quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Bezerrão Stadium

Por Davi Agathocles

Sempre se ouve falar sobre a ilusão do crescimento existente no Brasil. Meio mambembe, nas coxas, aos trancos e barrancos (e também barracos), nosso país tentou moldar-se semelhante potências mundiais.

E onde se veria esse reflexo? No futebol, é claro. Todos os anos alguns pregam a adequação do nosso calendário ao futebol europeu, que nossos times devem ter planejamento de pais moderno, e os nossos estádios? Esses são verdadeiros desastres para os que analisam o futebol desta forma.

Não estou aqui para defender nossa estrutura. Ninguém é capaz de dizer que nossos estádios são verdadeiros oásis de conforto. Porém, não se deve ignorar que neles estão contidos fatos e relações históricas, maiores do que qualquer pilar construindo por algum conglomerado de empresas.

A final do campeonato brasileiro trouxe-me a possibilidade de conhecer um desses estádios novos que estão sendo construidos rumo a 2014. O Bezerrão no Gama – que eu tinha visto na TV – seria o palco do Hexa do tricolor. Logo de chegada eu fiquei surpreso. Uma grande estrutura se apresentava à frente, impressionando não só eu, mas todos os que me acompanhavam. “Pelo menos, parece que meu dinheiro foi bem gasto”, brincou um dos meus colegas.

Mais próximo já me senti mais habituado: as filas desorganizadas demonstravam que um velho vício persiste nesse estádio moderno (??): tratar mal o torcedor. Passando a fila, entrei nas arquibancadas do estádio. E lá ficou mais a mostra...

Sinalização deficiente, banheiro pequeno, pessoas despreparadas para dar informação, uma estrutura enorme, ao lado de uma arquibancada pequena e mal equipada. Esse é o retrato do modernismo brasileiro. Lembrou-me a proclamação da república, quando os burgueses conclamavam o avanço nacional e o povo bestializado na rua se perguntava o que era essa tal de república.

Voltando ao início desse texto. As lembranças são laços que estabelecemos com pessoas e com alguns locais. São os resquícios emocionais que travamos com acontecimentos externos. E num estádio, diante de um jogo que transpira paixão, as arquibancadas se tornaram o elo entre os corações pulsantes dos torcedores e seus times em campo. Destruir isso é dizimar sentimentos. (O negrito é meu)

Está bem, mas o que tem a ver uma coisa com a outra, pode você perguntar. Quando se fala em Arenas, se prega o modernismo, o progresso, a máxima potencialidade... E onde ficamos? Nas toscas arquibancadas ou em casa vendo os jogos onde o ingresso custando mais de 100 reais – um quarto do salário mínimo. E sustentando o desenvolvimento tacanho, presente para mim, naquela estrutura do Bezerrão.

Não sou contra algo que seja confortável e seguro para qualquer pessoa. Mas a partir do momento que o preço disso seja excluir aqueles que sempre foram lá fazer sua festa e colocar o consumidor no seu local, tenho por obrigação me opor.

3 comentários:

KK disse...

Diversão é diferente de entretenimento. O futebol parece cada vez mais caminhar para o segundo, elitizado, excluindo a maioria da população.

E o engraçado é que esses tais elefantes brancos são construídos com dinheiro público, ou seja, com o bolso do povo, justo esse que fica de fora de um estádio com ingressos a 150 reais...

Aliás, para mencionar, belo texto...

Unknown disse...

Obrigado pelo espaço Leandro.

Infelizmente parece que a coisa tende a piorar, a tendência é aumentar cada vez mais a construção desses estádios/arenas.

Anônimo disse...

Belo e triste texto...
Também concordo com você!

Saudações Hexacampeãs,

Rafael
(Rumo ao Hepta!!!!!!!)