo aplaudido de pé por uma das cidades mais cheias de personalidade no mundo.

Ser rei em Sevilha deve ser mais legal do que ser só mais um em Madrid.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Sobre São Luiz do Paraitinga

Volto com a alimentação do blog neste ano que mal começa.

Com um aperto em ver o que aconteceu com a cidade de Paraitinga.

Posso dizer que lá vivi dias inesquecíveis, alguns dos melhores de minha vida.

A chuva acabou com quase tudo. Destruiu patrimônios tombados.

Tombar construções antigas e não permitir o devido restauro das mesmas é muito triste.

Queria ir pra lá. Visitar o asilo, a casa da Dona Célia, a praça da igreja e a imobiliária.

Ficarei por aqui. Torcendo por eles. Que o recomeço de Paraitinga seja mais veloz e de mais sucesso que o recomeço deste espaço.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Onde estão seus feriados?

Poucos dias atrás discutiu-se largamente sobre a religião, ou a demonstração exagerada desta, dentro dos campos de futebol.

Os que são contra defendem que o esporte deve ser laico. Que os católicos-cristãos-evangélicos possuem permissividades que os ateus e os demonistas não possuem, o que esbarra longinquamente numa discussão sobre discriminação.

Os que são a favor, sentem-se discriminados.

Agora, o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, proclamou feriado nacional a todos os servidores públicos no dia seguinte à classificação de sua seleção à Copa do Mundo de 2010.

A pergunta que me faço é o que diferencia o moço que não possui religião do que não gosta de futebol.

O caso da religião nos campos virou capa de revista, foi tratado com seriedade virulenta. O feriado do Sr. Lugo, ao contrário, é tratado como pauta divertida, exemplo de como o futebol é bacanão.

Não devia ser. Quem não gosta de futebol deve ter tido a sensação de que parte do país parou um dia por causa de uma coisa irrelevante.

Assim como quem vota no derrotado legitima a eleição do vencedor, aquele que não gosta de futebol é quem dá corpo personal à comunidade do esporte.

E não faz sentido surgir um feriado a partir disso. Quem não gosta de futebol deve gostar, pode ser, de atletismo. Onde estão seus feriados?

Se o futebol precisa ser laico, tampouco um presidente pode exaltar-se assim numa comemoração. E o estado não deve comemorar uma classificação à Copa do Mundo desse jeito.

Ou então deveria fazer o mesmo com outros esportes.

O futebol é o cristão da história. Os outros esportes são compostos de ateus.

Lugo mandou mal. Até porque o Paraguai já está habituado a ir à Copa.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Histórias de Love

O artilheiro do amor que acaba de voltar ao meu Palmeiras me emocionou. No dia da confirmação, confesso que caíram duas lágrimas, uma de cada olho, enquanto comia um pão matinal.

Lembrança com afeto de um tempo bom que vivi. Era meu primeiro ano como universitário, um momento de maturidade, descobertas, mas de Palmeiras na Segunda Divisão.

Fui a quase todos os jogos daquela campanha. Sempre sozinho. Ingressos a 5 reais comprados numa peixaria no Mercadão da Lapa. Protestos contra a diretoria, noites na rua, 2x7 pro Vitória em casa, discussão com Oberdan Cattani.

Seja lá como for, isso tudo foi gostoso e estava debruçado na arquibancada, no primeiro degrau, quando Vagner Love deu, de cabelo colorido, a volta olímpica com a Taça na mão.

A relação com Love é de carinho. No momento mais difícil, aquele menino deu folclore e qualidade, auto-estima e gols. Mas minha relação com Vagner Love vem de antes.

Meu primo se tornou jogador de futebol. Em 2002, ele era juvenil da Portuguesa. Fui ao Canindé vê-lo jogar. Palmeiras x Portuguesa. No jogo preliminar, feito pela categoria mais velha, Vagner estava no banco.

A Lusa foi pro intervalo vencendo, 1x0. Entrou o moleque, camisa 17. Em 15 minutos, ele marcou dois gols. 2x1. O time que tinha Alceu como capitão, tinha também um destaque no banco.

Alguns meses depois, veio a Copa São Paulo de Juniores. Eu passava férias em São José dos Campos, onde o Palmeiras jogou a primeira fase da competição, em 2003. Fui aos jogos, claro.

Na rodada final, era preciso ganhar por 5 gols para classificar. E Vagner não estava em campo. Ninguém no estádio podia supor o motivo do craque alviverde estar de fora. Nem no banco.

Chega o intervalo, e descubro que Vagner está, todo de preto, nas cadeiras do estádio. Vou até lá. Ele dá autógrafos para uns garotos. Eu não quero assinatura.

-Vagner, porque você não está jogando?

O atacante me olhou, fez cara de dor, colocou a mão na coxa, e sentenciou.

-Panturrilha, cara.

Mais tarde, chegando em casa, assisti perplexo o diretor de futebol Márcio Araújo contando a versão oficial da "contusão" de Vágner. Uma contusão que lhe deu o apelido eterno de Vágner Love.

Ele mentiu pra mim, mas gosto dele de verdade.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Qual conclusão se tira?

Estes são os números dos jogos do final de semana, pelas Ligas Nacionais na Europa, em comparação ao Brasileirão.

Nosso futebol é o mais violento do mundo? Ou são nossos árbitros que usam o cartão de forma doentia?



Campeonato Inglês
29 amarelos, 0 vermelhos, 0 expulsos

Campeonato Alemão
24 amarelos, 0 vermelhos, 0 expulsos

Campeonato Francês
33 amarelos, 0 vermelhos, 2 expulsos

Campeonato Turco
45 amarelos, 0 vermelhos, 1 expulso

Campeonato Português
35 amarelos, 0 vermelhos, 1 expulso

Campeonato Holandês
37 amarelos, 0 vermelhos, 1 expulso

Campeonato Brasileiro
58 amarelos, 4 vermelhos, 9 expulsos.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

E se fosse ontem? - SANTOS MÍSTICO E DEDO-DURO

(Trata-se de uma ficção. O que aconteceria se fatos atuais acontecessem em outra época, quando a história, as lendas e os folclores eram criados com mais frequancia que hoje?)

Foi uma época estranha, aquela do Santos FC. Na esteira da década de 50, onde o clube praiano começava a montar aquele que foi o seu maior time de todos os tempos, um caso curioso incomodou todos os diretores.

Havia alguém passando informações internas para os jornais. Um "dedo-duro". Notícias de bastidores, papos de vestiários, intrigas e balões de ensaio, tudo saía no jornal e ninguém sabia de onde vinha.

Quando o treinador santista esbravejou publicamente e prometeu caçar o responsável por aquilo, um jornal da região deu a manchete: "DEDO-DURO SANTISTA É ALVO DE CAÇA". Isso explica, naturalmente, que no jogo seguinte, contra a Ferroviária em Araraquara, a torcida do Santos tenha ensaiado um canto de "deeeeeedoooo".

Essa é a explicação para o apelido santista, que perdura até hoje.

Mas isso não foi tudo, claro. Os dedo-duros praianos foram o centro de outra grande polêmica. Tudo porque um volante foi afastado do time, provavelmente por motivos de curandeirismo. Um pai-de-santo havia dito que era ele o problema da falta de harmonia espiritual do plantel.

O jogador ficou marcado por isso, chegou a ser marginalizado, e o Santos, então, virou piada por esta estranha e mal contada história. Seja como for, dias após o afastamento, chegou na cidade o menino Edson Arantes do Nascimento. O inigualável Pelé, que, nos primeiros relatos jornalísticos com a camisa branca, era também citado como o "Craque Místico", numa insinuação de que seu futebol devia-se à depuração espiritual santista.

Para completar esta fase santista, não podemos nos esquecer de um lateral-direito limitado, que jogava pelo Vasco e foi vendido ao São Paulo. Sem sucesso nas chances que teve, o jogador foi emprestado ao Santos. Novo fracasso.

O Santos, então, quis devolver o atleta ao São Paulo, de graça. O Tricolor não quis a devolução, e, por sua vez, devolveu o jogador ao Vasco. O jogador voltou ao seu clube de origem, sendo que todas as transações após a primeira aconteceram de forma gratuita.

Não à toa, o jogador ficou conhecido como "Nem-de-Graça" até o fim de sua carreira.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

O campo e o teatro

O futebol têm suas leis intangíveis, têm sua moral própria, interna.

Muitas vezes se assemelha com o mundo fora das 4 linhas. Algumas vezes é o contrário.

O Brasil possui, na várzea, um tesouro. Um dos únicos argumentos possíveis de quem defende ser o Brasil o "país do futebol".

Jogo na várzea toda semana, e preciso disso. Competir no campo, para não precisar competir em outros setores da vida.

Ter adversários lá dentro, pra redimensionar e relativizar os amigos e as relações fora dalí.

Meu time estava em uma crise braba. Muitas derrotas. E enfrentaria seu maior rival. Eu queria encontrar respostas.

Era o capitão. Deixei de ser. Usava uma camisa. Mudei de número. Era lateral. Fui pra zaga. 2° tempo: 0x3.

O time em conflito interno, xinga-se. Lance comum, e eu arranco da zaga. Quando vejo, passei os zagueiros deles, e recebo a bola. 1x3.

Caio de joelhos e choro. Pra mim, aquela arrancada e aquele gol já me eram uma resposta. Porque o futebol tem dessas mensagens dissociadas do sucesso.

O jogo, na lama deliciosa da várzea pós-chuva, fica tenso. Pancadas, provocações, e eu passo pra lateral, em virtude do arranque do 1° gol.

Um deles desaba. A bola vem pra mim. Não respeito o tal "fair play", vou pra cima da marcação. Recebo pontapé. O jogo pára para o atendimento, e para as ameaças.

Entre cotovelos e solas, bato mais boca e ganho um escanteio-com-solada. Vou pra área. A bola vem. Em dou passos pra trás e tomo um soco no rosto.

Ainda assim, sai o gol. Gol com soco. Confesso, não vi. Tive que revidar a agressão. Alguém me agarra e me lembra que está 2x3.

O jogo fica frenético desde então. Lance final. Escanteio. Eu corro e pego a bola para cobrar. Nunca cobrei um escanteio na minha vida.

Reclamam e me cobram pelo ato. Irredutível e irresponsável, eu cobro. E o gol de empate sai, de cabeça. Caio no barro, às lágrimas, enquanto ouço uma porção de espectadores cantarem meu nome.

Em qualquer outro lugar do mundo, eu ficaria triste, Frustrado, por tomar um soco, revidar, provocar, afrontar.

Mas, nos contextos de um jogo de futebol, o peso das coisas muda.

Não sou inimigo de quem me bateu. A briga lá dentro não é pessoal. "Pára de brigar porque foi gol" é o argumento que bastou. Pra um lado e pro outro.

Acabo de viver o jogo mais maluco que já joguei. A vitória não veio e isso não é importante. Meus gols e assistências também não me são o mais importante.

Importante, pra mim, alí, foi poder sentir na pele o que há de mais primitivo, primordial e fundamental neste esporte.

Em cada campo de várzea vivem os mesmos anjos e demônios que rabiscam enredos improváveis em tudo que é canto do futebol.

A sorte é que, enquanto existem esses campos, a gente pode, por algumas vezes, ser a estrela daquilo que, pela vida toda, assistimos, apenas assistimos.

Futebol e o meu mundo real

Em 2005, após a classificação do São Paulo para a semi-final da Libertadores, eu, palmeirense, tive o que mais pode se aproximar de uma certeza inequívoca. Meu coração ainda estava fragilizado com a eliminação, dias antes, de meu time na mesma Libertadores, para o mesmo São Paulo. Era preciso estar antipático aos meus algozes.

Na boca do vestiário, Rogério Ceni responde apressado para muitos repórteres. Um deles faz uma observação sobre estar a apenas 4 jogos do "desejo tricolor". Pela primeira vez naquela entrevista forçada, Ceni move o pescoço e procura o interlocutor. Olha bem para o jornalista e o interrompe. "Eu não desejo ganhar a Libertadores. Eu preciso".

Eis minha sensação de certeza. Seria muito difícil tirar aquilo do Tricolor.

Na época eu era um estudante de jornalismo. Dos 4 anos de faculdade, passei mais de três deles caindo em entrevistas e concursos de emprego. Um mísero estágio aqui, dívidas alí, bicos, e, faltando 5 meses pra formatura, estou diante do que pode ser minha última entrevista de trabalho como estudante.

E nela, me lembrei de Rogério Ceni. Eu precisava do trabalho. Citei a mesma frase dele (porque você quer trabalhar conosco?). Ganhei o trabalho e nele fiquei por 3 anos. Não foi pelo uso da frase de efeito. Mas minha situação alí poderia ser comparada a de Ceni, lá.

E estou falando de um vilão palmeirense. Mas poderia falar de mil outros exemplos vindos de São Marcos, de minha infância com Evair, de Scolari, as Copas do Mundo, os sul-americanos sub-20, cada chuva e cada sol em cada jogo que vi e que joguei, o futebol no vídeo-game, no estrelão, no tapete de casa.

O futebol é capaz de traduzir em forma de metáfora todas as minhas experiências relevantes. O futebol é a coisa que me dá a leitura alternativa de minhas próprias vivências. Cada um tem, ou deveria ter, a sua própria poesia intangível, seja ela uma religião, uma banda de música, novelas, o que for, algo que nos absolva e nos dê a oração sem ladainha, nos dê a canção sem aula de partitura.

No meu caso, é o futebol. Que me explica a fé, me mostra os opostos, ensina a me propor perder para poder ganhar, e me dá pequenas coisas que me fazem todo sentido e que nunca saem de mim, me formam o caráter, me fazem não ser tão pesado o tempo todo.

O mundo do futebol explica o mundo real também nas imperfeições. Seria chato e sem sentido se assim não fosse. Os rebaixamentos e os terremotos estão quites. A beleza pode ser triste, a tristeza pode ser bela, tudo é uma questão de leitura.

Uma questão de saber interpretar, saber ser ponderado para ouvir o futebol, terno o suficiente para entender suas ironias. É preciso tato, para não levar tão ao pé da letra, ou ao extremo possível, um goleiro "precisar" de uma conquista (ou um garoto de um emprego).

E é preciso compreender que, no futebol ou na vida, nem toda mensagem é objetiva e justa, algumas delas sequer são alcançáveis, muitas são utópicas, inclusive. Mas existe um pensador chamado Sócrates, aquele Brasileiro, ex-Corinthians, que disse sabiamente que "quem não tem utopia, já nasceu morto".

E até isso o futebol nos explica.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Palmeiras sem TV

Da segunda metade da década de 70 até o fim da de 80, produzimos nossas primeiras imagens de ótima qualidade, de fôlego, profundidade e bastante replicadas.

Antes disso, muitos gols, mas poucos compactos, poucos teipes, pouca nitidez. Depois disso, os "tempos modernos", que, mesmo que seja reprisado, não tem o mesmo glamour.

Essas imagens dos anos 70 e 80 são deliciosas. O áudio, os rojões e as bandeiras simples nas bancadas, as formas de narração, os uniformes mais tradicionais, imaculados e sem calções misturados, o visual dos atletas, a bola, a rede, tudo! É sempre um deleite ver essas imagens.

Formam as novas gerações de amantes do futebol, que assistem a isso para entenderem o presente.

Pois bem. Ao palmeirense, é aflitivo notar que esses anos "áureos" do romantismo visual com o "rec" ligado foram anos de nenhum título.

Imagens como Serginho Chulapa fazendo o gol de 84 pelo Santos, ou o calcanhar do Sócrates em 82, o carrinho de Viola em 88, os Menudos do São Paulo de 85, a década de Zico no Maracanã, são, todas elas, formadoras de nossa relação afetiva com a bola.

E essa época, embora tenha o mesmo peso histórico das outras, é mais repetida, mais vista, com mais carga emocional. E isso agride um pouco o palmeirense.

Primeiro, porque os dois Brasileirões conquistados pelo Verdão, em 72 e 73, foram, desgraçadamente, com dois 0x0, e não há muitas boas imagens sobre isso, tampouco dos Robertões e Taças Brasil de antes.

E, sobretudo, de toda essa safra deliciosa de imagens saborosas, o palmeirense tem 3 pequenos "grandes momentos": a despedida de Ademir da Guia, o 4x1 sobre o Flamengo no Maracanã em 79, e o gol feito pelo juiz José de Assis Aragão, em 83, num Palmeiras x Santos.

É como se o hiato de títulos palmeirense tivesse acontecido justamente na época mais reprisada.

É uma questão estética importante, contribui para a formação do caráter do novo torcedor, que tem nas cores e nuances dessas imagens algo como uma aula, uma conversa com o avô.

Um golpe de azar, de certo. A fila de 23 anos do Corinthians não é rica em imagens. Mas o título, em 77, é um documento que qualquer arquivo de Tv possui na íntegra, o que contribui, inclusive, pra mística da conquista.

O Palmeirense precisa sa resignar por isso, ou esperar que as imagens da década de 90 se tornem velhas.

Mas, mesmo assim, é diferente. A primeira geração altamente gravada e televisionada de nosso futebol foi ingrata ao Palmeiras.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

MAURO BETING, TARANTELA NA DISCOTECA

Minha outra Paixão - Mauro Beting

“Essa série tem a intenção de entrevistar jornalistas esportivos, sobre uma paixão não-jornalística e não-esportiva”


* * *


Mas aí você há de perguntar: quem não gosta de música? É verdade, eu não conheço ninguém que, alegadamente, rejeite ouvir qualquer som. Mas aí eu vou ponderar: você conhece de música napolitana? Apresentou programa de rock, foi colunista de revista musical? Fez a lista de músicas do seu casamento, tem uma gigantesca coleção de hinos? Faz fitas para amigos, trabalhou alguma vez como DJ?

Mauro Alexandre Zioni Beting responde sim a tudo isso. Parte de sua carga melancólica é sequela de anos e anos ouvindo música, sentindo-as, respeitando-as. O comentarista da Rádio Bandeirantes (e apresentador da Band Sports, e colunista do Lance!, entre outros, sei lá, trinta trabalhos) me recebeu no estúdio onde participa do programa Esporte em Notícia. Ao seu lado, “apenas” Claudio Zaidan, José Silvério e Sérgio Patrick. O privilégio de estar alí não termina por aqui. Beting não se contém com jingles de propagandas, e dança animadamente em homenagem a alguns. Quem viu, viu. Indiferença musical não é com ele.

Aguardo sem pressa o programa encerrar-se. E topo seguir Mauro até a cantina do complexo Bandeirantes. Antes disso, ele finaliza uma pesquisa sobre Grandes Finais de Campeonatos Paulistas, derruba um copo de água na mesa do estúdio, e limpa usando um jornal velho que estava surrado dentro de sua pasta.

Fácil entrevistar Mauro Beting. Os primeiros dez minutos de conversa foram um rasgo só, não deu tempo para que eu fizesse sequer uma pergunta completa – e no entanto ele respondeu várias perguntas espontâneamente. O papo passou por família, pela frustração de não tocar instrumento e não saber cantar, sua carreira pouco reconhecida de compositor, e, também, pela relação de futebol com música. Tendo a participação desafinada do comentarista Neto, que chegou e sentou-se conosco, Beting, entre filmes, seriados e shows, mostra-se mesmo um amante da música. Segue aí.

Mauro, grande Mauro, sua outra paixão é...

Sem contar família, futebol... Eu diria que minha maior paixão é a música, concorrendo muito de perto com cinema e televisão, seriados de televisão, não a programação normal. Agente 86, Wonder Years, Friends, Seinfield, 24 Horas... sou aficionado, e são seriados que poderiam ter passado no cinema. Quando penso nos grandes filmes de minha vida, como Era Uma Vez na América, a saga do Poderoso Chefão, eu penso que eu amo esses filmes, também, pela trilha sonora. É o casamento da trilha sonora com a cena que fazem algumas coisas ficarem absolutamente inesquecíveis.

A paixão então é a música em contextos, em parcerias.

O casamento da imagem com a música é maravilhoso. Se você fechar os olhos não consegue ver um grande filme. Mas consegue ouvir uma grande música. E a grande canção vai às vezes te trazer não só memórias afetivas, como vai te levar, te reportar a um outro tempo, um tempo que você viveu, gostaria de ter vivido, projeta viver no futuro, coisas que gostaria de viver, através daquela realidade mágica que a música te transporta. Entao eu nao vejo nada mais completo do que música.

Em quais outras atividades a música revoluciona?

Clipes. Clipe de gols, clipe de meu filho... Se você acerta a música, sai de baixo , mas se erra... Se colocar Calypso, nem a lua-de-mel com sua esposa vai ser salva. Te dou um exemplo de The Way to Look Tonight, que me lembra a noite de encantamento com minha mulher, que é do Tony Bennet (e se o Tony cantar pra mim o hino do Corinthians, eu vou adorar). se eu começar a falar de música eu não vou parar, seja ela de 1m58, como Great Balls of Fire (Jerry Lee Lewis), que foi a primeira vez que meu corpo, com nove anos, imaginou o que poderia vir a ser amor e sexo (risos), e me incendiou, até tantas coisas maravilhosas que só de ouvir... eu choro. Eu sou desses que chora. Fui ver o Roger Waters em 2007, no Morumbi, e eu tava preparado para aquilo, sabia que ia ouvir aquilo, mas no primeiro acorde de Wish You Here, chorei no Morumbi como jamais chorei em vitórias ou derrotas do Palmeiras.

A sua primeira recordação musica, então, é...

Eu existo por causa da música, de certa forma! Os meus pais se conheceram em uma rádio, em São Paulo, chamada 9 de Julho, onde minha mãe era produtora, e meu pai era locutor de um programa chamado Bombons de Música para a Petizada, um sucesso no final dos anos 50. Aí deu no que deu. Eu cresci num ambiente musical, no sentido de ouvir música. Meu pai toca até um banco, se um banco for dado a ele. Harpa, violão, toca tudo que der pra ele. Minha mãe não, e uma grande frustração minha é não saber tocar nenhum instrumento. Minha mulher se vira no piano, ta aprendendo violão, meu filho mais novo ta aprendendo guitarra, o mais velho bateria, então eu fico imerso na música mesmo sem saber tocar.

E quais os horários que você se relaciona com a música?

Por vezes eu trabalho ouvindo musica. Um ouvido no estádio, e o outro ouvindo música. Escrever, quase sempre é com música. tenho discernimento que tenho que cantar pra mim mesmo. Quando moleque, queria tocar todos os intrumentos, ou quase todos....tuba, não (risos). Repenso seriamente em aprender gaita. Mas passei por fases de querer tocar todos os intrumentos. Eu infelizmente nao consigo ouvir tudo que eu quero. Então prefiro ouvir o máximo que consigo a perder tempo me ouvindo tocar.

E a questão da música e as relações pessoais, amigos e tal?

Uma virtude que eu tenho é uma coisa meio DJ: posso não lembrar o nome da pessoa, de onde a conheço, mas se ela me disse que gosta de Rolling Stones, eu não me esqueço. Sou um bom DJ no sentido de saber misturar os sons, e já era assim quando eu fazia fitas para amigos. É uma delicia, um prazer que eu tenho, mostrar músicas para as pessoas, mixar, casar, e esse é um lado meu "compositor", de juntar sons. E me dá uma vantagem que eu tenho que saber fazer também no jornalismo, que é saber ser plural, o mais plural possivel. Então, a princípio, não tenho preconceitos, busco ser eclético. Eu adoro por exemplo musica napolitana, gosto de todo tipo de blues, gosto de jazz, e também gosto de coisas inconfessáveis, como Abba...

Quais são as suas músicas engatilhadas?

A do celular é de uma banda chamada 10.000 Maniacs, chamada Gun Shy. Gosto muito deles, os elementos folk e a vocalista, Natalie Merchant, tem uma voz muito característica. É uma musica que me lembra momentos marcantes de minha vida, e uma banda que me remete ao amor pela minha mulher, pelos meus filhos, então me toca muito sempre. U2 e REM são bandas que estão sempre comigo. Pink Floyd não está sempre comigo porque não é algo pra se ouvir a qualquer hora , Stevie Ray Vaughan está sempre comigo. Quando ele morreu em 90 foi como se tivesse morrido um amigo. Na musica napolitana é um cantor que grava temas de desde o seculo XIII... Roberto Murolo.

E esse gosto por música italiana?

A música italiana é aquela do Cantautore, dos anos 60, de Luigi Tenco, Sergio Endrigo, isso me cativa muito por ser a musica que eu ouvia em casa quando era menino. A música napolitana é uma particularidadde mas eu tento disseminar. Estou devendo inclusive um CD para o Carlinhos Neves (preparador físico do São Paulo), que é um baita cara culto. O Murolo eu dei pro Nasi, que é um cara que gosta mais de músicas calabresas, de preferências ligadas à máfia, coisas do Nasi (risos). Mas eu sei até onde dá pra ir. Quando vou ser DJ na Funhouse, por exemplo, eu não vou colocar música napolitana, eu me adequo aos ambientes, mas fico feliz em ser o primeiro no ciclo de amigos a mostrar aos outros U2, REM, entre outros.

Disseminar música italiana deve ser complicado, poucos gostam aqui...

Em 1995 fui de lua-de-mel pra Italia com minha mulher. Pouco antes meu pai voltara da Italia e trouxe um disco de um cara chamado Bocelli. Gostou da capa, ouviu, gostou da música e me trouxe. Na época eu mostrei pro diretor da rádio onde trabalhava, a música Com Te Partirò. Argumentei que era bonita e comercial pra cacete, mesmo que não fosse o perfil da rádio, tal e coisa. Bom, passou um ano, e ele tocou na novela, foi um mega-sucesso e o Andrea Bocelli é uma estrela até hoje.

Na Itália a ópera é forte, musicalmente. Você gosta?

Não gosto propriamente de ópera. Mas gosto de algumas árias, e algumas que acabam me matando, como Una Furtiva Lacrima, Nessun Dorma, muitas das mais populares, mas essas me derrubam. Uma das poucas coisas que exigi no meu casamento foi escolher as músicas da cerimônia e da festa. Tocou, na entrada dela, um tema operístico que é muito importante pra historia minha com minha mulher, que se chama Va Pensiero, que é quase um segundo hino italiano. E terminei com Amapola, uma versão que é também do filme Era Uma Vez na América.

Juntando duas paixões: um personagem de seriado e uma trilha sonora:

Adoraria ter o humor do Seinfeld, e resolver os problemas como Jack Bauer (risos). Gostaria de ser o Kevin Arnold. Nada supera Kevin Arnold.

Considerando que música é um gosto universal, aonde sua paixão passa essa média?

Quando eu escuto sozinho, acho. Tenho um problema em escutar sozinho (nesse momento, Neto, ele mesmo, interrompe a entrevista, e senta-se conosco). Tem música que ao pegar a introdução, como por exemplo Five, do Living Colour, poderosíssima, eu escuto umas 20 vezes seguidas. Acho espetacular. E isso pode ser um problema pois irrita os outros. É chato pra quem tá do lado se eu fico repetindo trechos de música. Quando eu trabalhei com música mesmo, não como DJ, mas como crítico musical na Bizz ou no programa na Brasil 2000 com o Kid Vinil, eu tinha tempo para me dedicar muito mais a isso. Era uma delícia, se eu pudesse ficava de DJ o tempo inteiro, e só não to trabalhando hoje com algum programa de música porque... (“Porque senão você vai ver tua mulher que hora?” emenda Neto) Exato! Neto acaba de resumir a resposta (gargalhadas).

E suas investidas como DJ?

Discotequei na Funhouse em 2008, esse ano de novo, e tenho um projeto de discotecagem, com o Simoninha, mais de música brasileira, que eu também adoro e tenho material. (Neto toma o gravador e faz uma pergunta indecorosa a respeito do prestígio e da sexualidade dos DJs. Perde-se algum tempo até que voltemos ao assunto publicável).

Outro gosto seu é por hinos. Confere?

A internet é sensacional e muito me ajudou nisso. Eu apareci em muito lugar falando dessa minha outra paixão. Na Copa de 98, Alemanha x México, eu transmitindo pela Band. o nome Beting é alemão, eu acho o hino alemão belíssimo, e se eu estou num estádio, num jogo desses , e toca um hino com aquela carga, eu choro mesmo. E nesse jogo em especial eu me emocionei um pouco mais, e ao fim do hino a transmissão veio pra mim, mas eu não tinha condições de falar. No Italia x França, poucos dias depois, eu não tava transmitindo o jogo, mas chorei também com os hinos, o estádio de Saint Dennis inteiro cantando junto a Marselhesa (“Pô, Napoleão é o maior filho da p...” , observa Neto. “Mas o hino é maravilhoso”, retoma Beting).

Sua coleção deve ser extensa...

Quando eu era moleque meu vô me deu um LP com 14 hinos nacionais. Eu jogava futebol de botão, e aí botava o hino, deixava os botões alinhados, pegava uma caixinha de fósforos e simulava que esta era uma câmera andando rosto a rosto nos jogadores. O hino da Turquia, que não tinha time forte na década de 70, era meu curinga, todo time que eu não tinha o hino usava o hino da Turquia.

É bom lembrar que, sobre hinos, você tem inclusive composições, né?

Minha curta carreira como compositor de hinos existe, sim. Eu fiz o hino do meu time de Campos do Jordão, que se chama Palestra. Também fiz um hino alternativo para a Albânia, que é assim: (aqui, um artifício de áudio serviria para ouvirmos um trecho desse hino, que, inclusive, é o único hino nacional que espinafra uma nação desafeta. Mas Beting já disse mais acima que tem discernimento sobre seu talento como cantor. Se ele disse, tá dito, não gostou, reclama com ele).




Nota do editor: Mauro Beting, gentil como sempre, me ofereceu uma carona após a entrevista. Topei. E em seu aparelho de som estava tocando Laurin Hill.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Vélez: um campeão borrado

Com 36 anos sem título, o modesto Huracán contava com toda a torcida argentina. Com chuva e atraso, o Vélez, em casa e pela vitória, bancava o vilão contra o Huracán, a quem bastava empatar.

O jogo começou veloz, aberto. O Huracán estava à vontade, trocando passes, mas o "furacão" não foi mais forte que a chuva de granizo que interrompeu o jogo aos 18, por cerca de 20 minutos.

Esses 20 minutos foram de insistentes replays: um gol legítimo do Huracán foi anulado, por impedimento. Nem polêmico o lance foi: posição legal!

Na volta, o Vélez controlou o jogo. Vertical, com pontas abertos ganhando o fundo, e o Huracán se encolheu. Aos 24, Araujo derrubou Martínez, e dessa vez o juiz acertou. penalty pro Vélez.

Monzón caiu pra sua direita e espalmou pra fora! No escanteio, Arano tirou, de cabeça, em cima da linha. El Globo passou ileso por dois lances agudos, mas continuou sem conseguir ser cadenciado como gosta.

Martinez, camisa 7 azul, caía pelos lados, objetivo e veloz como um Euller. O Vélez imprime um ritmo forte, e tem seu melhor momento no jogo. Mas de nada adiantou.

No final da primeira etapa, o Huracán deu dois enormes sustos, com uma bola no travessão, inclusive. Mas, de novo, a confiança do visitante foi freada pelo juiz: intervalo.

Na etapa final, o Platense foi sincero em posicionar-se muito recuado, com uma linha de 5 atrás, tendo um líbero. Isso neutralizou os lances de velocidade de Los Fortineros, obrigou o meio a pensar mais.

Mensagem dada, reação tomada: Larrivey, atacante de área, entrou no lugar do laeral Dias. O Huracán responde colocando um atacante descansado e de velocidade, Cesar González.

Nas trocas, o Huracán se deu bem. O Vélez não teve mais calma pra bolar soluções. Faltando 20 minutos, Velazquez, rápido mas nada prestigiado com a torcida, uma espécie de Denílson, entrou para "salvar" O Vélez.

A pressão não surtia efeito. Até que, num balão aos 40, o Vélez venceu a zaga e Larrivey teve sua chance. Porém, ele atingiu o goleiro em falta escandalosa.

O árbitro ignorou, e, no rebote, Maxi Moralez empurrou pra rede. É o gol do título fortinero.

E o início da perda completa de compostura do time prejudicado. O autor do gol sofre cãimbra e vai expulso, por tirar a camisa. O jogo não anda.

A bola rola, e num arremesso lateral, uma bagunça é armada entre os bancos de reservas. o jogo não anda.

A bola rola de novo e Larrivey se indispõe com a zaga do Globo. Empurra-empurra, sopapos, e Sebá, zagueiro do Vélez, aquele mesmo ex-Corínthians, aparece com o rosto cheio de sangue.

O jogo não anda. São 58 minutos, e o árbitro Gabriel Brazenas apita o final da Final, que ele apitou tão mal.

O Vélez é o novo campeão. Posto que a Argentina toda havia adotado o Huracán para apoiar, os lances controversos à favor do novo campeão serão lamentados por dias e dias.