quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Muitas palavras sobre divisão de torcida

A situação é delicada. Pode ser tratada com tinta de praticidade, mas é delicada.

Antes de tudo: ninguém trata dignamente o torcedor. Nem o próprio torcedor se trata com dignidade.

Esperar que o São Paulo, ou qualquer clube, pense, cheio de bondade, no conforto do torcedor visitante, é como querer que a TV Globo pense nos torcedores quando ajusta horários de partidas.

A Globo já quis ajudar o futebol brasileiro, e passaram-lhe a perna, no fim da década de 80. E, antes do clube, a federação, a confederação, a polícia, a empresa que cuida do guichê, as torcidas organizadas e outros setores também precisam rever o tratamento a se dar ao torcedor, tanto o local quanto o visitante.

Digo isso pra mostrar que entenderia uma ação danosa ao visitante feita por qualquer clube, em troca de benefício próprio. Claro, preferiria que fosse diferente, mas, no nosso futebol de hoje, não condeno ações egoístas, já que ninguém é obrigado a ter a grandeza e a generosiade de acreditar em algo ou alguém relacionado ao nosso futebol.

Isso posto, devo dizer que sinto saudade dos tempos de guichê único. Era comprar, e pronto. Na hora do jogo, a corda e os cavaletes iam cedendo espaço para a torcida que tivesse comprado mais. Era sempre uma surpresa. Era gostoso e democrático.

E era melhor uma corda que um ferro, ou um vidro à prova de bala. Torcedor não é animal.

Acontece que esse expediente cabe em estádios como Morumbi, Mineirão e Maracanã, que possuem uma compleição física favorável. Mineirão e Maracanã são públicos. O Morumbi, não.

Na Vila Belmiro, no Parque Antarctica e no Pacaembu, com arquibancadas assimétricas, não é possível fazer o mesmo esquema dos estádios citados acima. Não é nenhum absurdo, então, imaginar que o SPFC pode sentir-se prejudicado, por ter seu estádio e dividi-lo, ao passo que quando visita Palmeiras e Santos, fica espremido, e quando vai ao Pacaembu, tem só uma cabeceira.

Trata-se do assunto essa semana como se fosse uma novidade. Não é, já fazem alguns anos que clássicos na cidade, fora do Morumbi, possuem divisão diferente de 50/50%. O que, aliás, semanticamente, já queba meu desejo romântico do passado: o esquema do guichê único, onde quem comprar mais empurra a corda pro lado adversário, não prevê porcentagem alguma. 50/50% já é uma divisão, por definição.

A forma de conduzir a notícia está errada. Nossa cidade está traumatizada. Somos o túmulo da arquibancada, como diz meu amigo corintiano Gabriel Brito. Nada pode, nem faixa, nem bandeira, nem um sanduíche na entrada. Gabriel é um exemplo de torcedor comum, que vai a todos os jogos. Todos. Que acreditou que seria recompensado por isso, por acompanhar o time na serie-B, e que agora veria seu time por cima, com ou sem Fenômeno.

Mas aí, Corinthians x Palmeiras foi pra Presidente Prudente. E Corinthians x São Paulo, ele não achará ingresso, pra não falar de segurança. Contra os rivais, está excluído. Contra o Mirassol numa noite de quinta-feira, ele estará no Pacaembu, fiel, pagando o alto preço pelo péssimo serviço do Pacaembu. É justo?

É o tipo do caso em que entendo todos os lados. Portanto, o tipo do caso em que eu tendo a imaginar um meio-termo.

Acho razoável, num jogo que se prevê de enorme público corintiano, deixar uma cabeceira, atrás do gol, só pro torcedor alvinegro. No caso contrário, acharia razoável o Tobogã ser tricolor. O SPFC quer dinheiro, o futebol cobra isso de todo time. O Palmeiras e o Santos "abriram mão" de dinheiro para terem o fator campo contra o São Paulo.

Mas o São Paulo, diferente do que fez nos mil anos que se passaram, está disposto até a não lotar o Morumbi, contanto que sua torcida seja maior, e que isso acentue o fator campo. No Brasileirão e no Paulistão foi assim contra o Palmeiras.

Tem muita letra aqui em cima, e poderia ter muito mais. É um assunto que evoca tradição, bom-senso, política, segurança, torcidas organizadas, dinheiro. E que permite muitas interpretações, todas elas com certa dose de razão.

5 comentários:

ortsiger disse...

Vinícius já disse que São Paulo era o túmulo do samba.
Diga-se de passagem uma das frases mais infelizes que cercam o bairrismo no Brasil.

Mas essa definição de túmulo da arquibancada é perfeita.
Não pode bandeiras, mas pode instrumento musical como bumbos, caixas, repiques ?
Fora a "proibição" na venda de bebidas alcoolicas no estádo e em suas cercanias.
Será que ninguem de bom senso na reunião onde isso foi votado não argumentou que o cidadão poderia encher a cara em casa e ir pro estádio ?
É a rainha das hipocrisias.

Quanto a esta "polêmica" dos ingressos, só achei um pouco ácido a nota oficial emitida pelo SCCP ontem.

De resto concordo que o SPFC ou o Tabajara destinem 10% ou mais, 20% que seja, da carga de ingressos totais emitidos para um jogo.

A utopia de 50/50 é para quem viu jogos nas décadas de 60,70,80,90.
Na Argentina, Boca e River não são 50/50.

Tottenham x Arsenal tambem não são 50/50 e nenhuma diretoria chora as pitangas ou emite uma nota oficial dizendo que isto rompe um antigo costume e acaba com a harmonia necessária que deve nortear (sic) a relação entre os clubes brasileiros, quiçá paulistas.

E complementando que essa decisão
da diretoria tricolor é desastrosa e que o raciocínio é simplista e egoísta pode causar anomalias irreparáveis ao público.

Anônimo disse...

Pois é...
Todas as visões são válidas, mas o que o Tricolor pleiteia não é nenhum absurdo, visto que os outros times fazem o mesmo...
Absurdo são as galinhas ficarem chorando... ao invés disso, deveriam construir seu próprio estádio...

Saudações Tricolores,

Rafael
(rumo aos Emirados Árabes)

Anônimo disse...

Uma tristeza a atual situação de nosso futebol...

belo texto!

Anônimo disse...

Muito legal o que todo mundo fala. Mas no mundo em que vivemos hoje, não existe espaço para romantismo na divisão de torcida.
A Europa que é a Europa sabe disso. Dividir as duas torcidas ao bel prazer dos espectadores seria lindo. Há 20 anos!!! Hoje esse expediente não é possível em face à selvageria que é o ser humano hoje.
Ir a um clássico hoje, infelizmente, é exercitar a coragem em seu mais alto grau.

Brasileirão disse...

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