terça-feira, 18 de novembro de 2008

Futebol: justiça social ou esportiva?

Esse texto é de meu amigo Kadj Oman, dono do blog que você pode, e deve, acessar e que está ao lado, na minha lista de parceiros.

O mais importante da argumentação que aqui está é que ela te obriga a pensar, a bolar sua opinião, seu ponto de vista. Formule a sua.

Corinthians Mais Paulista do que Nunca

A rodada de sábado na Série B fez do Corinthians mais paulista do que nunca.

Não pelo resultado. Nem pelo adversário. Mas pelo resultado contra esse adversário.

Fazer 3 x 1 no Villa Nova significou não só subir o Santo André como deixar os goianos praticamente fora da briga pela última vaga, agora nas mãos de Barueri ou Bragantino.

Serão ao menos 5 paulistas na Série A do ano passado. Número que sobe para 7 se Santos e Lusa não caírem.

Enquanto isso, na B, o Villa, que sonhava repetir um clássico de Goiânia na Série A após muitos anos, vai ter que se contentar com fazer outro clássico da cidade na Série B, já que o Atlético Goianiense já subiu, com campanha impecável, na Série C.

E o Corinthians ainda pode deixar a Série B ainda mais paulista se vencer o Avaí e ajudar o Santo André a chegar ao vice.

Algo anunciado desde o começo dos pontos corridos.

Não que eu tenha algo contra Santo André ou Bragantino (já o Barueri, bem, de time de empresários com público de 230 pagantes em cada jogo já bastaram São Caetano e Ipatinga), mas ter no campeonato nacional sete equipes do mesmo estado - pior, sete equipes da Grande São Paulo - só ajuda a transformar centro em mais centro ainda e deixar a periferia cada vez mais distante.

Se o Náutico cair, ano que vem teremos na Série A, do Nordeste, apenas Sport e Vitória. Do Norte, ninguém. Do Centro-Oeste, só o Goiás. Juntos, menos do que os já citados sete - ou mesmo cinco - paulistas.

E no país onde a concentração de renda é provavelmente a maior do mundo, a desigualdade econômica e social entre pessoas - e clubes - promoverá cada vez mais a transformação do Campeonato Brasileiro em Campeonato Paulista, ou Rio-São Paulo com convidados Sul-Minas.

Nesse cenário, defender o campeonato de pontos corridos é, antes de qualquer argumento de "justiça esportiva", de "regulamento que premia o mais constante", uma postura de injustiça econômica.

Não tem como deixar de ser. É fácil ser mais constante quando se é um gigante do centro. Difícil é trazer um Campinense da Paraíba - ou mesmo um antigo gigante América do Rio! - para a Série B, que dirá para a A.

Então talvez exista a possibilidade de um regulamento "menos justo" esportivamente ser "mais justo" socialmente. E se há algo irrefutável por aqui é que nada é mais urgente no Brasil do que justiça social.

O que fazer, então? Voltar para o mata-mata? Brasileirão com 100 clubes? Classificação partindo dos Estaduais (como acreditava ser o que acontecia um ingênuo e metódico inglês que conheci por aqui)?

Sinceramente, não sei.

Não porque tenho preguiça de pensar em outro modelo. Mas porque é difícil ter alguma esperança de mudança no futebol, logo o futebol onde o ranço coronelista tipicamente brasileiro é ainda tão forte, e onde a via alternativa que se coloca é de um capitalismo ainda mais concorrencial entre os clubes.

Nessas horas, me pergunto para que serviram tantos anos de estudo e profissão de alguns jornalistas se o máximo que conseguem fazer é "denunciar" o que não está de acordo com o modelo de sucesso europeu.

O mesmo modelo de sucesso que, ao chegar por aqui em fins do século XIX, encontrou uma sociedade rural cheia de negros, pobres e imigrantes prontos à subvertê-lo e criar Garrinchas e Pelés.

Me parece que pensar saiu de moda.

O lance agora é brincar de seguir o mestre.

Mesmo que o mestre nos guie para um futuro do qual, contraditoriamente, não poderemos participar.

Um comentário:

cromo disse...

É, faz pensar...
Não que eu ache que ter mais ou menos clubes de um lugar seja o maior problema. O estado de SP tem a maior população, tanto relativa como absoluta, é um PIB gigantesco, isso teria de ser refletido no futebol, por que o futebol não explica o mundo merda nenhuma, mas ele reflete, isso sim.