quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Vida de Libertadores

-Mas você vai no jogo, nessa chuva???
-Sim! Nessa chuva! Não é fantástico?

Estão subvertendo valores. Não quem dá a resposta, mas quem faz a pergunta. Vivo em uma cidade onde, cada vez mais, só é permitido trabalhar, sério e sóbrio de preferência, sem floreios, sem romantismo, sem papete-com-meia. Começa-se a acreditar que ir ao estádio de futebol é mesmo uma via crucis, e o esforço é para se adequar à cidade: não se divirta.

Aí, ontem, Palmeiras e Áncash jogaram. Jogo internacional, inédito. Vem os perseguidores do mundo ideal sem essência, e te dizem que: o horário é ruim; o jogo não vale nada; o time do Palmeiras é reserva; tá chovendo; vai passar na TV; violência, é antes do quinto dia útil, doença de chagas, a Lua em Saturno.

Pois os que pensam isso são chatos objetivistas insensatos. Quer ver? Dou o lado otimista da moeda: ingresso com desconto; estréia do grande Roque Júnior; chuva (se não acha isso um ponto favorável, espere a Arena ficar pronta, e vá de terno e gravata ao estádio); Primeiro jogo internacional após anos; Chance de abraçar o time por assumir a liderança nacional depois de anos; em caso de jogo ruim sem gols, pelo menos teriam os penaltys.

Esse mal é moderno. Querem do futebol uma definição que não se encontra assim, sem o coração e o peso das coisas relativizadas. Deterministas, querem muitas seguranças, querem aconchego, não se lembram mais dos conflitos de adolescente que são, nos fins, sempre tão saborosos. Estão atrás de certezas, atrás de jogos de seis pontos, caçadores do importante "de fato" - como se as coisas realmente importantes fossem pautadas assim, com tons oficialistas, com tinta pragmática.

Não valia nada? Valia menos ainda ficar em casa. Não era uma Libertadores? A questão é tu te libertares da burocrata idéia de que o bom só existe em condições ideais de clima e temperatura, em situação de gorda recompensa, de vasta repercussão.

A essência do futebol está escondida nessas escuras e desinteressadas noites. Curtir o time é o importante, mas curtir a ti próprio é a essência. Ser irresponsável, molhar-se, passar frio, correr pelo ônibus final. Isso é sair da linha normal, porém nunca sair desta normalidade me soa como triste auto-sabotagem.

A gente acaba acreditando demais e chega a hiperbolizar a má realidade de nosso futebol e nossos estádios. Isso não é primeiro plano, quando em questão está a chance de tu fazeres de uma noite de "inhaca", uma noite que lembrarás daqui muitos anos. A gente também acaba dando valores e signos demais ao jogo A ou B.

E se esquece que fazer algumas coisas por mera liberdade e otimismo vale mais que qualquer campeonato de qualquer lugar.

2 comentários:

Anônimo disse...

comovente!

Anônimo disse...

Po Leandrão(ou não seria Tommy Chong, hehehe), eu sempre vou em jogo do Parmera, vamo combinar de ir junto, toma uma gelada na Turiaçu e xavecar as carcamanas

Aquele abraço