terça-feira, 7 de outubro de 2008

Mandou mal, Vilaron! Muito mal!

Wagner Vilaron, jornalista dos mais conhecidos da atualidade, escreveu, em sua coluna de hoje no Diário de S. Paulo, uma resposta à carta de um leitor com a seguinte frase:

Desculpe, mas minha formação me impede de discutir futebol do ponto-de-vista do torcedor. Afinal, não posso abrir mão da sanidade


Caro Vilaron,
Não vou me apegar a fatos periféricos de sua coluna (que chama, por exemplo, a carta do leitor de "fala Corneta", mas vá lá, a coluna é especulativa, provocativa e pretensamente informal, então tá legal), que costuma ter, inclusive, algumas insinuações divertidas e interessantes.

Porém, faço questão de representar uma outra turma. Sou jornalista, sou torcedor. Me formei, ao longo da vida, estas duas coisas. Me formei torcedor lendo jornalistas. Não por nada, mas apenas porquê as coisas não são dissociáveis assim, como você sugere. E sobretudo porque, se o assunto é futebol, não há ponto-de-vista mais valoroso e importante do que o do torcedor - ou o jornalista acha-se mesmo tão indispensável na tarefa de dar opinião, mostrar ponto-de-vista?

Aliás, como leitor, jornalista e torcedor, eu posso também sugerir que esta infeliz resposta veio do seio preconceituoso e arrogante de sua personalidade profissional, que se julga, "por formação", alguém mais esclarecido e preparado para dialogar do que o rapaz que está na arquibancada, o torcedor, que também é uma representação do povo, um retrato de quem o lê.

Típico e triste exemplo do jornalista que, por ato falho ou convicção, se coloca acima do pensamento popular, apenas por ter um diploma e um lugar para escrever - e quantos escrevem tantas bobagens. É mesquinho considerar que haja um vão tão grande entre as opiniões de uma classe e de outra. O jornalista apura, documenta, informa, e isso o difere. Seus pontos-de-vista, no entanto, seguem como simples opiniões de um simples mortal.

Este blog se coloca frontalmente contra este tipo de pensamento externado por Wagner Vilaron. E se quer saber, me sinto muito mais são quando sou torcedor do que quando sou jornalista. À parte o fato de, sim, muitos torcedores usarem o teclado do computador para gritar seu vazio de discernimento, não é o seu papel, Vilaron, esvaziar uma classe.

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Atualização, 14h35, dia 8: Wagner Vilaron me respondeu. Educadamente, explicou que eu interpretei de forma errada algumas coisas. Ele cita que o torcedor troca a razão pela emoção. E que é isso que ele quer dizer quando não abre mão da sanidade. Ele cita "Sanidade" como sinônimo de "razão", ao passo que a emoção seria representada pela insanidade. Explicado. Ainda acho uma má escolha das palavras. Mas explicado. Valeu, Vilaron.

2 comentários:

Anônimo disse...

Bela comida de rabo, Leandrão. Você sintetizou em poucas palavras o que eu demorei meia hora pra falar pra um sujeitinho global que deu palestra na PUC um tempinho atraz.

Anônimo disse...

talvez a explicação dele complique ainda mais... pq se julga livre das "emoções" quando escreve e ao mesmo temo diz q o torcedor tb não usa da "razão" em suas análises...

tenho a impressão de que atualmente sobram jornalistas esportivos, mas quase não temos mais cronistas...

e suas crônicas Leandrão, são um alento para os apaixonados pelo futebol, que mesmo sendo apaixonados, também tem certo apego pela razão!