segunda-feira, 10 de novembro de 2008

O porque das dores

Pedi licença ao meu amigo, mas não fui embora com ele quando acabou o jogo entre Palmeiras e Grêmio. Ele foi, eu fiquei. Preferi sentar e olhar alguma coisa acontecer.

Sei lá, de repente São Marcos corre e se joga nas redes, afinal, só faltou para ele se transformar na bola do jogo. Ou então um jornalista sai correndo pelo gramado dizendo que tem um grampo telefônico bombástico, e os jogos terão que voltar!

Nada, nada disso. Na verdade estava perplexo. Saboreando a tristeza a que me proponho passar cada vez que condiciono minha alegria à vitória ou à derrota. Tentando entender o ato heróico e circense do maior de todos os palmeirenses, algo que não consigo definir, e isso é bom, porquê gosto que meu ídolo seja vulnerável, não tenha pés de barro.

Pois a perfeição divina não me atrai, muito menos a pretensa postura impecável dos homens. Assim como, parafraseando Jimi Hendrix, ser feliz não é uma de minhas prioridades. São Marcos foi um felino arredio e ignorou as ordens de quem acha que é seu dono, e não é bem isso que me alegra. Os gauchos vieram, nos deram um tapa na cara e foram embora, e não é bem isso que me dói.

Fui talvez o último torcedor verde a sair do estádio. Os gauchos ainda estavam lá. Olhei cada pedaço daquele estádio vazio. A torre de iluminação está velha como o placar, a piscina tem uma marola bucólica de fim de tarde, cabecinhas se movem nas cabines de imprensa.

Me ocorreu, alí, que pode ser que eu não vá aos dois jogos que restam no Parque Antarctica. E que, ano que vem, aconteça mesmo do estádio ser fechado para virar uma arena perfeitinha como Luxemburgo, sem cimento pra sentar, sem chuva pra tomar, sem o imponderável com a cara de São Marcos.

Me ocorreu, finalmente, que aqueles poderiam ser meus últimos minutos dentro do Parque Antarctica, da forma que eu o conheci. Nada mais me esperava fora dalí, e eu fiquei por ainda mais tempo, com medo de ser a última vez que veria aquela paisagem. Desculpem, mas eu não tenho coragem de ser a favor da Arena.

Mas tive que me retirar. Indo embora, encostei em um carro que estava de rádio ligado. Me detive a torcer por uma definição alentadora sobre Marcos que saísse da boca de Mauro Beting.

Me ocorreu que ele tem um coração que ama, que torce, e ele está alí, falando, ereto, direto. Me ocorreu que temos a mesma profissão, e falar de forma lúcida e firme naquela hora, só com treino mesmo. Me ocorreu também que tínhamos um amigo em comum, que morreu, e que torcia pelo mesmo time, e não teve um só jogo nesse campeonato que eu não tenha lembrado dele.

Descobri, então, porque fiquei tão devastado em constatar que meu time, nosso time, não será o Campeão Brasileiro.

8 comentários:

Anônimo disse...

Sensacional!

Percebo um monte de gente com essa mesma "pegada" sobre o jogo de ontem...

Abç,

Anônimo disse...

Acho que o Marcos fez certo... o problema é que ele não é o Rogério Ceni! Nem será tri-hexa-campeão...

Mas, de qualquer forma, parabéns pelo texto e pelo sentimento nobre pelo seu time.

Saudações Tricolores (6-3-3),

Rafael

Saulo disse...

Foi uma péssima derrota para o Palmeiras, mas ainda não temos uma definição no campeonato. O Palmeiras não pode abandonar assim.

Anton Roos disse...

Belo relato. Como bem sabes Bill, sou gremista e obviamente fiquei felicissimo com o resultado final. De desacreditado totalmente voltei a acreditar num título que insistimos em jogar fora algumas vezes. Marcos é um leão. Um exemplo de paixão a um clube. Coisa rara e digna de aplausos. O São Paulo a de tropeçar e o Grêmio, aos trancos e barrancos, a vencer. É o que espero. Abraço amigo monólito.

Anônimo disse...

chorei mto qnd li seu texto...tb senti a msm coisa qnd acabou o jogo...tava em sp, faço facul em são carlos, mas tava e sp, não consegui ingresso e ofri diante da tv...

parabens, vc eh um dos verdadeiros palmeirenses!

Anônimo disse...

Gostei muito do seu texto. Essa derrota do time me deixou doente. Mas, a atitude do Marcos, resgata o brio, a honra, o orgulho de ser palmeirense. A mim parece qua a atitude dele transcende o ato futebolístico. Ao sair para jogar na linha, tendo a consciência que não é bom nisso, ele buscava muito mais que um gol. Foi uma atitude de rebeldia, de confronto, de coragem, de orgulho, de envolvimento de quem tem vergonha na cara. Ele se expôs às críticas simplistas da mída e de tantos outros medíocres que rondam o mundo da bola, mas também expôs o trabalho do mercenário, de quem não se envolve, de quem só tem discurso ensaiado de livros de auto-ajuda, e fórmulas prontas que não funcionam mais. Marcos fez o que todo o palmeirense apaixonado gostaria de fazer. Foi um herói como um Super Homem, ou Batman ou o Lucky Skywalker, tão honrados, tão corajosos e tão sujeitos às fraquezas e paixões humanas. A análise da atitude de São Marcos tem que ser multidimensional. Não pode ser julgada pelo senso comum´. É um marco, um acontecimento especial nesse nosso tão pobre e triste futebol brasileiro. Belo texto, Leandro. Você tem caráter, talento e sensibilidade. Vamos seguir acreditando no nosso querido e glorioso Verdão. O Palmeiras precisa de jovens promissores como você que ajudam a "pensar" bem o time e sua história. Parabéns!

Anônimo disse...

Caro Leandro, nunca havia entrado no seu blog. Vi o texto no blog do Birner, de quem sou fãe resolvi vir até aqui. O texto é excelente e resume em uma das frases o sentimento de quem torce de verdade por um clube de futebol: "Saboreando a tristeza a que me proponho passar cada vez que condiciono minha alegria à vitória ou à derrota."
Simplesmente espetacular!
Parabéns!
Sou Sampaulino e a partir de hoje você ganhou um adepto de seu blog.Voltarei aqui sempre.
Um abraço
Mauro Ratto

Anônimo disse...

Boa tarde!

Sou flameguista, tenho muitos problemas com o Palmeiras, mas tenho um ídolo, que por sinal é o mesmo que o seu.
Li seu texto no blog do Beting. Não consegui ficar frio na frente do computador, mesmo sabendo que meu time briga com o seu, e que uma, provavelmente, matará o outro.
Queria te agradecer, isso mesmo... agradecer. Toda vez que vejo um texto com emoção e com o coração, seja por um ídolo ou por um time, eu vejo que não estou sozinho nessa paixão.

Parabens!